19.06.2013 Views

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Os M<strong>on</strong>dlane e a FRELIMO de Moçambique<br />

co e professor moçambicano de nome Mateus Gwenjere, um feroz crítico de Eduardo<br />

M<strong>on</strong>dlane, a quem apelidava de ”traidor que avança demasiado devagar e fala com demasiada<br />

brandura” 79 os alunos entraram em greve em Janeiro de 1968. Acusavam Janet<br />

M<strong>on</strong>dlane de estar ligada à CIA e de estar c<strong>on</strong>tra os moçambicanos brancos e os professores<br />

expatriados. A greve c<strong>on</strong>tinuou até levar ao aband<strong>on</strong>o da escola por parte de mais<br />

de cem alunos e ao encerramento da mesma em Março de 1968. Dois meses mais tarde,<br />

ou seja, a 10 de Maio de 1968, o escritório central da FRELIMO em Dar es Salaam foi<br />

atacado e um membro do Comité Central foi esfaqueado, acabando por morrer. 80<br />

O c<strong>on</strong>flito à volta do Instituto Moçambicano foi alvo de uma grande cobertura da<br />

comunicação social sueca. Não só começou imediatamente depois de Anders Johanss<strong>on</strong><br />

ter visitado as z<strong>on</strong>as libertadas do norte de Moçambique (e foi o primeiro jornalista internaci<strong>on</strong>al<br />

a fazê-lo) e no início do debate sobre Cahora Bassa, mas também implicou<br />

um jovem professor sueco, bem como comentários muito duros na imprensa oficial do<br />

país anfitrião. Fazendo eco das críticas de Gwenjere e dos estudantes moçambicanos dissidentes,<br />

o jornal oficial tanzaniano <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Nati<strong>on</strong>alist dizia, no dia seguinte aos atentados<br />

c<strong>on</strong>tra o gabinete da FRELIMO, num editorial, que ”a negligência de alguns líderes dos<br />

movimentos de libertação em termos de respeito pelos direitos dos membros a título individual<br />

leva a discussões e lutas”. 81 Ainda mais importante foi o facto de, duas semanas<br />

mais tarde, aquando duma manifestação de massas para assinalar o Dia da Libertação de<br />

África, em Dar es Salaam, o primeiro vice presidente Karume ter criticado os ”combatentes<br />

pela liberdade por travarem amizade com pessoas que sabem muito bem serem seus<br />

inimigos”, pedindo-lhes ”que evitem luxos”. Com um tom racista, Karume ac<strong>on</strong>selhou<br />

os movimentos de libertação: ”Se enc<strong>on</strong>trarem um inimigo, matem-no. Um africano não<br />

tem de fazer prisi<strong>on</strong>eiros de guerra brancos. O que é que vocês lhe dariam? Eles não comem<br />

papa de milho nem mandioca”. 82 Por fim, no fim do mês de Maio, <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Nati<strong>on</strong>alist<br />

afirmava num editorial, que se interpretou em geral como sendo dirigido c<strong>on</strong>tra Eduardo<br />

e Janet M<strong>on</strong>dlane 83 , que<br />

alguns combatentes pela liberdade cederam à busca do prazer, em vez de irem para a linha da<br />

frente ou até de fazerem seja o que for de realmente sério quanto à luta pela liberdade e pela<br />

independência naci<strong>on</strong>al. Outros vivem no luxo, em casas com ar c<strong>on</strong>dici<strong>on</strong>ado, em países<br />

africanos independentes, enquanto o seu próprio povo está a sofrer crueldades col<strong>on</strong>iais de que<br />

ninguém fala. Há até quem, de entre eles, vá ao p<strong>on</strong>to de possuir e ter nas suas casas cadeiras<br />

de baloiço caras, apenas para poderem desfrutar de um tipo de prazer boémio, totalmente<br />

dissociado da realidade de um combatente pela liberdade.<br />

[...] Ainda mais curioso e perigoso é o tipo de tratamento fraterno dado por alguns combatentes<br />

pela liberdade a agentes do inimigo com quem estão a lutar. Não é raro, em Dar es Salaam,<br />

por exemplo, ver um combatente pela liberdade em grandes sessões de copos com caras<br />

estranhas de brancos. É verdade, que alguns deles se fazem passar por ”liberais”, ”democratas”,<br />

”socialistas” ou mesmo por ”anti-col<strong>on</strong>ialistas”. Mas é exactamente esse o tipo de truque<br />

c<strong>on</strong>tra o qual os combatentes pela liberdade devem estar muito atentos. [...] Um verdadeiro<br />

combatente africano pela liberdade deve ser mais atento. Deve ter muito cuidado com esses<br />

79. Citado em Henriksen op. cit., p. 178.<br />

80. Para mais informações quanto à crise no Instituto Moçambicano, c<strong>on</strong>sulte Iain Christie: Machel of Mozambique,<br />

Zimbabwe Publishing House, Harare, 1988, pp. 48–50.<br />

81. <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Nati<strong>on</strong>alist, 11 de Maio de 1968.<br />

82. Karume citado com base em ”Beware of <strong>the</strong> enemy within” em <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Standard, 27 de Maio de 1968.<br />

83. Carta de Eduardo M<strong>on</strong>dlane a Lourenço Mutaca, Dar es Salaam, 21 de Junho de 1968 (AHM).<br />

97

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!