Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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A primeira visita dos M<strong>on</strong>dlane à Suécia<br />
Tor Sellström<br />
Eduardo e Janet M<strong>on</strong>dlane visitaram a Suécia pela primeira vez em meados de Setembro<br />
de 1964. Tal como já foi dito acima, a União Naci<strong>on</strong>al dos Estudantes Suecos, após a<br />
formação do governo naci<strong>on</strong>alista na África do Sul em 1948, e da decisão deste em retirar<br />
as bolsas públicas aos estudantes negros da Universidade de Witwatersrand, decidira<br />
apoiar os esforços feitos pela União Naci<strong>on</strong>al dos Estudantes da África Austral em prol<br />
dos estudantes. O futuro primeiro ministro sueco Olof Palme participou na campanha<br />
e Eduardo M<strong>on</strong>dlane, que tinha sido expulso dessa universidade por ser ”um nativo<br />
estrangeiro”, foi um dos beneficiários da campanha. A ligação ténue com a Suécia não<br />
era, c<strong>on</strong>tudo, do c<strong>on</strong>hecimento do presidente da FRELIMO na altura em que visitou a<br />
Suécia pela primeira vez. O promotor da iniciativa de ir à Suécia fora antes a sua mulher<br />
Janet, instada pelos ac<strong>on</strong>tecimentos no Instituto Moçambicano em Dar es Salaam.<br />
Durante as suas visitas a Moçambique em 1961 e à Tanzânia em 1962, os M<strong>on</strong>dlane<br />
tinham ficado particularmente sensibilizados para os baixos níveis de escolarização dada<br />
à população negra no interior do país e com a luta da juventude moçambicana no exílio.<br />
Após a formação da FRELIMO, a Sra. M<strong>on</strong>dlane escreveu que<br />
o espírito e a determinação dos jovens refugiados estão em alta. Eles sabem o que pretendem.<br />
Acreditam no seu futuro e só pedem ajuda para serem colocados no caminho. Vai ser um<br />
caminho muito l<strong>on</strong>go, o que leva daquela casa em bloco de cimento, sem ar, cheia de mosquitos,<br />
sem luz, no exílio, <strong>on</strong>de pouco têm de comer, até à liderança de um grande país africano<br />
[...]. Mas é para aí que eles ap<strong>on</strong>tam. É deles que dependerá a liderança de Moçambique.<br />
Eles e aqueles que se lhes seguirem serão os líderes. Alguma coisa deve ser feita para garantir<br />
que eles frequentem a escola o mais rapidamente possível. O tempo é muito pouco. Isso será<br />
importante para c<strong>on</strong>struir uma nação para a qual faz falta tanta coisa. 38<br />
De volta a Dar es Salaam em 1963, os M<strong>on</strong>dlane deram toda a prioridade à questão da<br />
formação dos refugiados, criando o Instituto Moçambicano. Apesar de se tratar de uma<br />
instituição da FRELIMO, estava organizado como uma fundação tanzaniana, devidamente<br />
registada, tendo o Ministro da Educação do país anfitrião como presidente h<strong>on</strong>orário,<br />
o Reitor da University College de Dar es Salaam como secretário e o Director do<br />
Desenvolvimento e Planeamento da Tanzânia como tesoureiro. 39 Disp<strong>on</strong>do de ligações<br />
fortes ao mundo académico nos Estados Unidos, os M<strong>on</strong>dlane c<strong>on</strong>seguiram angariar<br />
fundos da Fundação Ford dos Estados Unidos, inicialmente para c<strong>on</strong>struir um albergue<br />
para cinquenta jovens moçambicanos que iriam frequentar escolas tanzanianas na z<strong>on</strong>a e<br />
receber supervisão de moçambicanos mais velhos. Lançou-se a primeira pedra da obra do<br />
albergue em Kurasini, nos arredores da capital da Tanzânia e, no início de Setembro de<br />
1964, os primeiros estudantes moçambicanos passaram a viver no edifício.<br />
O Instituto Moçambicano foi, desde a primeira hora, uma pedra no sapato dos portugueses.<br />
O governo de Lisboa fez pressão junto dos Estados Unidos para que retirassem<br />
o apoio ao instituto e, por sua vez, o governo desse país c<strong>on</strong>seguiu que a Fundação<br />
Ford também o fizesse, 40 o que veio a ac<strong>on</strong>tecer de forma repentina. Segundo Joaquim<br />
Chissano, também activo como tutor no instituto, ”a lógica usada pela Fundação Ford<br />
foi que nós a FRELIMO estávamos a começar uma luta armada de libertação que eles<br />
38. Janet Rae M<strong>on</strong>dlane: ”A situação dos refugiados de Moçambique” em Chilcote op. cit., p. 409.<br />
39. Instituto Moçambicano: ”Relatório”, Dar es Salaam, 1 de Setembro de 1965 (AJC).<br />
40. Entrevista com Janet M<strong>on</strong>dlane, p. 41, e entrevista com Sérgio Vieira, p. 54.