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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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Os M<strong>on</strong>dlane e a FRELIMO de Moçambique<br />

pela primeira vez, ser c<strong>on</strong>statada pelo movimento dos trabalhadores suecos, já em 1961.<br />

Tornar-se-ia uma c<strong>on</strong>stante a partir de meados dos anos sessenta, tendo o presidente da<br />

FRELIMO, Eduardo M<strong>on</strong>dlane, estado presente pela primeira vez nas manifestações do<br />

Primeiro de Maio em Gävle, no ano de 1966. 16<br />

Por forma a dar expressão ao sentir da maioria negra, ou, como foi claramente dito,<br />

para ”alargar o debate na Suécia e expor de forma mais clara as opiniões africanas”, o jornal<br />

liberal vespertino Expressen lançou, em Março de 1961, a sua série de análise profunda<br />

entitulada ”África vista de dentro”. O redactor foi Anders Ehnmark que, estando em<br />

Paris no final dos anos cinquenta, tinha entrado em c<strong>on</strong>tacto com o naci<strong>on</strong>alista e poeta<br />

moçambicano Marcelino dos Santos. 17 O futuro vice presidente da Frente de Libertação<br />

de Moçambique 18 era, na altura, membro da UDENAMO, uma das organizações naci<strong>on</strong>alistas<br />

moçambicanas, que em Junho de 1962 formou a FRELIMO. Mais importante<br />

é que dos Santos estava intimamente ligado à aliança anti-col<strong>on</strong>ial FRAIN, criada à<br />

volta do MPLA de Angola e do PAIGC da Guiné-Bissau, que se reorganizou e apareceu<br />

em Abril de 1961 como CONCP. Sediado em Rabat, Marrocos, Marcelino dos Santos<br />

tornou-se no primeiro secretário geral da C<strong>on</strong>ferência de Organizações Naci<strong>on</strong>alistas das<br />

Colónias Portuguesas.<br />

Foi em resposta a um apelo da CONCP que o Expressen, em Julho de 1961, lançou<br />

uma campanha de angariação de fundos em prol dos refugiados angolanos no C<strong>on</strong>go.<br />

Foi também através do Expressen, o vespertino de maior tiragem na Suécia na altura, que<br />

o público sueco teve, pela primeira vez, a oportunidade de ouvir directamente a voz de<br />

um naci<strong>on</strong>alista moçambicano. Num artigo exclusivo de página inteira, publicado a 28<br />

de Junho de 1961, Marcelino dos Santos, apresentado como ”antigamente c<strong>on</strong>hecido<br />

como poeta, mas agora dedicado em exclusivo aos preparativos da eminente insurreição<br />

em Moçambique”, escreveu<br />

o mito de que as colónias portuguesas deviam ser ”províncias ultramarinas” foi esmagado pelos<br />

ac<strong>on</strong>tecimentos em Angola. O sistema col<strong>on</strong>ial português tem os dias c<strong>on</strong>tados. As c<strong>on</strong>tradições<br />

que criou vão, por necessidade histórica, levar à libertação naci<strong>on</strong>al da África portuguesa.<br />

[...] Nesta situação, é natural que Moçambique também reivindique os seus direitos à liberdade<br />

e à governação autónoma, que c<strong>on</strong>stitui a primeira c<strong>on</strong>dição para a emancipação social<br />

do povo moçambicano. [...] Privado de quaisquer direitos políticos ou organizações, o povo<br />

moçambicano começou a sua luta pela liberdade. Formaram-se clandestinamente organizações<br />

para a luta. Esta será difícil, especialmente porque o governo português não se mostra disposto<br />

a compreender seja o que for do espírito dos nossos tempos. Para além disso, os acordos secretos<br />

celebrados por Portugal, África do Sul e Rodésia do Sul criaram uma coligação col<strong>on</strong>ial<br />

que bloqueia os ac<strong>on</strong>tecimentos.<br />

[...] A União Democrática Naci<strong>on</strong>al de Moçambique (UDENAMO) não se poupará a esfor-<br />

16. Socialdemokratiska Partistyrelsen (C<strong>on</strong>selho Naci<strong>on</strong>al do Partido Social Democrata): ”Berättelse för 1966”<br />

(”Relatório de 1966”), p. 7 (LMA).<br />

17. Nascido no Maputo, dos Santos estudou na Escola Comercial de Lisboa <strong>on</strong>de, em 1951, juntamente com<br />

Agostinho Neto de Angola e Amílcar Cabral da Guiné, fundou o Centro de Estudos Africanos. Durante uma<br />

pós-graduação em Paris, cooperou com a revista cultural Présence Africaine. Em 1957 foi co-fundador, com Mário<br />

de Andrade do MPLA e Amílcar Cabral, do Movimento Anti-Col<strong>on</strong>ialista. Antes de ser nomeado secretário geral<br />

do CONCP, participou intimamente nas c<strong>on</strong>versações para a unificação da sua organização, a UDENAMO, com<br />

outras organizações naci<strong>on</strong>alistas moçambicanas, que c<strong>on</strong>duziria à criação da FRELIMO em Junho de 1962. Foi<br />

depois nomeado secretário dos assuntos externos e, em 1970, vice presidente da FRELIMO. Em Junho de 1975,<br />

Marcelino dos Santos foi nomeado Ministro do Desenvolvimento e Planeamento Ec<strong>on</strong>ómico no primeiro governo<br />

de Moçambique independente.<br />

18. Carta de Anders Ehnmark ao autor, Taxinge, Janeiro de 1997 e Anders Ehnmark: Resa i skuggan (”Viagem na<br />

sombra”), Norstedts, Estocolmo, 1995, p. 55.<br />

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