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84 Tor Sellström 1970, a quota da África Ocidental portuguesa no total das exportações suecas era de 0,08 por cento, enquanto as importações desceram drasticamente de 0,03 por cento para uns insignificantes 0,01 por cento. 10 A balança comercial sueca com Moçambique tornou-se positiva pela primeira vez, mas a curva descendente global era muito pronunciada. Apresentando um valor total de 18,3 milhões de coroas suecas em 1970, as exportações suecas para a colónia representavam tão-somente uma quota de 0,05 por cento, ou seja, uma descida em relação aos 0,06 por cento registados em 1960. As mercadorias importadas de Moçambique, num valor de 6,8 milhões de coroas suecas, representavam, ao mesmo tempo, uns quase negligenciáveis 0,01 por cento do total das importações suecas, em comparação com os 0,06 por cento registados em 1960, ano em que a EFTA foi fundada. 11 Moçambique foi desconhecido na Suécia durante muito tempo. 12 Quase nenhuma informação sobre a situação no país chegava ao mundo exterior. Após uma visita a Moçambique durante a sua estadia na Rodésia, Per Wästberg apresentou a colónia portuguesa ao público sueco, em Novembro de 1959, por meio de um artigo crítico, intitulado ”O ditador do silêncio” no Dagens Nyheter. Descrevia um país onde a censura, uma polícia de estado bem treinada e a espionagem mantêm o espírito crítico amarrado e amordaçado. [...] Os que mais sabem são os que menos falam. [...] Uma triunfante cortina de silêncio, que poucos estrangeiros conseguem penetrar, envolve Moçambique. Os brancos mantêm silêncio sobre o que sabem. As autoridades não dão informação dos acontecimentos de boa vontade. [...] E os negros não têm voz. São propositadamente impedidos de se escolarizarem e estão a ser isolados das notícias de uma África que desperta à sua volta. Ao mais pequeno passo em falso, arriscam castigos corporais e deportação. Ninguém sabe o que pensam e ninguém lhes dá voz. 13 O artigo de Wästberg foi publicado antes do massacre de Sharpeville na África do Sul, em Março de 1960 e das insurreições em Angola, em Fevereiro-Março de 1961, ou seja, os dois principais eventos que, na África Austral, alertaram a opinião pública internacional para o apartheid e para o colonialismo português. 14 Como já foi referido, o Comité Sueco para a África Austral foi fundado no início de Março de 1961 e, a 1 de Maio de 1961, durante as marchas do dia do trabalhador social democrata, condenou-se a ”opressão racial” na África Austral. A manifestação em Estocolmo, na qual usou da palavra Arne Geijer, presidente da Confederação Sueca de Sindicatos, atraiu cerca de 60.000 pessoas. Aspecto interessante é que não foram só a África do Sul e Angola a figurar na secção internacional das manifestações, mas também Moçambique. 15 A luta dos moçambicanos pôde assim, 10. Statistiska Centralbyran: Utrikeshandel 1970, Volym II, Estocolmo, 1972 11. Ibid. 12. Havia, contudo, missionários suecos activos em Moçambique, na Igreja Metodista, desde o início do século XX, tendo sido dos primeiros a denunciar a crueldade das tropas portuguesas (por exemplo, ”Missionärsbrev från Mozambique: De vita mördar oss”/ ”Carta dos missionários em Moçambique: os brancos estão a matar-nos” em Expressen, 7 de Setembro de 1965). 13. Per Wästberg: ”Tystnadens diktatur” (”A ditadura do silêncio”) em Dagens Nyheter, 14 de Novembro de 1959. 14. O massacre de Mueda em Junho de 1960, no norte de Moçambique, não recebeu na altura a atenção da imprensa internacional. Tal como em Sharpeville, a polícia abriu fogo sobre uma manifestação pacífica, alegadamente matando mais de 500 africanos (Thomas H. Henriksen: Mozambique: A History, Rex Collings, Londres, 1978, pp. 167–168). 15. Stockholms Arbetarekommun 1961: ”Verksamhetsberättelse” (”Relatório anual do distrito de Estocolmo do Partido Social Democrata”), p. 6. Podia ver-se que as manifestações do Dia do Trabalhador de 1961 incluíram uma secção de soldados suecos das Nações Unidas que regressavam do Congo; Foi dado particular destaque a uma campanha de angariação de fundos chamada ”LO-Ajuda por todas as fronteiras”; e de que Arne Geijer, no seu discurso, ”deu a sua opinião quanto à forma como deveria ser organizada a ajuda aos países em vias de desenvolvimento” (Ibid.) (LMA).

Os Mondlane e a FRELIMO de Moçambique pela primeira vez, ser constatada pelo movimento dos trabalhadores suecos, já em 1961. Tornar-se-ia uma constante a partir de meados dos anos sessenta, tendo o presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, estado presente pela primeira vez nas manifestações do Primeiro de Maio em Gävle, no ano de 1966. 16 Por forma a dar expressão ao sentir da maioria negra, ou, como foi claramente dito, para ”alargar o debate na Suécia e expor de forma mais clara as opiniões africanas”, o jornal liberal vespertino Expressen lançou, em Março de 1961, a sua série de análise profunda entitulada ”África vista de dentro”. O redactor foi Anders Ehnmark que, estando em Paris no final dos anos cinquenta, tinha entrado em contacto com o nacionalista e poeta moçambicano Marcelino dos Santos. 17 O futuro vice presidente da Frente de Libertação de Moçambique 18 era, na altura, membro da UDENAMO, uma das organizações nacionalistas moçambicanas, que em Junho de 1962 formou a FRELIMO. Mais importante é que dos Santos estava intimamente ligado à aliança anti-colonial FRAIN, criada à volta do MPLA de Angola e do PAIGC da Guiné-Bissau, que se reorganizou e apareceu em Abril de 1961 como CONCP. Sediado em Rabat, Marrocos, Marcelino dos Santos tornou-se no primeiro secretário geral da Conferência de Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas. Foi em resposta a um apelo da CONCP que o Expressen, em Julho de 1961, lançou uma campanha de angariação de fundos em prol dos refugiados angolanos no Congo. Foi também através do Expressen, o vespertino de maior tiragem na Suécia na altura, que o público sueco teve, pela primeira vez, a oportunidade de ouvir directamente a voz de um nacionalista moçambicano. Num artigo exclusivo de página inteira, publicado a 28 de Junho de 1961, Marcelino dos Santos, apresentado como ”antigamente conhecido como poeta, mas agora dedicado em exclusivo aos preparativos da eminente insurreição em Moçambique”, escreveu o mito de que as colónias portuguesas deviam ser ”províncias ultramarinas” foi esmagado pelos acontecimentos em Angola. O sistema colonial português tem os dias contados. As contradições que criou vão, por necessidade histórica, levar à libertação nacional da África portuguesa. [...] Nesta situação, é natural que Moçambique também reivindique os seus direitos à liberdade e à governação autónoma, que constitui a primeira condição para a emancipação social do povo moçambicano. [...] Privado de quaisquer direitos políticos ou organizações, o povo moçambicano começou a sua luta pela liberdade. Formaram-se clandestinamente organizações para a luta. Esta será difícil, especialmente porque o governo português não se mostra disposto a compreender seja o que for do espírito dos nossos tempos. Para além disso, os acordos secretos celebrados por Portugal, África do Sul e Rodésia do Sul criaram uma coligação colonial que bloqueia os acontecimentos. [...] A União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO) não se poupará a esfor- 16. Socialdemokratiska Partistyrelsen (Conselho Nacional do Partido Social Democrata): ”Berättelse för 1966” (”Relatório de 1966”), p. 7 (LMA). 17. Nascido no Maputo, dos Santos estudou na Escola Comercial de Lisboa onde, em 1951, juntamente com Agostinho Neto de Angola e Amílcar Cabral da Guiné, fundou o Centro de Estudos Africanos. Durante uma pós-graduação em Paris, cooperou com a revista cultural Présence Africaine. Em 1957 foi co-fundador, com Mário de Andrade do MPLA e Amílcar Cabral, do Movimento Anti-Colonialista. Antes de ser nomeado secretário geral do CONCP, participou intimamente nas conversações para a unificação da sua organização, a UDENAMO, com outras organizações nacionalistas moçambicanas, que conduziria à criação da FRELIMO em Junho de 1962. Foi depois nomeado secretário dos assuntos externos e, em 1970, vice presidente da FRELIMO. Em Junho de 1975, Marcelino dos Santos foi nomeado Ministro do Desenvolvimento e Planeamento Económico no primeiro governo de Moçambique independente. 18. Carta de Anders Ehnmark ao autor, Taxinge, Janeiro de 1997 e Anders Ehnmark: Resa i skuggan (”Viagem na sombra”), Norstedts, Estocolmo, 1995, p. 55. 85

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Tor Sellström<br />

1970, a quota da África Ocidental portuguesa no total das exportações suecas era de 0,08<br />

por cento, enquanto as importações desceram drasticamente de 0,03 por cento para uns<br />

insignificantes 0,01 por cento. 10 A balança comercial sueca com Moçambique tornou-se<br />

positiva pela primeira vez, mas a curva descendente global era muito pr<strong>on</strong>unciada. Apresentando<br />

um valor total de 18,3 milhões de coroas suecas em 1970, as exportações suecas<br />

para a colónia representavam tão-somente uma quota de 0,05 por cento, ou seja, uma<br />

descida em relação aos 0,06 por cento registados em 1960. As mercadorias importadas de<br />

Moçambique, num valor de 6,8 milhões de coroas suecas, representavam, ao mesmo tempo,<br />

uns quase negligenciáveis 0,01 por cento do total das importações suecas, em comparação<br />

com os 0,06 por cento registados em 1960, ano em que a EFTA foi fundada. 11<br />

Moçambique foi desc<strong>on</strong>hecido na Suécia durante muito tempo. 12 Quase nenhuma<br />

informação sobre a situação no país chegava ao mundo exterior. Após uma visita a Moçambique<br />

durante a sua estadia na Rodésia, Per Wästberg apresentou a colónia portuguesa<br />

ao público sueco, em Novembro de 1959, por meio de um artigo crítico, intitulado<br />

”O ditador do silêncio” no Dagens Nyheter. Descrevia um país <strong>on</strong>de<br />

a censura, uma polícia de estado bem treinada e a espi<strong>on</strong>agem mantêm o espírito crítico<br />

amarrado e amordaçado. [...] Os que mais sabem são os que menos falam. [...] Uma triunfante<br />

cortina de silêncio, que poucos estrangeiros c<strong>on</strong>seguem penetrar, envolve Moçambique. Os<br />

brancos mantêm silêncio sobre o que sabem. As autoridades não dão informação dos ac<strong>on</strong>tecimentos<br />

de boa v<strong>on</strong>tade. [...] E os negros não têm voz. São propositadamente impedidos de<br />

se escolarizarem e estão a ser isolados das notícias de uma África que desperta à sua volta. Ao<br />

mais pequeno passo em falso, arriscam castigos corporais e deportação. Ninguém sabe o que<br />

pensam e ninguém lhes dá voz. 13<br />

O artigo de Wästberg foi publicado antes do massacre de Sharpeville na África do Sul, em<br />

Março de 1960 e das insurreições em Angola, em Fevereiro-Março de 1961, ou seja, os<br />

dois principais eventos que, na África Austral, alertaram a opinião pública internaci<strong>on</strong>al<br />

para o apar<strong>the</strong>id e para o col<strong>on</strong>ialismo português. 14 Como já foi referido, o Comité Sueco<br />

para a África Austral foi fundado no início de Março de 1961 e, a 1 de Maio de 1961, durante<br />

as marchas do dia do trabalhador social democrata, c<strong>on</strong>denou-se a ”opressão racial”<br />

na África Austral. A manifestação em Estocolmo, na qual usou da palavra Arne Geijer,<br />

presidente da C<strong>on</strong>federação Sueca de Sindicatos, atraiu cerca de 60.000 pessoas. Aspecto<br />

interessante é que não foram só a África do Sul e Angola a figurar na secção internaci<strong>on</strong>al<br />

das manifestações, mas também Moçambique. 15 A luta dos moçambicanos pôde assim,<br />

10. Statistiska Centralbyran: Utrikeshandel 1970, Volym II, Estocolmo, 1972<br />

11. Ibid.<br />

12. Havia, c<strong>on</strong>tudo, missi<strong>on</strong>ários suecos activos em Moçambique, na Igreja Metodista, desde o início do século<br />

XX, tendo sido dos primeiros a denunciar a crueldade das tropas portuguesas (por exemplo, ”Missi<strong>on</strong>ärsbrev från<br />

Mozambique: De vita mördar oss”/ ”Carta dos missi<strong>on</strong>ários em Moçambique: os brancos estão a matar-nos” em<br />

Expressen, 7 de Setembro de 1965).<br />

13. Per Wästberg: ”Tystnadens diktatur” (”A ditadura do silêncio”) em Dagens Nyheter, 14 de Novembro de 1959.<br />

14. O massacre de Mueda em Junho de 1960, no norte de Moçambique, não recebeu na altura a atenção da imprensa<br />

internaci<strong>on</strong>al. Tal como em Sharpeville, a polícia abriu fogo sobre uma manifestação pacífica, alegadamente<br />

matando mais de 500 africanos (Thomas H. Henriksen: Mozambique: A History, Rex Collings, L<strong>on</strong>dres, 1978, pp.<br />

167–168).<br />

15. Stockholms Arbetarekommun 1961: ”Verksamhetsberättelse” (”Relatório anual do distrito de Estocolmo do<br />

Partido Social Democrata”), p. 6. Podia ver-se que as manifestações do Dia do Trabalhador de 1961 incluíram uma<br />

secção de soldados suecos das Nações Unidas que regressavam do C<strong>on</strong>go; Foi dado particular destaque a uma campanha<br />

de angariação de fundos chamada ”LO-Ajuda por todas as fr<strong>on</strong>teiras”; e de que Arne Geijer, no seu discurso,<br />

”deu a sua opinião quanto à forma como deveria ser organizada a ajuda aos países em vias de desenvolvimento”<br />

(Ibid.) (LMA).

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