Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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Na via para o apoio oficial ao MPLA<br />
Foram jornalistas suecos quem, pela primeira vez, no início dos anos sessenta, levantou<br />
a questão de Portugal e da luta naci<strong>on</strong>alista em Angola e nos outros territórios sob<br />
domínio português. Foi também c<strong>on</strong>tra a comunicação social sueca que o regime de<br />
Salazar reagiu quando, em meados da década, começou activamente a ripostar às críticas,<br />
cada vez mais acesas, da Suécia. De regresso à Suécia depois de participar num seminário<br />
das Nações Unidas sobre a África do Sul do apar<strong>the</strong>id, realizada em Brasília no Brasil, Per<br />
Wästberg viu-se, em Setembro de 1966, impedido de entrar em Portugal. Wästberg participara<br />
no seminário de Brasília na qualidade de delegado oficial sueco e, para além disso,<br />
fora nomeado membro do Comité C<strong>on</strong>sultivo sobre Ajuda Humanitária o qual, desde<br />
1964, vinha recomendando ao governo sueco que c<strong>on</strong>cedesse ajuda aos estudantes refugiados<br />
de Angola e de Moçambique. C<strong>on</strong>tudo, foi na sua qualidade de jornalista do jornal<br />
liberal Dagens Nyheter que foi declarado pers<strong>on</strong>a n<strong>on</strong> grata. A polícia secreta portuguesa<br />
tinha uma lista negra de jornalistas e não foi permitido a Wästberg entrar no país. 223<br />
Por fim, acabou por ser o governo português a ameaçar um boicote à Suécia e não viceversa.<br />
Dizendo que só o C<strong>on</strong>selho de Segurança das Nações Unidas estava mandatado para<br />
tomar decisões quanto a eventuais sanções ec<strong>on</strong>ómicas, o governo sueco vinha regularmente<br />
a abster-se de votar, desde 1964, as resoluções da Assembleia Geral que combinassem a<br />
c<strong>on</strong>denação das políticas col<strong>on</strong>iais portuguesas com exigências de isolamento internaci<strong>on</strong>al<br />
do regime de Lisboa. C<strong>on</strong>tudo, em Outubro de 1966, o Ministro dos Negócios Estrangeiros<br />
Torsten Nilss<strong>on</strong> fez subir as críticas de tom, ao caracterizar a intransigência da aliança<br />
entre Portugal, a Rodésia e a África do Sul como uma ”nuvem escura e ameaçadora”. O<br />
Ministro dos Negócios Estrangeiros português Franco Nogueira apresentou a reacção oficial<br />
portuguesa aquando de uma c<strong>on</strong>ferência de imprensa realizada em Lisboa, em meados<br />
de Março de 1967, ameaçando cortar todos os laços comerciais com a Suécia, e declarando<br />
que ”se a Suécia não gosta de comprar produtos portugueses porque está a ajudar os nossos<br />
territórios ultramarinos, basta que comece a adquirir esses produtos a outros países”. 224<br />
Nilss<strong>on</strong>, por sua vez, comentou que ”o ataque de Nogueira mostra que o ministro estava<br />
ciente da opinião do governo sueco quanto às políticas de Portugal em África” 225 O jornal<br />
liberal Expressen foi mesmo mais l<strong>on</strong>ge, afirmando em editorial que<br />
criou-se agora uma estranha situação, em que o governo português ameaça lançar um boicote<br />
comercial c<strong>on</strong>tra a Suécia, como castigo por não gostarmos da política portuguesa de violência<br />
em Angola e em Moçambique e da sua sabotagem metódica do bloqueio decretado pelas Nações<br />
Unidas c<strong>on</strong>tra a Rodésia. Esperamos vivamente que os portugueses c<strong>on</strong>cretizem o boicote<br />
e, se tal ac<strong>on</strong>tecer, o governo sueco terá de repensar de forma radical as suas políticas na EFTA<br />
relativamente a Portugal. 226<br />
O debate na EFTA teria como principal pano de fundo as relações da Suécia com Moçambique.<br />
As fortes manifestações de desagrado de Portugal relativamente à decisão sueca<br />
de ajudar os movimentos de libertação nas colónias portuguesas teriam lugar sobretudo<br />
em 1969, como reacção às ligações com a FRELIMO.<br />
Scania enviadas pela ASDI à FRELIMO na Tanzânia, no navio norueguês Drammensfjord (ver entrevista a Stig<br />
Lövgren, p. 309).<br />
223. Dagens Nyheter, 3 de Outubro de 1966. Wästberg nunca tinha escrito nada sobre Portugal metropolitano. Em<br />
Novembro de 1959 já tinha, c<strong>on</strong>tudo, denunciado no Dagens Nyheter o col<strong>on</strong>ialismo português em Moçambique,<br />
o que levou a um protesto português junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco. Wästberg escreveu o seu<br />
primeiro artigo sobre Angola em Agosto de 1960.<br />
224. Citado no Dagens Nyheter, 17 de Março de 1967.<br />
225. Citado no Aft<strong>on</strong>bladet, 17 de Março de 1967.<br />
226. Expressen, 17 de Março de 1967.<br />
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