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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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74<br />

Tor Sellström<br />

pessoa formidável e uma grande figura internaci<strong>on</strong>al”. 187 A luta de libertação na Guiné-Bissau<br />

atraiu muito interesse na Suécia a partir dos finais dos anos sessenta. Cabral<br />

enc<strong>on</strong>trou-se com bastantes suecos no quartel-general do PAIGC em C<strong>on</strong>acri e alguns<br />

visitaram também as z<strong>on</strong>as libertadas na Guiné-Bissau. O PAIGC não só foi um dos<br />

membros fundadores da aliança entre o CONCP e o MPLA, como Cabral tinha sido estudante<br />

em Portugal no início da década de cinquenta e tinha tidos c<strong>on</strong>tactos muito próximos,<br />

em c<strong>on</strong>junto com Mário de Andrade e Agostinho Neto, futuros líderes do MPLA.<br />

Para além disso, como c<strong>on</strong>sultor agrícola em Angola, tinha participado no processo que<br />

levaria à formação, em 1956, do MPLA. 188 Daí que fosse lógico que Cabral e a liderança<br />

do PAIGC dessem, a quem os visitava, uma imagem positiva do MPLA. 189<br />

Um dos primeiros suecos a visitar a Guiné-Bissau foi o escritor Göran Palm que,<br />

na companhia de Bertil Malmström do Comité da África do Sul de Uppsala, passou<br />

três semanas em Outubro-Novembro de 1969 com o PAIGC nas z<strong>on</strong>as libertadas. 190<br />

O governo sueco decidira na altura c<strong>on</strong>ceder ajuda ao PAIGC. 191 Para aumentar o seu<br />

c<strong>on</strong>hecimento sobre esta colónia portuguesa tão pouco c<strong>on</strong>hecida, a ASDI pediu a Palm<br />

que elaborasse um relatório da sua visita, centrando-se sobretudo nas necessidades humanitárias<br />

do PAIGC e, segundo esse relatório de Palm, Amílcar Cabral<br />

salientou especialmente que o mais importante é que a Suécia a valiosa ajuda já dada à FRELI-<br />

MO de Moçambique e ao PAIGC da Guiné-Bissau e que também incluia o MPLA de Angola:<br />

”Angola é, ao fim ao cabo, a frente mais importante da nossa luta comum. Estão em Angola<br />

os maiores recursos naturais e os mais atraentes objectos de investimento para o capital internaci<strong>on</strong>al.<br />

Se a luta de libertação em Angola parar, os portugueses vão c<strong>on</strong>tinuar a tentar não<br />

perder África, mesmo que a FRELIMO e o PAIGC saiam vitoriosos”.<br />

[...] Mas por que razão deverá ser c<strong>on</strong>cedida ajuda sueca a Angola por via do MPLA? Não<br />

haverá outros movimentos de libertação igualmente merecedores de ajuda? Outros líderes do<br />

PAIGC para além de Cabral resp<strong>on</strong>deram a esta pergunta e não havia qualquer divergência<br />

187. Entrevista com Pierre Schori, p. 330. Olof Palme e Amílcar Cabral tornaram-se muito amigos. Depois do<br />

assassinato de Cabral em Janeiro de 1973, o primeiro ministro declarou o seguinte no parlamento sueco: ”Tive<br />

muitas c<strong>on</strong>versações com Cabral ao l<strong>on</strong>go dos anos. Era uma pessoa que impressi<strong>on</strong>ava com grande facilidade. A sua<br />

característica mais notável era que, no ambiente de uma luta pela libertação naci<strong>on</strong>al, estava sempre a pensar no trabalho<br />

da rec<strong>on</strong>strução pacífica que teria de ser feito após a libertação e que inclusive já começara nas z<strong>on</strong>as libertadas.<br />

[...] Cabral estava interessado na Suécia, não apenas por causa das nossas soluções tecnológicas, uma vez que o seu<br />

país ainda é muito pobre, mas porque queria analisar as ideias que nos nortearam para criar a nossa estrutura social<br />

em tempo de paz” (”Excerto do discurso de abertura do primeiro ministro Olof Palme, no debate político geral no<br />

Parlamento”, 31 de Janeiro de 1973, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents <strong>on</strong> Swedish Foreign Policy:<br />

1973, Estocolmo, 1976, pp. 19–20).<br />

188. Patrick Chabal: Amílcar Cabral: Revoluti<strong>on</strong>ary Leadership and People’s War, Cambridge University Press, Cambridge,<br />

1983, pp. 29–53.<br />

189. O mesmo ac<strong>on</strong>teceria, evidentemente, durante as várias visitas de Amílcar Cabral à Suécia, a partir dos finais<br />

de 1968. Eduardo M<strong>on</strong>dlane, presidente da FRELIMO, também defendeu a c<strong>on</strong>cessão de ajuda aos companheiros<br />

de armas do MPLA.<br />

190. Rolf Gustavss<strong>on</strong> do Comité da África do Sul de Lund, que viria a ser um famoso africanista e repórter da televisão<br />

sueca, visitou as z<strong>on</strong>as libertadas da Guiné-Bissau no final de 1968. Os relatos de Gustavss<strong>on</strong> e Palm foram<br />

publicados no Södra Afrika Informati<strong>on</strong>sbulletin, No. 7, 1970, pp. 9–13 e 37–41.<br />

191. Palm escreveu no seu relato que ”as primeiras remessas de material ainda não tinham chegado à Guiné-Bissau,<br />

que o simples facto de a decisão ter sido tomada já gerava muito entusiasmo no PAIGC e terá provavelmente c<strong>on</strong>tribuído<br />

para lá termos sido recebidos como príncipes por toda a parte. [...] Tal como a FNL no Vietname, o PAIGC<br />

queria evitar uma dependência dos estados de Leste. Receber ajuda de um país da Europa Ocidental seria, por<br />

exemplo, mais bem-vindo do que um aumento significativo da ajuda dada pela Rússia. Quando essa ajuda chegar<br />

desse país relativamente desc<strong>on</strong>hecido, mas apesar disso muito admirado, que é a Suécia, a satisfação vai ser infinita.<br />

O PAIGC espera que os c<strong>on</strong>tactos com a Suécia venham também a abrir as portas dos outros Estados da Europa<br />

Ocidental” (Göran Palm: ”Rapport från Guinea-Bissau”/”Relatório da Guiné-Bissau” [sem indicação de data nem<br />

de local]) (SDA).

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