Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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Tor Sellström<br />
por ”incluírem parágrafos que instam à aplicação de sanções c<strong>on</strong>tra Portugal”, 128 coisa<br />
que, segundo a Suécia, país muito escrupuloso quanto aos princípios, só o C<strong>on</strong>selho<br />
de Segurança estava mandatado para fazer. C<strong>on</strong>tudo, à medida que foram sendo feitos<br />
c<strong>on</strong>tactos cada vez mais estreitos com os movimentos naci<strong>on</strong>alistas de Angola e Moçambique,<br />
o governo sueco viria a denunciar Portugal e as suas guerras em África, a partir de<br />
meados da década de sessenta, de forma cada vez mais forte. Via-se cada vez mais que as<br />
questões relaci<strong>on</strong>adas com a África Austral se interligavam entre si. Falando das ”duas<br />
nuvens negras e ameaçadoras que dominam o horiz<strong>on</strong>te político, a guerra no Vietname<br />
e a situação na África Austral”, 129 o Ministro dos Negócios Estrangeiros Nilss<strong>on</strong> criticou,<br />
por exemplo, a ”aliança ímpia” entre Portugal, a Rodésia e a África do Sul. 130 Estas críticas<br />
foram apresentadas no debate na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Outubro de<br />
1966. ”Estamos”, referiu,<br />
c<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>tados com um c<strong>on</strong>junto de problemas relaci<strong>on</strong>ados em toda a z<strong>on</strong>a da África Austral.<br />
Se o regime ilegal de Smith no Sul da Rodésia não c<strong>on</strong>tasse com a compreensão e a simpatia<br />
da minoria branca da África do Sul, talvez não se atrevesse a romper com o governo britânico<br />
de forma aberta. Se Portugal não c<strong>on</strong>tasse com amigos em Pretória, seria muito provavelmente<br />
mais fácil c<strong>on</strong>vencer o governo de Lisboa de que a sua política col<strong>on</strong>ial pertence ao passado. E<br />
se os governos da África do Sul não tivessem sido tão cegos na sua política racial, o problema<br />
da África do sudoeste não teria chegado a uma situação tão trágica e tão crítica. 131<br />
A crítica subiu de tom no ano seguinte. Sublinhando que o orçamento militar português<br />
tinha aumentado 220 por cento entre 1961 e 1967, o delegado sueco, Brita Skottsberg-<br />
-Åhman, criticou duramente Portugal, nas Nações Unidas, por tentar ”transformar os<br />
africanos em portugueses pela força das armas”. E lançou uma pergunta:<br />
Porque é que os habitantes de Angola e Moçambique devem ser tornados portugueses? Nenhuma<br />
outra potência col<strong>on</strong>ial quis obrigar os povos nos seus territórios a ter de saber ler e<br />
escrever na língua da potência dominante para poderem votar nos seus próprios países, como<br />
prescreve a legislação nas colónias portuguesas. Também mais nenhuma outra potência col<strong>on</strong>ial<br />
exigiu que os africanos abdicassem da sua forma de vida própria e da sua cultura para se<br />
transformarem em reflexos dos seus dominadores col<strong>on</strong>iais. 132<br />
Apesar disso, só em 1968 é que a Suécia votou a favor das resoluções regularmente apre-<br />
128. ”Comunicado à imprensa”, 20 de Novembro de 1968, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documentos<br />
sobre Política Externa Sueca: 1968, Estocolmo, 1969, p. 113.<br />
129. ”Discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros na Assembleia Geral das Nações Unidas”, 10 de Outubro de<br />
1966, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documentos sobre Política Externa Sueca: 1966, Estocolmo, 1967,<br />
p. 41.<br />
130. Os laços históricos de grande proximidade entre Portugal, a Rodésia e a África do Sul rodavam em torno de<br />
Moçambique, que a África do Sul utilizava como reservatório de mão-de-obra não especializada e como uma passagem<br />
muito útil pelo porto de Lourenço Marques. O porto e rede ferroviária da Beira eram, também, essenciais para<br />
o comércio externo da Rodésia, que não tem acesso ao mar. C<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>tados com a ameaça de sanções internaci<strong>on</strong>ais,<br />
a cooperação ec<strong>on</strong>ómica, política e militar entre os três países aumentou muito em meados dos anos sessenta. Em<br />
1964, Portugal e a África do Sul celebraram um c<strong>on</strong>junto de acordos, entre os quais, um projecto hidroeléctrico<br />
no rio Cunene entre Angola e a Namíbia e a utilização pela África do Sul de Cabo Verde como p<strong>on</strong>to de trânsito<br />
para tráfego aéreo internaci<strong>on</strong>al. Também em 1964, Portugal e a Rodésia assinaram um novo acordo comercial. O<br />
gasoduto que ligava o porto moçambicano da Beira à refinaria de Umtali na Rodésia foi, para além do mais, inaugurado<br />
em Dezembro de 1964. A seguir à declaração unilateral de independência e ao embargo petrolífero ao regime<br />
de Smith que se lhe seguiu, o C<strong>on</strong>selho de Segurança das Nações Unidas instou Portugal a não permitir a utilização<br />
das instalações do porto da Beira para entrega de petróleo à Rodésia. C<strong>on</strong>tudo, Portugal recusou-se, dizendo que a<br />
resolução ´violava o princípio do livre acesso dos países sem costa ao mar”.<br />
131. ”Discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros na Assembleia Geral das Nações Unidas”, 10 de Outubro de<br />
1966, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documentos sobre Política Externa Sueca: 1966, Estocolmo, 1967,<br />
p. 43.<br />
132. Ministério dos Negócios Estrangeiros (1970) op. cit., p. 78.