Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ... Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
64 Tor Sellström opiniões divergentes dos dois movimentos e, em larga medida, a confundir as questões de base relativas às necessidades humanitárias e da ajuda oficial. Acabou por ser tomada uma decisão, que seria a de ajudar unicamente o MPLA, e que não foi fácil de tomar. O antigo director geral da ASDI, Ernst Michanek, explicou-a em 1996 nos seguintes termos: Avaliámos a situação em Angola com todo o cuidado e estabelecemos todo o tipo de ligações, no sentido de decidir quem deveríamos apoiar. Tínhamos empatia com o objectivo final tanto do MPLA como da FNLA, mas como estavam em luta um contra o outro, tivemos de debater a questão de apoiar ambos os movimentos ou apenas um deles. Juntos, sentados à mesa, chegámos à conclusão de que os argumentos a favor do MPLA eram muito mais fortes do que os da FNLA. Houve quem contra-argumentasse em defesa da FNLA. Tivemos de tomar uma decisão política difícil. 113 O facto de a FNLA ter conquistado, por volta de 1970, um público importante na Suécia ficou comprovado quando Per Ahlmark e Ola Ullsten do Partido Liberal apresentaram uma moção ao parlamento, a favor da concessão de ajuda oficial sueca à FNLA e ao MPLA. 114 Mais ao menos ao mesmo tempo, a Juventude Liberal doou 5.000 coroas suecas a cada uma das organizações. 115 Independentemente disso, e apesar da sua amizade com influentes líderes de opinião suecos como, por exemplo, David Wirmark e Olle Wästberg, o presidente da FNLA ainda não tinha encontrado uma razão para visitar a Suécia. Só no final de Novembro de 1971 é que Holden Roberto acabaria por se deslocar a Estocolmo, tendo sido o último, e talvez o menos interessado, dos líderes históricos da África Austral a apresentar os seus argumentos ao governo e ao povo suecos. 116 A visita de Holden Roberto não foi organizada pelo Partido Liberal nem por nenhuma das outras grandes organizações políticas da Suécia, mas pela União dos Estudantes Universitários de Estocolmo. 117 Além do mais, a visita teve lugar quase dois anos depois de o governo sueco ter decidido conceder ajuda humanitária ao MPLA, pouco tempo depois duma reunião entre Olof Palme e Agostinho Neto em Lusaca, 118 e ao mesmo tempo que o veterano do MPLA Lúcio Lara estava de visita à Suécia. 119 Com estes antecedentes, não surpreende que a visita tenha ficado longe de constituir um êxito. Os Grupos de África, ou seja, o recém-reorganizado movimento sueco de solidariedade com a África Austral, ”condenou o convite a Holden Roberto”, dizendo que tal não poderia deixar de ”induzir em erro o público sueco e enfraquecer o apoio à verdadeira luta de libertação travada em Angola pelo MPLA, que libertou um terço do território”. 120 Os Grupos de África, que bém debates previlegiados com Holden Roberto sobre a decomposição do acordo de unidade com o MPLA de Dezembro de 1972 (entrevista a Holden Roberto, p. 30, e carta (”Samtal med Holden Roberto; Uppgörelsen med MPLA”/”Conversa com Holden Roberto; o acordo com o MPLA”) de Henrik Ramel ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Kinshasa, 18 de Abril de 1973 (MFA)). 113. Entrevista a Ernst Michanek, p. 320. 114. Parlamento sueco 1970: Moção Nº 624 na segunda câmara, Riksdagens Protokoll 1970, p. 7. 115. Carta (”Svensk hjälp till Angola”/”Ajuda sueca a Angola”) de Dag Malm, Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao embaixador da Suécia em Kinshasa, Olof Bjurström, Estocolmo, 9 de Abril de 1970 (MFA). 116. O primeiro dos líderes da África Austral exilado a visitar a Suécia foi Oliver Tambo do ANC, em Abril de 1961. Antes de Holden Roberto, Agostinho Neto do MPLA tinha sido o último, em Julho de 1970. 117. Carta informativa de Johan Hjertqvist e Charlotte Sellberg, Stockholms Universitets Studentkår (União dos Estudantes da Universidade de Estocolmo), Estocolmo, 18 de Novembro de 1971 (MFA). 118. Palme e Neto encontraram-se em Lusaca durante a visita do primeiro ministro à Zâmbia em Setembro de 1971. 119. Proveniente da Dinamarca, Lara visitou a Suécia no intuito de discutir a proposta de criação de uma escola em Dolisie, em parceira com a ASDI. 120. Os Grupos de África de Arvika, Gotemburgo, Lund, Estocolmo e Uppsala: ”Uttalande med anledning av den angolesiske ”befrielseledaren” Holden Robertos besök i Sverige” (”Declaração relativa à visita à Suécia de Holden
Na via para o apoio oficial ao MPLA boicotaram a alocução de Holden Roberto na universidade de Estocolmo, distribuíram um folheto informativo altamente crítico, com o título ”Factos sobre o movimento de libertação” 121 de Holden Roberto, solicitaram aos seus apoiantes que contribuíssem para uma campanha de angariação de fundos para o MPLA e convidaram o público a participar numa reunião alternativa à de Holden Roberto, com a presença de Lúcio Lara, e subordinada ao tema ”Colonialismo e Neocolonialismo em África”. 122 Durante a visita, Holden Roberto foi recebido pela ASDI e no Ministério dos Negócios Estrangeiros. 123 Defendeu a sua tese, solicitando ajuda da Suécia, mas teve de voltar para casa de mãos a abanar, pois não foi assumido nenhum compromisso oficial em favor da FNLA. 124 Vinte e cinco anos depois, o ainda amargurado presidente da FNLA recordou as ”grandes dificuldades” que teve nas suas tentativas de contactar o governo sueco e de como, quando conseguiu, se deparou com ”agressividade”, ”verdadeira oposição” e ”total rejeição” no Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde os responsáveis pelo ministério estavam ”profundamente empenhados com o MPLA”. 125 Pondo de lado esta experiência, Holden Roberto voltou à Suécia em Novembro de 1972, desta vez a convite do Partido Liberal, e liderando uma grande delegação ao congresso do partido, que se realizou em Gotemburgo. De acordo com o líder da FNLA, tratou-se de ”uma oportunidade importante para nós e aumentámos os nossos contactos”. 126 Os membros do influente Conselho Consultivo sobre Ajuda Humanitária não ficaram, contudo, muito mais impressionados, antes pelo contrário. Numa entrevista que deu em Fevereiro de 1996, Per Wästberg, irmão de Olle Wästberg, referiu o seguinte nem Holden Roberto nem os outros representantes da FNLA, muitos dos quais traziam fatos muito elegantes, inspiravam a mais pequena confiança. Holden Roberto tentou seduzir os liberais e teve algum êxito nisso. Eu já me encontrei com ele algumas vezes. Pensei imediatamente tratar-se duma pessoa com quem não convém ter uma relação muito profunda, independentemente da questão ideológica. Diria que se trata de um homem tribal. 127 A Suécia nas Nações Unidas e o Movimento de Solidariedade Durante muito tempo a Suécia desempenhou um papel passivo relativamente a Portugal e aos territórios detidos por Portugal em África. Apesar de concordar com o princípio da autodeterminação, a partir de 1964, o governo sueco começou a abster-se regularmente nas votações das resoluções relevantes na Assembleia Geral das Nações Unidas, Roberto, o ”líder da libertação” de Angola”) [sem indicação de data nem de local] (AGA). 121. Segundo o folheto informativo, a FNLA estava activa sobretudo no exílio. Não se tratava de um movimento de libertação nacional, mas de uma organização tribalista, sedeada em Bakongo, apoiada pelos interesses económicos norte-americanos ligados à CIA. O movimento de Holden Roberto era também descrito como sendo racista, fomentador de crenças não políticas místicas e religiosas (Ibid.). 122. Ibid. 123. Holden Roberto teve um encontro no Ministério dos Negócios Estrangeiros com Lennart Klackenberg, chefe do Departamento de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional. De volta a Kinshasa, Holden Roberto escreveu a Klackenberg, agradecendo-lhe o ”debate fraterno, que nos permitiu aperceber-nos do seu incondicional apoio à nossa justa causa”, acrescentando ainda que ”não nos pouparemos a esforços no sentido de justificar a confiança e o interesse que depositou em nós” (carta de Holden Roberto a Lennart Klackenberg, Kinshasa, 6 de Janeiro de 1972) (MFA). 124. Telegrama do Ministério dos Negócios Estrangeiros à Embaixada da Suécia em Kinshasa, 10 de Março de 1972 (MFA). 125. Entrevista a Holden Roberto, p. 30. 126. Ibid. 127. Entrevista a Per Wästberg, p. 352. 65
- Page 14 and 15: 14 Tor Sellström da Guiné-Bissau,
- Page 16 and 17: 16 Tor Sellström A inexistência d
- Page 18 and 19: 18 Tor Sellström Este estudo é, a
- Page 20 and 21: Portugal, África e Suécia Insurre
- Page 22 and 23: 22 Tor Sellström Quando, em 1969,
- Page 24 and 25: 24 Tor Sellström das empresas suec
- Page 26 and 27: 26 Tor Sellström mais uníssono e
- Page 28 and 29: 28 Tor Sellström que o que mais lh
- Page 30 and 31: 30 Tor Sellström porém, fortement
- Page 32 and 33: 32 artigos sobre Angola, ele escrev
- Page 34 and 35: 34 Tor Sellström dos principais jo
- Page 36 and 37: 36 Tor Sellström e terror por detr
- Page 38 and 39: 38 Tor Sellström tal é possível,
- Page 40 and 41: 40 Tor Sellström 25 por cento, era
- Page 42 and 43: 42 Tor Sellström sável em 1947 po
- Page 44 and 45: 44 Contactos de jovens e estudantes
- Page 46 and 47: 46 Tor Sellström Entre os particip
- Page 48 and 49: 48 Tor Sellström Congo-Brazzaville
- Page 50 and 51: 50 Tor Sellström receberam atenç
- Page 52 and 53: 52 Tor Sellström pedras. [...] Mas
- Page 54 and 55: 54 Tor Sellström Depois de se desl
- Page 56 and 57: 56 Tor Sellström de Lisboa em Ango
- Page 58 and 59: 58 Tor Sellström tas com o partido
- Page 60 and 61: 60 Tor Sellström ou, em geral, a t
- Page 62 and 63: 62 Tor Sellström em 1967 e que est
- Page 66 and 67: 66 Tor Sellström por ”incluírem
- Page 68 and 69: 68 Tor Sellström blicou vários ar
- Page 70 and 71: 70 Tor Sellström çambique, 153 qu
- Page 72 and 73: 72 Tor Sellström te do MPLA, Agost
- Page 74 and 75: 74 Tor Sellström pessoa formidáve
- Page 76 and 77: 76 Tor Sellström mais central do q
- Page 78 and 79: 78 Tor Sellström tal”, acrescent
- Page 80 and 81: 80 Tor Sellström esmagadora maiori
- Page 82 and 83: Os Mondlane e a FRELIMO de Moçambi
- Page 84 and 85: 84 Tor Sellström 1970, a quota da
- Page 86 and 87: 86 Tor Sellström ços para despert
- Page 88 and 89: 88 Tor Sellström mas também quem,
- Page 90 and 91: 90 A primeira visita dos Mondlane
- Page 92 and 93: 92 Tor Sellström Sul”, 46 enquan
- Page 94 and 95: 94 Tor Sellström O envolvimento do
- Page 96 and 97: 96 Tor Sellström para 200.000 coro
- Page 98 and 99: 98 Tor Sellström embustes, que os
- Page 100 and 101: 100 Tor Sellström dos programas de
- Page 102 and 103: 102 Tor Sellström além de debates
- Page 104 and 105: 104 Tor Sellström ”novo” país
- Page 106 and 107: 106 Tor Sellström Apesar disso, o
- Page 108 and 109: 108 Tor Sellström do secundário p
- Page 110 and 111: 110 Tor Sellström tava suspenso, o
- Page 112 and 113: 112 Tor Sellström seus planos, acr
64<br />
Tor Sellström<br />
opiniões divergentes dos dois movimentos e, em larga medida, a c<strong>on</strong>fundir as questões de<br />
base relativas às necessidades humanitárias e da ajuda oficial. Acabou por ser tomada uma<br />
decisão, que seria a de ajudar unicamente o MPLA, e que não foi fácil de tomar. O antigo<br />
director geral da ASDI, Ernst Michanek, explicou-a em 1996 nos seguintes termos:<br />
Avaliámos a situação em Angola com todo o cuidado e estabelecemos todo o tipo de ligações,<br />
no sentido de decidir quem deveríamos apoiar. Tínhamos empatia com o objectivo final tanto<br />
do MPLA como da FNLA, mas como estavam em luta um c<strong>on</strong>tra o outro, tivemos de debater<br />
a questão de apoiar ambos os movimentos ou apenas um deles. Juntos, sentados à mesa,<br />
chegámos à c<strong>on</strong>clusão de que os argumentos a favor do MPLA eram muito mais fortes do que<br />
os da FNLA. Houve quem c<strong>on</strong>tra-argumentasse em defesa da FNLA. Tivemos de tomar uma<br />
decisão política difícil. 113<br />
O facto de a FNLA ter c<strong>on</strong>quistado, por volta de 1970, um público importante na Suécia<br />
ficou comprovado quando Per Ahlmark e Ola Ullsten do Partido Liberal apresentaram<br />
uma moção ao parlamento, a favor da c<strong>on</strong>cessão de ajuda oficial sueca à FNLA e ao<br />
MPLA. 114 Mais ao menos ao mesmo tempo, a Juventude Liberal doou 5.000 coroas suecas<br />
a cada uma das organizações. 115 Independentemente disso, e apesar da sua amizade<br />
com influentes líderes de opinião suecos como, por exemplo, David Wirmark e Olle<br />
Wästberg, o presidente da FNLA ainda não tinha enc<strong>on</strong>trado uma razão para visitar a<br />
Suécia. Só no final de Novembro de 1971 é que Holden Roberto acabaria por se deslocar<br />
a Estocolmo, tendo sido o último, e talvez o menos interessado, dos líderes históricos da<br />
África Austral a apresentar os seus argumentos ao governo e ao povo suecos. 116<br />
A visita de Holden Roberto não foi organizada pelo Partido Liberal nem por nenhuma<br />
das outras grandes organizações políticas da Suécia, mas pela União dos Estudantes Universitários<br />
de Estocolmo. 117 Além do mais, a visita teve lugar quase dois anos depois de o<br />
governo sueco ter decidido c<strong>on</strong>ceder ajuda humanitária ao MPLA, pouco tempo depois<br />
duma reunião entre Olof Palme e Agostinho Neto em Lusaca, 118 e ao mesmo tempo que<br />
o veterano do MPLA Lúcio Lara estava de visita à Suécia. 119 Com estes antecedentes, não<br />
surpreende que a visita tenha ficado l<strong>on</strong>ge de c<strong>on</strong>stituir um êxito. Os Grupos de África,<br />
ou seja, o recém-reorganizado movimento sueco de solidariedade com a África Austral,<br />
”c<strong>on</strong>denou o c<strong>on</strong>vite a Holden Roberto”, dizendo que tal não poderia deixar de ”induzir<br />
em erro o público sueco e enfraquecer o apoio à verdadeira luta de libertação travada em<br />
Angola pelo MPLA, que libertou um terço do território”. 120 Os Grupos de África, que<br />
bém debates previlegiados com Holden Roberto sobre a decomposição do acordo de unidade com o MPLA de<br />
Dezembro de 1972 (entrevista a Holden Roberto, p. 30, e carta (”Samtal med Holden Roberto; Uppgörelsen med<br />
MPLA”/”C<strong>on</strong>versa com Holden Roberto; o acordo com o MPLA”) de Henrik Ramel ao Ministério dos Negócios<br />
Estrangeiros, Kinshasa, 18 de Abril de 1973 (MFA)).<br />
113. Entrevista a Ernst Michanek, p. 320.<br />
114. Parlamento sueco 1970: Moção Nº 624 na segunda câmara, Riksdagens Protokoll 1970, p. 7.<br />
115. Carta (”Svensk hjälp till Angola”/”Ajuda sueca a Angola”) de Dag Malm, Ministério dos Negócios Estrangeiros,<br />
ao embaixador da Suécia em Kinshasa, Olof Bjurström, Estocolmo, 9 de Abril de 1970 (MFA).<br />
116. O primeiro dos líderes da África Austral exilado a visitar a Suécia foi Oliver Tambo do ANC, em Abril de 1961.<br />
Antes de Holden Roberto, Agostinho Neto do MPLA tinha sido o último, em Julho de 1970.<br />
117. Carta informativa de Johan Hjertqvist e Charlotte Sellberg, Stockholms Universitets Studentkår (União dos<br />
Estudantes da Universidade de Estocolmo), Estocolmo, 18 de Novembro de 1971 (MFA).<br />
118. Palme e Neto enc<strong>on</strong>traram-se em Lusaca durante a visita do primeiro ministro à Zâmbia em Setembro de<br />
1971.<br />
119. Proveniente da Dinamarca, Lara visitou a Suécia no intuito de discutir a proposta de criação de uma escola em<br />
Dolisie, em parceira com a ASDI.<br />
120. Os Grupos de África de Arvika, Gotemburgo, Lund, Estocolmo e Uppsala: ”Uttalande med anledning av den<br />
angolesiske ”befrielseledaren” Holden Robertos besök i Sverige” (”Declaração relativa à visita à Suécia de Holden