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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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Tor Sellström<br />

em 1967 e que estava situado a norte de Kolwezi. Além disso, antes de iniciar a sua aventura<br />

peripatética ao norte de Angola, Wästberg foi c<strong>on</strong>vidado a visitar o hospital da FNLA<br />

em Franquetti, nos arredores da capital. Enc<strong>on</strong>trou-se também com Holden Roberto no<br />

quartel gene-ral da FNLA-GRAE, no centro de Kinshasa. Da visita à tristemente célebre<br />

base de Kinkuzu, <strong>on</strong>de tinham estado presos e foram executados vários membros de destaque<br />

do MPLA, alguns dos quais mulheres, 98 e que fora descrita como um ”Buchenwald<br />

africano” 99 , ficaram-lhe impressões acriticamente positivas. Omisso quanto ao tema da<br />

violência cometida pela FNLA c<strong>on</strong>tra membros capturados do MPLA, Wästberg fez<br />

perguntas sobre a situação de três prisi<strong>on</strong>eiros portugueses que se enc<strong>on</strong>travam na base,<br />

tendo-lhe sido garantido que ”estão a ser tratados de forma humana”. 100 A sua descrição<br />

de Holden Roberto, muito c<strong>on</strong>hecido por ser perigosamente impulsivo e de gostar de dar<br />

nas vistas, foi também muito favorável. Wästberg reuniu-se com o líder da FNLA, que<br />

fora ”criado na missão britânica e vive na maior das frugalidades; não fuma nem bebe”,<br />

num ”escritório pequeno e despretensioso”, e referiu que ”transmitia quase a sensação de<br />

ser tímido”. 101<br />

Duma forma global, o quadro traçado pelo jovem liberal sueco apoiava a perspectiva<br />

segundo a qual o movimento de Holden Roberto era a verdadeira organização naci<strong>on</strong>alista<br />

angolana, tanto pela sua política militar como pelas suas preocupações cívicas. Segundo<br />

Wästberg, os ”p<strong>on</strong>tos de vista políticos da FNLA c<strong>on</strong>tinuam a ser não dogmáticos<br />

e não se alinham com nenhuma ideologia estabelecida. O p<strong>on</strong>to central do seu programa<br />

político é a unidade de Angola. Holden Roberto, nos seus discursos, tinha várias vezes<br />

destacado que a simples luta já unia Angola. Um povo que c<strong>on</strong>quista a liberdade pela luta<br />

armada não irá mais tarde entregar-se ao egoísmo e ao tribalismo”. 102 Para além disso,<br />

era da opinião que ”a FNLA diverge dos outros movimentos de libertação num aspecto:<br />

c<strong>on</strong>solidou-se como um ”governo” para os cerca de 500.000 refugiados angolanos no<br />

C<strong>on</strong>go, o que dá à FNLA uma orientação especial e muito prática”. 103<br />

A viagem de Wästberg por Angola na companhia da FNLA foi importante. Até então,<br />

poucos observadores internaci<strong>on</strong>ais tinham tido oportunidade de acompanhar algum<br />

dos movimentos de libertação no interior do país e os seus relatos foram muito citados. 104<br />

Pierre-Pascal Rossi, jornalista suíço, passara quarenta e seis dias em Julho-Setembro de<br />

1968 com a FNLA no norte de Angola. 105 A visita de Wästberg, que se realizou em Ju-<br />

98. Por exemplo, em Março de 1967, a FNLA deteve um grupo de cerca de vinte membros do MPLA, que regressavam<br />

ao Zaire, provenientes do norte de Angola. Do grupo faziam parte cinco mulheres, incluindo Deolinda<br />

Rodrigues de Almeida, membro destacado do Comité Executivo do MPLA. Foi levada para Kinkuzu, presa e depois<br />

executada. Marcum refere que havia cerca de cem pris<strong>on</strong>eiros do MPLA em Kinkuzu no princípio de 1968 (Marcum<br />

(1978) op. cit., p. 198).<br />

99. Ver Marcum (1978) op. cit., p. 151.<br />

100. Olle Wästberg (1970) op. cit., p. 87.<br />

101. Ibid., p. 81. Esteve presente na reunião José Manuel Peters<strong>on</strong>, chefe dos serviços de segurança da FNLA. Em<br />

breves palavras, Wästberg diz que Peters<strong>on</strong> era o homem mais próximo de ”Holden Roberto, que fora baptizado e<br />

criado por missi<strong>on</strong>ários suecos” (Ibid.). Como ajudante pessoal de Holden Roberto, Peters<strong>on</strong> estava, c<strong>on</strong>tudo, l<strong>on</strong>ge<br />

de estar embuído de valores éticos cristãos, uma vez que era o resp<strong>on</strong>sável directo pelo que a FNLA fez em termos<br />

de violações dos direitos humanos. Marcum escreveu mais tarde que Holden Roberto c<strong>on</strong>tava muito com Peters<strong>on</strong><br />

”para se desembaraçar, de forma desapiedada, dos adversários politicos, mesmo apesar de se saber que se tratava de<br />

alguém perigosamente corrupto” (Marcum (1978) op. cit., p. 186). Entrevistado em 1996, David Wirmark comentou:<br />

”Claro que em todos os movimentos se via que eram por vezes usados métodos bastante duros, mas penso que<br />

não havia diferenças de fundo entre o MPLA e a FNLA” (entrevista a David Wirmark, p. 345).<br />

102. Ibid., p. 107.<br />

103. Ibid., p. 121.<br />

104. Por exemplo por Basil Davids<strong>on</strong> na sua obra In <strong>the</strong> Eye of <strong>the</strong> Storm (p. 218).<br />

105. Pierre-Pascal Rossi: Pour une Guerre Oubliée, Julliard, Paris, 1969.

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