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60 Tor Sellström ou, em geral, a toda a região nórdica. Quando, em Dezembro de 1968, o Ministro dos Negócios Estrangeiros sueco, Torsten Nilsson, declarou que o governo sueco se estava a preparar para conceder ajuda humanitária directa e oficial aos movimentos de libertação, a FNLA tomou, apesar de tudo, boa nota do facto, decidindo a breve trecho colocar um representante seu junto dos países escandinavos, em Estocolmo. Como declarou a FNLA, a vontade manifestada pelo governo sueco de ajudar os movimentos africanos de libertação no âmbito da execução dos seus projectos humanitários foi alvo de grande interesse da nossa parte. [...] As mais altas instituições da Frente Nacional para a Libertação de Angola mandataram portanto o seu executivo, o Governo Revolucionário de Angola no Exílio, no sentido de preparar uma estratégia política adequada relativamente aos povos e governos escandinavos. 80 O representante da FNLA-GRAE na Escandinávia, Mateus João Neto, 81 foi apresentado por Holden Roberto nos finais de Maio de 1969, 82 mas já tinha chegado à Suécia em meados de 1968 para estudar na Faculdade de Economia de Estocolmo. 83 No início de 1969 esteve bastante activo junto da imprensa sueca, apresentando-lhe a FNLA. 84 Contudo, e segundo Holden Roberto, Neto não terá recebido ”qualquer tipo de apoio” 85 e foi com esse enquadramento que se decidiu levar a cabo a ofensiva diplomática na Suécia e na Escandinávia. Henri Mutombo, secretário do Ministro da Informação do GRAE foi enviado à Suécia em Abril de 1969, tendo-se inclusive visto ”forçado a interromper a sua participação na conferência especial da FNLA que estava a decorrer para analisar e responder às questões que se levantavam quanto à Escandinávia”. 86 Durante a sua breve estadia em Estocolmo, Mutombo foi oficialmente recebido nos ministérios da Educação e dos Negócios Estrangeiros, bem como por Pierre Schori, na Comissão Nacional do 80. Missão-Escandinávia (GRAE) Nº 4/69: ”Conferência de Imprensa pelo Secretário de Estado do Ministério da Informação, Henri Mutombo”, Estocolmo, 22 de Abril de 1969 (MFA). O interesse comparativamente tardio da FNLA na Suécia e nos outros países escandinavos deu-se numa altura em que o governo dos EUA estava a retirar a sua ajuda à organização. Segundo Marcum, ”Washington enviava uma pequena ajuda, dissumulada, a Holden Roberto para ter uma opção de recurso em caso de derrota portuguesa. A partir de 1962 e até 1969, a Central Intelligence Agency (CIA) dos Estados Unidos da América forneceu a Holden Roberto quantias em dinheiro e uma quantidade provavelmente pequena de armamento. [...] Com a chegada da administração Nixon, a CIA ”desactivou” Holden Roberto, apesar de lhe continuar a dar um ”aliciamento” de 10.000 dólares norte-americanos anuais ”para recolha de informações confidenciais”. Deixando de lado o bem conhecido anti-comunismo de Holden Roberto, a administração Nixon apostou tudo em Portugal” (Marcum (1978) op. cit., p. 237). 81. Mateus João Neto, antes de se deslocar à Suécia, estudara na Faculdade de Agronomia de Viena, na Áustria. Em 1972 foi nomeado Ministro da Informação, Planeamento e Economia do GRAE. Depois do acordo do Alvor entre Portugal, a FNLA, o MPLA e a UNITA, Neto assumiu em Janeiro de 1975 o cargo de Ministro da Agricultura do governo transitório de Angola, mas viria alguns meses mais tarde a deixar a FNLA. 82. Credenciais de Holden Roberto, Kinshasa, 29 de Maio de 1969 (MFA). Vários representantes diplomáticos suecos da ”velha escola” estavam muito pouco entusiasmados com a decisão de se conceder ajuda oficial à luta de libertação de Angola, sendo que, para além disso, alguns deles deixavam patente uma ignorância absolutamente notável. O embaixador da Suécia em Portugal, Gunnar Dryselius, escreveu uma nota ao Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco, em Novembro de 1969, dizendo que ”o MPLA é um movimento de resistência liderado por Moscovo, cujo líder, Alejandro Neto, colocou o seu parente Mateus João Neto em Estocolmo” (Telegrama de Gunnar Dryselius ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lisboa, 24 de Novembro de 1969) (MFA) Independentemente da descrição feita do MPLA, Dryselius enganou-se redondamente. O líder do MPLA era, como é óbvio, Agostinho Neto. Mateus João Neto representava a FNLA. 83. Entrevista a Mateus João Neto conduzida por Tord Wallström (”En miljon angoleser i landsflykt i Kongo”/”Um milhão de angolanos exilados no Congo”), em Arbetaren, 17 de Janeiro de 1969. 84. Ibid. 85. Entrevista a Holden Roberto, p. 30. 86. Missão Escandinávia (GRAE) Nº 4/69: ”Conferência de Imprensa do secretário do Ministério da Informação, Henri Mutombo”, Estocolmo, 22 de Abril de 1969 (MFA).

Na via para o apoio oficial ao MPLA Partido Social Democrata no poder. 87 Deu também uma conferência de imprensa no edifício ABF, durante a qual disse que a FNLA ”tinha reconquistado quase um quinto do território de Angola”. 88 Pouco tempo volvido, o jovem jornalista (e também político) sueco Olle Wästberg, na altura vice presidente da Juventude Liberal 89 , e a sua mulher Inger Claesson acompanharam a FNLA numa missão a uma das zonas libertadas do norte de Angola. O relato de Wästberg foi publicado em quatro artigos a toda a página no Expressen em Novembro de 1969, 90 tendo depois sido também incluído num livro sobre Angola, que viria a ser publicado no ano seguinte. 91 As suas impressões sobre a FNLA 92 colocariam o movimento de Holden Roberto, pela primeira vez, no debate na Suécia sobre a questão de Angola. Introduziram também perspectivas radicalmente diferentes em termos de pontos de vista sobre, por um lado, o movimento de solidariedade e o Partido Social Democrata no poder e, por outro, porta-vozes liberais influentes na questão da África Austral como, por exemplo, David Wirmark e o próprio Wästberg. 93 Argumentando fortemente que a Suécia ”não pode tomar uma posição favorável a um dos dois movimentos angolanos com maior apoio popular”, 94 Wästberg viria, ao longo dos anos seguintes, em debates com persona-lidades como, por exemplo, Dick Urban Vestbro do Comité da África do Sul de Lund 95 e o historiador britânico Basil Davidson, 96 a reiterar que o apoio oficial sueco deveria ser dado tanto à FNLA como ao MPLA. O intercâmbio de pontos de vista continuou até à independência de Angola sob o MPLA de Agostinho Neto, em 1975. 97 Durante a sua estadia no Congo, Wästberg visitou a principal base militar da FNLA em Kinkuzu, e também o campo de Nzilo na província de Katanga, que tinha sido aberto 87. Missão Escandinávia (GRAE) Nº 4/69: ”Relatório da recente visita do secretário do Ministério da Informação à Escandinávia, Estocolmo”, Estocolmo [sem indicação de data] (MFA). 88. Missão Escandinávia (GRAE) Nº 4/69: ”Conferência de Imprensa do secretário do Ministério da Informação, Henri Mutombo”, Estocolmo, 22 de Abril de 1969 (MFA) 89. Olle Wästberg, irmão mais novo de Per Wästberg, defenderia, relativamente a questões relacionadas com a África Austral, posições bastante diferentes das do irmão. Enquanto Per Wästberg se colocava ao lado dos nacionalistas da África Austral, o irmão via a luta regional de uma perspectiva Leste-Ocidente e, enquanto Per Wästberg perspectivava que os acontecimentos se desenvolveriam a Sul, Olle Wästberg achava que seria a Norte. Olle Wästberg, que desempenhou vários cargos importantes no Partido Liberal, chegou a deputado em 1976. Desempenhou também funções como Subsecretário de Estado das Finanças, entre 1991 e 1993, e como chefe de redacção do Expressen em 1994–95. 90. Ver Olle Wästberg: ”Portugiserna tvingade oss till svält och slavarbete” (”Os portugueses conduziram-nos pela força à fome e à escravatura”), em Expressen, 1 de Novembro de 1969 e seguintes. Wästberg também publicou o seu relato em inglês em Swedish Features em 1969. 91. Olle Wästberg: Angola, Bokförlaget PAN/Norstedts, Estocolmo, 1970. Na altura, as organizações suecas criavam frequentemente grupos de estudo para aumentar o seu conhecimento sobre um determinado assunto. O livro de Wästberg sobre Angola incluía um pormenorizado ”plano de estudo”. Entre as perguntas propostas para discussão contava-se a de saber se os movimentos nacionalistas angolanos deveriam ser tratados de forma igual e também a de saber se e como a Suécia os deveria apoiar. 92. Um pouco antes, no ano de 1969, Wästberg publicou um folheto curto, de natureza factual, sobre Angola (Olle Wästberg: Angola, Instituto Escandinavo de Estudos Africanos, Uppsala, 1969). A seguir à visita a Angola, abordou activamente a questão da causa da FNLA nos jornais nacionais, provinciais e local suecos. 93. O Partido Liberal, e, ainda mais importante, o movimento liberal sueco mais lato, estavam divididos relativamente à FNLA. Ver, por exemplo, a entrevista com Carl Tham, p. 340, e a entrevista com Anders Johansson, p. 295. 94. Aqui, como exemplo, citado em Västerbottens-Kuriren, 17 de Julho de 1970. Ver também Olle Wästberg (1970) op. cit., p. 123. 95. Ver ”Befrielserörelsen i Angola” (”O movimento de libertação em Angola”), emTidsignal, Nº 13, 1969 e Dagens Nyheter, 27 de Julho de 1970. 96. ”Basil Davidson och Angola”, em Rapport från SIDA, Nº 1, 1972, pp. 30–31. 97. Ver a troca de pontos de vista entre Per Wästberg e David Wirmark no Dagens Nyheter, 21 de Fevereiro, 5 de Março e 11 de Março de 1975. 61

Na via para o apoio oficial ao MPLA<br />

Partido Social Democrata no poder. 87 Deu também uma c<strong>on</strong>ferência de imprensa no<br />

edifício ABF, durante a qual disse que a FNLA ”tinha rec<strong>on</strong>quistado quase um quinto<br />

do território de Angola”. 88<br />

Pouco tempo volvido, o jovem jornalista (e também político) sueco Olle Wästberg,<br />

na altura vice presidente da Juventude Liberal 89 , e a sua mulher Inger Claess<strong>on</strong> acompanharam<br />

a FNLA numa missão a uma das z<strong>on</strong>as libertadas do norte de Angola. O relato<br />

de Wästberg foi publicado em quatro artigos a toda a página no Expressen em Novembro<br />

de 1969, 90 tendo depois sido também incluído num livro sobre Angola, que viria a ser<br />

publicado no ano seguinte. 91 As suas impressões sobre a FNLA 92 colocariam o movimento<br />

de Holden Roberto, pela primeira vez, no debate na Suécia sobre a questão de Angola.<br />

Introduziram também perspectivas radicalmente diferentes em termos de p<strong>on</strong>tos de<br />

vista sobre, por um lado, o movimento de solidariedade e o Partido Social Democrata no<br />

poder e, por outro, porta-vozes liberais influentes na questão da África Austral como, por<br />

exemplo, David Wirmark e o próprio Wästberg. 93 Argumentando fortemente que a Suécia<br />

”não pode tomar uma posição favorável a um dos dois movimentos angolanos com<br />

maior apoio popular”, 94 Wästberg viria, ao l<strong>on</strong>go dos anos seguintes, em debates com<br />

pers<strong>on</strong>a-lidades como, por exemplo, Dick Urban Vestbro do Comité da África do Sul<br />

de Lund 95 e o historiador britânico Basil Davids<strong>on</strong>, 96 a reiterar que o apoio oficial sueco<br />

deveria ser dado tanto à FNLA como ao MPLA. O intercâmbio de p<strong>on</strong>tos de vista c<strong>on</strong>tinuou<br />

até à independência de Angola sob o MPLA de Agostinho Neto, em 1975. 97<br />

Durante a sua estadia no C<strong>on</strong>go, Wästberg visitou a principal base militar da FNLA<br />

em Kinkuzu, e também o campo de Nzilo na província de Katanga, que tinha sido aberto<br />

87. Missão Escandinávia (GRAE) Nº 4/69: ”Relatório da recente visita do secretário do Ministério da Informação à<br />

Escandinávia, Estocolmo”, Estocolmo [sem indicação de data] (MFA).<br />

88. Missão Escandinávia (GRAE) Nº 4/69: ”C<strong>on</strong>ferência de Imprensa do secretário do Ministério da Informação,<br />

Henri Mutombo”, Estocolmo, 22 de Abril de 1969 (MFA)<br />

89. Olle Wästberg, irmão mais novo de Per Wästberg, defenderia, relativamente a questões relaci<strong>on</strong>adas com a África<br />

Austral, posições bastante diferentes das do irmão. Enquanto Per Wästberg se colocava ao lado dos naci<strong>on</strong>alistas da<br />

África Austral, o irmão via a luta regi<strong>on</strong>al de uma perspectiva Leste-Ocidente e, enquanto Per Wästberg perspectivava<br />

que os ac<strong>on</strong>tecimentos se desenvolveriam a Sul, Olle Wästberg achava que seria a Norte. Olle Wästberg, que<br />

desempenhou vários cargos importantes no Partido Liberal, chegou a deputado em 1976. Desempenhou também<br />

funções como Subsecretário de Estado das Finanças, entre 1991 e 1993, e como chefe de redacção do Expressen em<br />

1994–95.<br />

90. Ver Olle Wästberg: ”Portugiserna tvingade oss till svält och slavarbete” (”Os portugueses c<strong>on</strong>duziram-nos pela<br />

força à fome e à escravatura”), em Expressen, 1 de Novembro de 1969 e seguintes. Wästberg também publicou o seu<br />

relato em inglês em Swedish Features em 1969.<br />

91. Olle Wästberg: Angola, Bokförlaget PAN/Norstedts, Estocolmo, 1970. Na altura, as organizações suecas criavam<br />

frequentemente grupos de estudo para aumentar o seu c<strong>on</strong>hecimento sobre um determinado assunto. O livro de<br />

Wästberg sobre Angola incluía um pormenorizado ”plano de estudo”. Entre as perguntas propostas para discussão<br />

c<strong>on</strong>tava-se a de saber se os movimentos naci<strong>on</strong>alistas angolanos deveriam ser tratados de forma igual e também a de<br />

saber se e como a Suécia os deveria apoiar.<br />

92. Um pouco antes, no ano de 1969, Wästberg publicou um folheto curto, de natureza factual, sobre Angola (Olle<br />

Wästberg: Angola, Instituto Escandinavo de Estudos Africanos, Uppsala, 1969). A seguir à visita a Angola, abordou<br />

activamente a questão da causa da FNLA nos jornais naci<strong>on</strong>ais, provinciais e local suecos.<br />

93. O Partido Liberal, e, ainda mais importante, o movimento liberal sueco mais lato, estavam divididos relativamente<br />

à FNLA. Ver, por exemplo, a entrevista com Carl Tham, p. 340, e a entrevista com Anders Johanss<strong>on</strong>, p.<br />

295.<br />

94. Aqui, como exemplo, citado em Västerbottens-Kuriren, 17 de Julho de 1970. Ver também Olle Wästberg (1970)<br />

op. cit., p. 123.<br />

95. Ver ”Befrielserörelsen i Angola” (”O movimento de libertação em Angola”), emTidsignal, Nº 13, 1969 e Dagens<br />

Nyheter, 27 de Julho de 1970.<br />

96. ”Basil Davids<strong>on</strong> och Angola”, em Rapport från SIDA, Nº 1, 1972, pp. 30–31.<br />

97. Ver a troca de p<strong>on</strong>tos de vista entre Per Wästberg e David Wirmark no Dagens Nyheter, 21 de Fevereiro, 5 de<br />

Março e 11 de Março de 1975.<br />

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