Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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56 Tor Sellström de Lisboa em Angola. 53 Por fim, a partir de 1969, o recém-nomeado primeiro ministro sueco Olof Palme manifestou o seu apoio ao MPLA, talvez influenciado por líderes africanos como Amílcar Cabral da Guiné-Bissau e Eduardo Mondlane de Moçambique, os quais em conjunto com Agostinho Neto faziam parte da aliança CONCP, mas também por Nyerere da Tanzânia e Tambo da África do Sul. No entanto, e durante algum tempo depois do regresso de Savimbi a Angola, a UNI- TA continuou a ser apresentada como uma alternativa à FNLA e ao MPLA. Num artigo, o jornalista e poeta moçambicano Virgílio de Lemos argumenta no jornal Tiden, no Outono de 1968 que ”parece que a UNITA seria capaz de criar uma organização interna sólida em Angola”, apesar de o autor se apressar a acrescentar que ”lhe falta a capacidade para se expressar em termos políticos”. 54 Sangumba, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da UNITA sediado em Londres, próximo do IUEF, visitou Estocolmo em Maio de 1969, e denunciou a ”dependência do MPLA do apoio da União Soviética e da sua ideologia elitista”. 55 A visita decorreu numa altura em que o parlamento sueco acabara de aprovar a política de apoio humanitário oficial directo da Suécia aos movimentos de libertação da África Austral. A decisão, e consequente ajuda ao PAIGC da Guiné-Bissau, foi recebida com satisfação e expectativa pelos líderes da UNITA em Angola. No sentido de ”reatar relações com os nossos amigos suecos”, 56 Samuel Chitunda, o recém-eleito Ministro para a Coordenação da UNITA, enviou uma carta ao primeiro ministro Palme ”em nome do comité central da UNITA” em Novembro de 1969, na qual afirmava estamos cientes de todos os esforços feitos pelo governo sueco, sob a sábia liderança de V.Exa. [...] Não é, por certo, de todo exagerado que lhe enderecemos os mais calorosos votos de parabéns pela medida revolucionária tomada pelo governo de V.Exa, relativamente à situação política nas colónias portuguesas em África. O povo de Angola sob a liderança da UNITA ficará a aguardar que as vossas mãos se abram para nos ajudar a varrer o regime fascista do nosso país. A UNITA limita-se a forçar o regime fascista português a conceder a independência ao povo angolano, por forma a que possamos constituir um governo progressista, que se oponha firmemente às forças imperialistas, capitalistas e neocolonialistas de todo o mundo. 57 Contudo, já por esta altura, o debate na Suécia centrava-se na questão de conceder ajuda oficial ao FNLA ou ao MPLA ou a ambos os movimentos. A UNITA não se perfilava como uma alternativa credível e era, regra geral, descrita como inactiva e de importância marginal, tanto pelos proponentes da FNLA como pelos defensores do MPLA. Por exemplo, em Julho de 1970, Olle Wästberg da Juventude Liberal, e que na altura liderava a campanha pró-FNLA na Suécia, escreveu no Expressen que ”a UNITA, durante os dois últimos anos, parece ter tido uma actividade extremamente limitada”. 58 Mais ou menos 53. Dick Urban Vestbro: ”Sydafrikas akilleshäl” (”O calcanhar de Aquiles da África do Sul”) em Tidsignal, Nº 28, 1969, p. 7. Em Julho de 1974, a revista com sede em Paris Afrique-Asie publicou traduções de documentos que mostravam que Savimbi era agente dos portugueses ”desde pelo menos 1972”. Foram publicados outros documentos, alguns datando de 1971, em Novembro–Dezembro de 1979, pelo semanário português Expresso, tendo sido reproduzidos em Inglês em 1988 e comentados por William Minter na sua obra Operation Timber: Pages from the Savimbi Dossier, Africa World Press, Trenton. 54. Virgílio de Lemos: ”Tre gånger Vietnam i Portugals kolonier” (”Três vezes Vietname nas colónias portuguesas”) em Tiden, No. 9, 1968, p. 51. 55. Margareta Romdahl: ”Svårt skaffa läkemedel för gerillan i Angola” (”É difícil conseguir medicamentos para os guerrilheiros em Angola”), em Dagens Nyheter, 21 de Maio de 1969. 56. Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23. 57. Carta de Samuel Chitunda, UNITA, ao primeiro ministro Olof Palme, Lusaca, 2 de Novembro de 1969 (MFA). Original em inglês. 58. Olle Wästberg: ”Visst var jag i Angola” (”Claro que estive em Angola”), em Expressen, 14 de Julho de 1970.
Na via para o apoio oficial ao MPLA nessa mesma altura, o jornal provincial liberal Nerikes Allehanda, argumentava que ”o MPLA tem o voto do povo”, declarando simplesmente, num artigo de página inteira sobre a situação angolana, que ”a UNITA pode ser discutida de forma muito resumida. A sua importância é muito diminuta”. 59 Mesmo assim, o jornal social democrata Tiden continuou a propalar a causa da UNITA. Já no final de 1970, depois de o líder do MPLA, Agostinho Neto, ter visitado a Suécia na qualidade de convidado do Partido Social Democrata, o Tiden publicou outro artigo de Virgílio de Lemos. À luz do apoio do partido no poder ao MPLA, a situação é particularmente contraditória. Era assim dito aos membros do Partido Social Democrata que o MPLA tinha ”declarado abertamente a sua dependência comunista” e que lhe ”faltava uma verdadeira base popular”, enquanto a UNITA, segundo o artigo ”não pretende depender de qualquer sector” e era descrita como ”possivelmente o único movimento de libertação de Angola que está a tentar criar um novo tipo de partido nacionalista, capaz de colmatar o hiato entre a população rural e a pequena burguesia”. 60 O artigo foi severamente criticado, alguns meses mais tarde, no Tiden por Dick Urban Vestbro do Comité da África do Sul de Lund, que perguntava retoricamente se o facto de o jornal social democrata publicar artigos ”deste pastor de frases trotskista” seria ”um sinal de ignorância política”, concluindo que” o apoio do Partido Social Democrata ao PAIGC, à FRELIMO e ao MPLA tem contornos estranhos”. 61 Por essa altura, a jovem deputada social democrata Birgitta Dahl tinha já apresentado uma moção parlamentar em prol do MPLA e o Comité Consultivo de Ajuda Humanitária já tinha recomendado o apoio oficial ao movimento. A partir daí não mais foram publicados artigos marcadamente pró- UNITA na imprensa do Partido Social Democrata. Do ponto de vista da UNITA, as relações com a Suécia foram, de acordo com o antigo secretário geral N’Zau Puna ”boas entre 1966 e 1968”. 62 Chegados a Dar es Salaam depois da sua viagem clandestina de volta a Angola em meados de 1968, Savimbi e N’Zau Puna foram informados pelos seus ”amigos da SWAPO e começaram por seu intermédio a perceber que estava em marcha uma iniciativa sueca no sentido de apoiar o MPLA”. 63 Uma vez que, até então, a Suécia não tinha anunciado oficialmente a sua decisão a favor do MPLA, é provável que a sua interpretação tenha sido influenciada pela forte corrente de opinião sueca favorável aos aliados do MPLA na CONCP, a saber, o PAIGC da Guiné-Bissau e a FRELIMO de Moçambique. Apesar de tudo, com a ajuda dada pela Suécia através do IUEF e próxima da SWAPO, 64 os líderes da UNITA terão, pelos vistos, tido uma abordagem bastante ligeira dessa informação, e contaram com a representação diplomática e o apoio dos namibianos enquanto estabeleciam a sua base no interior de Angola. Segundo N’Zau Puna, foi também o que aconteceu imedia-tamente após a entrada em Angola e posterior rompimento de relações direc- 59. Thomas Laghe: ”Luanda-upproret en väckarklocka för angoleserna” (”A revolta de Luanda, um despertador que toca para os angolanos”), em Nerikes Allehanda, 3 de Junho de 1970. 60. Virgílio de Lemos: ”Angola 1970: Gerillarörelsernas kamp mot Portugal” (”Angola 1970: A luta dos movimentos de guerrilha contra Portugal”), em Tiden, No. 10, 1970, pp. 622–629. 61. D. U. Vestbro: ”Osakligt om Angola” (”Informação tendenciosa sobre Angola”), em Tiden, No. 3, 1971, p. 184. 62. Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23. 63. Ibid. 64. Numa entrevista com N’Zau Puna, o antigo secretário geral referiu-se à cultura regional comum e ao passado que uniam a UNITA e a SWAPO, à ajuda dada pela SWAPO à UNITA em termos de aquisição de armamento e contou como vários comandantes e soldados da UNITA tinham sido colocados juntamente com guerrilheiros da SWAPO por forma a participar na luta armada na Namíbia (entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23. 57
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59. Thomas Laghe: ”Luanda-upproret en väckarklocka för angoleserna” (”A revolta de Luanda, um despertador que<br />
toca para os angolanos”), em Nerikes Allehanda, 3 de Junho de 1970.<br />
60. Virgílio de Lemos: ”Angola 1970: Gerillarörelsernas kamp mot Portugal” (”Angola 1970: A luta dos movimentos<br />
de guerrilha c<strong>on</strong>tra Portugal”), em Tiden, No. 10, 1970, pp. 622–629.<br />
61. D. U. Vestbro: ”Osakligt om Angola” (”Informação tendenciosa sobre Angola”), em Tiden, No. 3, 1971, p. 184.<br />
62. Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23.<br />
63. Ibid.<br />
64. Numa entrevista com N’Zau Puna, o antigo secretário geral referiu-se à cultura regi<strong>on</strong>al comum e ao passado que<br />
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por forma a participar na luta armada na Namíbia (entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23.<br />
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