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54 Tor Sellström Depois de se deslocar à China, onde se reuniu com Mao Tsé-tung em Yunan no mês de Maio, o líder da UNITA fora convidado pelo Partido Social Democrata para debates em Estocolmo, durante o mês de Maio de 1967, pouco antes de ser detido na Zâmbia. Per Wästberg recordou depois a visita nos seguintes termos: Penso que, no início, vários de nós demos uma oportunidade à UNITA, coisa que nunca foi feita no caso da FNLA. [...] Jonas Savimbi veio à Suécia e recordo a forma como Pierre Schori e eu próprio, só nós, nos sentámos na sua companhia, na cave do restaurante Aurora em Estocolmo, muito isolados. Não estava lá mais ninguém. Penso que conversámos durante cinco horas e Savimbi tinha, como é evidente, vindo à Suécia em busca de apoios. 38 Não fiquei muito impressionado e, devo dizer em abono de Schori, que ele ainda estava menos impressionado. Contudo, ambos reconhecemos que Savimbi era um orador convicto e convincente e tinha muita personalidade. Não deixava de ser simpático e era muito civilizado, pensava-se na altura. 39 Durante a sua curta estadia, Savimbi teve um encontro com a imprensa, durante o qual explicou que o objectivo da UNITA era formar uma frente de libertação unida em Angola. Disse que saíra da FNLA-GRAE devido à dependência de Holden Roberto relativamente aos Estados Unidos da América, mas que se opôs igualmente à relação forte entre o MPLA e a União Soviética. A UNITA, segundo Savimbi, e ao contrário do que tinham declarado os seus três vice presidentes a Ehnmark em Lusaca, estava disposta a colaborar com a oposição em Portugal e ”com todos os brancos que quisessem ficar e fossem leais a uma Angola independente”. 40 Entretanto, a UNITA já entrara numa luta prolongada e dispunha de ”centenas de grupos de guerrilha em acção”. 41 Como forma de comprovar o êxito inicial do movimento, Savimbi mostrou bandeiras e fardas portuguesas, capturadas ao inimigo. 42 O líder da UNITA fez também referência a Ulla Byegård, presidente do Comité da África do Sul de Uppsala, dizendo que a UNITA estava a ponderar a possibilidade de nomear um representante na Suécia. 43 Pouco tempo volvido, Stella Makunga foi oficiosamente 44 nomeada para o cargo, passando a combinar os seus estudos em Estocolmo com trabalho político. 45 Indicador das relações de proximidade entre o Partido Social Democrata e a UNITA, é o facto de a Foundation Tage Erlander for International Co- operation lhe ter concedido uma bolsa de estudo em 1967. 46 Com a excepção das organizações Maoístas, que, à margem do movimento sueco de solidariedade com a África Austral, reiteraram durante muito tempo que a UNITA estava ”a liderar a luta” em Angola 47 , 38. Uma questão abordada por Savimbi em Estocolmo foi o possível financiamento de um programa de formação profissional para refugiados angolanos na Zâmbia, pouco tempo antes delineado com o IUEF (carta de Lars-Gunnar Eriksson e Jørgen Steen Olesen, IUEF, à ASDI, Leiden, 29 de Junho de 1967) (SDA). 39. Entrevista a Per Wästberg, p. 352. 40. ”Lång gerillakamp förestår i Angola” (”Uma guerra de guerrilha prolongada se prepara em Angola”), em Svenska Dagbladet, 1 de Junho de 1967. 41. Ibid. 42. Ibid. 43. Comité da África do Sul de Uppsala: ”Protokoll” (”Actas”), Uppsala, 2 de Junho de 1967 (UPA). 44. Carta de Miguel N’Zau Puna a Lena Sundh, Embaixadora da Suécia em Angola, Luanda, 30 de Abril de 1998. 45. Makunga viria nos anos que se seguiram a encarregar-se principalmente da distribuição na Suécia do boletim informativo da UNITA, o Kwacha-Angola. 46. Socialdemokratiska Partistyrelsen (Comissão Nacional do Partido Social Democrata): ”Verksamhetsberättelse för 1967” (”Relatório de actividades de 1967”), p. 55 (LMA). 47. Ver, por exemplo, Gnistan (”A Centelha”), Orgão da Liga dos Comunistas Marxistas-Leninistas (Kommunistiska Förbundet Marxist-Leninisterna) (KFML), Nº 3, 1970.

a representação da UNITA nunca teve grande importância na Suécia. 48 Contudo, logo a seguir à visita de Savimbi, alguns dos comités de solidariedade já estabelecidos levaram, de facto, a cabo actividade de angariação de fundos a favor também da UNI- TA, de que é exemplo o Comité da África do Sul de Uppsala, que incluiu a UNITA no grupo dos dez movimentos de libertação africanos a favor dos quais recolheu algumas verbas (diminutas, diga-se) em 1967. 49 Da mesma forma, em finais desse mesmo ano, o Comité da África do Sul Na via para o apoio oficial ao MPLA de Estocolmo, presidido por Bengt Ahlsén da Juventude Social Democrata, doou 5.000 coroas suecas à ZANU do Zimbabué e 1.000 à UNITA. 50 Fecha-se o parêntesis chamado UNITA O Presidente da UNITA Jonas Savimbi durante o encontro com a imprensa em Estocolmo a 31 de Maio de 1967. (Foto: FLT-PICA) O relacionamento entre o IUEF, o Partido Social Democrata e a UNITA terminou pouco depois do regresso de Savimbi a Angola, em meados de 1968. A Suécia participou de forma muito próxima no projecto de criação de uma terceira força angolana mas, uma vez esta criada, o país colocou-a pouco tempo depois de lado, por várias razões. Talvez a mais importante, sublinhada por N’Zau Puna, foi que os canais de comunicação da UNITA com o mundo exterior foram cortados. 51 Outra teve a ver com o facto de governo zambiano ter virado as costas à UNITA 52 e de o movimento não ser reconhecido pela OUA. Além disso, o movimento de solidariedade da Suécia mobilizou muito apoio popular, a partir de 1969, em prol do MPLA, o que levantou sérias dúvidas quanto à natureza da UNITA como genuíno movimento de libertação. Naquilo que constitui provavelmente uma das primeiras denúncias das relações da UNITA com Portugal, Dick Urban Vestbro já em meados de 1969 escrevera no semanário socialista Tidsignal que havia ”provas de que a UNITA colabora com os portugueses”, citando panfletos distribuídos pelo regime 48. A situação viria a alterar-se em meados da década de oitenta, altura em que o gabinete local da UNITA estabeleceu laços estreitos com representantes do Partido Moderado. 49. Comité da África do Sul de Uppsala: ”Protokoll från sammanträde” (”Actas da reunião”), Uppsala, 18 de Fevereiro de 1968 (UPA). Como foi anteriormente refererido, os movimentos eram o ANC, a PAC, a SWAPO, a ZAPU, a ZANU, a COREMO, o MPLA, a FNLA/GRAE, a UNITA e o PAIGC. 50. Comité da África do Sul de Estocolmo: ”Medlemsmeddelande” (”Informação aos filiados”), Estocolmo, 21 de Novembro de 1967 (AJC). 51. Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23. 52. Pondo de lado outras considerações, o facto de a Zâmbia ter cortado relações com a UNITA tornou impossível a ajuda humanitária oficial sueca. O antigo director geral da ASDI, Michanek, declarou o seguinte em 1996: ”A posição da Zâmbia foi importante neste contexto. Independentemente de qual pudesse ter sido o nosso posicionamento da altura face à UNITA, era-nos pura e simplesmente impossível apoiar uma organização que alguns dos nossos parceiros de cooperação consideravam impossível” (entrevista a Ernst Michanek, p. 320). 55

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Tor Sellström<br />

Depois de se deslocar à China, <strong>on</strong>de se reuniu com Mao Tsé-tung em Yunan no mês de<br />

Maio, o líder da UNITA fora c<strong>on</strong>vidado pelo Partido Social Democrata para debates em<br />

Estocolmo, durante o mês de Maio de 1967, pouco antes de ser detido na Zâmbia. Per<br />

Wästberg recordou depois a visita nos seguintes termos:<br />

Penso que, no início, vários de nós demos uma oportunidade à UNITA, coisa que nunca<br />

foi feita no caso da FNLA. [...] J<strong>on</strong>as Savimbi veio à Suécia e recordo a forma como Pierre<br />

Schori e eu próprio, só nós, nos sentámos na sua companhia, na cave do restaurante Aurora<br />

em Estocolmo, muito isolados. Não estava lá mais ninguém. Penso que c<strong>on</strong>versámos durante<br />

cinco horas e Savimbi tinha, como é evidente, vindo à Suécia em busca de apoios. 38 Não fiquei<br />

muito impressi<strong>on</strong>ado e, devo dizer em ab<strong>on</strong>o de Schori, que ele ainda estava menos impressi<strong>on</strong>ado.<br />

C<strong>on</strong>tudo, ambos rec<strong>on</strong>hecemos que Savimbi era um orador c<strong>on</strong>victo e c<strong>on</strong>vincente<br />

e tinha muita pers<strong>on</strong>alidade. Não deixava de ser simpático e era muito civilizado, pensava-se<br />

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Durante a sua curta estadia, Savimbi teve um enc<strong>on</strong>tro com a imprensa, durante o qual<br />

explicou que o objectivo da UNITA era formar uma frente de libertação unida em Angola.<br />

Disse que saíra da FNLA-GRAE devido à dependência de Holden Roberto relativamente<br />

aos Estados Unidos da América, mas que se opôs igualmente à relação forte entre<br />

o MPLA e a União Soviética. A UNITA, segundo Savimbi, e ao c<strong>on</strong>trário do que tinham<br />

declarado os seus três vice presidentes a Ehnmark em Lusaca, estava disposta a colaborar<br />

com a oposição em Portugal e ”com todos os brancos que quisessem ficar e fossem leais<br />

a uma Angola independente”. 40 Entretanto, a UNITA já entrara numa luta prol<strong>on</strong>gada e<br />

dispunha de ”centenas de grupos de guerrilha em acção”. 41 Como forma de comprovar o<br />

êxito inicial do movimento, Savimbi mostrou bandeiras e fardas portuguesas, capturadas<br />

ao inimigo. 42<br />

O líder da UNITA fez também referência a Ulla Byegård, presidente do Comité da<br />

África do Sul de Uppsala, dizendo que a UNITA estava a p<strong>on</strong>derar a possibilidade de<br />

nomear um representante na Suécia. 43 Pouco tempo volvido, Stella Makunga foi oficiosamente<br />

44 nomeada para o cargo, passando a combinar os seus estudos em Estocolmo<br />

com trabalho político. 45 Indicador das relações de proximidade entre o Partido Social<br />

Democrata e a UNITA, é o facto de a Foundati<strong>on</strong> Tage Erlander for Internati<strong>on</strong>al Co-<br />

operati<strong>on</strong> lhe ter c<strong>on</strong>cedido uma bolsa de estudo em 1967. 46 Com a excepção das organizações<br />

Maoístas, que, à margem do movimento sueco de solidariedade com a África Austral,<br />

reiteraram durante muito tempo que a UNITA estava ”a liderar a luta” em Angola 47 ,<br />

38. Uma questão abordada por Savimbi em Estocolmo foi o possível financiamento de um programa de formação<br />

profissi<strong>on</strong>al para refugiados angolanos na Zâmbia, pouco tempo antes delineado com o IUEF (carta de Lars-Gunnar<br />

Erikss<strong>on</strong> e Jørgen Steen Olesen, IUEF, à ASDI, Leiden, 29 de Junho de 1967) (SDA).<br />

39. Entrevista a Per Wästberg, p. 352.<br />

40. ”Lång gerillakamp förestår i Angola” (”Uma guerra de guerrilha prol<strong>on</strong>gada se prepara em Angola”), em Svenska<br />

Dagbladet, 1 de Junho de 1967.<br />

41. Ibid.<br />

42. Ibid.<br />

43. Comité da África do Sul de Uppsala: ”Protokoll” (”Actas”), Uppsala, 2 de Junho de 1967 (UPA).<br />

44. Carta de Miguel N’Zau Puna a Lena Sundh, Embaixadora da Suécia em Angola, Luanda, 30 de Abril de 1998.<br />

45. Makunga viria nos anos que se seguiram a encarregar-se principalmente da distribuição na Suécia do boletim<br />

informativo da UNITA, o Kwacha-Angola.<br />

46. Socialdemokratiska Partistyrelsen (Comissão Naci<strong>on</strong>al do Partido Social Democrata): ”Verksamhetsberättelse<br />

för 1967” (”Relatório de actividades de 1967”), p. 55 (LMA).<br />

47. Ver, por exemplo, Gnistan (”A Centelha”), Orgão da Liga dos Comunistas Marxistas-Leninistas (Kommunistiska<br />

Förbundet Marxist-Leninisterna) (KFML), Nº 3, 1970.

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