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52 Tor Sellström pedras. [...] Mas ainda bem que são tão preguiçosos, ao ponto de deixar os nossos minérios no solo. Não há um único português bondoso em Angola. São todos maldosos. Vamos combatêlos e depois veremos o que fazer deles. 18 A UNITA, apesar do apoio inicial do presidente Kaunda ao MPLA, tinha sido auto-rizada a abrir gabinetes na capital zambiana, no sentido de poder lançar a sua campanha político-militar no leste de Angola. 19 Para esse decisão muito contribuiu a influência de Rupiah Banda que, depois de concluir os seus estudos na Universidade de Lund, tinha sido nomeado Embaixador da Zâmbia no Egipto em 1965, onde criara uma relação de amizade pessoal com Savimbi. 20 Contudo, pouco tempo depois da reunião entre Ehnmark e os líderes da UNITA em Lusaca, a nova organização lançou um ataque na zona fronteiriça de Teixeira de Sousa (agora chamada Luau), cortando a linha férrea de Benguela e interrompendo a linha zambiana de exportação de cobre através de Angola. A linha de Benguela era de importância vital para a Zâmbia, um país sem costa, e Kaunda avisou Savimbi para que não prosseguisse os ataques. Contudo, em Março de 1967, a UNITA voltou a dinamitar a linha férrea, daí resultando o seu encerramento durante vários meses. As reacções na Zâmbia a estes acontecimentos foram fortes. Quando Savimbi, após uma visita à China e à Suécia em Maio–Junho, voltou à Zâmbia no início de Julho de 1967, foi imediatamente detido e expulso para o Egipto, sendo a UNITA proíbida de operar a partir da Zâmbia. Savimbi e a liderança da UNITA acabaram por conseguir voltar a entrar em Angola em Julho de 1968, com passagem pela Zâmbia, onde ficaram até ao golpe de Lisboa em Abril de 1974. O hiato de tempo entre a conferência de Muangai e o regresso a Angola, e em especial o período a partir de Março de 1967, foi dedicado a intensos preparativos políticos e militares, 21 nomeadamente frequentes viagens e diplomacia internacional. O International University Exchange Fund (IUEF), o seu director Lars-Gunnar Eriksson e o Partido Social Democrata sueco desempenhariam, neste contexto, um papel importante, ainda que pouco divulgado. 22 Entrevistados em Luanda em 1996, tanto Jorge Valentim quanto o antigo secretário geral da UNITA, o General Miguel N’Zau Puna 23 , homens que, conjuntamente com ”Tony” Fernandes e Jorge Sangumba, fizeram parte do círculo mais chegado de colaboradores de Savimbi e que prepararam o seu regresso a Angola 24 , sublinharam a importância da ajuda dada por Eriksson, e também o apoio de Pierre Schori que, na altura, trabalhava 18. Anders Ehnmark: ”Vi dödar portugiserna med deras egna vapen” (”Matamos os portugueses com as suas próprias armas”), em Expressen, 22 de Dezembro de 1966. 19. O MPLA iniciou a sua campanha político-militar no leste de Angola (”Frente Leste”) em Maio de 1966. 20. Banda foi Ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1975 e 1978, desempenhando um papel crucial na mudança de preferência da Zâmbia, do MPLA para a UNITA. 21. Os primeiros comandos de guerrilha da UNITA foram treinados na academia militar de Nanking na China, a partir de princípios de 1965. N’Zau Puna estudou nessa mesma academia em 1967–68, antes de entrar em Angola com Savimbi em Julho de 1968. 22. Nenhum grande estudo sobre Angola nem biografia de fundo de Savimbi fala da participação do IUEF durante este período essencial. Ver, por exemplo, Marcum (1978) op. cit., Fred Bridgland: Jonas Savimbi: A Key to Africa, Mainstream Publishing Company, Edimburgo, 1986 ou Yves Loiseau e Pierre-Guillaume de Roux: Portrait d”un Révolutionnaire en Général: Jonas Savimbi, La Table Ronde, Paris, 1987. 23. N’Zau Puna foi nomeado secretário geral da UNITA em Agosto de 1969 e comissário político da sua facção armada, as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA). Sob o comando de Savimbi, N’Zau Puna ocupou a posição número dois na hierarquia da UNITA durante mais de duas décadas, até se demitir no início de 1992 e veio a tornar-se deputado em Angola no seguimento das eleições democráticas de Setembro de 1992, formando a Tendência de Reflexão Democrática, com outros antigos elementos da UNITA. 24. Bridgland op. cit., pp. 68–79.

Na via para o apoio oficial ao MPLA na Comissão Nacional do Partido Social Democrata sueco. Eriksson foi descrito como ”um grande amigo nosso”, 25 que, em conjunto com Schori, ”que tinha contacto directo com o presidente Savimbi” 26 , e através de ”aberturas de apoio e diplomáticas” 27 aproximou a UNITA da Suécia e de outros países escandinavos. De acordo com Jorge Valentim, a Suécia e a Escandinávia eram, na altura, ”referências e um modelo”, 28 enquanto N’Zau Puna, por sua vez, recordou que ”os nossos primeiros contactos foram mesmo com a Suécia”. 29 Jorge Valentim, enquanto líder estudantil, estivera presente numa conferência sobre a África Austral em Uppsala na Suécia em 1964, mais ou menos na mesma altura em que entrou em contacto com os países escandinavos, através do director do IUEF norueguês, de nome Øystein Opdahl. 30 Os contactos desenvolveram-se ainda mais durante a vigência do sucessor de Opdahl, de nome Lars-Gunnar Eriksson, um antigo presidente do Comité da África do Sul de Estocolmo e secretário internacional da União Nacional de Estudantes da Suécia. 31 Eriksson foi nomeado director do IUEF em 1966, cargo em que se manteria até ao início dos anos oitenta. A Suécia era o país que mais contribuía financeiramente para o IUEF e Eriksson estabeleceria, com o passar dos anos, contactos estreitos com o Partido Social Democrata através, entre outros, de Pierre Schori. Foi por intermédio de Eriksson, que Schori e o partido no poder na Suécia rapidamente travaram conhecimento com Savimbi e com o grupo que, no maior secretismo, preparou no Egipto a entrada da UNITA em Angola. Depois de visitar o gabinete do movimento em Zamalek no Cairo, Eriksson organizou a viagem de N’Zau Puna da Tunísia, onde na altura estudava agronomia, para a capital egípcia. 32 O que se revestiu de ainda maior importância foi o facto de ter sido Eriksson quem organizou e pagou o regresso a Angola de Savimbi e de N’Zau Puna, utilizando verbas do IUEF. 33 Depois de várias manobras de diversão, 34 a viagem acabaria por conduzir os dois líderes da UNITA a Dar es Salaam, onde tinham à sua espera amigos namibianos da SWAPO, 35 com a ajuda da qual puderam voltar a entrar em Angola em Julho de 1968. Estes acontecimentos deram-se sob o máximo sigilo mas, num dos primeiros artigos sobre Portugal e as guerras em África, Schori escreveu no boletim social democrata Tiden, em meados de 1967, que o partido no poder na Suécia tinha ”bons contactos com a UNITA de Angola”, sem referir nem o MPLA nem a FNLA. 36 Na verdade, Savimbi já tinha visitado a Suécia, por intermédio de Eriksson 37 e na companhia de Jorge Sangumba. 25. Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23. 26. Ibid. 27. Ibid. 28. Entrevista a Jorge Valentim, p. 34. 29. Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23. 30. Entrevista a Jorge Valentim, p. 34. Ao preparar a entrevista, o autor ficou surpreendido por Jorge Valentim o ter cumprimentado num sueco muito razoável. 31. Eriksson tinha também sido suplente do Comité Consultivo Sobre Ajuda Humanitária, dirigido pelo governo. 32. Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23. 33. Ibid. 34. Ibid. 35. Na altura, a SWAPO e a UNITA estavam muito alinhados um com o outro, nomeadamente ao nível das representações no Cairo, onde o gabinete da SWAPO era chefiado por Andreas Shipanga. Em Junho de 1967, Shipanga apresentou Savimbi, descrevendo-o como ”um bom amigo” a Anders Johansson do Dagens Nyheter no Cairo (carta de Anders Johansson ao autor, Eskilstuna, 26 de Abril de 1998). 36. Pierre Schori: ”Portugal”, em Tiden, Nº 8, 1967, p. 495. 37. Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 23. 53

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e depois veremos o que fazer deles. 18<br />

A UNITA, apesar do apoio inicial do presidente Kaunda ao MPLA, tinha sido auto-rizada<br />

a abrir gabinetes na capital zambiana, no sentido de poder lançar a sua campanha<br />

político-militar no leste de Angola. 19 Para esse decisão muito c<strong>on</strong>tribuiu a influência de<br />

Rupiah Banda que, depois de c<strong>on</strong>cluir os seus estudos na Universidade de Lund, tinha<br />

sido nomeado Embaixador da Zâmbia no Egipto em 1965, <strong>on</strong>de criara uma relação de<br />

amizade pessoal com Savimbi. 20 C<strong>on</strong>tudo, pouco tempo depois da reunião entre Ehnmark<br />

e os líderes da UNITA em Lusaca, a nova organização lançou um ataque na z<strong>on</strong>a<br />

fr<strong>on</strong>teiriça de Teixeira de Sousa (agora chamada Luau), cortando a linha férrea de Benguela<br />

e interrompendo a linha zambiana de exportação de cobre através de Angola. A<br />

linha de Benguela era de importância vital para a Zâmbia, um país sem costa, e Kaunda<br />

avisou Savimbi para que não prosseguisse os ataques. C<strong>on</strong>tudo, em Março de 1967, a<br />

UNITA voltou a dinamitar a linha férrea, daí resultando o seu encerramento durante vários<br />

meses. As reacções na Zâmbia a estes ac<strong>on</strong>tecimentos foram fortes. Quando Savimbi,<br />

após uma visita à China e à Suécia em Maio–Junho, voltou à Zâmbia no início de Julho<br />

de 1967, foi imediatamente detido e expulso para o Egipto, sendo a UNITA proíbida de<br />

operar a partir da Zâmbia.<br />

Savimbi e a liderança da UNITA acabaram por c<strong>on</strong>seguir voltar a entrar em Angola<br />

em Julho de 1968, com passagem pela Zâmbia, <strong>on</strong>de ficaram até ao golpe de Lisboa em<br />

Abril de 1974. O hiato de tempo entre a c<strong>on</strong>ferência de Muangai e o regresso a Angola,<br />

e em especial o período a partir de Março de 1967, foi dedicado a intensos preparativos<br />

políticos e militares, 21 nomeadamente frequentes viagens e diplomacia internaci<strong>on</strong>al. O<br />

Internati<strong>on</strong>al University Exchange Fund (IUEF), o seu director Lars-Gunnar Erikss<strong>on</strong> e o<br />

Partido Social Democrata sueco desempenhariam, neste c<strong>on</strong>texto, um papel importante,<br />

ainda que pouco divulgado. 22<br />

Entrevistados em Luanda em 1996, tanto Jorge Valentim quanto o antigo secretário<br />

geral da UNITA, o General Miguel N’Zau Puna 23 , homens que, c<strong>on</strong>juntamente com<br />

”T<strong>on</strong>y” Fernandes e Jorge Sangumba, fizeram parte do círculo mais chegado de colaboradores<br />

de Savimbi e que prepararam o seu regresso a Angola 24 , sublinharam a importância<br />

da ajuda dada por Erikss<strong>on</strong>, e também o apoio de Pierre Schori que, na altura, trabalhava<br />

18. Anders Ehnmark: ”Vi dödar portugiserna med deras egna vapen” (”Matamos os portugueses com as suas próprias<br />

armas”), em Expressen, 22 de Dezembro de 1966.<br />

19. O MPLA iniciou a sua campanha político-militar no leste de Angola (”Frente Leste”) em Maio de 1966.<br />

20. Banda foi Ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1975 e 1978, desempenhando um papel crucial na mudança<br />

de preferência da Zâmbia, do MPLA para a UNITA.<br />

21. Os primeiros comandos de guerrilha da UNITA foram treinados na academia militar de Nanking na China, a<br />

partir de princípios de 1965. N’Zau Puna estudou nessa mesma academia em 1967–68, antes de entrar em Angola<br />

com Savimbi em Julho de 1968.<br />

22. Nenhum grande estudo sobre Angola nem biografia de fundo de Savimbi fala da participação do IUEF durante<br />

este período essencial. Ver, por exemplo, Marcum (1978) op. cit., Fred Bridgland: J<strong>on</strong>as Savimbi: A Key to Africa,<br />

Mainstream Publishing Company, Edimburgo, 1986 ou Yves Loiseau e Pierre-Guillaume de Roux: Portrait d”un<br />

Révoluti<strong>on</strong>naire en Général: J<strong>on</strong>as Savimbi, La Table R<strong>on</strong>de, Paris, 1987.<br />

23. N’Zau Puna foi nomeado secretário geral da UNITA em Agosto de 1969 e comissário político da sua facção<br />

armada, as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA). Sob o comando de Savimbi, N’Zau Puna ocupou a<br />

posição número dois na hierarquia da UNITA durante mais de duas décadas, até se demitir no início de 1992 e<br />

veio a tornar-se deputado em Angola no seguimento das eleições democráticas de Setembro de 1992, formando a<br />

Tendência de Reflexão Democrática, com outros antigos elementos da UNITA.<br />

24. Bridgland op. cit., pp. 68–79.

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