Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ... Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

liberationafrica.se
from liberationafrica.se More from this publisher
19.06.2013 Views

44 Contactos de jovens e estudantes Tor Sellström Fixada a sua sede em Bruxelas a partir de 1959, a Assembleia Mundial da Juventude (WAY) rapidamente centrou a sua atenção na crise no Congo, uma questão discutida com muito ardor no conselho da assembleia em Accra, no Gana, no ano de 1960. A participação da WAY no Congo levou a contactos com os grupos de juventude do MPLA e da UPA, ou seja, a JMPLA e a JUPA e, em Maio de 1962, a organização enviou uma missão à antiga colónia belga, para avaliar a situação e apresentar propostas de ajuda à juventude angolana refugiada. Um representante do Conselho Nacional da Juventude Sueca (SUL) participou na missão 145 que, a nível político, levou à apresentação de uma recomendação, no sentido de ser criada uma frente unida composta pelo MPLA, UPA e pela PDA, proposta que coincidiu com a perspectiva do MPLA sobre o assunto, mas à qual a UPA se opôs. A WAY continuou a manter relações com a JMPLA e com a JUPA. Em Maio de 1963, por exemplo, os líderes das duas organizações políticas de juventude angolanas 146 visitaram a Suécia, numa viagem patrocinada pela WAY, como forma de chamar a atenção para a luta angolana pela independência e para as necessidades da juventude angolana. 147 Contudo, foi com a JUPA que tanto a WAY como a SUL acabaram por criar laços mais íntimos. Numa entrevista dada algum tempo depois, Holden Roberto explicou que os primeiros contactos do seu movimento com a Suécia e com outros países nórdicos foram feitos através da WAY e do seu secretário geral sueco, o liberal David Wirmark, cujo papel anterior sublinhou, e que descreveu como um ”amigo pessoal”. 148 Foram também estabelecidos contactos importantes na primeira metade dos anos sessenta, ao nível dos movimentos de estudantes universitários. A seguir à eclosão das insurreições em Angola e da repressão, que se seguiu ao Centro de Estudos Africanos e as Casas dos Estudantes do Império 149 em Lisboa e Coimbra, no início de 1961, um grande número de estudantes angolanos, bem como de guineenses e moçambicanos 150 , deixou Portugal clandestinamente. Fixaram-se na Europa, nos Estados Unidos da América e na África independente, onde foram ajudados pela WAY, WFDY, WUS e outros organismos internacionais de juventude e de estudantes, 151 acabando por formar as suas próprias organizações. Como reflexo do profundo hiato entre, por um lado, o MPLA e o CONCP e, por outro, a UPA-FNLA, os estudantes angolanos foram divididos desde o início. Por iniciativa do MPLA, cerca de trinta estudantes das colónias portuguesas em África, dos quais mais de vinte eram de Angola, criaram a União Geral dos Estudantes da África Negra sob Domínio Colonial Português (UGEAN) em Rabat (Marrocos) em Setembro de 1961. A UGEAN representava a mesma coligação política que fora fundada seis meses antes, também em Marrocos, pelo MPLA, PAIGC e os nacionalistas moçambicanos. Esta organização aderiria mais tarde à União Internacional de Estudantes, sedeada em Praga. 145. A missão da WAY visitou o Congo entre 10 de Maio e 1 de Junho de 1962. Bo Pettersson da SUL era um dos cinco membros da missão (SUL: ”Verksarnhetsberättelse för tiden 1 juli 1961–30 juni 1962”/”Relatório anual 1 de Julho de 1961–30 de Junho de 1962” [sem indicação de data]) (AJC). 146. Jordão Aguiar da JMPLA e André Katibia da JUPA. 147. ong>Theong> WAY Review, Vol. VII, No.2, 1963, p. 23. 148. Entrevista com Holden Roberto, p. 30. 149. Casas dos Estudantes do Império às quais estavam adstritos os estudantes das colónias portuguesas e que se tornaram centros importantes de anti-colonialismo e radicalismo intelectual durante os anos cinquenta. 150. Por exemplo, o futuro Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano. 151. Entrevista com Alberto Ribeiro, p. 27.

Insurreições em Angola, reacções na Suécia Em contrapeso à iniciativa do MPLA, em Março de 1962, no mesmo mês em que foi formada a FNLA, um grupo de vinte estudantes angolanos alinhados com a UPA encontrou-se em Lucerna na Suiça, com a liderança de Jonas Savimbi, 152 para constituir uma União Nacional dos Estudantes Angolanos (UNEA) rival. Vários dos membros fundadores viriam mais tarde a ocupar posições de liderança na UNITA. Tal foi o caso de Jorge Valentim, futuro secretário para a informação da UNITA, 153 que foi eleito para o importante cargo de vice presidente para assuntos internacionais. 154 Estudando na Temple University de Filadélfia nos EUA, Valentim foi nomeado presidente da UNEA aquando da segunda assembleia geral da organização, realizada na Suiça em Maio de 1963. 155 Outro futuro líder da UNITA foi Jorge Sangumba que, também como estudante radicado nos Estados Unidos, aderiu à UNEA um pouco mais tarde, em Setembro de 1965, seguindo as pisadas de Valentim, ao tornar-se responsável pelas relações externas da organização de estudantes. 156 Foi nomeado secretário dos negócios estrangeiros da UNITA em Agosto de 1969. 157 A UNEA deu imediatamente passos no sentido de aderir à Conferência Internacional de Estudantes/Secretariado de Coordenação (ISC/COSEC), sedeada em Leiden nos Países Baixos. Tanto Valentim quanto Sangumba desempenharam papéis importantes na Internacional Estudantil, orientada para o Ocidente, bem como no International University Exchange Fund (IUEF) (”Fundo Internacional de Intercâmbio Universitário”), criado pela ISC/COSEC em 1961. Na sua reunião anual em Christchurch na Nova Zelândia, Valentim foi eleito, em Julho de 1964, secretário adjunto para assuntos africanos da COSEC, 158 enquanto Sangumba ficou vinculado à IUEF. 159 Vários estudantes sueco politicamente influentes, administradores de ajuda e líderes de opinião activos na ISC/COSEC e na IUEF, tais como Thord Palmlund 160 e, acima de tudo, Lars-Gunnar Eriksson 161 , teriam muito cedo contactos com os futuros líderes da UNITA, relações essas que ajudam a explicar a razão pela qual o Partido Social Democrata sueco logo após a formação da UNITA, em Março de 1966, criou laços com a nova organização. Entretanto, foi a UGEAN, inspirada no MPLA, quem chamou a atenção dos movimentos de estudantes sueco e nórdico. Enquanto a recém-formada UNEA não foi convidada para o Congresso da Juventude Afro-Escandinava, realizado em Oslo em Agosto de 1962, a UGEAN participou, com uma numerosa delegação, nesta reunião histórica. 162 152. Savimbi tinha começado a estudar em Portugal em 1958, mas foi para a Suiça em Dezembro de 1961, onde se inscreveu como estudante de licenciatura no Departamento de Direito e Política Internacional na Universidade de Lausanne. Amiúde apresentado como Doutor Savimbi, acabou por concluir um equivalente a Mestrado em ciências políticas 153. Jorge Valentim foi o principal negociador em nome da UNITA antes e depois dos acordos de paz de Lusaca de 1994 com o governo angolano. Em Abril de 1997 foi nomeado Ministro dos Hotéis e do Turismo do governo de Unidade e Reconciliação Nacional. 154. Marcum (1969) op. cit., p. 306, nota 64. 155. Marcum (1978) op. cit., pp. 351–352, nota 16. 156. Ibid., p. 163. 157. Sangumba veio a trabalhar a partir de Londres. Convocado para o quartel-general da UNITA em Angola nos finais dos anos 70, diz-se que terá sido executado depois de uma desentendimento com Savimbi no início dos anos 80. 158. Marcum (1978) op. cit., p. 162. 159. ”Relatório secreto da IUEF” em New African, No. 156, Setembro de 1980, p. 32. 160. Palmlund desempenhou depois um cargo importante como secretário do Comité Consultivo Sueco para a Ajuda Humanitária , e esteve depois activo, no início dos anos 60, na ISC. 161. Em 1966, Eriksson foi nomeado director da IUEF. 162. Em Junho–Julho de 1962, a UGEAN participou também na décima conferência da ISC/COSEC no Quebec, no Canadá. 45

Insurreições em Angola, reacções na Suécia<br />

Em c<strong>on</strong>trapeso à iniciativa do MPLA, em Março de 1962, no mesmo mês em que foi<br />

formada a FNLA, um grupo de vinte estudantes angolanos alinhados com a UPA enc<strong>on</strong>trou-se<br />

em Lucerna na Suiça, com a liderança de J<strong>on</strong>as Savimbi, 152 para c<strong>on</strong>stituir uma<br />

União Naci<strong>on</strong>al dos Estudantes Angolanos (UNEA) rival. Vários dos membros fundadores<br />

viriam mais tarde a ocupar posições de liderança na UNITA. Tal foi o caso de Jorge<br />

Valentim, futuro secretário para a informação da UNITA, 153 que foi eleito para o importante<br />

cargo de vice presidente para assuntos internaci<strong>on</strong>ais. 154 Estudando na Temple University<br />

de Filadélfia nos EUA, Valentim foi nomeado presidente da UNEA aquando da<br />

segunda assembleia geral da organização, realizada na Suiça em Maio de 1963. 155 Outro<br />

futuro líder da UNITA foi Jorge Sangumba que, também como estudante radicado nos<br />

Estados Unidos, aderiu à UNEA um pouco mais tarde, em Setembro de 1965, seguindo<br />

as pisadas de Valentim, ao tornar-se resp<strong>on</strong>sável pelas relações externas da organização de<br />

estudantes. 156 Foi nomeado secretário dos negócios estrangeiros da UNITA em Agosto<br />

de 1969. 157<br />

A UNEA deu imediatamente passos no sentido de aderir à C<strong>on</strong>ferência Internaci<strong>on</strong>al<br />

de Estudantes/Secretariado de Coordenação (ISC/COSEC), sedeada em Leiden<br />

nos Países Baixos. Tanto Valentim quanto Sangumba desempenharam papéis importantes<br />

na Internaci<strong>on</strong>al Estudantil, orientada para o Ocidente, bem como no Internati<strong>on</strong>al<br />

University Exchange Fund (IUEF) (”Fundo Internaci<strong>on</strong>al de Intercâmbio Universitário”),<br />

criado pela ISC/COSEC em 1961. Na sua reunião anual em Christchurch na Nova<br />

Zelândia, Valentim foi eleito, em Julho de 1964, secretário adjunto para assuntos africanos<br />

da COSEC, 158 enquanto Sangumba ficou vinculado à IUEF. 159 Vários estudantes<br />

sueco politicamente influentes, administradores de ajuda e líderes de opinião activos na<br />

ISC/COSEC e na IUEF, tais como Thord Palmlund 160 e, acima de tudo, Lars-Gunnar<br />

Erikss<strong>on</strong> 161 , teriam muito cedo c<strong>on</strong>tactos com os futuros líderes da UNITA, relações<br />

essas que ajudam a explicar a razão pela qual o Partido Social Democrata sueco logo após<br />

a formação da UNITA, em Março de 1966, criou laços com a nova organização.<br />

Entretanto, foi a UGEAN, inspirada no MPLA, quem chamou a atenção dos movimentos<br />

de estudantes sueco e nórdico. Enquanto a recém-formada UNEA não foi c<strong>on</strong>vidada<br />

para o C<strong>on</strong>gresso da Juventude Afro-Escandinava, realizado em Oslo em Agosto de<br />

1962, a UGEAN participou, com uma numerosa delegação, nesta reunião histórica. 162<br />

152. Savimbi tinha começado a estudar em Portugal em 1958, mas foi para a Suiça em Dezembro de 1961, <strong>on</strong>de se<br />

inscreveu como estudante de licenciatura no Departamento de Direito e Política Internaci<strong>on</strong>al na Universidade de<br />

Lausanne. Amiúde apresentado como Doutor Savimbi, acabou por c<strong>on</strong>cluir um equivalente a Mestrado em ciências<br />

políticas<br />

153. Jorge Valentim foi o principal negociador em nome da UNITA antes e depois dos acordos de paz de Lusaca de<br />

1994 com o governo angolano. Em Abril de 1997 foi nomeado Ministro dos Hotéis e do Turismo do governo de<br />

Unidade e Rec<strong>on</strong>ciliação Naci<strong>on</strong>al.<br />

154. Marcum (1969) op. cit., p. 306, nota 64.<br />

155. Marcum (1978) op. cit., pp. 351–352, nota 16.<br />

156. Ibid., p. 163.<br />

157. Sangumba veio a trabalhar a partir de L<strong>on</strong>dres. C<strong>on</strong>vocado para o quartel-general da UNITA em Angola nos finais<br />

dos anos 70, diz-se que terá sido executado depois de uma desentendimento com Savimbi no início dos anos 80.<br />

158. Marcum (1978) op. cit., p. 162.<br />

159. ”Relatório secreto da IUEF” em New African, No. 156, Setembro de 1980, p. 32.<br />

160. Palmlund desempenhou depois um cargo importante como secretário do Comité C<strong>on</strong>sultivo Sueco para a<br />

Ajuda Humanitária , e esteve depois activo, no início dos anos 60, na ISC.<br />

161. Em 1966, Erikss<strong>on</strong> foi nomeado director da IUEF.<br />

162. Em Junho–Julho de 1962, a UGEAN participou também na décima c<strong>on</strong>ferência da ISC/COSEC no Quebec,<br />

no Canadá.<br />

45

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!