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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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42<br />

Tor Sellström<br />

sável em 1947 por uma missão governamental, cujo objectivo era relatar as c<strong>on</strong>dições vigentes<br />

nas colónias africanas portuguesas. As suas c<strong>on</strong>clusões 126 fizeram-no passar de um<br />

dos mais entusiastas adeptos do regime de Salazar a um dos seus mais activos e fervorosos<br />

opositores, o que lhe valeu uma série de penas de prisão nos anos cinquenta. 127<br />

Rebelde, democrata e escritor bem c<strong>on</strong>hecido, 128 o pouco ortodoxo político da oposição<br />

era, acima de tudo, um naci<strong>on</strong>alista, que professava a crença numa comunidade<br />

lusitana, que incluía os territórios africanos, mas que defendia que os movimentos naci<strong>on</strong>alistas<br />

não estavam preparados para a independência. 129 Apesar disso, depois da questão<br />

do Santa Maria, Galvão ficou largamente c<strong>on</strong>hecido como um dos principais opositores<br />

portugueses ao regime fascista de Salazar e um crítico fr<strong>on</strong>tal e eloquente das suas políticas<br />

col<strong>on</strong>iais. Foi nessa qualidade que foi c<strong>on</strong>vidado em Outubro de 1961 ”tendo o<br />

Expressen como intermediário” 130 , a fazer uma digressão pela Suécia, Finlândia e Noruega<br />

e dar palestras. O c<strong>on</strong>vite partiu de seis sindicatos de estudantes nórdicos, em representação<br />

de mais de 40.000 filiados. 131<br />

A visita de Galvão mereceu atenção especial mesmo antes da chegada deste, porque as<br />

autoridades de imigração suecas lhe tinham recusado o visto, alegando que se tratava de<br />

”um pirata” e questi<strong>on</strong>ando ”se haveria alguma coisa em Portugal que pudesse motivar os<br />

seus actos”. 132 As reacções foram muito fortes. Num editorial em termos duros, o Expressen<br />

descreve as autoridades de imigração suecas como ”um organismo de censura [...], norteado<br />

por valores políticos estranhos à opinião pública sueca” 133 e as organizações nórdicas<br />

de estudantes exigiram que o pedido de visto de Galvão fosse imediatamente aprovado. 134<br />

Assim ac<strong>on</strong>teceu algum tempo depois e, durante a última semana de Outubro de 1961,<br />

Galvão pôde falar perante públicos enormes, nos três países, com palestras subordinas ao<br />

tema ”Com o Santa Maria c<strong>on</strong>tra Salazar”. Em Uppsala, por exemplo, juntaram-se mil<br />

pessoas, a 30 de Outubro, no maior átrio da universidade para ouvir o rebelde já de certa<br />

idade, que declarou ”não sou um pirata, mas fico h<strong>on</strong>rado por me chamarem isso”. Essa<br />

declaração foi recebida com ”uma das maiores ovações de sempre naquele átrio”. 135<br />

Nem todos estavam satisfeitos com a visita de Galvão. A revista moderada Svensk<br />

Tidskrift denunciou-a em termos veementes 136 e, no jornal local Upsala Nya Tidning, um<br />

126. O relatório de Galvão à Assembleia da República portuguesa foi abafado. Só cerca de uma década e meia depois<br />

é que o documento começou a c<strong>on</strong>star de publicações lançadas fora de Portugal. Nesse relatório, altamente crítico,<br />

Galvão descreve, entre outras coisas, a forma como era praticado trabalho forçado em larga escala em toda a África<br />

portuguesa, nomeadamente em Angola.<br />

127. Em 1960, Galvão fugiu da prisão e pediu asilo na Embaixada da Argentina em Lisboa.<br />

128. Em Fevereiro de 1961, o Aft<strong>on</strong>bladet publicou um perfil benévolo de Galvão, com o título ”O último poeta<br />

rebelde” (Åke Ortmark: ”Den siste revoltpoeten” em Aft<strong>on</strong>bladet, 19 de Fevereiro de 1961).<br />

129. Ver Henrique Galvão: ”Col<strong>on</strong>ialism, Nati<strong>on</strong>alism and Independence” em R<strong>on</strong>ald Chilcote: Emerging Nati<strong>on</strong>alism<br />

in Portuguese Africa: Documents, Hoover Instituti<strong>on</strong> Press, Stanford University, Stanford, 1972, pp. 34–39.<br />

Referindo-se a Angola, Galvão diz neste documento de Julho de 1963 que ”Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade<br />

e Viriato da Cruz, apesar da sua inépcia, merecem claramente mais respeito do que Holden Roberto e o seu<br />

clã de bárbaros ”(p. 36).<br />

130. Expressen, 21 de Outubro de 1961.<br />

131. As seis organizações eram as organizações de estudantes universitários de Gotemburgo, Lund e Estocolmo na<br />

Suécia, a Associação Verdandi em Uppsala na Suécia, a associação de estudantes de língua sueca da Universidade de<br />

Åbo (Turku) na Finlândia e a Associação Naci<strong>on</strong>al de Estudantes Noruegueses.<br />

132. Expressen, 21 de Outubro de 1961.<br />

133. Expressen, 22 de Outubro de 1961.<br />

134. Dagens Nyheter, 22 de Outubro de 1961.<br />

135. Upsala Nya Tidning, 31 de Outubro de 1961.<br />

136. Svensk Tidskrift, No.1, 1962, pp. 61–62.

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