Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
40<br />
Tor Sellström<br />
25 por cento, era penicilina oriunda da Suécia. 113<br />
Na história do envolvimento da Suécia na África Austral, a campanha do Expressen em<br />
prol de Angola de 1961 é um marco significativo, a primeira manifestação generalizada<br />
de solidariedade, partilhando os naci<strong>on</strong>alistas africanos desta perspectiva. Em meados de<br />
Agosto, ou seja, pouco tempo depois do início da campanha, o secretário geral do CON-<br />
CP, Marcelino dos Santos, enviou uma carta ao Expressen na qual diz ”podem ficar certos<br />
de que estamos a acompanhar com a máxima atenção aquilo que estão a fazer pelo nosso<br />
povo. A vossa generosa solidariedade para com a nossa causa c<strong>on</strong>stitui um apoio forte<br />
na nossa luta pela liberdade e a independência”. 114 Apesar de se tratar de uma campanha<br />
estritamente humanitária, a carta de Marcelino dos Santos e os relatos de Ehnmark do<br />
C<strong>on</strong>go informavam claramente o público sueco de que a campanha estava a ser levada a<br />
cabo em prol da luta de resistência angolana. No C<strong>on</strong>go, a penicilina foi distribuída aos<br />
serviços médicos do MPLA. 115 Como Ehnmark mais tarde afirmou, ”o movimento de<br />
libertação apoiado pelo Expressen é o MPLA” 116 que, ”apesar de débil no norte de Angola,<br />
era forte na z<strong>on</strong>a fr<strong>on</strong>teiriça no que diz respeito à recepção de refugiados. Tinham aí,<br />
entre outros funci<strong>on</strong>ários, muitos médicos e eram médicos do MPLA quem administrava<br />
a penicilina. [...] Eu estive em c<strong>on</strong>tacto permanente com o MPLA.” 117<br />
O MPLA manteve o CONCP informado da ajuda e, numa reunião da organização<br />
em Rabat (Marrocos), realizada em Outubro de 1961, no final da campanha sueca,<br />
Marcelino dos Santos, apresentando-se como secretário geral da ”organização das futuras<br />
ex-colónias portuguesas” 118 entrou em c<strong>on</strong>tacto com o corresp<strong>on</strong>dente do Expressen em<br />
Paris, Svante Lövgren, agradecendo ao jornal e declarando que<br />
a solidariedade de que nos deram mostras, vós, povo lá bem do Norte, inspira-nos e dá-nos<br />
muita c<strong>on</strong>fiança. Uma vez terminada a nossa luta, o mundo aceitar-nos-á, tal como já aceitou<br />
os nossos irmãos negros libertados. Quando chegar esse dia não nos faltarão amigos. Mas é<br />
agora, durante a luta, que damos muito valor ao vosso apoio e à vossa compreensão. 119<br />
O facto de um jornal liberal de grande tiragem ter, em 1961, m<strong>on</strong>tado uma importante<br />
campanha popular, em c<strong>on</strong>junto com o CONCP e o MPLA, não poderia deixar de ter<br />
c<strong>on</strong>sequências políticas. Influenciado por David Wirmark e Olle Wästberg, o Partido<br />
Liberal defendeu também a necessidade de o FNLA ser apoiado e criou relações directas<br />
com a organização de Holden Roberto. Na verdade, no início dos anos setenta, a questão<br />
de saber se se havia de apoiar ou não o FNLA tornou-se uma questão c<strong>on</strong>troversa, no<br />
âmbito da ajuda oficial sueca aos movimentos de libertação na África Austral, entre o<br />
113. Ibid. Na altura, a Cruz Vermelha Internaci<strong>on</strong>al tinha um representante sueco em Leopoldville, o capitão Gösta<br />
Streijffert.<br />
114. Carta de Marcelino dos Santos ao Expressen, Rabat, 12 de Agosto de 1961, reproduzida pelo jornal em 16 de<br />
Agosto de 1961.<br />
115. Como resposta à crise dos refugiados no Baixo C<strong>on</strong>go, tanto a UPA como o MPLA formaram serviços médicos<br />
de emergência. Os serviços médicos do MPLA, o Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados (CVA-<br />
AR), dispunha de oito médicos e estudantes de medicina, chefiados pelo Dr. Américo Boavida. C<strong>on</strong>stituído em<br />
Agosto de 1961 e eclipsando rapidamente os serviços da UPA, ”o CVAAR sofreu resistência forte, por vezes violenta<br />
quando tentou criar dispensários nas z<strong>on</strong>as de influência da UPA [...]. Os apoiantes da UPA viam o CVAAR como<br />
um veículo de penetração política do MPLA” (Marcum (1969) op. cit., pp. 206–207).<br />
116. Ehnmark (1993) op. cit., p. 8. Ver também Bo Strömstedt: Löpsedeln och insidan: En bok om tidningen och livet<br />
”Primeira página e páginas interiores: Um livro sobre o jornal e a vida”, Albert B<strong>on</strong>niers Förlag, Estocolmo, 1994,<br />
p. 221.<br />
117. Carta de Anders Ehnmark ao autor, Taxinge, Janeiro de 1997.<br />
118. Expressen, 12 de Outubro de 1961.<br />
119. Citado em Ibid.