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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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Insurreições em Angola, reacções na Suécia<br />

da UPA, e deixando de lado a posição dos Estados Unidos, 92 Mário Pinto de Andrade<br />

advertia também para ”os interesses que apoiam mais a independência de certas províncias<br />

do que a de uma Angola unida”, expressando o receio de que tal poderia provocar o<br />

aparecimento de ”outro Katanga”. 93 Uma vez que o c<strong>on</strong>tingente militar sueco da ONU<br />

estava sobretudo preparado para esmagar a secessão de Tshombe, apoiada pelos portugueses,<br />

a mensagem foi claramente recebida.<br />

Em resposta a um apelo do CONCP, o Expressen, o vespertino de maior tiragem<br />

na Suécia na altura, lançou em Julho de 1961 uma campanha de angariação de fundos<br />

em nome dos refugiados angolanos do Baixo C<strong>on</strong>go, a que se deu o nome de ”Ajuda a<br />

Angola”. 94 Foi a primeira campanha pública c<strong>on</strong>tinuada, iniciada por um jornal sueco<br />

em prol de uma causa humanitária num país da África Austral, 95 antes da campanha de<br />

1966 da Namíbia, levada a cabo pelo jornal social democrata Aft<strong>on</strong>bladet e pelo Arbetet,<br />

cinco anos mais tarde. Esse esforço recebeu uma grande ajuda da série do Expressen sobre<br />

África, mas o êxito ficou também a dever-se ao facto de o seu parceiro matutino, o diário<br />

naci<strong>on</strong>al Dagens Nyheter, 96 ter dado destaque aos ac<strong>on</strong>tecimentos em Angola. Sven Öste,<br />

o seu comentador de assuntos externos, foi o primeiro jornalista sueco a visitar a região<br />

do Baixo C<strong>on</strong>go, <strong>on</strong>de entrou em c<strong>on</strong>tacto com o MPLA e a UPA. A visita de Öste teve<br />

lugar em Maio de 1961, vindo ele a publicar o seu primeiro artigo de fundo no mês<br />

seguinte, caracterizando a luta em Angola como ”dominada pelo ódio mais inc<strong>on</strong>cebível<br />

e pelo medo cego, emoções que só podem ser explicadas com um único pano de fundo,<br />

nomeadamente o historial de Portugal como potência col<strong>on</strong>ial”. 97 Profundamente afectado<br />

pela sua experiência, o experiente jornalista descreveu em pormenor os horrores de<br />

uma guerra ”<strong>on</strong>de ac<strong>on</strong>tece uma Sharpeville todos os dias, uma Lidice por semana”. 98<br />

Öste escreveria mais tarde que os seus c<strong>on</strong>tactos com os refugiados angolanos ”me oprimiram<br />

e deixaram em mim um buraco, um vazio”. 99 Enviado pelo Expressen, Ehnmark<br />

visitou a mesma área dois meses mais tarde, acompanhado de um fotógrafo sueco 100 . Se<br />

92. Na altura disse-se, à laia de desculpa, e que foi mais tarde c<strong>on</strong>firmado, que Holden Roberto recebera verbas da<br />

US Central Intelligence Agency (CIA). A CIA estava profundamente implicada na crise do C<strong>on</strong>go, nomeadamente<br />

através do assassinato do primeiro ministro eleito pelo povo, Patrice Lumumba, em Janeiro de 1961. Lumumba foi<br />

detido pelo chefe do exército c<strong>on</strong>golês, Joseph Mobutu, entregue a Tshombe no Katanga e sumariamente executado.<br />

Para mais informações sobre estes dois relatos c<strong>on</strong>sulte, respectivamente, por exemplo, John Stockwell: In Search<br />

of Enemies: A CIA Story, W.W. Nort<strong>on</strong> & Company, Nova Iorque, 1978. Stockwell fora chefe de posto para a CIA<br />

em Stanleyville (agora chamada Lubumbashi) e era resp<strong>on</strong>sável pela “task force” angolana da agência, desde inícios<br />

de 1975. Sobre Roberto, Stockwell escreveu: ”Muitas das informações sobre o interior de Angola a que a CIA teve<br />

acesso devem-se a Holden Roberto. [...] A funci<strong>on</strong>ar com base em Kinshasa, ele tinha criado laços com a CIA. Para<br />

garantir que haveria um quebra entre o MPLA e a UPAFNLA, as forças de Roberto capturaram activistas do MPLA<br />

no norte de Angola e levaram-nos para a sua base em Kinkuzu, no Zaire, <strong>on</strong>de os mataram ”(pp. 52 e 116).<br />

93. Mário Pinto de Andrade em Expressen, 27 de Junho de 1961.<br />

94. Em sueco Angola-Hjälpen.<br />

95. O Fundo para as Vítimas da Opressão Racial na África do Sul já tinha sido lançado em Setembro de 1959.<br />

Faltou-lhe o apoio c<strong>on</strong>tinuado da campanha do Expressen em prol de Angola, razão pela qual não c<strong>on</strong>seguiu atingir<br />

os resultados dessa campanha. Calcula-se que o fundo anti-apar<strong>the</strong>id, entre Setembro de 1959 e Outubro de 1964,<br />

tenha permitido angariar um valor total de 140.000 coroas suecas, ou seja, cerca de metade do que se c<strong>on</strong>seguiu<br />

angariar com a campanha lançada pelo Expressen em prol dos refugiados angolanos, durante o trimestre Julho-Setembro<br />

de 1961.<br />

96. Com uma tiragem diária de cerca de 350.000 exemplares, o Dagens Nyheter chegava nessa altura a mais suecos do<br />

que o Stockholms-Tidningen, de inspiração social democrata e do que o c<strong>on</strong>servador Svenska Dagbladet juntos.<br />

97. Sven Öste: ”Sk<strong>on</strong>ingslös offensiv i Angola” (”Ofensiva impiedosa em Angola”), em Dagens Nyheter, 16 de Junho<br />

de 1961.<br />

98. Ibid.<br />

99. Öste op. cit., p. 221.<br />

100. Bertil Stilling.<br />

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