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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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Insurreições em Angola, reacções na Suécia<br />

Segundo esse artigo, Portugal tinha compreendido que essas gentes não estavam aptas a<br />

governar-se a si mesmas, mas que tinha chegado a Angola uma combinação de comunistas,<br />

terroristas e feiticeiros:<br />

Agitadores bem treinados entravam em grande número no país, africanos escolhidos a dedo,<br />

formados em Praga, Varsóvia ou Moscovo. Os feiticeiros colaboravam com os terroristas e<br />

hordas ululantes de nativos encenavam orgias canibais. 66 É a esta gente que a ONU quer dar<br />

”independência”, ”autodeterminação” e ”democracia”. É difícil crer que políticos ditos resp<strong>on</strong>sáveis<br />

possam ser acometidos de uma demência tão flagrante. Na verdade, será possível existir<br />

na história um exemplo mais acabado de loucura total? 67<br />

Declarações tão radicais e prec<strong>on</strong>ceituosas como estas eram, no entanto, a excepção e a o<br />

Svensk Tidskrift não só era levado a sério pela imprensa social democrata, liberal e centrista,<br />

mas também por alguns jornais c<strong>on</strong>servadores, como o Norrbottens-Kuriren. É claro<br />

que a insurreição rural desencadeada pela UPA no norte de Angola em Março carecia de<br />

objectivos políticos a l<strong>on</strong>go prazo e não tardou em degenerar numa selvajaria étnica cega<br />

c<strong>on</strong>tra todos os não-bak<strong>on</strong>gos, os brancos e os mulatos e negros, mas a publicação de<br />

uma ”caterva de propaganda da mais básica e des<strong>on</strong>esta” 68 pela revista teórica moderada<br />

foi, no entanto, demasiado extrema até para o Norrbottens-Kuriren. Tendo dito isto, começando<br />

com a guerra de libertação em Angola em 1961, a imprensa c<strong>on</strong>servadora e o<br />

Partido Moderado normalmente tomavam posições c<strong>on</strong>trárias às de uma opinião pública<br />

sueca cada vez mais favorável à independência naci<strong>on</strong>al e a um governo de maioria na<br />

África Austral.<br />

Depois das revoltas no início de 1961, Angola entrou no debate sueco sobre a África<br />

Austral. Sob as parang<strong>on</strong>as ”Liberdade para todos os povos” e ”C<strong>on</strong>tra a Opressão Racial”,<br />

a questão da independência de Angola do Portugal fascista viria a merecer grande<br />

destaque, a par das lutas na Argélia, Moçambique e África do Sul, nas manifestações do<br />

Dia do Trabalhador em Estocolmo, no dia 1 de Maio de 1961. 69 A 1 de Julho de 1961,<br />

um grupo de jovens liberais pediu ao governo sueco que se empenhasse na expulsão de<br />

Portugal da EFTA, ”um acto que viria a ser decisivo no auxílio ao movimento de libertação<br />

em Angola” e, na semana seguinte, a União dos Estudantes Social Democratas exigiu<br />

um protesto oficial da Suécia c<strong>on</strong>tra as políticas portuguesas em Angola. 70<br />

O recém-formado Comité da África do Sul centrou os seus esforços na formação da<br />

opinião pública sobre a África do Sul do apar<strong>the</strong>id, 71 mas foi o trabalho activo de alguns<br />

tratar-se de ”factos históricos bem c<strong>on</strong>hecidos”(Erik Anners: ”Angolakrisen inför svensk opini<strong>on</strong>/A crise de Angola<br />

perante a opinião sueca”, em Svensk Tidskrift, No.1, 1962, p.54).<br />

66. Waring disse que c<strong>on</strong>hecia pessoalmente um caso em que um ”grupo de terroristas” tinha trazido um c<strong>on</strong>tentor<br />

com ”uma provisão de braços, pernas e pés de crianças europeias c<strong>on</strong>servados em sal para usar como mantimentos”.<br />

No entanto, não ignorando as crueldades da revolta de Março, o académico americano James Duffy comentou que se<br />

”a barbárie e as atrocidades forem a bitola do tribalismo, os soldados portugueses e os col<strong>on</strong>os não são menos atávicos<br />

que os seus adversários africanos” (James Duffy: Portugal in Africa, Penguin <str<strong>on</strong>g>Book</str<strong>on</strong>g>s, Harm<strong>on</strong>dsworth, 1962, p. 216).<br />

67. Lt. Col. R<strong>on</strong>ald Waring: ”Angola och världsfreden” (”Angola e a paz no mundo”), em Svensk Tidskrift, Nº 5,<br />

1961, pp. 278–283.<br />

68. Citado em Anners em Svensk Tidskrift, Nº 1, 1962, p. 56.<br />

69. Stockholms Arbetarekommun 1961: ”Verksamhetsberättelse” (”Relatório anual do Partido Social Democrata<br />

em Estocolmo”), pp. 6–7 (LMA). Arne Geijer e Alva Myrdal foram os principais oradores neste caso.<br />

70. As organizações políticas de estudantes em Uppsala uniram-se num Comité de Acção Internaci<strong>on</strong>al, no início<br />

de Junho de 1961, e enviaram uma carta ao governo de Portugal c<strong>on</strong>denando as suas políticas em Angola (Svenska<br />

Dagbladet, 15 de Junho 1961).<br />

71. Apesar de na c<strong>on</strong>stituição da SSAK se dizer que a ”opressão racial noutras partes da África Austral que não a<br />

África do Sul será seguida com atenção por este Comité”, esta organização nunca chegou a iniciar actividades em<br />

prol de Angola.<br />

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