19.06.2013 Views

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

32<br />

artigos sobre Angola, ele escreveu que<br />

Tor Sellström<br />

não há razão para partir do princípio que o bloco comunista não está de olhos postos nesta<br />

possibilidade, prestes a utilizá-la, caso se venha a c<strong>on</strong>cretizar. É o dever de Portugal manter-se<br />

firme em Angola, para bem da população negra e do mundo ocidental. 60<br />

Este p<strong>on</strong>to de vista foi rapidamente repetido pela imprensa c<strong>on</strong>servadora sueca e pelo<br />

Partido Moderado. Na verdade, a revista teórica Svensk Tidskrift já tinha apresentado<br />

Holden Roberto da UPA como comunista e, à laia de aviso, alertado para o facto de o<br />

Partido Comunista Português ter, no seu c<strong>on</strong>gresso de 1957, ”adoptado uma resolução<br />

reiterando o direito dos territórios africanos à independência imediata”, isto antes dos<br />

ac<strong>on</strong>tecimentos em Luanda, mas após a adopção da Declaração sobre a C<strong>on</strong>cessão da<br />

Independência aos Países e Povos Col<strong>on</strong>iais pela Assembleia Geral das Nações Unidas. 61<br />

Na sua edição seguinte, a revista dizia que<br />

Angola é caracterizada pela sua prosperidade e satisfação. Ao c<strong>on</strong>trário do que se passa em<br />

muitos outros países africanos, as relações entre negros e brancos são excelentes. [...] Não existe<br />

segregação e os habitantes estão, no seu c<strong>on</strong>junto, satisfeitos com a sua situação e, neste momento,<br />

nada interessados em questões políticas. Este país é dominado pela ordem, segurança<br />

e ausência de ódios raciais. Os próprios angolanos não dem<strong>on</strong>stram desejo de ter alterações<br />

radicais. 62<br />

As opiniões do Svensk Tidskrift foram-se tornando mais extremas depois dos ataques de<br />

Luanda e da revolta no norte do país. Em meados de 1961, o seu editor, professor Erik<br />

Anners, que foi eleito deputado pelo Partido Moderado em 1963, disse que era ”espantoso”<br />

que a maioria da imprensa sueca estivesse ”disposta a acreditar na propaganda anticol<strong>on</strong>ial<br />

orquestrada pelo bloco soviético”. Disse-o aquando da apresentação que fez dos<br />

últimos ac<strong>on</strong>tecimentos em Angola, que descreveu como uma ”revolta popular inspirada<br />

por um pathos de liberdade, c<strong>on</strong>tra uma tirania col<strong>on</strong>ial manchada de sangue ”. Segundo<br />

o editorial, os ac<strong>on</strong>tecimentos no C<strong>on</strong>go dem<strong>on</strong>straram o que ac<strong>on</strong>tecia quando ”uma<br />

potência col<strong>on</strong>ial se demitia dos encargos políticos, militares e ec<strong>on</strong>ómicos e fugia às suas<br />

resp<strong>on</strong>sabilidades para com as massas inocentes e indefesas”. 63 Para poder deixar ”o outro<br />

lado” apresentar os seus p<strong>on</strong>tos de vista, Anners decidiu publicar um artigo do irlandês<br />

R<strong>on</strong>ald Waring que, na altura, era instrutor na Academia Militar Portuguesa. 64<br />

O artigo de Waring, escrito em Maio de 1961, e entitulado ”Angola and World<br />

Peace” – Angola e a Paz Mundial, representa provavelmente o exemplo mais flagrante<br />

de comentários pró-portugueses e pró-col<strong>on</strong>ial que eram geralmente publicados pela<br />

imprensa c<strong>on</strong>servadora sueca nesta altura. O autor realçava que ”a maioria dos povos<br />

africanos tem vivido desde o início dos tempos uma vida selvagem e primitiva. Uma<br />

tribo ataca outra, irmão mata irmão, os pais comem a sua própria prole em orgias canibais<br />

e feiticeiros utilizam cadáveres ensanguentados para apaziguar os deuses da selva”. 65<br />

60. Sven Aurén: ”Angola i närbild” (”Angola em primeiro plano”), em Svenska Dagbladet, 22 de Fevereiro de 1961.<br />

61. Magnus Mörner: ”Portugisiska Afrika mellan Scylla och Charybdis” (”África entre Cila e Caribidis”), em Svensk<br />

Tidskrift, Nº 2, 1961, p. 100.<br />

62. Lt. Col. R<strong>on</strong>ald Waring: ”Angola och framtiden” (”Angola e o futuro”) em Svensk Tidskrift, Nº 3,1961, pp.<br />

153 e 155.<br />

63. ”Dagens frågor” (”As questões de hoje”), Svensk Tidskrift, No.5, 1961, pp. 268–269. Nesse mesmo editorial<br />

defendia-se que ”se os europeus não tivessem vindo para África, muitos povos ainda seriam canibais e venderiam<br />

hoje os filhos como escravos, enquanto os reis c<strong>on</strong>tinuavam a entreter-se c<strong>on</strong>struindo pirâmides de caveiras humanas<br />

”(Ibid., p. 270).<br />

64. O primeiro artigo de Waring foi publicado no Svensk Tidskrift, Nº 3, 1961.<br />

65. Num artigo posterior no Svensk Tidskrift, escrito em defesa de c<strong>on</strong>tribuição de Waring, o professor Anners disse

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!