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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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Insurreições em Angola, reacções na Suécia<br />

em c<strong>on</strong>tacto directo com a Suécia, mas viria também a facilitar as relações futuras com o<br />

PAIGC da Guiné-Bissau e com a FRELIMO de Moçambique.<br />

Numa tentativa de libertar os seus líderes detidos e camaradas naci<strong>on</strong>alistas, cerca de<br />

duzentos apoiantes do MPLA, armados com facas e paus, atacaram a 4 de Fevereiro de<br />

1961 a prisão central de Luanda, marcando assim o início da guerra de libertação em<br />

Angola e a guerra na África Austral, que duraria trinta anos. 55<br />

O primeiro ataque à prisão de São Paulo falhou, rezando as crónicas que terá resultado<br />

na morte de sete polícias portugueses e de cerca de quarenta atacantes. Ainda<br />

assim, c<strong>on</strong>tinuou a revolta e, após algumas escaramuças, deu-se outro ataque, no dia 10<br />

de Fevereiro, c<strong>on</strong>tra outra prisão de Luanda, tendo este também resultado em mortes.<br />

Segundo John Marcum 56 ,<br />

a vingança portuguesa foi terrível. A polícia ajudou grupos de vingadores civis a organizar<br />

massacres nocturnos nos bairros de lata de Luanda. Os brancos arrastavam os negros do único<br />

quarto das suas barracas depauperadas, abatiam-nos a tiro e deixavam os corpos nas ruas. Um<br />

missi<strong>on</strong>ário metodista testemunhou saber pessoalmente da morte de quase trezentas pessoas.<br />

A verdadeira dimensão deste massacre, no entanto, nunca será c<strong>on</strong>hecida. 57<br />

Já tendo sido afectado por detenções anteriores, o movimento naci<strong>on</strong>alista emergente foi<br />

brutalmente dizimado e apenas um número reduzido de militantes do MPLA c<strong>on</strong>seguiu<br />

fugir de Luanda para voltar a organizar a luta a partir da floresta de Dembos, a nordeste<br />

da capital.<br />

Esta insurreição em Luanda coincidiu com o caso do Santa Maria. Esperando que o<br />

capitão Henrique Galvão estivesse a cooperar com os naci<strong>on</strong>alistas e que fosse levar o paquete<br />

sequestrado para Luanda, um número cada vez maior de jornalistas internaci<strong>on</strong>ais<br />

reuniu-se pela primeira vez na capital de Angola quando se deram os ataques às prisões.<br />

Foi, assim, impossível para as autoridades portuguesas ocultar esses ac<strong>on</strong>tecimentos, 58<br />

que entraram na ordem de trabalhos do C<strong>on</strong>selho de Segurança das Nações Unidas a<br />

10 de Março de 1961. A imprensa sueca estava presente em Luanda, na pessoa de Sven<br />

Aurén, corresp<strong>on</strong>dente em Paris do diário c<strong>on</strong>servador Svenska Dagbladet. Ao c<strong>on</strong>trário<br />

da maioria dos comentadores internaci<strong>on</strong>ais, Aurén não era nem pouco mais ou menos<br />

simpatizante do que ele chamou uma ”revolta dos primitivos c<strong>on</strong>tra os civilizados” e ”terrorismo<br />

de modelo argelino”. 59 Apesar de ser algo crítico do regime col<strong>on</strong>ial português<br />

diria, acima de tudo, que a perspectiva da independência de Angola de Portugal c<strong>on</strong>duziria<br />

ao ”caos” e a aberturas ao comunismo internaci<strong>on</strong>al. No segundo dos seus extensos<br />

55. O MPLA foi o primeiro dos movimentos de libertação da África Austral a iniciar a luta armada. Ao que c<strong>on</strong>sta,<br />

esta decisão foi tomada logo após a Assembleia Geral das Nações Unidas ter decidido formalmente que Angola e<br />

os demais territórios portugueses ”não estavam aptos para se auto-governarem nos termos da Carta das Nações<br />

Unidas”. Esta decisão histórica foi anunciada por Viriato da Cruz e Mário Pinto de Andrade, numa c<strong>on</strong>ferência de<br />

imprensa realizada em L<strong>on</strong>dres, no início de Dezembro de 1960, no âmbito da C<strong>on</strong>ferência de Líderes Naci<strong>on</strong>alistas<br />

das Colónias Portuguesas. No entanto, nesta c<strong>on</strong>ferência de imprensa, realizada na Câmara dos Comuns, os líderes<br />

do MPLA nunca falaram de luta armada, mas de ”acção directa”. Segundo Lúcio Lara, a expressão foi explicitamente<br />

escolhida após recomendação de Fenner Brockway e Basil Davids<strong>on</strong> do C<strong>on</strong>selho Britânico para a Liberdade em<br />

Portugal e nas Colónias, para não hostilizar eventuais simpatizantes ocidentais (entrevista com Lúcio Lara, p. 18).<br />

56. John Marcum: <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Angolan Revoluti<strong>on</strong>, Volume I: <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Anatomy of an Explosi<strong>on</strong>, <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> MIT Press, Cambridge,<br />

1969, pp. 128–129.<br />

57. Ibid., p. 129. Em Janeiro de 1961 tinha eclodido a chamada ”Guerra da Maria”, em Malanje, a cerca de 400 kms<br />

a leste de Luanda. Tudo começou quando seguidores de uma seita cristã dissidente se sublevaram c<strong>on</strong>tra o sistema<br />

de cultura forçada de algodão e, de uma forma geral, c<strong>on</strong>tra a autoridade portuguesa.<br />

58. Os portugueses acabaram por fechar as fr<strong>on</strong>teiras a corresp<strong>on</strong>dentes estrangeiros e impuseram um blackout quase<br />

total às notícias de Angola.<br />

59. Sven Aurén: ”K<strong>on</strong>takt med Angola” (”C<strong>on</strong>tacto com Angola”),em Svenska Dagbladet, 19 de Fevereiro de 1961.<br />

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