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30 Tor Sellström porém, fortemente denunciadas por escritores internacionais empenhados, como Basil Davidson 48 e, acima de tudo, pelo líder exilado do MPLA junto do secretário geral, Viriato da Cruz, 49 o presidente em exercício Mário Pinto de Andrade 50 e Lúcio Lara 51 . Foram precisamente estes acontecimentos que quebraram na Suécia o longo silêncio que envolvia Angola. Depois de escrever sobre Moçambique em Novembro de 1959, 52 Per Wästberg publicou em Agosto de 1960 um artigo chamado ”O Terror em Angola” no jornal sueco de grande tiragem Dagens Nyheter, no qual, sem nunca referir explicitamente o MPLA, apresentava a ”frente de independência de Angola” e os seus líderes, da Cruz, de Andrade e Lara. 53 Em Janeiro de 1961, ou seja, ainda antes do início do combate armado, Wästberg fez ainda uma apresentação pormenorizada dos últimos acontecimentos em Angola, incluindo a detenção de Agostinho Neto, descrevendo o MPLA como ”o movimento nacionalista mais relevante”. 54 Ainda assim, foi apenas depois do sequestro do navio português Santa Maria, pelo quixotesco capitão português Henrique Galvão, dos ataques dos apoiantes do MPLA às prisões em Luanda e da revolta inspirada pela UPA no norte de Angola, no período entre Janeiro e Março de 1961, que a situação no país se entranhou no debate na Suécia. Juntamente com a situação na África do Sul e, naturalmente, com a guerra no Congo, a questão de Angola viria, no decorrer do ano seguinte, a dominar os relatos de acontecimentos na África Austral. Em Julho de 1961, foi feita a primeira grande campanha de angariação de fundos para a região, na Suécia, que não só acabou por colocar o MPLA 48. Davidson foi muito importante para a criação do Conselho para a Liberdade em Portugal e nas Colónias no Reino Unido. Depois da detenção de Neto e sua transferência para a ilha de Santo Antão em Cabo Verde, o Conselho, juntamente a Sociedade Britânica Anti-Escravatura, a Igreja Metodista e O Comité Americano para África, montou uma campanha intensiva para libertar Neto, o que possivelmente impediu que Portugal executasse o futuro presidente de Angola. Em vez disso, em Outubro de 1960, Neto seria transferido para a prisão do Aljube em Lisboa, de onde conseguiu evadir-se em Julho de 1962. 49. Tal como muitos outros nas chefias do MPLA, Viriato da Cruz era nacionalista e um poeta reconhecido. Depois de fundar a PLUA em 1953, tornou-se secretário geral do MPLA em 1956. Conseguiu escapar à repressão em finais dos anos 50 e fugiu para França, onde se juntou a Mário Pinto de Andrade. Em Paris, da Cruz e de Andrade cooperaram com a revista cultural Présence Africaine. Juntamente com Lúcio Lara formaram o núcleo activo do MPLA no exílio. No entanto, criticado pelas suas opiniões de extrema esquerda, da Cruz foi afastado do centro do poder do MPLA na sua conferência nacional em Dezembro de 1962 e, após tentar formar uma aliança com Holden Roberto, acabou por ser expulso do movimento no ano seguinte. Depois disso, estabeleceu-se na China, onde trabalhou no Gabinete de Escritores Afro-Asiáticos em Pequim até à sua morte em 1973. 50. Mário Pinto de Andrade, outro dos principais escritores-intelectuais do MPLA, estudou em Lisboa e Paris, onde trabalhou com a Présence Africaine. Juntamente com Amílcar Cabral da Guiné-Bissau e Marcelino dos Santos de Moçambique, formou o Movimento Anti-Colonial (MAC) em 1957. Enquanto presidente do MPLA entre 1960 e 1962, de Andrade veio a tornar-se um crítico vigoroso do ”presidencialismo” de Agostinho Neto e organizou o movimento de oposição Revolta Activa em 1974. Depois da independência de Angola, foi exilado para a Guiné- Bissau, onde foi Comissário da Cultura. 51. Lúcio Lara era matemático de profissão e também professor de física. Eleito para o executivo do MPLA na primeira conferência nacional do MPLA em Dezembro de 1962, Lara tinha o importante cargo de Secretário para a Organização e Quadros. Enquanto tal, era responsável tanto pela educação dos quadros clássicos como dos políticos, no início a partir de Brazzaville e posteriormente na Frente Oriental, dentro de Angola. Eleito para o Politburo do MPLA em 1974, depois da independência de Angola em 1975, Lara foi referido frequentemente como sendo o ”braço direito” do presidente Neto. 52. Per Wästberg: ”Tystnadens diktatur” (”A Ditadura do silêncio”) em Dagens Nyheter, 14 de Novembro de 1959. Este artigo motivou um protesto do governo de Portugal ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (Ryberg (1973) op. cit., p. 53). 53. Per Wästberg: ”Terrorn i Angola” (”O terror em Angola”) em Dagens Nyheter, 17 de Agosto de 1960. 54. Per Wästberg: ”Angola och Moçambique” (”Angola e Moçambique”) em Dagens Nyheter, 26 de Janeiro de 1961. É curioso notar que Wästberg, que estava activamente ligado ao movimento anti-apartheid sueco, referiu neste artigo que Portugal tinha assinado um pacto de auxílio militar com a África do Sul. ”Se houver uma revolta em Angola, e a África do Sul vier em auxílio de Portugal,” disse Wästberg ”os estados africanos livres já ameaçaram intervir. Todo o continente africano poderia ver-se mergulhado na guerra”.

Insurreições em Angola, reacções na Suécia em contacto directo com a Suécia, mas viria também a facilitar as relações futuras com o PAIGC da Guiné-Bissau e com a FRELIMO de Moçambique. Numa tentativa de libertar os seus líderes detidos e camaradas nacionalistas, cerca de duzentos apoiantes do MPLA, armados com facas e paus, atacaram a 4 de Fevereiro de 1961 a prisão central de Luanda, marcando assim o início da guerra de libertação em Angola e a guerra na África Austral, que duraria trinta anos. 55 O primeiro ataque à prisão de São Paulo falhou, rezando as crónicas que terá resultado na morte de sete polícias portugueses e de cerca de quarenta atacantes. Ainda assim, continuou a revolta e, após algumas escaramuças, deu-se outro ataque, no dia 10 de Fevereiro, contra outra prisão de Luanda, tendo este também resultado em mortes. Segundo John Marcum 56 , a vingança portuguesa foi terrível. A polícia ajudou grupos de vingadores civis a organizar massacres nocturnos nos bairros de lata de Luanda. Os brancos arrastavam os negros do único quarto das suas barracas depauperadas, abatiam-nos a tiro e deixavam os corpos nas ruas. Um missionário metodista testemunhou saber pessoalmente da morte de quase trezentas pessoas. A verdadeira dimensão deste massacre, no entanto, nunca será conhecida. 57 Já tendo sido afectado por detenções anteriores, o movimento nacionalista emergente foi brutalmente dizimado e apenas um número reduzido de militantes do MPLA conseguiu fugir de Luanda para voltar a organizar a luta a partir da floresta de Dembos, a nordeste da capital. Esta insurreição em Luanda coincidiu com o caso do Santa Maria. Esperando que o capitão Henrique Galvão estivesse a cooperar com os nacionalistas e que fosse levar o paquete sequestrado para Luanda, um número cada vez maior de jornalistas internacionais reuniu-se pela primeira vez na capital de Angola quando se deram os ataques às prisões. Foi, assim, impossível para as autoridades portuguesas ocultar esses acontecimentos, 58 que entraram na ordem de trabalhos do Conselho de Segurança das Nações Unidas a 10 de Março de 1961. A imprensa sueca estava presente em Luanda, na pessoa de Sven Aurén, correspondente em Paris do diário conservador Svenska Dagbladet. Ao contrário da maioria dos comentadores internacionais, Aurén não era nem pouco mais ou menos simpatizante do que ele chamou uma ”revolta dos primitivos contra os civilizados” e ”terrorismo de modelo argelino”. 59 Apesar de ser algo crítico do regime colonial português diria, acima de tudo, que a perspectiva da independência de Angola de Portugal conduziria ao ”caos” e a aberturas ao comunismo internacional. No segundo dos seus extensos 55. O MPLA foi o primeiro dos movimentos de libertação da África Austral a iniciar a luta armada. Ao que consta, esta decisão foi tomada logo após a Assembleia Geral das Nações Unidas ter decidido formalmente que Angola e os demais territórios portugueses ”não estavam aptos para se auto-governarem nos termos da Carta das Nações Unidas”. Esta decisão histórica foi anunciada por Viriato da Cruz e Mário Pinto de Andrade, numa conferência de imprensa realizada em Londres, no início de Dezembro de 1960, no âmbito da Conferência de Líderes Nacionalistas das Colónias Portuguesas. No entanto, nesta conferência de imprensa, realizada na Câmara dos Comuns, os líderes do MPLA nunca falaram de luta armada, mas de ”acção directa”. Segundo Lúcio Lara, a expressão foi explicitamente escolhida após recomendação de Fenner Brockway e Basil Davidson do Conselho Britânico para a Liberdade em Portugal e nas Colónias, para não hostilizar eventuais simpatizantes ocidentais (entrevista com Lúcio Lara, p. 18). 56. John Marcum: ong>Theong> Angolan Revolution, Volume I: ong>Theong> Anatomy of an Explosion, ong>Theong> MIT Press, Cambridge, 1969, pp. 128–129. 57. Ibid., p. 129. Em Janeiro de 1961 tinha eclodido a chamada ”Guerra da Maria”, em Malanje, a cerca de 400 kms a leste de Luanda. Tudo começou quando seguidores de uma seita cristã dissidente se sublevaram contra o sistema de cultura forçada de algodão e, de uma forma geral, contra a autoridade portuguesa. 58. Os portugueses acabaram por fechar as fronteiras a correspondentes estrangeiros e impuseram um blackout quase total às notícias de Angola. 59. Sven Aurén: ”Kontakt med Angola” (”Contacto com Angola”),em Svenska Dagbladet, 19 de Fevereiro de 1961. 31

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porém, fortemente denunciadas por escritores internaci<strong>on</strong>ais empenhados, como Basil<br />

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Viriato da Cruz, 49 o presidente em exercício Mário Pinto de Andrade 50 e Lúcio Lara 51 .<br />

Foram precisamente estes ac<strong>on</strong>tecimentos que quebraram na Suécia o l<strong>on</strong>go silêncio que<br />

envolvia Angola. Depois de escrever sobre Moçambique em Novembro de 1959, 52 Per<br />

Wästberg publicou em Agosto de 1960 um artigo chamado ”O Terror em Angola” no<br />

jornal sueco de grande tiragem Dagens Nyheter, no qual, sem nunca referir explicitamente<br />

o MPLA, apresentava a ”frente de independência de Angola” e os seus líderes, da Cruz,<br />

de Andrade e Lara. 53 Em Janeiro de 1961, ou seja, ainda antes do início do combate armado,<br />

Wästberg fez ainda uma apresentação pormenorizada dos últimos ac<strong>on</strong>tecimentos<br />

em Angola, incluindo a detenção de Agostinho Neto, descrevendo o MPLA como ”o<br />

movimento naci<strong>on</strong>alista mais relevante”. 54<br />

Ainda assim, foi apenas depois do sequestro do navio português Santa Maria, pelo<br />

quixotesco capitão português Henrique Galvão, dos ataques dos apoiantes do MPLA<br />

às prisões em Luanda e da revolta inspirada pela UPA no norte de Angola, no período<br />

entre Janeiro e Março de 1961, que a situação no país se entranhou no debate na Suécia.<br />

Juntamente com a situação na África do Sul e, naturalmente, com a guerra no C<strong>on</strong>go,<br />

a questão de Angola viria, no decorrer do ano seguinte, a dominar os relatos de ac<strong>on</strong>tecimentos<br />

na África Austral. Em Julho de 1961, foi feita a primeira grande campanha de<br />

angariação de fundos para a região, na Suécia, que não só acabou por colocar o MPLA<br />

48. Davids<strong>on</strong> foi muito importante para a criação do C<strong>on</strong>selho para a Liberdade em Portugal e nas Colónias no<br />

Reino Unido. Depois da detenção de Neto e sua transferência para a ilha de Santo Antão em Cabo Verde, o C<strong>on</strong>selho,<br />

juntamente a Sociedade Britânica Anti-Escravatura, a Igreja Metodista e O Comité Americano para África,<br />

m<strong>on</strong>tou uma campanha intensiva para libertar Neto, o que possivelmente impediu que Portugal executasse o futuro<br />

presidente de Angola. Em vez disso, em Outubro de 1960, Neto seria transferido para a prisão do Aljube em Lisboa,<br />

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49. Tal como muitos outros nas chefias do MPLA, Viriato da Cruz era naci<strong>on</strong>alista e um poeta rec<strong>on</strong>hecido. Depois<br />

de fundar a PLUA em 1953, tornou-se secretário geral do MPLA em 1956. C<strong>on</strong>seguiu escapar à repressão em finais<br />

dos anos 50 e fugiu para França, <strong>on</strong>de se juntou a Mário Pinto de Andrade. Em Paris, da Cruz e de Andrade cooperaram<br />

com a revista cultural Présence Africaine. Juntamente com Lúcio Lara formaram o núcleo activo do MPLA no<br />

exílio. No entanto, criticado pelas suas opiniões de extrema esquerda, da Cruz foi afastado do centro do poder do<br />

MPLA na sua c<strong>on</strong>ferência naci<strong>on</strong>al em Dezembro de 1962 e, após tentar formar uma aliança com Holden Roberto,<br />

acabou por ser expulso do movimento no ano seguinte. Depois disso, estabeleceu-se na China, <strong>on</strong>de trabalhou no<br />

Gabinete de Escritores Afro-Asiáticos em Pequim até à sua morte em 1973.<br />

50. Mário Pinto de Andrade, outro dos principais escritores-intelectuais do MPLA, estudou em Lisboa e Paris, <strong>on</strong>de<br />

trabalhou com a Présence Africaine. Juntamente com Amílcar Cabral da Guiné-Bissau e Marcelino dos Santos de<br />

Moçambique, formou o Movimento Anti-Col<strong>on</strong>ial (MAC) em 1957. Enquanto presidente do MPLA entre 1960<br />

e 1962, de Andrade veio a tornar-se um crítico vigoroso do ”presidencialismo” de Agostinho Neto e organizou o<br />

movimento de oposição Revolta Activa em 1974. Depois da independência de Angola, foi exilado para a Guiné-<br />

Bissau, <strong>on</strong>de foi Comissário da Cultura.<br />

51. Lúcio Lara era matemático de profissão e também professor de física. Eleito para o executivo do MPLA na<br />

primeira c<strong>on</strong>ferência naci<strong>on</strong>al do MPLA em Dezembro de 1962, Lara tinha o importante cargo de Secretário para a<br />

Organização e Quadros. Enquanto tal, era resp<strong>on</strong>sável tanto pela educação dos quadros clássicos como dos políticos,<br />

no início a partir de Brazzaville e posteriormente na Frente Oriental, dentro de Angola. Eleito para o Politburo do<br />

MPLA em 1974, depois da independência de Angola em 1975, Lara foi referido frequentemente como sendo o<br />

”braço direito” do presidente Neto.<br />

52. Per Wästberg: ”Tystnadens diktatur” (”A Ditadura do silêncio”) em Dagens Nyheter, 14 de Novembro de 1959.<br />

Este artigo motivou um protesto do governo de Portugal ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (Ryberg (1973)<br />

op. cit., p. 53).<br />

53. Per Wästberg: ”Terrorn i Angola” (”O terror em Angola”) em Dagens Nyheter, 17 de Agosto de 1960.<br />

54. Per Wästberg: ”Angola och Moçambique” (”Angola e Moçambique”) em Dagens Nyheter, 26 de Janeiro de 1961.<br />

É curioso notar que Wästberg, que estava activamente ligado ao movimento anti-apar<strong>the</strong>id sueco, referiu neste artigo<br />

que Portugal tinha assinado um pacto de auxílio militar com a África do Sul. ”Se houver uma revolta em Angola, e<br />

a África do Sul vier em auxílio de Portugal,” disse Wästberg ”os estados africanos livres já ameaçaram intervir. Todo<br />

o c<strong>on</strong>tinente africano poderia ver-se mergulhado na guerra”.

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