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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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Tor Sellström<br />

um terreno de entendimento mútuo à volta de ideias básicas e partilhadas sobre direitos<br />

humanos e ordem mundial.<br />

Em termos de política externa, todos os estados se esforçam por promover e apoiar<br />

valores e normas fundamentais próprios. A Suécia após a Segunda Guerra Mundial com<br />

um governo do Partido Social Democrata e desfrutando de uma grande base de apoio<br />

fora dos círculos do próprio partido22 , c<strong>on</strong>struía os alicerces para a criação de uma sociedade<br />

paritária baseada na segurança social e na solidariedade e, por isso, o apar<strong>the</strong>id e o<br />

col<strong>on</strong>ialismo c<strong>on</strong>stituíam verdadeiras afr<strong>on</strong>tas. A Suécia tinha c<strong>on</strong>seguido ficar de fora da<br />

guerra, mas os seus horrores, nomeadamente o racismo e a ocupação estrangeira tinham<br />

ac<strong>on</strong>tecido há suficientemente pouco tempo para que todos deles se lembrassem. 23 Os<br />

regimes brancos da África Austral eram vistos na Suécia como autores de atentados, não<br />

apenas c<strong>on</strong>tra os direitos humanos mais fundamentais, mas também c<strong>on</strong>tra as liberdades<br />

liberais e a igualdade entre as nações, em que o mundo do pós-guerra deveria assentar. O<br />

apar<strong>the</strong>id e a opressão col<strong>on</strong>ial não eram vistos como questões internas desses países mas,<br />

de uma forma geral, como crimes c<strong>on</strong>tra a humanidade. Em 1995, o antigo ministro sul<br />

africano dos Negócios Estrangeiros, Roelof ”Pik” Botha, que exerceu funções na Embaixada<br />

da África do Sul em Estocolmo entre 1956 e 1960, recordou que<br />

a Suécia tinha uma obsessão no sentido de nunca mais voltar a haver racismo, sabendo o que<br />

ele tinha feito ao mundo. [...] Prevaleceu uma filosofia de base, assente na justiça e na equidade.<br />

A descriminação racial, autorgação de direitos e deveres com base na pertença a um grupo,<br />

classe, raça ou religião c<strong>on</strong>stituía um anátema. [...] A comunicação social mais alerta para estas<br />

questões e outros orgãos viram sempre este assunto como se de uma cruzada se tratasse, como<br />

algo por que tinham de lutar. Independentemente de <strong>on</strong>de se verificasse, eles estavam c<strong>on</strong>tra.<br />

Daí que se tivessem colocado ao lado das organizações no terreno e professassem que estavam<br />

a representar a maioria do povo, que buscava a liberdade. [...] Tratava-se de um assédio muito<br />

forte e emotivo, mas mesmo assim de cariz intelectual. 24<br />

Como um estado que não assina alianças, externo aos dois blocos em c<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>tação, o<br />

direito à autodeterminação fazia parte do sistema naci<strong>on</strong>al de valores ideológicos e era<br />

de importância vital para a Suécia do p<strong>on</strong>to de vista da segurança. A posição do governo<br />

neste aspecto colocá-lo-ia, em primeira instância, em oposição com as potências col<strong>on</strong>iais<br />

europeias e com a África do Sul. Em Dezembro de 1959, a Suécia tornou-se no primeiro<br />

país ocidental a votar, na Assembleia Geral das Nações Unidas, a favor do direito da<br />

Argélia à autodeterminação e, no ano seguinte, c<strong>on</strong>tava-se entre os países que apoiaram a<br />

Declaração de Descol<strong>on</strong>ização, enquanto a Grã-Bretanha, a França, Portugal, a África do<br />

Sul e os Estados Unidos se abstiveram. Em 1960, o partido no poder aprovou também<br />

um manifesto em que figuravam de forma destacada os c<strong>on</strong>ceitos de libertação naci<strong>on</strong>al<br />

e de solidariedade internaci<strong>on</strong>al: ”O Partido Social Democrata saúda a emancipação dos<br />

povos oprimidos com satisfação e compreensão. [...] Nas relações entre países ricos e pobres,<br />

a social democracia deve salvaguardar os ideais da igualdade e da solidariedade, que<br />

sempre nortearam a sua luta nos países desenvolvidos”.<br />

Na perspectiva da Suécia, a descol<strong>on</strong>ização e a autodeterminação eram, não apenas<br />

um direito universal, mas também uma importante alavanca no sentido de romper a di-<br />

22. O Partido do Centro (na altura designado Liga dos Agricultores) integrou o governo da Suécia entre 1951 e<br />

1957.<br />

23. Houve quem dissesse que a posição da Suécia durante a guerra gerou muito peso nas c<strong>on</strong>sciências e sentimentos<br />

de culpa. Ver, por exemplo, a entrevista com Carl Tham, p. 340.<br />

24. Entrevista com Roelof ”Pik” Botha, p. 111.

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