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268 Tor Sellström três objectivos básicos, a saber segurança nacional, afinidade ideológica e oportunidade económica. A legitimidade pública é outro factor acrescentado a esta equação, enquanto quarto objectivo. 20 No caso da Suécia, como é que estes objectivos se relacionam com a África Austral? O que levou a Suécia, pequeno país ocidental e industrializado, situado no norte da Europa, a envolver-se activamente na causa da libertação nacional da longínqua África Austral? Porque é que a Suécia, como fizeram muitos outros países ocidentais, não se limitou a assumir um papel de espectador passivo? Que interesses, se é que alguns existiam, tinham em comum a Suécia e os movimentos regionais de libertação? Os acontecimentos na África Austral durante os anos sessenta não constituíram, em sentido estrito, uma ameaça para a segurança nacional da Suécia, país que, a seguir à Segunda Guerra Mundial, definiu a sua política externa e de segurança de base como ”não participação em alianças em tempo de paz, ter como objectivo a neutralidade em caso de guerra”. Não estando filiada em qualquer organização de segurança colectiva, como a OTAN, a Suécia estava simultaneamente menos limitada nas suas opções de política externa e mais limitada em termos de poder utilizar a sua própria capacidade defensiva e procurar soluções globais para potenciais conflitos ao longo da linha divisória entre os blocos ocidental e de leste. De um ponto de vista de segurança, estas últimas considerações permitem perceber a importância que a Suécia dá às Nações Unidas. A participação activa na organização mundial viria a tornar-se numa dos pilares da política externa sueca. O significado das Nações Unidas enquanto ”cobertura de segurança” global e ”entidade que resolve conflitos” aumentou durante o mandato de Dag Hammarskjöld como secretário geral entre 1953 e 1961, e cujo mandato coincidiu em grande medida com o processo de descolonização africano, que foi seguido com o maior interesse na Suécia. A Suécia foi dos países que mais contribuiu para as operações militares de manutenção da paz das Nações Unidas no Congo, realizadas a partir de Julho de 1960. Mais de 6.000 suecos participaram nas operações militares e 10 por cento dos soldados das Nações Unidas que morreram em combate eram suecos. Com a crescente participação das super-potências tornaram-se evidentes as complexidades do processo de descolonização e seu potencial para escalar e transformar-se em confrontações de maior escala, não apenas para o governo sueco, como também nos lares do cidadão sueco comum. A consciencialização aumentou intensamente quando o secretário geral das Nações Unidas sueco faleceu na sequência do misterioso despenhamento do avião em que viajava, no Norte da Rodésia (Zâmbia) em Setembro de 1961. Para além disso, essa consciencialização foi reforçada pela guerra na vizinha Angola e pelo apoio militar dado por mercenários belgas, franceses, portugueses, da Rodésia e da África do Sul, bem como pelos interesses financeiros ocidentais na cessação de Katanga, onde um contingente sueco das Nações Unidas foi utilizado no terreno. A guerra no Congo aproximou a Suécia das realidades da África Austral, realçando a ameaça para a paz internacional que os regimes de minoria branca, impermeáveis à mudança, constituíam. Os acontecimentos na África do Sul apontavam nessa mesma direcção. Logo em Janeiro de 1957, Olof Tandberg concluía num artigo publicado no Stockholms-Tid- ningen que era ”inevitável que se desse uma insurreição. Trata-se apenas de uma questão de tempo”. As suas palavras definiriam, em larga medida, o tom para o início na Suécia 20. A discussão que se segue inspira-se grandemente na cientista política sueca Marie Demker e na sua análise da Suécia e da guerra de libertação da Argélia (Demker op. cit.).

Nota final ”Esmaguemos a opressão em Angola, Moçambique e no Império Colonial português, esmaguemos o apartheid, liberdade já para a África Austral”: Um tipo de manifestação diferente no Primeiro de Maio, Estocolmo, 1967. (Foto: Arbetarrörelsens Arkiv och Bibliotek) do debate sobre a questão do apartheid. Victor Vinde, chefe de redacção do jornal do Partido Social Democrata, descreveu em Maio de 1961 o apartheid como ”uma ameaça à paz em África e portanto à paz mundial”. Nessa altura, tratava-se duma caracterização que o governo social democrata pretendia evitar, uma vez que significava que o Conselho de Segurança podia impor sanções económicas obrigatórias contra a África do Sul. Nas Nações Unidas, a Suécia optou por condenar o apartheid como ”um crime contra a humanidade”. Na Suécia, para o cada vez mais forte movimento de solidariedade para com a África Austral, os acontecimentos que se iam sucedendo a nível regional eram vistos como um presságio. Assim, em 1965–66, coincidindo com a activação da política externa sueca, por parte da geração mais jovem dos sociais democratas em torno de Olof Palme, a Suécia expressou oficialmente a opinião de que as situações que se verificavam na África do Sul, no Sudoeste Africano (Namíbia), na Rodésia (Zimbabué) e nas colónias portuguesas (Angola, Guiné-Bissau e Moçambique) individualmente constituíam ameaças para a paz e segurança internacionais. 21 Simultaneamente viam-se as questões regionais como estando interligadas entre si. No seu discurso perante a Assembleia Geral das Nações Unidas em 1966, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Torsten Nilsson descreveu a situação na África Austral como uma ”escura e ameaçadora nuvem”, denunciando de forma clara a ”ímpia aliança” entre Portugal, a Rodésia e a África do Sul. Ao mesmo tempo que as questões relacionadas com a segurança eram importantes a nível global, era com respeito pelas afinidades ideológicas que a Suécia se viria a colocar, de forma definitiva, ao lado dos movimentos nacionais de libertação da África Austral. A velha nação independente do Norte e os povos ainda em luta do Sul encontrariam 21. Ministério dos Negócios Estrangeiros: ”Promemoria: Svenska ställningstaganden till frågor berörande södra Afrika inom FN” (”Memorando: Posições suecas sobre questões relacionadas com a África Austral e a ONU”), Estocolmo, 2 de Agosto de 1968 (MFA). 269

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Tor Sellström<br />

três objectivos básicos, a saber segurança naci<strong>on</strong>al, afinidade ideológica e oportunidade<br />

ec<strong>on</strong>ómica. A legitimidade pública é outro factor acrescentado a esta equação, enquanto<br />

quarto objectivo. 20 No caso da Suécia, como é que estes objectivos se relaci<strong>on</strong>am com a<br />

África Austral? O que levou a Suécia, pequeno país ocidental e industrializado, situado<br />

no norte da Europa, a envolver-se activamente na causa da libertação naci<strong>on</strong>al da l<strong>on</strong>gínqua<br />

África Austral? Porque é que a Suécia, como fizeram muitos outros países ocidentais,<br />

não se limitou a assumir um papel de espectador passivo? Que interesses, se é que alguns<br />

existiam, tinham em comum a Suécia e os movimentos regi<strong>on</strong>ais de libertação?<br />

Os ac<strong>on</strong>tecimentos na África Austral durante os anos sessenta não c<strong>on</strong>stituíram, em<br />

sentido estrito, uma ameaça para a segurança naci<strong>on</strong>al da Suécia, país que, a seguir à Segunda<br />

Guerra Mundial, definiu a sua política externa e de segurança de base como ”não<br />

participação em alianças em tempo de paz, ter como objectivo a neutralidade em caso<br />

de guerra”. Não estando filiada em qualquer organização de segurança colectiva, como<br />

a OTAN, a Suécia estava simultaneamente menos limitada nas suas opções de política<br />

externa e mais limitada em termos de poder utilizar a sua própria capacidade defensiva<br />

e procurar soluções globais para potenciais c<strong>on</strong>flitos ao l<strong>on</strong>go da linha divisória entre os<br />

blocos ocidental e de leste. De um p<strong>on</strong>to de vista de segurança, estas últimas c<strong>on</strong>siderações<br />

permitem perceber a importância que a Suécia dá às Nações Unidas. A participação<br />

activa na organização mundial viria a tornar-se numa dos pilares da política externa<br />

sueca.<br />

O significado das Nações Unidas enquanto ”cobertura de segurança” global e ”entidade<br />

que resolve c<strong>on</strong>flitos” aumentou durante o mandato de Dag Hammarskjöld como<br />

secretário geral entre 1953 e 1961, e cujo mandato coincidiu em grande medida com o<br />

processo de descol<strong>on</strong>ização africano, que foi seguido com o maior interesse na Suécia. A<br />

Suécia foi dos países que mais c<strong>on</strong>tribuiu para as operações militares de manutenção da<br />

paz das Nações Unidas no C<strong>on</strong>go, realizadas a partir de Julho de 1960. Mais de 6.000<br />

suecos participaram nas operações militares e 10 por cento dos soldados das Nações<br />

Unidas que morreram em combate eram suecos. Com a crescente participação das super-potências<br />

tornaram-se evidentes as complexidades do processo de descol<strong>on</strong>ização e<br />

seu potencial para escalar e transformar-se em c<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>tações de maior escala, não apenas<br />

para o governo sueco, como também nos lares do cidadão sueco comum. A c<strong>on</strong>sciencialização<br />

aumentou intensamente quando o secretário geral das Nações Unidas sueco<br />

faleceu na sequência do misterioso despenhamento do avião em que viajava, no Norte<br />

da Rodésia (Zâmbia) em Setembro de 1961. Para além disso, essa c<strong>on</strong>sciencialização foi<br />

reforçada pela guerra na vizinha Angola e pelo apoio militar dado por mercenários belgas,<br />

franceses, portugueses, da Rodésia e da África do Sul, bem como pelos interesses financeiros<br />

ocidentais na cessação de Katanga, <strong>on</strong>de um c<strong>on</strong>tingente sueco das Nações Unidas<br />

foi utilizado no terreno. A guerra no C<strong>on</strong>go aproximou a Suécia das realidades da África<br />

Austral, realçando a ameaça para a paz internaci<strong>on</strong>al que os regimes de minoria branca,<br />

impermeáveis à mudança, c<strong>on</strong>stituíam.<br />

Os ac<strong>on</strong>tecimentos na África do Sul ap<strong>on</strong>tavam nessa mesma direcção. Logo em<br />

Janeiro de 1957, Olof Tandberg c<strong>on</strong>cluía num artigo publicado no Stockholms-Tid-<br />

ningen que era ”inevitável que se desse uma insurreição. Trata-se apenas de uma questão<br />

de tempo”. As suas palavras definiriam, em larga medida, o tom para o início na Suécia<br />

20. A discussão que se segue inspira-se grandemente na cientista política sueca Marie Demker e na sua análise da<br />

Suécia e da guerra de libertação da Argélia (Demker op. cit.).

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