Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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Tor Sellström<br />
nossa terra, não é de cariz ideológico, ou seja, um debate entre comunismo e capitalismo.<br />
É de libertação naci<strong>on</strong>al. Se c<strong>on</strong>seguirmos libertar-nos, poderemos depois decidir qual é<br />
o posici<strong>on</strong>amento ideológico ideal a ter”. 9<br />
Teve particular significado o facto de os primeiros c<strong>on</strong>tactos sustentados pela Suécia<br />
terem sido feitos com os movimentos que acabariam por sair vitoriosos nos respectivos<br />
países, ou seja, o ANC da África do Sul, o MPLA de Angola, 10 a FRELIMO de Moçambique<br />
e a ZANU e a ZAPU do Zimbabué. No caso da Namíbia, a SWANU, alinhada,<br />
na altura, com o ANC, começou por desempenhar um papel proeminente mas, a partir<br />
de 1966, a SWAPO passou a ser vista como um genuíno representante naci<strong>on</strong>alista.<br />
Quando, por parte do governo sueco foi, por fim, tomada a decisão de c<strong>on</strong>ceder ajuda<br />
oficial, foram o ANC, a SWAPO, o MPLA, a FRELIMO e a ZANU e a ZAPU – vindo<br />
as duas últimas a formar, mais tarde, a chamada Frente Patriótica – que, de facto foram<br />
rec<strong>on</strong>hecidos como ”governos em gestação”. A ajuda directa e oficial da Suécia nunca foi<br />
canalizada para organizações em competição umas com as outras como, por exemplo, o<br />
PAC da África do Sul, a FNLA e a UNITA de Angola ou a UANC do Zimbabué.<br />
Foi através da luta armada que os movimentos de libertação foram atraídos pela<br />
União Soviética e/ou pela China. No entanto e com este pano de fundo, é relevante dizer<br />
que as relações políticas estabelecidas na Suécia em quase todos os casos 11 foram precedidas<br />
de operações militares. 12 Nem a transição para a luta armada nem as ligações com os<br />
países comunistas erodiram o apoio de que já desfrutavam os movimentos naci<strong>on</strong>alistas<br />
da África Austral. 13 Como viria posteriormente a declarar Pär Granstedt do Partido do<br />
Centro: ”ficou claro, se analisarmos o debate travado na Suécia que a maior parte das<br />
pessoas percebeu que os movimentos de libertação não faziam parte do bloco de Leste.<br />
O problema era que a principal f<strong>on</strong>te de apoio eram, por acaso, os países comunistas.<br />
Daí que tenhamos encarado claramente como incumbência nossa fazer com que tivessem<br />
outras f<strong>on</strong>tes de ajuda”. 14 Tratou-se de uma perspectiva radicalmente diferente da noção<br />
de ”participação c<strong>on</strong>strutiva” relativamente à política desenvolvida pelos Estados Unidos<br />
face à África do Sul do apar<strong>the</strong>id nos anos oitenta. 15<br />
Apesar de as organizações naci<strong>on</strong>alistas desfrutarem de um apoio cada vez maior,<br />
em meados da década de sessenta elas eram ainda vistas pelo governo sueco como movimentos<br />
de protesto c<strong>on</strong>tra a opressão racial e s<strong>on</strong>egação de direitos cívicos. Thabo Mbeki<br />
do ANC estabeleceu, a partir de meados da década de setenta, c<strong>on</strong>tactos excepci<strong>on</strong>al-<br />
9. Entrevista com Sydney Sekeramayi, p. 226.<br />
10. Através da C<strong>on</strong>ferência das Organizações Naci<strong>on</strong>alistas das Colónias Portugueses (CONCP) e da União Geral<br />
de Estudantes para a África Negra sob Domínio Col<strong>on</strong>ial Português (UGEAN).<br />
11. Com a excepção de Angola, <strong>on</strong>de o MPLA deu início à guerra de libertação em Fevereiro de 1961.<br />
12. A sabotagem armada começou, na África do Sul, em Dezembro de 1961 através do Umkh<strong>on</strong>to we Sizwe, mas foi<br />
com a campanha Wankie com a ZAPU do Zimbabué, em Agosto de 1967 que o ANC entrou pela via das operações<br />
miliatares de larga escala. A FRELIMO iniciou a luta armada em Moçambique em Setembro de 1964, a ZANU do<br />
Zimbabué em Abril de 1966 e a SWAPO da Namíbia em Agosto de 1966.<br />
13. Ver, por exemplo, a entrevista com Gunnar Helander (CSM/SSAK), p. 281, e a entrevista com David Wirmark<br />
(PL), p. 345<br />
14. Entrevista com Pär Granstedt, p. 269.<br />
15. Expressão celebrizada por Chester Crocker, vice secretário de estado norte-americano para os assuntos africanos,<br />
”participação c<strong>on</strong>strutiva” designa a política através da qual os Estados Unidos do presidente Reagan regulavam as<br />
suas relações com a África do Sul, favorecendo a manutenção dos laços com o regime do apar<strong>the</strong>id, na esperança<br />
de influenciar os ac<strong>on</strong>tecimentos no sentido da democracia (Ver Chester Crocker: High No<strong>on</strong> in Sou<strong>the</strong>rn Africa:<br />
Making Peace in a Rough Neighborhood, W.W. Nort<strong>on</strong> & Company, Nova Iorque, 1992).