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262 Tor Sellström de libertação da África Austral intensificaram, em meados dos anos sessenta, os seus contactos diplomáticos com a Suécia. A princípio suscitadas sobretudo por cidadãos e organizações políticas do centro liberal, as preocupações humanitárias encontraram eco fundo do governo social democrata no poder e, em 1964, como parte da política de ajuda sueca, o governo decidiu alargar a ajuda ao ensino por forma a abarcar os jovens refugiados africanos, oriundos sobretudo da África Austral. No ano seguinte, em resposta a apelos das Nações Unidas, foi concedido aconselhamento jurídico aos prisioneiros políticos da África do Sul e do Zimbabué, bem como aos seus familiares. Como forma de aconselhar o governo, foi criada uma comissão consultiva alargada, que contava entre os seus membros vários dos líderes de opinião para a questão da África Austral e da África do Sul. Uma das primeiras recomendações feitas pelo comité, e posteriormente apoiada pelo governo, foi a de que a ajuda oficial sueca deveria ser canalizada para o Instituto Moçambicano da FRELIMO situado na Tanzânia. Os contactos estabelecidos com a FRELIMO tiveram importância na decisão, tomada em 1969, de alargar a ajuda, canalizando-a para os movimentos de libertação da África Austral. 1 As partes integrantes do movimento sueco de solidariedade com a África Austral já estavam em plena laboração em meados da década de sessenta. Fora entretanto formada a primeira geração de comités locais anti-apartheid, cuja actividade se expandia até ao Zimbabué e às colónias portuguesas de Angola e Moçambique. Além disso, a abordagem humanitária inicial, de cariz reactivo, fora substituída por outra, mais militante e activa. Em Maio de 1965, o movimento de solidariedade definiu como um dos seus principais objectivos ”convencer o governo, o parlamento e o povo sueco a apoiar os movimentos de libertação da África Austral”. Ao mesmo tempo, o boicote oficialmente declarado à África do Sul ganhava cada vez mais apoiantes. Em Junho de 1965, 20 dos 24 concelhos regionais suecos recusaram produtos sul-africanos, e 139 dos 384 deputados ao parlamento sueco apoiaram o boicote voluntário declarado pelos jovens em Março de 1963. O único partido político a não integrar o movimento de opinião mais alargado para a solidariedade foi o Partido Moderado, de matriz conservadora. As ligas de juventude políticas e os deputados mais jovens do Partido da Esquerda, do Partido Social Democrata, do Partido do Centro e do Partido Liberal defenderam a causa nacionalista. Para uma nova geração de membros dos partidos de pendor socialista, como para os liberais do centro, a solidariedade com a África do Sul e com África Austral adquiriu um significado particular, o que explica por que razão a questão do apoio oficial directo aos movimentos de libertação nunca gerou clivagens na Suécia. Os quatro futuros primeiro ministros Olof Palme (Partido Social Democrata, 1969–76 e 1982–86); Thorbjörn Fälldin (Partido do Centro, 1976–78 e 1979–82); Ola Ullsten (Partido Liberal, 1978–79) 2 e Ingvar Carlsson (Partido Social Democrata, 1986–91 e 1994–96), dirigiram sempre o governo no sentido de, durante mais de vinte anos, a Suécia participar activamente na África Austral, e todos se preocuparam com a questão da África Austral nos anos cinquenta ou princípios dos anos sessenta. Em 1988, o líder do ANC, Oliver Tambo caracterizou os laços entre a Suécia e a África Austral como ”um sistema natural de relacionamento entre povos, que não se baseia na política de qualquer partido que pudesse chegar ao poder na Suécia num 1. E, ao PAIGC da Guiné-Bissau. 2. Ullsten foi também Ministro da Cooperação para o Desenvolvimento Internacional em 1976–78 e Ministro dos Negócios Estrangeiros em 1979–82.

Nota final determinado momento, mas numa perspectiva e num impulso comuns”. Para além do mais, e apesar de ter sido alvo de bastantes reticências por parte dos membros conservadores dos vários corpos diplomáticos suecos, os líderes exilados dos movimentos de libertação da África Austral começaram, a partir de princípios dos anos sessenta, a visitar a Suécia e a ser recebidos ao mais alto nível do governo. Amiúde convidados pelo Partido Social Democrata no governo, muitos usaram da palavra aquando das tradicionais manifestações do Dia do Trabalhador. No caso do ANC, Oliver Tambo visitou a Suécia pela primeira vez em 1961. No ano seguinte, foi convidado a participar nas manifestações do Primeiro de Maio em Gotemburgo e, em Agosto de 1962, teve conversações com o primeiro ministro Tage Erlander em Estocolmo. Ao mesmo tempo, os contactos directos e bilaterais entre a Suécia e o governo sul-africano foram interrompidos. 3 Para estabelecer uma comparação, poderíamos dizer que Tambo só visitou a União Soviética em Abril de 1963. 4 A isto acresce que o primeiro, e também o último, encontro entre o presidente do ANC e o chefe de estado soviético, na altura Mikhail Gorbachev, se realizou apenas em Novembro de 1986. 5 As principais potências ocidentais, que mantiveram relacionamentos de grande proximidade com o regime do apartheid a nível governamental, também demoraram muito a reconhecer o líder da maioria sul-africana. A primeira visita oficial de Tambo a França só se realizou em 1984, e mesmo assim através de contactos com o Partido Social Democrata sueco. 6 Só em Setembro de 1986 é que Tambo pôde pela primeira vez ter conversações com um membro destacado do governo britânico, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Geoffrey Howe. Em Janeiro de 1987, Tambo foi, por fim, recebido pelo secretário de estado norte-americano George Shultz. 7 No caso da África do Sul, verificou-se uma enorme diferença, de cerca de vinte e cinco anos, entre os primeiros contactos ao mais alto nível governamental entre a Suécia e o ANC e contactos do mesmo tipo com a União Soviética, a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, todos eles membros permanentes do Conselho de Segurança da ON. As relações, amiúde muito pessoais, entre políticos e líderes de opinião suecos e líderes da África Austral, e também com Kenneth Kaunda da Zâmbia e Julius Nyerere da Tanzânia, facilitaram o aprofundamento da compreensão do fundo nacionalista inerente às lutas de libertação. 8 Falando dos contactos prévios tidos com Olof Palme, Sydney Sekeramayi da ZANU, que estudou e trabalhou na Suécia durante mais de uma década e fez parte do governo do Zimbabué logo a seguir à independência em 1980, disse, por exemplo, em 1995 que ”quando falava com várias pessoas, entre as quais Eduardo Mondlane da FRELIMO, Herbert Chitepo da ZANU e outros, Palme entendia o que lhe era dito. Penso que essas pessoas conseguiram incutir nele o seguinte: ”a questão, na 3. No âmbito da EFTA, a Suécia e Portugal mantinham relações oficiais. Nunca foram estabelecidos contactos bilaterais com a Rodésia de Ian Smith. No caso da África do Sul, só durante os festejos da independência na Namíbia, em Março de 1990, aos quais assistiu Nelson Mandela, é que houve um encontro directo entre um ministro sueco (Sten Andersson) e um ministro sul-africano (”Pik” Botha) (Ver entrevista com Roelof ”Pik” Botha, p. 111). 4. Shubin op. cit. em African Affairs, p. 6. 5. Ibid., p. 13 e entrevista a Thabo Mbeki, p. 153. 6. Schori op. cit., p. 29. 7. Thomas op. cit., p. 205. 8. Ver, por exemplo, a entrevista com Pär Granstedt (Partido do Centro), p. 269; entrevista com Lena Hjelm-Wallén (Partido Social Democrata), p. 292; entrevista com David Wirmark (Partido Liberal), p. 345; e entrevista com Ernst Michanek (ASDI), p. 320. 263

Nota final<br />

determinado momento, mas numa perspectiva e num impulso comuns”.<br />

Para além do mais, e apesar de ter sido alvo de bastantes reticências por parte dos<br />

membros c<strong>on</strong>servadores dos vários corpos diplomáticos suecos, os líderes exilados dos<br />

movimentos de libertação da África Austral começaram, a partir de princípios dos anos<br />

sessenta, a visitar a Suécia e a ser recebidos ao mais alto nível do governo. Amiúde c<strong>on</strong>vidados<br />

pelo Partido Social Democrata no governo, muitos usaram da palavra aquando<br />

das tradici<strong>on</strong>ais manifestações do Dia do Trabalhador. No caso do ANC, Oliver Tambo<br />

visitou a Suécia pela primeira vez em 1961. No ano seguinte, foi c<strong>on</strong>vidado a participar<br />

nas manifestações do Primeiro de Maio em Gotemburgo e, em Agosto de 1962, teve<br />

c<strong>on</strong>versações com o primeiro ministro Tage Erlander em Estocolmo. Ao mesmo tempo,<br />

os c<strong>on</strong>tactos directos e bilaterais entre a Suécia e o governo sul-africano foram interrompidos.<br />

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Para estabelecer uma comparação, poderíamos dizer que Tambo só visitou a União<br />

Soviética em Abril de 1963. 4 A isto acresce que o primeiro, e também o último, enc<strong>on</strong>tro<br />

entre o presidente do ANC e o chefe de estado soviético, na altura Mikhail Gorbachev,<br />

se realizou apenas em Novembro de 1986. 5 As principais potências ocidentais, que mantiveram<br />

relaci<strong>on</strong>amentos de grande proximidade com o regime do apar<strong>the</strong>id a nível governamental,<br />

também demoraram muito a rec<strong>on</strong>hecer o líder da maioria sul-africana. A<br />

primeira visita oficial de Tambo a França só se realizou em 1984, e mesmo assim através<br />

de c<strong>on</strong>tactos com o Partido Social Democrata sueco. 6 Só em Setembro de 1986 é que<br />

Tambo pôde pela primeira vez ter c<strong>on</strong>versações com um membro destacado do governo<br />

britânico, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Geoffrey Howe. Em Janeiro de 1987,<br />

Tambo foi, por fim, recebido pelo secretário de estado norte-americano George Shultz. 7<br />

No caso da África do Sul, verificou-se uma enorme diferença, de cerca de vinte e cinco<br />

anos, entre os primeiros c<strong>on</strong>tactos ao mais alto nível governamental entre a Suécia e o<br />

ANC e c<strong>on</strong>tactos do mesmo tipo com a União Soviética, a França, a Grã-Bretanha e os<br />

Estados Unidos, todos eles membros permanentes do C<strong>on</strong>selho de Segurança da ON.<br />

As relações, amiúde muito pessoais, entre políticos e líderes de opinião suecos e líderes<br />

da África Austral, e também com Kenneth Kaunda da Zâmbia e Julius Nyerere da<br />

Tanzânia, facilitaram o aprofundamento da compreensão do fundo naci<strong>on</strong>alista inerente<br />

às lutas de libertação. 8 Falando dos c<strong>on</strong>tactos prévios tidos com Olof Palme, Sydney<br />

Sekeramayi da ZANU, que estudou e trabalhou na Suécia durante mais de uma década<br />

e fez parte do governo do Zimbabué logo a seguir à independência em 1980, disse,<br />

por exemplo, em 1995 que ”quando falava com várias pessoas, entre as quais Eduardo<br />

M<strong>on</strong>dlane da FRELIMO, Herbert Chitepo da ZANU e outros, Palme entendia o que<br />

lhe era dito. Penso que essas pessoas c<strong>on</strong>seguiram incutir nele o seguinte: ”a questão, na<br />

3. No âmbito da EFTA, a Suécia e Portugal mantinham relações oficiais. Nunca foram estabelecidos c<strong>on</strong>tactos<br />

bilaterais com a Rodésia de Ian Smith. No caso da África do Sul, só durante os festejos da independência na Namíbia,<br />

em Março de 1990, aos quais assistiu Nels<strong>on</strong> Mandela, é que houve um enc<strong>on</strong>tro directo entre um ministro sueco<br />

(Sten Anderss<strong>on</strong>) e um ministro sul-africano (”Pik” Botha) (Ver entrevista com Roelof ”Pik” Botha, p. 111).<br />

4. Shubin op. cit. em African Affairs, p. 6.<br />

5. Ibid., p. 13 e entrevista a Thabo Mbeki, p. 153.<br />

6. Schori op. cit., p. 29.<br />

7. Thomas op. cit., p. 205.<br />

8. Ver, por exemplo, a entrevista com Pär Granstedt (Partido do Centro), p. 269; entrevista com Lena Hjelm-Wallén<br />

(Partido Social Democrata), p. 292; entrevista com David Wirmark (Partido Liberal), p. 345; e entrevista com Ernst<br />

Michanek (ASDI), p. 320.<br />

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