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26 Tor Sellström mais uníssono e ribombante, sobre o qual se construíram os reorganizados Grupos de África da Suécia e também a ajuda oficial sueca. No início, esta opinião formou-se em torno dos desenvolvimentos em Angola. Primeiras relações com Angola Até à eclosão da guerra de libertação no início de 1961, Angola, talvez mais do que qualquer outro país na África Austral, era bastante desconhecida fora do mundo português. 27 Era, sem dúvida, este o caso na Suécia. No séc. XIX tinham sido feitos alguns contactos indirectos com as extremas setentrionais do país, por intermédio de companhias de missionários suecos no Congo 28 e, acima de tudo, com a região sudoeste, através das operações comerciais à distância com a Namíbia, levadas a cabo por Axel Eriksson. Houve ainda visitas a Angola de alguns suecos, com a Igreja Metodista Internacional, ou como exploradores 29 e aventureiros. 30 Além de contactos posteriores, por meio de transporte marítimo, especialmente por via do serviço regular da Transatlantic entre a Suécia e a África do Sul, não houve ligações históricas directas com a África ocidental lusitana. Em 1960, os interesses oficiais da Suécia em Angola continuavam a ser representados por dois cidadãos britânicos, que exerciam funções, respectivamente, como cônsul em Luanda e vice-cônsul no Lobito. 31 Angola aparece pela primeira vez como registo específico nas estatísticas suecas do comércio externo em 1971. Até então, quaisquer dados para esse país eram registados juntamente com os de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau, sob o título ”África Ocidental Portuguesa”. Mesmo partindo do princípio que o grosso das trocas comerciais da Suécia com a África Ocidental Portuguesa era apenas com Angola, os números são 27. Ao visitar o país em 1953, John Gunther escreveu: ”Angola é provavelmente o menos conhecido dos grandes países de Africa. [...] não creio que, nos últimos vinte anos, tenha sido visitado por mais de meia dúzia de jornalistas britânicos ou americanos. É o único país, excepção feita ao Egipto, onde não só é necessário um visto de entrada como um de saída ”(John Gunther: Inside Africa, Harper & Brothers, Nova Iorque, 1955, p. 596). O seu estatuto como zona fechada resultava da utilização por Portugal de Angola como colónia penal. Na verdade, no início do séc. XX, a população branca de Angola era ainda dominada pelos condenados portugueses, ou degredados. Em relação às entradas em Angola, no início dos anos 30 os condenados portugueses continuavam a ser muito mais numerosos do que os agricultores livres, o que tornada ridícula a declaração de Portugal de que estaria a levar a cabo uma ”missão de civilização”. Este sistema apenas foi abolido em 1954. Segundo Gerald Bender: ”É a suprema ironia que os instrumentos utilizados por Portugal para desempenhar a sua missão de civilização tenham sido retirados das camadas inferiores do país menos desenvolvido da Europa e que os próprios fossem considerados para lá do limite da civilização”(Gerald Bender: Angola under the Portuguese: ong>Theong> Myth and the Reality, Heinemann, Londres, 1978, pp. 93–94). 28. Já em 1881, a Igreja da Aliança da Suécia enviou missionários à bacia do Congo. O seu trabalho alargou-se aos dois Congos e, em 1959, havia nada menos de 199 missionários suecos nessa zona. Juntamente com representantes da Igreja Missionária Baptista, a Missão Pentecostal e a Missão Örebro, no final da década de 50 havia cerca de 400 missionários suecos nos dois Congos, o que representava, de longe, a maior concentração de missionários suecos em África (Wohlin, ed., op. cit., Apêndice). Como já foi indicado, vários dos líderes do Partido Democrático de Angola (PDA), ou seja, o parceiro da UPA na FNLA, tinham frequentado escolas missionárias suecas no Congo. 29. Acima de tudo Peter August Möller, referido no capítulo sobre a Namíbia. O americano nascido na Suécia Amandus Johnson também poderia ser referido. Foi a Angola em 1922–24 e o seu relato I Marimbans land (”No País da marimba”; Hugo Gebers Förlag, Estocolmo) foi publicado em sueco em 1929. 30. Vários aventureiros suecos atraídos pela África Austral foram dar a Angola, mas muito poucos escreveram sobre as suas experiências. A honrosa e divertida excepção é Andy Andersson: En hötorgsgrabb i Afrika:Tjugofem års pionjärliv och jaktäventyr i Rodesia, Portugisiska Öst- och Västafrika samt Kongo (”Um rapaz do centro de Estocolmo em África: vinte e cinco anos de vida de pioneiro e caçador na Rodésia, na África Oriental e Ocidental Portuguesa e no Congo”), Wahlström & Widstrand, Estocolmo,1924. 31. ”Svarta Afrika är morgondagens marknad” (”A África negra é o mercado de amanhã”) em StockholmsTidningen, 24 de Novembro de 1960.

Insurreições em Angola, reacções na Suécia extremamente baixos. Em 1950, o valor das exportações suecas para toda esta região era de 1,8 milhões de coroas suecas, representando 0,03 por cento do total de vendas suecas para o estrangeiro. Na mesma altura, o valor das importações era de 2,3 milhões de coroas suecas, ou seja, 0,04 por cento do total das importações da Suécia. Dez anos mais tarde, mesmo antes do início da guerra de libertação, a balança comercial tinha-se alterado a favor da Suécia, mas este comércio tinha ainda um carácter apenas marginal. Em 1960, as importações suecas da África Ocidental Portuguesa atingiram 3.8 milhões de coroas suecas, apenas uma parte do total de 0,03 por cento, enquanto o valor das exportações da Suécia tinha aumentado para 10,7 milhões de coroas suecas, ou seja, 0,08 por cento do total. 32 As principais importações suecas da África Ocidental Portuguesa eram óleos vegetais, enquanto os principais bens exportados eram papel, pasta de papel e maquinaria. A Suécia nunca foi um mercado importante para o café angolano. Em 1950, por exemplo, a Suécia importou café da África Ocidental Portuguesa num valor total de apenas 104.000 coroas suecas, representando quatro por cento do total das, já de si reduzidas, importações daquela zona. Quando, respondendo a um apelo do MPLA, o movimento internacional de solidariedade levou a cabo um boicote ao café angolano nos anos 70, nem assim se tornou uma questão relevante na Suécia. 33 Ainda assim, em meados dos anos 50, uma série de empresas suecas tinha feito tentativas de penetração tanto no mercado de Angola como no de Moçambique. Uma das mais importantes era o consórcio mineiro Bolidens Gruv AB. No princípio dessa década, assinaram um acordo de concessão, com a duração de cinco anos, com o governo de Portugal para prospecção mineral em ambos os territórios, criando a empresa local designada Sociedade Boliden de Moçambique, em Lourenço Marques (agora Maputo), em Abril de 1954. As áreas concessionadas à Boliden eram gigantescas e cobriam uma superfície total de cerca de 50.000 quilómetros quadrados, ou mais do que um décimo da superfície da Suécia. Em Angola, a concessão com 30.000 quilómetros quadrados ficava no exterior de Moçâmedes (agora Namibe), na parte sudoeste do país. A concessão de Moçambique, algo menor, ficava em Manica, entre o porto da Beira e a fronteira com a Rodésia. 34 No entanto, estas explorações não foram bem sucedidas e foram encerradas em 1957. 35 A Associação Geral de Exportações da Suécia envolveu-se também activamente na promoção de ligações comerciais mais estreitas com Angola e Moçambique. Depois de ter organizado o que chamou de viagens de ”análise e boa-vontade” à África Ocidental e Equatorial Francesa em 1952, e ao Congo Belga em 1953, a associação levou a cabo uma dessas visitas aos dois territórios portugueses em Maio-Junho de 1955. Esta delegação 36 foi liderada pelo enviado da Suécia em Lisboa, Jan Stenström, que ficou impressionado com o que viu nessa visita. Em entrevista, diria posteriormente 32. (Para 1950:) Kommerskollegium: Handel: Berättelse för år 1950, Volym I, Sveriges Officiella Statistik, Norstedt & Söner, Estocolmo, 1952. (Para 1960:) Statistiska Centralbyrån: Handel: Berättelse för år 1960, Volym II, Estocolmo, 1963. As trocas comerciais entre a Suécia e a África Ocidental Portuguesa não aumentaram após a adesão de Portugal à EFTA. Pelo contrário. Assim, em 1970, as mercadorias suecas vendidas para essa zona atingiram um valor total de 2,5 milhões de coroas suecas, o que representa menos de 0,01 por cento do total de exportações da Suécia. Quando às importações, estas eram de 27,2 milhões de coroas suecas, uns estáveis 0,08 por cento (Statistiska Centralbyrån: Utrikeshandel 1970, Volym II, Estocolmo, 1972). 33. Entrevista com Hillevi Nilsson, p. 326. A campanha de boicote contra o café de Angola foi especialmente forte nos Países Baixos e no Canadá. 34. Svensk Utrikeshandel, Nº 18, 30 de Setembro de 1955, pp. 11–12. 35. Södra Afrika Informationsbulletin, Nº 5, 1969, p. 47. 36. As empresas suecas representadas na delegação foram a AGA, a Bolidens Gruv AB, a Elof Hanson, a AB Linjebyggnad e a STAB/Sociedade Nacional de Fósforos, esta última sediada em Portugal. 27

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mais uníss<strong>on</strong>o e ribombante, sobre o qual se c<strong>on</strong>struíram os reorganizados Grupos de<br />

África da Suécia e também a ajuda oficial sueca. No início, esta opinião formou-se em<br />

torno dos desenvolvimentos em Angola.<br />

Primeiras relações com Angola<br />

Até à eclosão da guerra de libertação no início de 1961, Angola, talvez mais do que qualquer<br />

outro país na África Austral, era bastante desc<strong>on</strong>hecida fora do mundo português. 27<br />

Era, sem dúvida, este o caso na Suécia. No séc. XIX tinham sido feitos alguns c<strong>on</strong>tactos<br />

indirectos com as extremas setentri<strong>on</strong>ais do país, por intermédio de companhias de missi<strong>on</strong>ários<br />

suecos no C<strong>on</strong>go 28 e, acima de tudo, com a região sudoeste, através das operações<br />

comerciais à distância com a Namíbia, levadas a cabo por Axel Erikss<strong>on</strong>. Houve<br />

ainda visitas a Angola de alguns suecos, com a Igreja Metodista Internaci<strong>on</strong>al, ou como<br />

exploradores 29 e aventureiros. 30 Além de c<strong>on</strong>tactos posteriores, por meio de transporte<br />

marítimo, especialmente por via do serviço regular da Transatlantic entre a Suécia e a<br />

África do Sul, não houve ligações históricas directas com a África ocidental lusitana. Em<br />

1960, os interesses oficiais da Suécia em Angola c<strong>on</strong>tinuavam a ser representados por dois<br />

cidadãos britânicos, que exerciam funções, respectivamente, como cônsul em Luanda e<br />

vice-cônsul no Lobito. 31<br />

Angola aparece pela primeira vez como registo específico nas estatísticas suecas do comércio<br />

externo em 1971. Até então, quaisquer dados para esse país eram registados juntamente<br />

com os de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau, sob o título ”África<br />

Ocidental Portuguesa”. Mesmo partindo do princípio que o grosso das trocas comerciais<br />

da Suécia com a África Ocidental Portuguesa era apenas com Angola, os números são<br />

27. Ao visitar o país em 1953, John Gun<strong>the</strong>r escreveu: ”Angola é provavelmente o menos c<strong>on</strong>hecido dos grandes<br />

países de Africa. [...] não creio que, nos últimos vinte anos, tenha sido visitado por mais de meia dúzia de jornalistas<br />

britânicos ou americanos. É o único país, excepção feita ao Egipto, <strong>on</strong>de não só é necessário um visto de entrada<br />

como um de saída ”(John Gun<strong>the</strong>r: Inside Africa, Harper & Bro<strong>the</strong>rs, Nova Iorque, 1955, p. 596). O seu estatuto<br />

como z<strong>on</strong>a fechada resultava da utilização por Portugal de Angola como colónia penal. Na verdade, no início do<br />

séc. XX, a população branca de Angola era ainda dominada pelos c<strong>on</strong>denados portugueses, ou degredados. Em<br />

relação às entradas em Angola, no início dos anos 30 os c<strong>on</strong>denados portugueses c<strong>on</strong>tinuavam a ser muito mais<br />

numerosos do que os agricultores livres, o que tornada ridícula a declaração de Portugal de que estaria a levar a cabo<br />

uma ”missão de civilização”. Este sistema apenas foi abolido em 1954. Segundo Gerald Bender: ”É a suprema ir<strong>on</strong>ia<br />

que os instrumentos utilizados por Portugal para desempenhar a sua missão de civilização tenham sido retirados das<br />

camadas inferiores do país menos desenvolvido da Europa e que os próprios fossem c<strong>on</strong>siderados para lá do limite<br />

da civilização”(Gerald Bender: Angola under <strong>the</strong> Portuguese: <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Myth and <strong>the</strong> Reality, Heinemann, L<strong>on</strong>dres, 1978,<br />

pp. 93–94).<br />

28. Já em 1881, a Igreja da Aliança da Suécia enviou missi<strong>on</strong>ários à bacia do C<strong>on</strong>go. O seu trabalho alargou-se aos<br />

dois C<strong>on</strong>gos e, em 1959, havia nada menos de 199 missi<strong>on</strong>ários suecos nessa z<strong>on</strong>a. Juntamente com representantes<br />

da Igreja Missi<strong>on</strong>ária Baptista, a Missão Pentecostal e a Missão Örebro, no final da década de 50 havia cerca de 400<br />

missi<strong>on</strong>ários suecos nos dois C<strong>on</strong>gos, o que representava, de l<strong>on</strong>ge, a maior c<strong>on</strong>centração de missi<strong>on</strong>ários suecos em<br />

África (Wohlin, ed., op. cit., Apêndice). Como já foi indicado, vários dos líderes do Partido Democrático de Angola<br />

(PDA), ou seja, o parceiro da UPA na FNLA, tinham frequentado escolas missi<strong>on</strong>árias suecas no C<strong>on</strong>go.<br />

29. Acima de tudo Peter August Möller, referido no capítulo sobre a Namíbia. O americano nascido na Suécia<br />

Amandus Johns<strong>on</strong> também poderia ser referido. Foi a Angola em 1922–24 e o seu relato I Marimbans land (”No<br />

País da marimba”; Hugo Gebers Förlag, Estocolmo) foi publicado em sueco em 1929.<br />

30. Vários aventureiros suecos atraídos pela África Austral foram dar a Angola, mas muito poucos escreveram sobre<br />

as suas experiências. A h<strong>on</strong>rosa e divertida excepção é Andy Anderss<strong>on</strong>: En hötorgsgrabb i Afrika:Tjugofem års pi<strong>on</strong>järliv<br />

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África: vinte e cinco anos de vida de pi<strong>on</strong>eiro e caçador na Rodésia, na África Oriental e Ocidental Portuguesa e no<br />

C<strong>on</strong>go”), Wahlström & Widstrand, Estocolmo,1924.<br />

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24 de Novembro de 1960.

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