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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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254<br />

Tor Sellström<br />

Na sua primeira moção, Hagård descrevia o governo do MPLA como uma ”ditadura<br />

totalitária, que não preenche de forma nenhuma os requisitos em termos de desenvolvimento<br />

democrático e de respeito pelos direitos humanos”. A UNITA, por outro lado,<br />

dizia-se, tinha um programa político c<strong>on</strong>forme com os ”princípios democráticos ocidentais”.<br />

Savimbi era caracterizado como ”uma das mais eminentes pers<strong>on</strong>alidades africanas”.<br />

Segundo Hagård, o movimento de Savimbi ”não dependia do apoio sul-africano”.<br />

Na verdade, declarou que ”não há c<strong>on</strong>tactos estreitos entre a UNITA e a África do Sul, e<br />

Pretória não teve qualquer participação no c<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>to entre o MPLA e a UNITA”. Com<br />

este pano de fundo, declarou ”não haver razão para a Suécia apoiar, quase sozinha, em<br />

termos de países ocidentais, as tentativas do MPLA para manter o poder que usurpou<br />

pela via do engano e da violência”. Lançando um aviso, que ”já não é possível garantir a<br />

segurança dos cooperantes suecos” 258 , propôs que a ajuda humanitária fosse canalizada<br />

para a z<strong>on</strong>a c<strong>on</strong>trolada pela UNITA. 259<br />

Hagård criticou ainda as empresas suecas Saab-Scania e Volvo por venderem camiões<br />

ao governo do MPLA, dizendo que os veículos ”em alguns casos têm sido utilizados<br />

directamente para fins militares”. 260 Esta referência foi feita amiúde pelo grupo<br />

de pressão pró-UNITA. Citando um militar angolano desertor, em Outubro de 1985,<br />

Tommy Hanss<strong>on</strong> transmitia aos leitores do jornal regi<strong>on</strong>al c<strong>on</strong>servador Nya Wermlands-<br />

Tidningen que ”todos os oficiais russos e cubanos em Angola utilizam carros suecos”. 261<br />

Criou-se um ambiente, no movimento c<strong>on</strong>servador mais amplo, em que a UNITA<br />

era vista como uma alternativa democrática. ”Orientados sobretudo por políticos do Partido<br />

Moderado”, foram formados grupos pró-Angola em prol da UNITA, ”divulgando<br />

propaganda favorável à UNITA e à África do Sul”. 262 De acordo com um comentário<br />

c<strong>on</strong>temporâneo, feito pelo observador político Olle Svenning no jornal social democrata<br />

Arbetet,<br />

abordagem diferente. Penso que houve alguma fraqueza do Partido Social Democrata no poder, que tornou possível<br />

à parte c<strong>on</strong>trária ter alguma supremacia. Os deputados moderados do parlamento sueco que posteriormente visitaram<br />

Angola, ajudaram-nos bastante. Ajudaram a mudar a percepção do mundo em geral, porque as pessoas estavam<br />

a ficar com a sensação de que todos os suecos eram c<strong>on</strong>tra a UNITA. Depois, aperceberam-se de que isso se ficava a<br />

dever à política partidária” (Entrevista a Jorge Valentim, pp. 35–36).<br />

258. Deve destacar-se que era política da UNITA fazer reféns estrangeiros. No início dos anos oitenta, o movimento<br />

de Savimbi tinha, em várias operações separadas raptado, entre outros, vários cidadãos checos e britânicos e<br />

respectivas famílias, incluindo mulheres e crianças, e feito marchar essas pessoas para a Jamba, em c<strong>on</strong>dições muito<br />

difíceis. Este facto dificilmente podia deixar de ser do c<strong>on</strong>hecimento de Hagård e dos defensores suecos da UNITA.<br />

Entrevistado em 1996, o antigo secretário geral da UNITA, o General Miguel N’Zau Puna, explicou: ”Ninguém fala<br />

da luta em que estávamos envolvidos. [...] Pensámos que raptando alguns estrangeiros, a comunidade internaci<strong>on</strong>al<br />

talvez passasse a c<strong>on</strong>hecer melhor a nossa luta [...] Raptámos vários cidadãos suecos, ingleses e de muitas outras<br />

naci<strong>on</strong>alidades. [...] Ao fim de algum tempo, parámos [...]. Chegámos a um p<strong>on</strong>to em que já não valia a pena”<br />

(Entrevista a Miguel N’Zau Puna, p. 26).<br />

259. Parlamento sueco 1984–85: Moção Nº 844, Riksdagens Protokoll 1984–85, pp. 3–7.<br />

260. Ibid., p. 6.<br />

261. Tommy Hanss<strong>on</strong>: ”Kuba utnyttjar barn för slavarbete” (”Cuba usa crianças para trabalho escravo”), em Nya<br />

Wermlands-Tidningen, 10 de Outubro de 1985. Para complementar as actividades parlamentares de Hagård, Hanss<strong>on</strong><br />

escreveu frequentemente sobre Angola, o MPLA e a UNITA em vários jornais suecos, na segunda metade da<br />

década de oitenta. Em Março de 1987, por exemplo, denunciou as ”crueldades c<strong>on</strong>tra os crentes” no diário cristão<br />

Dagen, próximo dos democratas cristãos (Tommy Hanss<strong>on</strong>: ”MPLA förföljer troende i Angola”/”O MPLA persegue<br />

os crentes em Angola” em Dagen, 31 de Março de 1987). Tendo sido membro da Aliança Democrática e tido<br />

ligações com a Liga Anti-Comunista Mundial, Tommy Hanss<strong>on</strong> foi eleito em 1991 para o C<strong>on</strong>selho Municipal de<br />

Södertälje, como membro do ”partido de protesto” Nova Democracia (Nilss<strong>on</strong> op. cit., p. 203). Pouco tempo depois<br />

foi nomeado chefe de redacção do C<strong>on</strong>tra (ibid., p. 255).<br />

262. Olle Svenning: ”Moderater stöder terrorister” (”Os Moderados apoiam terroristas”), em Arbetet, 3 de Maio de<br />

1985.

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