Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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Insurreições em Angola, reacções na Suécia<br />
manifestações populares c<strong>on</strong>tra Portugal aquando da cimeira ministerial da EFTA em<br />
Estocolmo, em Março de 1967, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Franco<br />
Nogueira, ameaçou a Suécia com o lançamento de um boicote. 22<br />
Em finais dos anos 60, estas questões da EFTA e das relações ec<strong>on</strong>ómicas entre a<br />
Suécia e Portugal viriam não só a chamar à acção o movimento de solidariedade sueco,<br />
mas também, naturalmente, os próprios movimentos de libertação. 23 Tratava-se, acima<br />
de tudo, do caso da FRELIMO de Moçambique quando, em meados de 1968 foi divulgado<br />
que a empresa sueca ASEA fazia parte de um c<strong>on</strong>sórcio internaci<strong>on</strong>al para c<strong>on</strong>struir<br />
uma central hidroeléctrica em Cahora Bassa, no rio Zambeze. Uma vez que coincidiu<br />
com a decisão do governo sueco de apoiar, de forma directa e oficial, os movimentos de<br />
libertação, a questão da ASEA e Cahora Bassa viria, mais do que qualquer outro ac<strong>on</strong>tecimento<br />
isolado, a mostrar ao movimento de solidariedade o papel desempenhado<br />
pelos interesses ec<strong>on</strong>ómicos transnaci<strong>on</strong>ais suecos e, na era do Vietname, c<strong>on</strong>duzir a uma<br />
tomada de posições cada vez mais radical. Na verdade, a questão de Cahora Bassa criou<br />
uma crise de c<strong>on</strong>fiança no seio do Partido Social Democrata, em relação às políticas do<br />
movimento sueco de trabalhadores em prol da África Austral.<br />
De acordo com Ove Nordenmark, cientista político sueco, ”a recusa por parte do<br />
governo social democrata em intervir c<strong>on</strong>tra a ASEA quase levou a uma ruptura total<br />
com o Aft<strong>on</strong>bladet, o SSU, o LPC, ou seja, com uma série de grupos de acção e uma facção<br />
radical do Partido Liberal. No entanto, os líderes do LO e a Direcção da Federação<br />
de Trabalhadores Metalúrgicos, apoiou sem reservas a posição cautelosa do governo”. 24<br />
Assim, devido ao seu envolvimento activo c<strong>on</strong>tra o projecto de Cahora Bassa na província<br />
de Västmanland, sede da ASEA e das fábricas potencialmente afectadas, a futura Ministra<br />
social democrata para o Desenvolvimento, Cooperação e Negócios Estrangeiros,<br />
Lena Hjelm-Wallén, viu-se c<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>tada com a oposição do movimento sindical, quase<br />
perdendo assim a sua nomeação para o parlamento sueco em 1968. Posteriormente viria<br />
a descrever este incidente como ”um arranque interessante” para o seu envolvimento<br />
oficial com a África Austral. 25<br />
Ameaçada pelas sanções da Suécia c<strong>on</strong>tra a Rodésia, que entraram em vigor em<br />
Junho de 1969 e definiam explicitamente a energia eléctrica como um bem ou produto<br />
a incluir nessas sanções 26 , a ASEA acabaria por se retirar do projecto de Cahora Bassa em<br />
Setembro desse mesmo ano. Nessa altura, a solidariedade da Suécia para com as lutas<br />
naci<strong>on</strong>alistas nos territórios portugueses tinha deixado de ser um c<strong>on</strong>junto disperso de<br />
vozes de intelectuais, como fora no início dos anos 60, para passar a c<strong>on</strong>stituir um som<br />
22. Dagens Nyheter, 17 de Março de 1967.<br />
23. Ver abaixo a entrevista com Jorge Rebelo (FRELIMO), p. 45. No entanto era frequente as chefias dos movimentos<br />
de libertação nas colónias portuguesas defenderem que a Suécia (e os demais países nórdicos) não deveriam interromper<br />
relações comerciais com Portugal, mas antes fazer pressão sobre Portugal junto da EFTA. Segundo Sverker<br />
Åstrom, representante da Suécia nas Nações Unidas, o líder do PAIGC, Amílcar Cabral, teria dito numa reunião<br />
em Fevereiro de 1970 que ”c<strong>on</strong>seguia compreender que a entrada de Portugal na EFTA acabava por nos limitar,<br />
mas queria realçar que de forma alguma desejava que se cortassem relações comerciais entre a Suécia e Portugal, que<br />
sabia ser exigido por grupos de jovens radicais na Suécia”(Carta ”Samtal med Amílcar Cabral om läget i Portugisiska<br />
Guinea”/”C<strong>on</strong>versa com Amílcar Cabral sobre a situação na Guiné portuguesa”) ao ministro dos negócios estrangeiros<br />
sueco, Nova Iorque, 26 de Fevereiro de 1970) (SDA).<br />
24. Nordenmark op. cit., p. 49.<br />
25. Entrevista com Lena Hjelm-Wallén, p.292.<br />
26. ”Act c<strong>on</strong>cerning certain sancti<strong>on</strong>s against Rhodesia ”Acto referente a determinadas sanções c<strong>on</strong>tra a Rodésia,<br />
anexa à carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros à delegação sueca nas Nações Unidas em Nova Iorque, Estocolmo,<br />
1 de Julho de 1969 (MFA).<br />
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