Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ... Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
248 Tor Sellström cios Estrangeiros, Karin Söder, vista talvez pelo público norte-americano como uma ”tia holandesa”, declarou o seguinte, em Setembro de 1978: Talvez se possa, de facto, dizer que África tem um papel comparativamente maior na nossa política externa do que na vossa. Tem-no, sem dúvida, na nossa opinião pública. A Suécia foi o primeiro país a atingir o objectivo de dedicar um por cento do seu produto interno bruto à ajuda ao desenvolvimento [...]. Ainda estamos à frente na lista dos doadores por rendimento per capita, apesar de estarmos muito ansiosos por termos mais competição nesta área. [...] Quando Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique se tornaram independentes, passaram a ser beneficiários de ajuda sueca, o que aconteceu como uma decorrência natural da ajuda humanitária que anteriormente concederamos aos movimentos de libertação nestes países. A ajuda era, nestes casos, uma necessidade urgente, uma vez que muitas funções vitais da sociedade tinham sido interrompidas como resultado de uma luta armada prolongada e da fuga em massa de conhecimentos e capital europeus. A posição radical assumida por alguns desses países não nos surpreende. Quinze anos de guerra de guerrilha moldaram a sua perspectiva política. Durante esse tempo, obtiveram a ajuda de que necessitavam de vários estados socialistas e muito pouco do Ocidente que, para eles, era no fundo um aliado do seu colonizador, Portugal. A Suécia foi dos poucos países ocidentais a dar a esses movimentos de libertação ajuda directa, nas esferas política e humanitária. Este facto não é indiferente, uma vez que deu a esses movimentos e respectivos líderes uma ”válvula de escape” e uma alternativa. 224 Falando da situação no Zimbabué, na Namíbia e na África do Sul prossegue: Os principais países ocidentais devem preocupar-se menos com os contactos que os movimentos de libertação detêm com vários países socialistas. 225 [...] As nossas relações com os líderes nacionalistas deixam-nos com a impressão muito clara que os seus principais interesses são a liberdade e a independência e que estão muito empenhados em manter vias de contacto abertas com todos os países. Daí deveria decorrer, com naturalidade, para nós que acreditamos na democracia, o apoio aqueles que lutam pela liberdade e pela independência. [...] O Ocidente tem de tratar África como um continente com identidade própria e não como um objecto nas mãos da política das grandes potências. 226 O apoio da África do Sul, dos Estados Unidos e do Ocidente em geral ao movimento UNITA de Jonas Savimbi iria mergulhar Angola no abismo da guerra fria. Nunca chegando a gozar de plena liberdade e independência nacional, à primeira guerra de libertação de Angola (1961–75) seguiu-se uma segunda (1975–90) e quando, em Outubro de 1992, a UNITA rejeitou os resultados das eleições legislativas e presidenciais, uma terceira (de 1992 em diante). Mais do que em qualquer outra parte da África Austral, a posição da Suécia foi de isolamento e em conflito com a do Ocidente, 227 o que ficou 224. ”Discurso de Karin Söder, Ministra dos Negócios Estrangeiros, no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Universidade de Georgetown, Washington”, 27 de Setembro de 1978, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1978, Estocolmo, 1982, pp. 93–95. Para mais informações sobre a questão do papel da Suécia no alargamento da base de contactos internacionais do MPLA e do governo angolano, consulte a entrevista com Lúcio Lara, p. 21. 225. O governo dos Estados Unidos só reconheceu Angola em Maio de 1993, dezoito anos após a independência. 226. ”Discurso de Karin Söder”, op. cit., p. 99. Deve notar-se que a Ministra dos Negócios Estrangeiros, membro do Partido do Centro, declarou ainda, durante o seu discurso, que ”o governo sueco acredita na solução pacífica dos conflitos internacionais. Tendo em conta a atitude de total inamovibilidade dos governos de minoria branca da África Austral e o recrudescimento da repressão nesses países, é compreensível que os nacionalistas africanos não vejam outra saída que não seja a de prosseguirem na senda da independência pela via da luta armada” (ibid., p. 96). 227. A posição da Suécia divergia da dos seus vizinhos nórdicos. A Finlândia, não-alinhada, não dava apoio humanitário ao MPLA. Soiri e Peltola afirmam que o país ”nunca se empenhou de forma séria na causa angolana” (Soiri e Peltola op. cit., p. 107). A Finlândia reconheceu a República Popular de Angola em Fevereiro de 1977, mas não estabeleceu qualquer programa bilateral de ajuda ao desenvolvimento com o país independente (ibid.). A Noruega, membro da OTAN, apoiou, no início dos anos setenta, as escolas do MPLA na Zâmbia mas, apesar disso, só estabe-
Enfrentando as ameaças de Savimbi: Sven Lampell da Cruz Vermelha, a coordenar as operações de salvamento dos refugiados zairenses, Luanda, Outubro de 1977. (Foto: Anders Johansson) MPLA de Angola: Um caminho mais difícil patente no início de Outubro de 1977, quando Savimbi acusou o governo de Fälldin de transportar tropas cubanas por ferry, para operações militares contra a UNITA. Em Maio de 1977, o primeiro ministro de Angola, Lopo do Nascimento, pediu ao ministro Ullsten que a Suécia participasse nas operações de socorro de milhares de refugiados zairenses sem meios, localizados na parte leste de Angola 228 , de preferência disponibilizando um avião de transporte para a operação. 229 A proposta teve um acolhimento favorável. A partir do final do mês de Setembro e até à primeira semana de Novembro de 1977, um avião Hércules C 130 da Força Aérea sueca criou uma ponte aérea entre Luanda e Dundo (Chitato) no nordeste de Angola, transportando alimentos e bens de primeira necessidade, sob os auspícios do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e da Liga das Sociedades da Cruz Vermelha. 230 A UNICEF e o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas participaram na operação contribuindo, respectivamente, com 20 toneladas de medicamentos e 1.245 toneladas de alimentos. 231 Apesar dos seus objectivos eminentemente humanitários, Savimbi denunciou a operação de assistência. A 12 de Outubro de 1977, na sua primeira entrevista televisiva em leceu relações diplomáticas com Angola em Outubro de 1977. Contudo, seria preciso esperar mais cinco anos para que o primeiro embaixador da Noruega visitasse Luanda, para apresentar credenciais (Eriksen em Eriksen (ed.) op. cit., pp. 86–87). Apesar disso, a Finlândia e, especialmente, a Noruega disponibilizaram muitos recursos à SWAPO em Angola. Limitados pela falta de missões diplomáticas próprias, ambos os governos recorreram em larga escala à Embaixada da Suécia para agir como interlocutor e via de mediação. A partir de princípios dos anos oitenta, o governo dinamarquês também começou a canalizar muita ajuda, via ASDI, para o campo de refugiados da SWAPO na província angolana de Kwanza Sul. 228. Devido à perturbação reinante na província zairense de Shaba (ex-Katanga), cerca de 220.000 pessoas fugiram atravessando, a partir de Março de 1977, a fronteira e entrando nas províncias angolanas de Lunda e Moxico. 229. Ministério dos Negócios Estrangeiros: Memorando (”Sverige-Angola”/”Suécia-Angola”), Departamento político, Estocolmo, 17 de Abril de 1978 (MFA). 230. A operação foi liderada pelo Coronel sueco na reserva Sven Lampell, em representação da Liga de Sociedades da Cruz Vermelha. Contratado pelo ACNUR, o autor participou na operação (Tor Sellström: ”Ponte aérea para os refugiados” em Jornal de Angola, 17 de Novembro de 1977). 231. Elisabeth Wiechel: ”UNITA attack: Sverige deltar i Angola-kriget” (”Ataque da UNITA: A Suécia participa na guerra em Angola”), em Göteborgs-Posten, 13 de Outubro de 1977. Os custos da ponte aérea, cerca de 1,2 milhões de coroas suecas, foram pagos pelo governo sueco (Anders Johansson: ”Sabotagevakt på hjälpplanet”/”Defesa contra sabotagem no avião usado para prestar assistência” em Dagens Nyheter, 14 de Outubro de 1977). 249
- Page 198 and 199: 198 Tor Sellström tica, as primeir
- Page 200 and 201: 200 Tor Sellström giados da FRELIM
- Page 202 and 203: 202 Tor Sellström Dr. Américo Boa
- Page 204 and 205: 204 Tor Sellström foi atribuído c
- Page 206 and 207: 206 Tor Sellström Moçambique inde
- Page 208 and 209: 208 Tor Sellström em Março de 198
- Page 210 and 211: 210 Tor Sellström Convidado para u
- Page 212 and 213: 212 Tor Sellström o PAIGC quanto o
- Page 214 and 215: 214 Tor Sellström rado, sobretudo
- Page 216 and 217: 216 Tor Sellström resultado do tra
- Page 218 and 219: 218 Tor Sellström Social Democrata
- Page 220 and 221: 220 Tor Sellström de estudo sobre
- Page 222 and 223: 222 Destaque ao transporte Tor Sell
- Page 224 and 225: 224 Tor Sellström milhões de coro
- Page 226 and 227: 226 Tor Sellström relatar, a crise
- Page 228 and 229: 228 Tor Sellström Este facto foi a
- Page 230 and 231: 230 Tor Sellström ras ajudas deixa
- Page 232 and 233: 232 Tor Sellström dimensões geo-e
- Page 234 and 235: 234 Tor Sellström oficiais de conc
- Page 236 and 237: 236 Tor Sellström de um milhão de
- Page 238 and 239: 238 Tor Sellström como uma organiz
- Page 240 and 241: 240 Tor Sellström de Janeiro de 19
- Page 242 and 243: 242 Tor Sellström luta Leste-Ocide
- Page 244 and 245: 244 Tor Sellström Palme abordou ta
- Page 246 and 247: 246 Tor Sellström fracassar. A 16
- Page 250 and 251: 250 Tor Sellström dois anos, o lí
- Page 252 and 253: 252 Tor Sellström O traço comum a
- Page 254 and 255: 254 Tor Sellström Na sua primeira
- Page 256 and 257: 256 Tor Sellström Schori atacou e
- Page 258 and 259: 258 Tor Sellström sueco a entrar e
- Page 260 and 261: 260 Tor Sellström Segurança das N
- Page 262 and 263: 262 Tor Sellström de libertação
- Page 264 and 265: 264 Tor Sellström nossa terra, nã
- Page 266 and 267: 266 Tor Sellström da política ext
- Page 268 and 269: 268 Tor Sellström três objectivos
- Page 270 and 271: 270 Tor Sellström um terreno de en
- Page 272 and 273: 272 Tor Sellström apoio às necess
- Page 274 and 275: 274 Tor Sellström excepção da Á
- Page 276 and 277: 276 Tor Sellström ANExO III Govern
- Page 278 and 279: 278 14 000 12 000 10 000 8 000 6 00
- Page 280 and 281: 280 Tor Sellström ANExO Ix Total d
- Page 282 and 283: Para uma bibliografia mais extensa
- Page 284 and 285: 284 Tor Sellström Lopes, Carlos, 1
- Page 286 and 287: 286 Tor Sellström Rudebeck, Lars,
- Page 288 and 289: A Abelin, Stig 187 Ahlmark, Per 64,
- Page 290: 290 Nogueira, Franco 25, 81, 123 No
Enfrentando as<br />
ameaças de Savimbi:<br />
Sven Lampell da Cruz<br />
Vermelha, a coordenar<br />
as operações de salvamento<br />
dos refugiados<br />
zairenses, Luanda, Outubro<br />
de 1977. (Foto:<br />
Anders Johanss<strong>on</strong>)<br />
MPLA de Angola: Um caminho mais difícil<br />
patente no início de Outubro de 1977, quando Savimbi acusou o governo de Fälldin de<br />
transportar tropas cubanas por ferry, para operações militares c<strong>on</strong>tra a UNITA.<br />
Em Maio de 1977, o primeiro ministro de Angola, Lopo do Nascimento, pediu ao<br />
ministro Ullsten que a Suécia participasse nas operações de socorro de milhares de refugiados<br />
zairenses sem meios, localizados na parte leste de Angola 228 , de preferência disp<strong>on</strong>ibilizando<br />
um avião de transporte para a operação. 229 A proposta teve um acolhimento<br />
favorável. A partir do final do mês de Setembro e até à primeira semana de Novembro de<br />
1977, um avião Hércules C 130 da Força Aérea sueca criou uma p<strong>on</strong>te aérea entre Luanda<br />
e Dundo (Chitato) no nordeste de Angola, transportando alimentos e bens de primeira<br />
necessidade, sob os auspícios do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados<br />
(ACNUR) e da Liga das Sociedades da Cruz Vermelha. 230 A UNICEF e o Programa<br />
Alimentar Mundial das Nações Unidas participaram na operação c<strong>on</strong>tribuindo, respectivamente,<br />
com 20 t<strong>on</strong>eladas de medicamentos e 1.245 t<strong>on</strong>eladas de alimentos. 231<br />
Apesar dos seus objectivos eminentemente humanitários, Savimbi denunciou a operação<br />
de assistência. A 12 de Outubro de 1977, na sua primeira entrevista televisiva em<br />
leceu relações diplomáticas com Angola em Outubro de 1977. C<strong>on</strong>tudo, seria preciso esperar mais cinco anos para<br />
que o primeiro embaixador da Noruega visitasse Luanda, para apresentar credenciais (Eriksen em Eriksen (ed.) op.<br />
cit., pp. 86–87). Apesar disso, a Finlândia e, especialmente, a Noruega disp<strong>on</strong>ibilizaram muitos recursos à SWAPO<br />
em Angola. Limitados pela falta de missões diplomáticas próprias, ambos os governos recorreram em larga escala<br />
à Embaixada da Suécia para agir como interlocutor e via de mediação. A partir de princípios dos anos oitenta, o<br />
governo dinamarquês também começou a canalizar muita ajuda, via ASDI, para o campo de refugiados da SWAPO<br />
na província angolana de Kwanza Sul.<br />
228. Devido à perturbação reinante na província zairense de Shaba (ex-Katanga), cerca de 220.000 pessoas fugiram<br />
atravessando, a partir de Março de 1977, a fr<strong>on</strong>teira e entrando nas províncias angolanas de Lunda e Moxico.<br />
229. Ministério dos Negócios Estrangeiros: Memorando (”Sverige-Angola”/”Suécia-Angola”), Departamento político,<br />
Estocolmo, 17 de Abril de 1978 (MFA).<br />
230. A operação foi liderada pelo Cor<strong>on</strong>el sueco na reserva Sven Lampell, em representação da Liga de Sociedades<br />
da Cruz Vermelha. C<strong>on</strong>tratado pelo ACNUR, o autor participou na operação (Tor Sellström: ”P<strong>on</strong>te aérea para os<br />
refugiados” em Jornal de Angola, 17 de Novembro de 1977).<br />
231. Elisabeth Wiechel: ”UNITA attack: Sverige deltar i Angola-kriget” (”Ataque da UNITA: A Suécia participa na<br />
guerra em Angola”), em Göteborgs-Posten, 13 de Outubro de 1977. Os custos da p<strong>on</strong>te aérea, cerca de 1,2 milhões<br />
de coroas suecas, foram pagos pelo governo sueco (Anders Johanss<strong>on</strong>: ”Sabotagevakt på hjälpplanet”/”Defesa c<strong>on</strong>tra<br />
sabotagem no avião usado para prestar assistência” em Dagens Nyheter, 14 de Outubro de 1977).<br />
249