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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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244<br />

Tor Sellström<br />

Palme abordou também a questão da violência nas lutas de libertação em África. Fazendo<br />

notar que ”quase ninguém duvida de que a grande maioria dos movimentos de libertação<br />

tentou chegar à independência pela via da negociação pacífica”, acrescentou também<br />

que<br />

tem havido muito pouco romantismo revoluci<strong>on</strong>ário na sua forma de pensar. [...] Se tem<br />

havido violência como último recurso, isso tem ac<strong>on</strong>tecido, na minha opinião, essencialmente<br />

devido à potência col<strong>on</strong>ial. Os movimentos de libertação têm sido postos numa posição em<br />

que toda e qualquer outra via lhes está vedada. A violência armada pareceu assim inevitável,<br />

para c<strong>on</strong>seguir a independência naci<strong>on</strong>al. [...] Tal como referiu anteriormente o presidente<br />

Nyerere, ser-lhes-ia muito difícil combater os exércitos col<strong>on</strong>iais, bem equipados por certos<br />

estados ocidentais, armados unicamente de arco e flecha. Os países ocidentais, muito simplesmente,<br />

não lhes deixaram qualquer outra opção. 202<br />

Para terminar, Palme falou do papel de Cuba no c<strong>on</strong>flito angolano. A Suécia deu, desde<br />

1971, ajuda oficial ao desenvolvimento a Cuba, e o primeiro ministro fez ainda há<br />

pouco tempo, mais c<strong>on</strong>cretamente em Junho de 1975, uma visita muito bem-sucedida<br />

àquele país. Quando se soube da presença cubana em Angola, os partidos não-socialistas<br />

da oposição na Suécia exigiram que a ajuda fosse cancelada. 203 Palme opôs-se a todas<br />

essas perspectivas, argumentando que seria ”perigoso usar a ajuda ao desenvolvimento<br />

como instrumento de castigo ou recompensa súbita, de acordo com os elementos c<strong>on</strong>stituintes<br />

da política externa dos países que recebem essa ajuda. ”Tal prática”, declarou<br />

Palme, ”é incompatível com a política de cooperação para o desenvolvimento a l<strong>on</strong>go<br />

prazo”. 204 Acresce a isso que,<br />

a parte principal da intervenção de Cuba foi feita quando era já patente que o regime da África<br />

do Sul tinha intervindo com forças militares a colocar-se ao lado da UNITA e da FNLA. [...]<br />

Tal posição foi sustentada do p<strong>on</strong>to de vista ideológico como apoio ao Terceiro Mundo, na<br />

luta c<strong>on</strong>tra o col<strong>on</strong>ialismo e o racismo. Um acto de represália por parte da Suécia poderia,<br />

numa situação destas, ser visto como a necessidade de um país rico e branco repreender o<br />

Terceiro Mundo. 205<br />

O artigo de Palme teve um grande impacto. 206 Foi trazido à atenção do primeiro ministro<br />

de Cuba, Fidel Castro, que o utilizou como p<strong>on</strong>to de partida para explicar os motivos<br />

subjacentes à intervenção em Angola. Recorrendo ao embaixador de Cuba na Suécia,<br />

Castro enviou uma l<strong>on</strong>ga mensagem a Palme em 30 de Abril de 1976. 207 Essa men-<br />

202. Palme em Dagens Nyheter, 4 de Fevereiro de 1976. Para mais informações sobre Palme e o seu precoce empenhamento<br />

na causa da libertação naci<strong>on</strong>al em África e na Ásia.<br />

203. Em particular os partidos moderado e liberal. Ver, por exemplo, ”Resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros<br />

à interpelação de Björck, sobre a presença de tropas cubanas em Angola e à pergunta de Ullsten sobre o<br />

repúdio sueco à ingerência estrangeira na luta em Angola”, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Departamento<br />

de Imprensa, Estocolmo, 10 de Fevereiro de 1976 (MFA). Anders Björck representou o Partido Moderado e Ola<br />

Ullsten o Liberal. Em 1977, ir<strong>on</strong>icamente, ao mesmo tempo que a cooperação regular para o desenvolvimento teve<br />

o seu início, o governo não-socialista, encabeçado pelo primeiro ministro Thorbjörn Fälldin, excluiu Cuba do grupo<br />

dos chamados ”países programa”, substituindo a ajuda em forma de subsídio por outras formas de cooperação.<br />

204. Palme em Dagens Nyheter, 4 de Fevereiro de 1976.<br />

205. Ibid.<br />

206. O presidente Nyerere, com quem Palme trocava regularmente corresp<strong>on</strong>dência, era da opinião de que o primeiro<br />

ministro sueco ”analisava, de facto, a questão da forma mais correcta rejeitando, designadamente, toda a retórica<br />

sobre o comunismo”. Nyerere tomou medidas para garantir que o artigo de Palme fosse publicado na Tanzânia<br />

(Carta (”Samtal med president Nyerere om Angola och Rhodesia, Vädjan om svenskt bistånd”/”C<strong>on</strong>versa com o<br />

presidente Nyerere sobre Angola e a Rodésia, pedido de ajuda à Suécia”) de Knut Granstedt, embaixador da Suécia<br />

na Tanzânia, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Dar es Salaam, 16 de Fevereiro de 1976) (MFA).<br />

207. Pierre Schori: Memorando (”Samtal statsministern – Kubas ambassadör den 30 april 1976”/”C<strong>on</strong>versa entre o<br />

primeiro ministro e o embaixador de Cuba, 30 de Abril de 1976”), Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocol-

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