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242 Tor Sellström luta Leste-Ocidente”. 188 O governo do MPLA agradeceu a posição tomada por Palme. Antes mesmo da Suécia se disponibilizar para reconhecer oficialmente a República Popular de Angola, o Ministro dos Negócios Estrangeiros daquele país, José Eduardo dos Santos, chefiou uma importante delegação à Suécia, em finais de Janeiro de 1976. 189 Eduardo dos Santos foi recebido pelo seu homólogo e pelo Ministro da Cooperação para o Desenvolvimento. 190 Também ele abordou a questão da ajuda humanitária à Angola independente junto do director geral da ASDI, Ernst Michanek, 191 dizendo que estavam ”prestes a ser limadas as últimas arestas” da ajuda directa ao MPLA 192 , e deu particular destaque à necessidade de ajuda em medicamentos e alimentos. 193 O pedido foi recebido de forma positiva. O governo sueco viria mais tarde, através da ASDI, a conceder 25 milhões de coroas suecas a Angola, sob forma de ajuda de emergência, 194 valor que seria aumentado para 40 milhões de coroas suecas durante o ano fiscal de 1976–77. 195 Grande parte dos fundos foi utilizada para adquirir camiões, barcaças-ponte e ferries para reconstruir a rede de transportes, destruída durante a guerra. 196 Relações diplomáticas e mediação A 18 de Fevereiro de 1976, pouco após a visita de José Eduardo dos Santos, a Suécia reconheceu oficialmente a República Popular de Angola. 197 Apesar das colunas armadas 188. Saint Louis Post, 13 de Novembro de 1975. As preocupações de Palme tinham o seu fundamento. Um número considerável de mercenários, sobretudo de origem norte-americana e britânica, participou na guerra contra o governo do MPLA. Treze deles foram julgados em Luanda em Junho de 1976 e quatro foram condenados à morte. Um deles tinha cidadania norte-americana. A 30 de Junho de 1976, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, entregou uma mensagem urgente a Olof Palme, via Embaixada dos Estados Unidos na Suécia, pedindo-lhe que ”convencesse o presidente Neto a anular a sentença de morte” (Telegrama do Ministério dos Negócios Estrangeiros à Embaixada da Suécia em Washington, Estocolmo, 30 de Junho de 1976) (LMA). Uma vez que fazia parte da missão de mediação do governo sueco entre Angola, Cuba e os Estados Unidos, foi Pierre Schori quem levantou a questão, durante debates com o presidente Neto, em Luanda (Schori (1994) op. cit., pp. 15–16). As sessões do tribunal angolano que julgou os mercenários detidos foram acompanhadas por uma comissão internacional, da qual fazia parte Lars Rudebeck, Professor associado em ciências políticas da Universidade de Uppsala (Lars Rudebeck: ”På de anklagades bänk i Angola”/”No banco dos acusados em Angola” em Dagens Nyheter, 1 de Julho de 1976). 189. Da delegação faziam parte o futuro Ministro dos Negócios Estrangeiros (1984–89), Afonso Van-Dunem (”Mbinda”), Ambrósio Lukoki, na altura secretário do presidente Neto, e Pascal Luvualu, membro do Comité Central do MPLA e líder da União Nacional dos Trabalhadores de Angola (UNTA), alinhada com o MPLA. 190. Ministério dos Negócios Estrangeiros: Memorando (”Sverige-Angola”/”Suécia-Angola”), Departamento político, Estocolmo, 17 de Abril de 1978 (MFA). 191. Marianne Sundh: Memorando (”Besök av MPLAs utrikesminister José Eduardo dos Santos”/”Visita do Ministro dos Negócios Estrangeiros do MPLA, José Eduardo dos Santos”), ASDI, Estocolmo, 27 de Janeiro de 1976 (SDA). 192. A última remessa da Suécia ao abrigo do acordo de Outubro de 1975 com o MPLA, foi feita a 8 de Janeiro de 1976 (ibid.). 193. Ibid. 194. Stokke op. cit., p. 175. 195. Ibid. 196. Ministério dos Negócios Estrangeiros: Memorando (”Sverige-Angola”/”Suécia-Angola”), Departamento político, Estocolmo, 17 de Abril de 1978 (MFA). 197. ”A Suécia reconhece a República Popular de Angola” em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1976, Estocolmo, 1978, p. 242. Logo a seguir, Anders Thunborg, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, visitou Luanda para conversações sobre o relacionamento futuro entre a Suécia e Angola (cf. Carin Norberg: ”Reserapport från besök i Angola 7–14 juni 1976”/”Relato da visita a Angola, 7–14 de Junho de 1976”), Embaixada da Suécia, Lusaca, 12 de Julho de 1976) (SDA).

MPLA de Angola: Um caminho mais difícil da África do Sul ainda permanecerem no país, 198 e das forças da UNITA, da FNLA e de Chipenda continuarem a combater contra o MPLA, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Andersson, declarou que ”pode hoje dizer-se que o governo de Luanda exerce controlo efectivo [...]. Assim, de acordo com a prática sueca, a condição de base para o nosso reconhecimento diplomático já se cumpre neste momento”. 199 Continuando o seu depoimento, feito nos Estados Unidos em Novembro de 1975, Palme tinha, por então, diminuído o reconhecimento a uma formalidade. Num artigo publicado no jornal liberal sueco Dagens Nyheter, a 4 de Fevereiro de 1976, Palme apresentou um resumo do historial das relações entre o Partido Social Democrata e a causa dos movimentos de libertação em África, focalizando as suas opiniões na luta dos angolanos e fazendo, nas suas próprias palavras, ”uma tentativa de análise ideológica”. 200 Num artigo, que se tornaria muito conhecido, e publicado no aniversário da insurreição em Angola de 1961, o primeiro ministro declara que o MPLA é quase sempre descrito como sendo ”marxista”, pró-Soviético ou, na imprensa sueca conservadora, até como comunista. Trata-se de uma simplificação com objectivos propagandísticos. O marxismo, em termos históricos, teve pouca importância para o socialismo africano e o MPLA não difere, de forma muito evidente, dos outros movimentos de libertação. [...] Seja como for, os comunistas são uma minoria muito pequena no MPLA. [...] O MPLA visitou a maior parte dos países do mundo ocidental, tentando obter armas para a luta contra os portugueses. A principal resposta que lhes foi dada a esse pedido foi negativa, pelo que se viraram para a União Soviética, que deu resposta positiva. O MPLA tem recentemente recebido grandes quantidades de ajuda militar da União Soviética e de Cuba, o que mereceu a nossa crítica, tal como tinham merecido todas as outras intervenções estrangeiras. [...] A posição sueca tem sido sempre clara. Somos contrários a qualquer ingerência estrangeira nos assuntos internos de Angola, e achamos que as ingerências que se têm verificado têm de acabar. Deve ser dada a Angola a possibilidade de conseguir a independência nacional, bem como uma posição de país não-alinhado. Tem também de ser dada uma oportunidade ao país para moldar o seu desenvolvimento interno pelos seus próprios métodos. Estou convencido de que esta posição se alinha com os objectivos do próprio MPLA. [...] É importante recordar que a guerra travada em Angola não é a do ”Mundo Livre” contra o ”Comunismo” e que não deve, de uma forma preconceituosa, ser visto com base nos lugares- -comuns da guerra fria ou da perspectiva dos conflitos entre as super-potências. Trata-se acima de tudo de uma continuação da longa luta de libertação em que se entrou há uma década e meia atrás e que, na sua fase final, sofreu um forte desvio, por divisões internas e por intervenção estrangeira. 201 198. Rechaçados pelas forças combinadas MPLA-Cubanos, os sul-africanos retiraram para a Namíbia a 27 de Março de 1976. 199. A Suécia reconhece a República Popular de Angola” em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1976, Estocolmo, 1978, p. 242. 200. Pierre Schori: Memorando (”Samtal statsministern – Kubas ambassadör den 30 april 1976”/”Conversa entre o primeiro ministro e o embaixador de Cuba, 30 de Abril de 1976”), Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, (sem indicação de data (MFA). 201. Olof Palme: ”Kriget i Angola: Befrielsekampens fortsättning” (”A guerra em Angola: Continuação da luta de libertação”,) em Dagens Nyheter, 4 de Fevereiro de 1976. No artigo, Palme só menciona a FNLA e a UNITA em ligação com o apoio que estavam a receber dos Estados Unidos e da África do Sul. É interessante notar que Demba Paku Zola, responsável pelas relações externas da FNLA, a 10 de Fevereiro de 1976, numa altura em que a embaixada ainda não tinha recebido o artigo, veio visitar a Embaixada da Suécia em Kinshasa para protestar formalmente contra ”a declaração de Palme” (Carta (”FNLA-protest mot statsminister Palmes uttalande om Angola”/”Protesto pela FNLA contra a declaração do primeiro ministro Palme sobre Angola”) de Sture ong>Theong>olin, segundo secretário da Embaixada da Suécia a Kinshasa, para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Kinshasa, 11 de Fevereiro de 1976) (MFA). Após a derrota da FNLA na luta pelo poder em 1975–76, a influência do movimento diluiu-se rapidamente. 243

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Ministro dos Negócios Estrangeiros daquele país, José Eduardo dos Santos, chefiou uma<br />

importante delegação à Suécia, em finais de Janeiro de 1976. 189 Eduardo dos Santos foi<br />

recebido pelo seu homólogo e pelo Ministro da Cooperação para o Desenvolvimento. 190<br />

Também ele abordou a questão da ajuda humanitária à Angola independente junto do<br />

director geral da ASDI, Ernst Michanek, 191 dizendo que estavam ”prestes a ser limadas<br />

as últimas arestas” da ajuda directa ao MPLA 192 , e deu particular destaque à necessidade<br />

de ajuda em medicamentos e alimentos. 193 O pedido foi recebido de forma positiva. O<br />

governo sueco viria mais tarde, através da ASDI, a c<strong>on</strong>ceder 25 milhões de coroas suecas a<br />

Angola, sob forma de ajuda de emergência, 194 valor que seria aumentado para 40 milhões<br />

de coroas suecas durante o ano fiscal de 1976–77. 195 Grande parte dos fundos foi utilizada<br />

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destruída durante a guerra. 196<br />

Relações diplomáticas e mediação<br />

A 18 de Fevereiro de 1976, pouco após a visita de José Eduardo dos Santos, a Suécia<br />

rec<strong>on</strong>heceu oficialmente a República Popular de Angola. 197 Apesar das colunas armadas<br />

188. Saint Louis Post, 13 de Novembro de 1975. As preocupações de Palme tinham o seu fundamento. Um número<br />

c<strong>on</strong>siderável de mercenários, sobretudo de origem norte-americana e britânica, participou na guerra c<strong>on</strong>tra o<br />

governo do MPLA. Treze deles foram julgados em Luanda em Junho de 1976 e quatro foram c<strong>on</strong>denados à morte.<br />

Um deles tinha cidadania norte-americana. A 30 de Junho de 1976, o Secretário de Estado dos Estados Unidos,<br />

Henry Kissinger, entregou uma mensagem urgente a Olof Palme, via Embaixada dos Estados Unidos na Suécia,<br />

pedindo-lhe que ”c<strong>on</strong>vencesse o presidente Neto a anular a sentença de morte” (Telegrama do Ministério dos Negócios<br />

Estrangeiros à Embaixada da Suécia em Washingt<strong>on</strong>, Estocolmo, 30 de Junho de 1976) (LMA). Uma vez<br />

que fazia parte da missão de mediação do governo sueco entre Angola, Cuba e os Estados Unidos, foi Pierre Schori<br />

quem levantou a questão, durante debates com o presidente Neto, em Luanda (Schori (1994) op. cit., pp. 15–16).<br />

As sessões do tribunal angolano que julgou os mercenários detidos foram acompanhadas por uma comissão internaci<strong>on</strong>al,<br />

da qual fazia parte Lars Rudebeck, Professor associado em ciências políticas da Universidade de Uppsala<br />

(Lars Rudebeck: ”På de anklagades bänk i Angola”/”No banco dos acusados em Angola” em Dagens Nyheter, 1 de<br />

Julho de 1976).<br />

189. Da delegação faziam parte o futuro Ministro dos Negócios Estrangeiros (1984–89), Af<strong>on</strong>so Van-Dunem<br />

(”Mbinda”), Ambrósio Lukoki, na altura secretário do presidente Neto, e Pascal Luvualu, membro do Comité Central<br />

do MPLA e líder da União Naci<strong>on</strong>al dos Trabalhadores de Angola (UNTA), alinhada com o MPLA.<br />

190. Ministério dos Negócios Estrangeiros: Memorando (”Sverige-Angola”/”Suécia-Angola”), Departamento político,<br />

Estocolmo, 17 de Abril de 1978 (MFA).<br />

191. Marianne Sundh: Memorando (”Besök av MPLAs utrikesminister José Eduardo dos Santos”/”Visita do Ministro<br />

dos Negócios Estrangeiros do MPLA, José Eduardo dos Santos”), ASDI, Estocolmo, 27 de Janeiro de 1976<br />

(SDA).<br />

192. A última remessa da Suécia ao abrigo do acordo de Outubro de 1975 com o MPLA, foi feita a 8 de Janeiro<br />

de 1976 (ibid.).<br />

193. Ibid.<br />

194. Stokke op. cit., p. 175.<br />

195. Ibid.<br />

196. Ministério dos Negócios Estrangeiros: Memorando (”Sverige-Angola”/”Suécia-Angola”), Departamento político,<br />

Estocolmo, 17 de Abril de 1978 (MFA).<br />

197. ”A Suécia rec<strong>on</strong>hece a República Popular de Angola” em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents <strong>on</strong><br />

Swedish Foreign Policy: 1976, Estocolmo, 1978, p. 242. Logo a seguir, Anders Thunborg, do Ministério dos Negócios<br />

Estrangeiros, visitou Luanda para c<strong>on</strong>versações sobre o relaci<strong>on</strong>amento futuro entre a Suécia e Angola (cf. Carin<br />

Norberg: ”Reserapport från besök i Angola 7–14 juni 1976”/”Relato da visita a Angola, 7–14 de Junho de 1976”),<br />

Embaixada da Suécia, Lusaca, 12 de Julho de 1976) (SDA).

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