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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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240<br />

Tor Sellström<br />

de Janeiro de 1975, o governo sueco teve uma postura discreta em reacção ao que foi<br />

ac<strong>on</strong>tecendo no país, mantendo-se em c<strong>on</strong>tacto regular com o MPLA, através da Embaixada<br />

da Suécia em Lusaca, e de visitas a Luanda nas quais, entre outros assuntos, se<br />

debatia principalmente a c<strong>on</strong>clusão do restante programa de ajuda humanitária. C<strong>on</strong>tudo,<br />

a fragilidade do processo angolano era tão grande que, quando o MPLA propôs ao<br />

governo sueco uma visita a Estocolmo por parte de Agostinho Neto, em Maio de 1975,<br />

esta foi c<strong>on</strong>siderada inoportuna. 179 No entanto, outras importantes delegações do MPLA<br />

estiveram na Suécia para debater questões com o partido no poder. Por exemplo, em<br />

Outubro de 1975, Roberto de Almeida e Paulo Jorge assistiram ao c<strong>on</strong>gresso do Partido<br />

Social Democrata, na companhia da representante residente do movimento, Maria Jesus<br />

de Haller. 180 E quando, a 11 de Novembro de 1975, Agostinho Neto proclamou a independência<br />

de Angola, em cerimónia realizada na capital cercada 181 , ele tinha esperanças<br />

bem fundamentadas que o governo do Partido Social Democrata rec<strong>on</strong>hecesse a nova<br />

República Popular de Angola. 182<br />

Apesar de Sven Anderss<strong>on</strong>, o Ministro dos Negócios Estrangeiros ter, no dia da independência,<br />

”acolhido com grande satisfação Angola como nação independente”, fazendo<br />

notar que ”desapareceram hoje os últimos vestígios do regime col<strong>on</strong>ial português em<br />

África, velho de séculos” 183 , a Suécia viria, tal como aliás a maior parte dos países ocidentais<br />

e de África 184 , a adiar o rec<strong>on</strong>hecimento oficial. Ao usar da palavra, o Ministro dos<br />

Negócios Estrangeiros declarou que ”a questão de saber como se vai organizar o nosso<br />

relaci<strong>on</strong>amento com o estado independente de Angola terá de permanecer em aberto,<br />

enquanto se aguarda que as c<strong>on</strong>dições políticas neste país estabilizem”. 185 Quinze dias<br />

depois, o ministro viria a declarar<br />

de acordo com o princípio seguido pela Suécia e por muitos outros países, o governo rec<strong>on</strong>hecido<br />

terá de deter o c<strong>on</strong>trolo efectivo do território e dispor de um certo grau de estabilidade. A<br />

179. Carta de Ann Wilkens, Ministério dos Negócios Estrangeiros, à Embaixada da Suécia em Lusaca, Estocolmo,<br />

27 de Maio de 1975 (SDA). A situação em Moçambique era muito diferente. Em meados de Abril de 1975, o vice<br />

presidente da FRELIMO, Marcelino dos Santos, chefiou uma grande delegação numa visita à Suécia e a outros<br />

países nórdicos.<br />

180. Socialdemokraterna: ”Verksamheten 1975” (”Actividades de 1975”), p. 79 (LMA).<br />

181. Na altura, as forças combinadas sul-africanas/UNITA/FNLA-Chipenda estiveram a meros 200 quilómetros<br />

a sul de Luanda, enquanto as forças zairenses/FNLA se acercaram a menos de 50 quilómetros a norte da capital.<br />

O governo português foi grandemente resp<strong>on</strong>sável pela crise, pois ao não resp<strong>on</strong>der às intervenções militares sul-<br />

-africana e zairense, os portugueses limitaram-se a deixar a cena das operações. A 10 de Novembro de 1975, o alto<br />

comissário português acabou por dobrar a bandeira e ”num fim patético a séculos de domínio col<strong>on</strong>ial, fugiu da<br />

Luanda cercada [...], deixando o combate a cargo dos angolanos” (Marcum op. cit. (Vol. II), p. 271). No dia seguinte,<br />

na cerimónia de independência em Luanda, não havia presença portuguesa. Facto assinalável foi a declaração de<br />

Rosa Coutinho, antigo comandante português em Angola, próximo do MPLA e que, naquele momento, chefiava o<br />

governo português, em que lamentava que a sua posição em Lisboa o impedisse que aceitar o c<strong>on</strong>vite pessoal que lhe<br />

fizera Agostinho Neto (MacQueen op. cit., p. 197). Portugal só rec<strong>on</strong>heceu o governo do MPLA a 22 de Fevereiro<br />

de 1976, ou seja, já depois da Suécia. As relações foram cortadas em Abril, e só foram reatadas em 30 de Setembro<br />

de 1976.<br />

182. Em rec<strong>on</strong>hecimento do trabalho de solidariedade levado a cabo pelos Grupos de África, o MPLA c<strong>on</strong>vidou a<br />

organização para as comemorações da independência. Hillevi Nilss<strong>on</strong> e outros membros viviam na altura em Luanda,<br />

mas os AGIS fizeram-se representar por Georg Dreifaldt. Dreifaldt, cuja l<strong>on</strong>ga ligação à África Austral como<br />

activista e como funci<strong>on</strong>ário da ASDI ficará bem patente ao l<strong>on</strong>go deste estudo, capturou o momento histórico em<br />

que Neto proclamou a República Popular de Angola em fotos, que viriam a correr mundo.<br />

183. ”Declaração do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Anderss<strong>on</strong>”, 11 de Novembro de 1975, em Ministério dos<br />

Negócios Estrangeiros: Documents <strong>on</strong> Swedish Foreign Policy: 1975, Estocolmo, 1977, p. 201.<br />

184. Só em 11 de Fevereiro de 1976 é que a OUA decidiu acolher Angola como membro.<br />

185. Ibid. A 11 de Novembro de 1975, a FNLA e a UNITA proclamaram a sua República Popular Democrática de<br />

Angola, em Nova Lisboa (agora chamada Huambo). Criada à pressa, para c<strong>on</strong>trariar a iniciativa do MPLA, não viria<br />

a ser rec<strong>on</strong>hecida por nenhum país e, pouco tempo depois, desapareceu enquanto nação.

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