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236 Tor Sellström de um milhão de coroas suecas. 152 Com a data acordada para a independência de 11 de Novembro a aproximar-se rapidamente e com toda a turbulência que reinava em Luanda em meados de 1975, Anders Bjurner, o segundo secretário da Embaixada da Suécia em Lusaca 153 , foi convidado, em finais de Junho, para se deslocar à capital angolana, por forma a preparar o terreno para a aplicação final do acordo de Dezembro de 1974. Desde a sua chegada a Lusaca em meados de 1974, Bjurner tinha criado laços estreitos com o MPLA e com os outros movimentos de libertação representados na Zâmbia, mas em Luanda esperava-o uma tarefa difícil, uma vez que os confrontos entre a FNLA e o MPLA que levaram à ”batalha de Luanda”, a partir de 9 de Julho de 1975, e que terminariam com a expulsão do movimento de Holden Roberto da capital, já tinha começado. Os 300.000 portugueses preparavam-se para partir, deixando abandonados cargos administrativos, fechando empresas e arrastando o porto para uma situação quase caótica. 154 Bjurner, em conjunto com Garcia Neto da Comissão para a Cooperação Internacional da MPLA, tinha conseguido levar a cabo um levantamento inicial das possíveis alternativas de compras, no pouco fiável e cada vez mais escassamente abastecido mercado angolano. Depois de apresentar um primeiro relatório preliminar à ASDI em meados de Julho de 1975 155 , Bjurner voltou a Luanda, onde realizou consultas formais com o MPLA, na capital angolana, em Outubro de 1975. 156 Menos de duas semanas antes da data marcada para a independência de Angola, e numa altura em que o governo sueco estava debaixo de fortes críticas, por um lado, dos Grupos de África por não libertar os montantes remanescentes de ajuda ao MPLA 157 e, por outro, da oposição parlamentar, por fazer exactamente isso 158 , a ASDI estava, por fim, em 30 de Outubro de 1975, em posição para tomar 152. Astrid Bergquist: Memorando (”Biståndssituationen”/”Situação da ajuda”), ASDI, Estocolmo, 26 de Agosto de 1975 (SDA). 153. Bjurner, um perito sueco em diplomacia na África Austral foi, em 1994, nomeado Vice Secretário de Estado para os Negócios Estrangeiros. Tal como ficará bem patente em todo o texto, Bjurner desempenhou um papel particularmente decisivo relativamente ao relacionamento da Suécia com os movimentos de libertação da região, em meados dos anos setenta. 154. Para obter uma descrição pericial da Luanda de meados de 1975, consulte Ryszard Kapuscinski: Another Day of Life, Picador/ Pan ong>Bookong>s, Londres, 1988, pp. 13–19. 155. Carta (”MPLAs biståndsprogram 1974–75”/”Programa de ajuda ao MPLA 1974–75”) de Anders Bjurner à ASDI, Lusaca, 10 de Julho de 1975 (SDA). 156. SIDA: ”Beslut” (”Decisão”), Nº 658/75, ASDI, Estocolmo, 30 de Outubro de 1975 (SDA). 157. Os Grupos de África realizaram o seu primeiro congresso nacional em Estocolmo, em Maio de 1975. Como principal prioridade, decidiu-se em congresso lançar uma campanha de solidariedade em prol do MPLA (AGIS: ”Protokoll från Afrikagruppernas i Sverige kongress i Stockholm 17–19.5 1975”/”Actas do Congresso dos Grupos de África na Suécia, 17–19 de Maio de 1975”, (sem indicação de local, 22 de Julho de 1975) (AGA). Coincidindo com a chegada de Maria Jesus de Haller, a nova representante do MPLA na Suécia, a campanha foi levada a cabo em Gotemburgo, Lund, Malmö, Estocolmo, Umeå, Uppsala e Växjö, em Outubro de 1975 e, ao mesmo tempo, o AGIS escreveu uma carta aberta ao governo sueco e à ASDI, exigindo que ”os fundos remanescentes destinados ao MPLA para 1974–75 sejam atribuídos sem mais atrasos” (AGIS: ”Öppet brev till regeringen och SIDA: Stödet till MPLA måste fortsätta!”/”Carta aberta ao governo e à ASDI: O apoio ao MPLA tem de continuar!” em Afrikabulletinen, Nº 29–30, Outubro de 1975, p. 3). 158. Em Maio de 1975, numa decisão unânime, a Comissão Parlamentar Permanente sobre Negócios Estrangeiros, ou seja, incluindo os deputados do Partido Social Democrata, declarou que ”seria pouco correcto se a Suécia desse ajuda a uma das partes em Angola, pois tal poderia ser interpretado como uma posição da Suécia, sobre uma questão do foro interno de Angola” (citado em Stokke op. cit., p. 18). Defendendo que uma decisão de apoio ao MPLA retiraria à Suécia a possibilidade de ser imparcial, e logo de participar numa possível intervenção das Nações Unidas em Angola, os representantes dos centristas e dos liberais reiteraram a posição numa reunião tida mais tarde com o Comité Consultivo Especial para os Negócios Estrangeiros, realizada em 27 de Outubro de 1975 (Dagens Nyheter, 28 de Outubro de 1975). A questão da parcialidade versus uma eventual participação das Nações Unidas haveria de vir a ser discutida, relativamente ao processo de independência na Namíbia.

MPLA de Angola: Um caminho mais difícil uma decisão definitiva. 159 Ao mesmo tempo, a Ministra da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, Gertrud Sigurdsen, declarava que ”o governo sueco irá honrar os compromissos assumidos com o movimento de libertação em Angola MPLA”. 160 A maior fatia dos 6,2 milhões de coroas suecas da verba destinada ao MPLA debatida com Agostinho Neto em Estocolmo, nas vésperas do golpe em Lisboa, foi assim aplicada à última hora. Os pagamentos propriamente ditos, cobrindo, designadamente, a aquisição de alimentos, ambulâncias e equipamento médico, bem como uma impressora de jornais vinda da Suécia 161 , foram feitos depois da independência de Angola, num valor total de 5,4 milhões de coroas suecas para o ano fiscal de 1975–76. 162 O saldo remanescente foi pago em 1976–77, sobretudo como parte de ajuda de emergência e de desenvolvimento a Angola independente. Independência, Neto e Palme A ajuda humanitária sueca ao MPLA nunca foi significativa em termos quantitativos. Acresce a isso que, em meados de 1975, só tinham sido pagos 2,3 milhões de coroas suecas, o equivalente a uns meros 5 por cento da ajuda dada ao PAIGC da Guiné-Bissau ou 13 por cento da verba atribuída à FRELIMO de Moçambique. De longe o menos beneficiado dos sete movimentos de libertação apoiados pela Suécia, a relação oficial de ajuda representou, na prática, um reconhecimento do MPLA como o legítimo ”governo em gestação” de Angola, facto que também foi entendido desta forma pelos líderes do MPLA 163 e pelos movimentos ”concorrentes”, a saber, a FNLA 164 e a UNITA 165 . Apesar de frustrações de ambas as partes quanto à aplicação da ajuda humanitária, e tendo como pano de fundo a posição tomada por outros agentes próximos da Suécia, nomeadamente o governo da Zâmbia, o governo social democrata nunca rompeu a sua ligação com o MPLA, nem criou vínculos oficiais com a Revolta do Leste de Daniel Chipenda, com a FNLA, nem com a UNITA. As relações estabelecidas através da ajuda sueca tornaram possível que se encontrasse um terreno mútuo de entendimento para ambas as partes e que se criasse uma relação política duradoura. Quando, em 1973, a União Soviética suspendeu o seu apoio ao MPLA, a Suécia foi, em conjunto com Cuba e a Jugoslávia, um dos poucos países a manter relações diplomáticas de grande proximidade com o movimento de Agostinho Neto. 166 Após a intervenção das super-potências no drama, que foi escalando à medida que se aproximava a data da independência de Angola 167 , o MPLA passou a ser considerado no Ocidente 159. SIDA: ”Beslut” (”Decisão”), Nº 658/75, ASDI, Estocolmo, 30 de Outubro de 1975 (SDA). 160. ”Declaração pela Ministra da Cooperação para o Desenvolvimento Internacional, Sigurdsen, relativa à ajuda ao MPLA em Angola”, 30 de Outubro de 1975, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1975, Estocolmo, 1977, p. 227. 161. Ibid. 162. Ver a tabela de pagamentos em anexo. 163. Entrevista com Lúcio Lara, p. 21. 164. Entrevista com Holden Roberto, p. 33. 165. Entrevista com Jorge Valentim, p. 35 166. Entrevista com Paulo Jorge, p. 17. 167. Em Outubro de 1975, uma força de cerca de 3000 militares sul-africanos /UNITA/FNLA-Chipenda invadiu Angola e avançou pela costa, em direcção a Luanda, enquanto forças conjuntas zairenses/FNLA atacaram a partir do Zaire. O objectivo, planeado pelos serviços secretos norte-americanos (CIA) (John Stockwell: In Search of Enemies: A CIA Story, W.W. Norton, Nova Iorque, 1978), era protelar a vitória do MPLA e tomar Luanda por volta de 11 de Novembro de 1975. Uma vez iniciada a invasão sul-africana, o MPLA pediu ajuda militar a Cuba. Ao abrigo da Ope- 237

MPLA de Angola: Um caminho mais difícil<br />

uma decisão definitiva. 159 Ao mesmo tempo, a Ministra da Cooperação Internaci<strong>on</strong>al<br />

para o Desenvolvimento, Gertrud Sigurdsen, declarava que ”o governo sueco irá h<strong>on</strong>rar<br />

os compromissos assumidos com o movimento de libertação em Angola MPLA”. 160 A<br />

maior fatia dos 6,2 milhões de coroas suecas da verba destinada ao MPLA debatida com<br />

Agostinho Neto em Estocolmo, nas vésperas do golpe em Lisboa, foi assim aplicada à<br />

última hora. Os pagamentos propriamente ditos, cobrindo, designadamente, a aquisição<br />

de alimentos, ambulâncias e equipamento médico, bem como uma impressora de jornais<br />

vinda da Suécia 161 , foram feitos depois da independência de Angola, num valor total de<br />

5,4 milhões de coroas suecas para o ano fiscal de 1975–76. 162 O saldo remanescente foi<br />

pago em 1976–77, sobretudo como parte de ajuda de emergência e de desenvolvimento<br />

a Angola independente.<br />

Independência, Neto e Palme<br />

A ajuda humanitária sueca ao MPLA nunca foi significativa em termos quantitativos.<br />

Acresce a isso que, em meados de 1975, só tinham sido pagos 2,3 milhões de coroas<br />

suecas, o equivalente a uns meros 5 por cento da ajuda dada ao PAIGC da Guiné-Bissau<br />

ou 13 por cento da verba atribuída à FRELIMO de Moçambique. De l<strong>on</strong>ge o menos<br />

beneficiado dos sete movimentos de libertação apoiados pela Suécia, a relação oficial de<br />

ajuda representou, na prática, um rec<strong>on</strong>hecimento do MPLA como o legítimo ”governo<br />

em gestação” de Angola, facto que também foi entendido desta forma pelos líderes do<br />

MPLA 163 e pelos movimentos ”c<strong>on</strong>correntes”, a saber, a FNLA 164 e a UNITA 165 . Apesar<br />

de frustrações de ambas as partes quanto à aplicação da ajuda humanitária, e tendo como<br />

pano de fundo a posição tomada por outros agentes próximos da Suécia, nomeadamente<br />

o governo da Zâmbia, o governo social democrata nunca rompeu a sua ligação com o<br />

MPLA, nem criou vínculos oficiais com a Revolta do Leste de Daniel Chipenda, com<br />

a FNLA, nem com a UNITA. As relações estabelecidas através da ajuda sueca tornaram<br />

possível que se enc<strong>on</strong>trasse um terreno mútuo de entendimento para ambas as partes e<br />

que se criasse uma relação política duradoura.<br />

Quando, em 1973, a União Soviética suspendeu o seu apoio ao MPLA, a Suécia<br />

foi, em c<strong>on</strong>junto com Cuba e a Jugoslávia, um dos poucos países a manter relações<br />

diplomáticas de grande proximidade com o movimento de Agostinho Neto. 166 Após a<br />

intervenção das super-potências no drama, que foi escalando à medida que se aproximava<br />

a data da independência de Angola 167 , o MPLA passou a ser c<strong>on</strong>siderado no Ocidente<br />

159. SIDA: ”Beslut” (”Decisão”), Nº 658/75, ASDI, Estocolmo, 30 de Outubro de 1975 (SDA).<br />

160. ”Declaração pela Ministra da Cooperação para o Desenvolvimento Internaci<strong>on</strong>al, Sigurdsen, relativa à ajuda<br />

ao MPLA em Angola”, 30 de Outubro de 1975, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents <strong>on</strong> Swedish<br />

Foreign Policy: 1975, Estocolmo, 1977, p. 227.<br />

161. Ibid.<br />

162. Ver a tabela de pagamentos em anexo.<br />

163. Entrevista com Lúcio Lara, p. 21.<br />

164. Entrevista com Holden Roberto, p. 33.<br />

165. Entrevista com Jorge Valentim, p. 35<br />

166. Entrevista com Paulo Jorge, p. 17.<br />

167. Em Outubro de 1975, uma força de cerca de 3000 militares sul-africanos /UNITA/FNLA-Chipenda invadiu<br />

Angola e avançou pela costa, em direcção a Luanda, enquanto forças c<strong>on</strong>juntas zairenses/FNLA atacaram a partir do<br />

Zaire. O objectivo, planeado pelos serviços secretos norte-americanos (CIA) (John Stockwell: In Search of Enemies:<br />

A CIA Story, W.W. Nort<strong>on</strong>, Nova Iorque, 1978), era protelar a vitória do MPLA e tomar Luanda por volta de 11 de<br />

Novembro de 1975. Uma vez iniciada a invasão sul-africana, o MPLA pediu ajuda militar a Cuba. Ao abrigo da Ope-<br />

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