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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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232<br />

Tor Sellström<br />

dimensões geo-estratégicas portuguesa e da África Austral havia, portanto, uma importante<br />

participação das forças da ec<strong>on</strong>omia internaci<strong>on</strong>al que, como era fácil de prever, se<br />

oporiam a uma mudança dramática.<br />

Numa luta complexa e aparentemente sem fim, o MPLA viria, a partir de finais de<br />

1975, com ajuda directa cubana e com a ajuda retomada da União Soviética, a c<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>tar-se<br />

com a FNLA e com a UNITA, a África do Sul e o Ocidente. Na altura do golpe<br />

de Abril de 1974 em Lisboa, o movimento que viria a liderar Angola estava mergulhado<br />

numa crise profunda. A liderança de Agostinho Neto foi não apenas c<strong>on</strong>testada pela<br />

facção de Chipenda, a Revolta do Leste, mas viu também a União Soviética virar-lhe as<br />

costas e ser cada vez mais questi<strong>on</strong>ada pela Tanzânia e pela Zâmbia. Em Maio de 1974,<br />

duas semanas após o golpe de Estado em Portugal, um grupo de membros do MPLA<br />

radicados em Brazzaville e liderados pelos irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade,<br />

eminentes intelectuais da geração fundadora do MPLA, rompeu com o executivo de<br />

Neto e formou uma facção, designada Revolta Activa.<br />

Um mês mais tarde, ao mesmo tempo que a UNITA de Savimbi (de l<strong>on</strong>ge o mais<br />

fraco dos movimentos naci<strong>on</strong>alistas angolanos 127 ) c<strong>on</strong>cluía formalmente um cessar-fogo<br />

com Portugal, o MPLA promoveu um enc<strong>on</strong>tro com as duas facções em Lusaca, com o<br />

objectivo de repor a unidade, mas sem êxito. A questão foi trazida perante a OUA, que<br />

mandatou os governos do C<strong>on</strong>go-Brazzaville, da Tanzânia, do Zaire e da Zâmbia para<br />

supervisi<strong>on</strong>arem um processo de rec<strong>on</strong>ciliação. Uma vez que acolhia tanto o executivo<br />

do MPLA como a facção de Chipenda, a Zâmbia foi indicada para promover o enc<strong>on</strong>tro<br />

das partes. Em meados de Agosto de 1974, por entre rumores de que Agostinho Neto se<br />

teria demitido 128 , 400 representantes, dos quais 165 de Neto, 165 de Chipenda e 70 de<br />

Andrade, reuniram-se sob a égide da Zâmbia, num acampamento militar nos arredores<br />

de Lusaca.<br />

Após <strong>on</strong>ze dias de discussões acesas, a c<strong>on</strong>ferência foi dada por terminada. 129 Nessa<br />

situação, o executivo do MPLA c<strong>on</strong>vocou uma c<strong>on</strong>ferência inter-regi<strong>on</strong>al de militantes<br />

para Lundoje, na província angolana do Moxico, que durou de 12 a 21 de Setembro de<br />

1974 e na qual os delegados das z<strong>on</strong>as c<strong>on</strong>troladas pelo MPLA no interior de Angola, as<br />

z<strong>on</strong>as urbanas do país e os exilados realizaram, sem qualquer pressão do exterior, a eleição<br />

de um novo Comité Central e de um Bureau Político. 130 Adoptaram também uma<br />

estratégia política para a fase transitória que se iria seguir, destacando a sua aut<strong>on</strong>omia<br />

e não-alinhamento na cena internaci<strong>on</strong>al. Decidiu-se também estreitar os laços com os<br />

movimentos e partidos social democratas, entre os quais com o governo sueco. 131<br />

127. MacQueen op. cit., p. 159. Fundada em 1966, a UNITA só apareceu como um dos grandes actores em Angola<br />

a seguir ao golpe em Portugal, em Abril de 1974.<br />

128. Carta de Kurt Kristianss<strong>on</strong> ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lusaca, 7 de Agosto de 1974 (MFA).<br />

Kristianss<strong>on</strong> obteve a informação junto do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Zâmbia, Vern<strong>on</strong> Mwaanga.<br />

129. Após a c<strong>on</strong>ferência, o presidente Kaunda c<strong>on</strong>vidou Agostinho Neto para vir à State House em Lusaca. De<br />

acordo com Kaunda, ”o nosso enc<strong>on</strong>tro durou dezasseis horas, sem pausas para almoço, bebendo apenas um chá e<br />

comendo uns sc<strong>on</strong>es. Tentei c<strong>on</strong>vencer o meu irmão, dizendo-lhe: ”Olha lá, tu és um organizador, portanto faz-nos<br />

o favor de juntar as peças todas. Tem de haver uma maneira de o fazer porque, por ora, é necessário criar um governo<br />

de coligação”. Estou certo de que ele estava a ser pressi<strong>on</strong>ado pelos soviéticos mas não podíamos aceitar essa pressão<br />

de forma nenhuma” (Entrevista com Kenneth Kaunda, p. 241).<br />

130. Os membros eleitos do Bureau Político eram: Agostinho Neto, Carlos Rocha (”Dilolwa”), Henrique Carreira<br />

(”Iko”), Jacob Caetano João (”M<strong>on</strong>stro imortal”), João Luís Neto (”Xietu”), Joaquim Kapango, José Eduardo dos<br />

Santos, Lopo do Nascimento, Lúcio Lara, Pedro Maria T<strong>on</strong>ha (”Pédalé”) e Rodrigues João Lopes (”Ludy”).<br />

131. Carta de Anders Bjurner ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lusaca, 10 de Outubro de 1974 (MFA).<br />

Leif Biureborgh, jornalista, fez uma viagem com uma bolsa da ASDI. Dispunha de ligações fortes no interior da<br />

IUEF em Genebra, na Suiça e fez-se passar por representante do Partido Social Democrata sueco para estar presente

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