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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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226<br />

Tor Sellström<br />

relatar, a crise levou a ”uma espécie de paralisia”. 90 Durante esse período, as negociações<br />

formais de ajuda com o MPLA estavam suspensas. No exacto momento em que, na<br />

Suécia, era dada a máxima prioridade política à questão dos movimentos de libertação da<br />

África Austral, a cooperação com o MPLA começou a sofrer grandes pressões.<br />

Crise e impasse<br />

A força que veio posteriormente a ficar c<strong>on</strong>hecida como Facção da Revolta do Leste apareceu<br />

por volta dos finais de 1972. A sua existência foi denunciada seis meses mais tarde,<br />

pelos líderes c<strong>on</strong>gregados em volta de Agostinho Neto. A 3 de Junho de 1973, Neto<br />

informou o governo zambiano de que<br />

tal como ac<strong>on</strong>teceu nos casos da FRELIMO e do PAIGC91 , a polícia secreta portuguesa<br />

(PIDE) c<strong>on</strong>seguiu infiltrar um grande número de agentes seus no nosso movimento, com o<br />

objectivo de recolher informações, desmoralizar os militantes e organizar acções subversivas.<br />

[...] No último ano, os tribalistas de origem ovimbundu organizaram uma acção subversiva<br />

para destruir o MPLA e impedir a unificação com a FNLA. As suas motivações eram tribais e<br />

agiram para evitar que o ”Norte” domine o ”Sul. 92 [...]<br />

A acção subversiva tem antecedentes muito antigos. Há já alguns anos que Daniel Chipenda,<br />

resp<strong>on</strong>sável pela logística do MPLA, disp<strong>on</strong>ibilizava armamento à UNITA por razões tribais,<br />

alinhando de forma estreita com a c<strong>on</strong>tra-revolução. [...] Foram feitas duas tentativas de assassinar<br />

os líderes do movimento, uma em Outubro de 1972 e outra em Janeiro de 1973. [...]<br />

Em Abril deste ano, a acção foi descoberta e os elementos subversivos começaram a ser detidos.<br />

Neste momento, estão detidos no nosso campo de Kalombo na parte ocidental da Zâmbia.<br />

Todos eles c<strong>on</strong>fessaram que Chipenda era o cabecilha da acção subversiva, que o objectivo era<br />

eliminar fisicamente o presidente do MPLA e que Chipenda seria o novo presidente. [...]<br />

O MPLA pede agora o seguinte ao governo da Zâmbia: que as autoridades zambianas não interfiram<br />

na questão dos prisi<strong>on</strong>eiros no campo de Kalombo93 , e que Daniel Chipenda não seja<br />

autorizado a sair da Zâmbia até que o MPLA tenha tomado uma decisão quanto ao assunto.<br />

Aproveitamos para informar também o governo zambiano que Chipenda já foi suspenso de<br />

toda a actividade na liderança do movimento. 94<br />

O governo de Kenneth Kaunda não deu seguimento aos pedidos, Chipenda negou qualquer<br />

participação nos planos de assassinato, opôs-se ao que chamou o ”presidencialismo<br />

autoritário” de Agostinho Neto e recebeu protecção por parte das autoridades zambianas.<br />

C<strong>on</strong>seguiu, com um apoio significativo dos quadros militares do MPLA95 , garantir um<br />

impasse político entre o principal órgão do MPLA, c<strong>on</strong>gregado à volta do presidente<br />

Neto, e da sua própria facção, a facção Revolta do Sul, o que, por sua vez, levou a um<br />

90. Entrevista com Paulo Jorge, p. 17.<br />

91. O secretário geral do PAIGC, Amílcar Cabral, foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973, numa operação instigada<br />

pela PIDE.<br />

92. Chipenda, apesar das suas origens ovimbundu, acabaria por se juntar à FNLA e não à UNITA.<br />

93. Veio depois a saber-se que os cinco dissidentes detidos foram executados pelo MPLA, entre os quais o Comandante<br />

Paganini, que acompanhara o historiador britânico Basil Davids<strong>on</strong> na sua visita ao leste de Angola em 1970<br />

(ver Basil Davids<strong>on</strong>: In <strong>the</strong> Eye of <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Storm: Angola’s People, L<strong>on</strong>gman, L<strong>on</strong>dres, 1972). As execuções c<strong>on</strong>tribuíram<br />

para a deterioração das relações entre o governo zambiano e o MPLA. Para mais informações sobre a questão da<br />

justiça por c<strong>on</strong>ta própria por parte do movimento de libertação, na Zâmbia, c<strong>on</strong>sulte a Entrevista com Kenneth<br />

Kaunda, p. 240.<br />

94. Citado em Marcum op. cit. (Vol. II), pp. 202–03.<br />

95. Marcum pensa que Chipenda c<strong>on</strong>tou com a lealdade de cerca de 2000 a 3000 guerrilheiros (ibid., p. 251),<br />

enquanto MacQueen ap<strong>on</strong>ta para um número entre os 1500 e 2000 (MacQueen op. cit., p. 171).

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