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222 Destaque ao transporte Tor Sellström Tal como o PAIGC, o MPLA não questionou o fornecimento sueco de ajuda em géneros, nem levantou objecções relativamente ao facto de essa ajuda se destinar unicamente a fins não-militares. A questão mais abrangente do transporte acabaria, pouco tempo depois, por ter um lugar de destaque no âmbito do diálogo relativamente à ajuda. Tal como disse Anders Möllander, ”com a ajuda sueca ao MPLA, a questão da ajuda ao transporte ficou resolvida”. 72 O primeiro pedido de ajuda sueca feito pelo MPLA tinha a ver com apoio às actividades educativas e médicas nas zonas controladas pelo MPLA no interior de Angola. A questão foi apresentada por Daniel Chipenda durante uma visita à Suécia em Maio de 1970, e foi dois meses depois discutida mais em detalhe com o presidente Neto em Estocolmo. Com base no pedido e nos posteriores esclarecimentos dados pelos líderes do MPLA foi, em Março de 1971, tomada a primeira decisão de ajuda oficial ao MPLA. Foram concedidas 500.000 coroas suecas para material educativo e médico, para o ano fiscal de 1971–72. Agostinho Neto foi, desde o início, a favor de se dar um ênfase mais claro ao apoio ao transporte, tendo dado conta dessa sua preocupação à ASDI, durante a visita que realizou a Estocolmo em Julho de 1970, durante a qual sublinhou os problemas logísticos do MPLA e garantiu que ”não há qualquer perigo de os meios de transporte doados pela Suécia serem utilizados para fins militares”. 73 Agradecendo ao director geral da ASDI pela decisão tomada em Março de 1971, reiterou a sua posição, enunciada numa carta de finais de Julho. Nessa altura, pedira um aumento da ajuda em mercadoria da Suécia, dando prioridade aos veículos de tracção às quatro rodas, barcos de borracha insufláveis e com motores fora de bordo, ambulâncias e material médico. 74 Mais ou menos ao mesmo tempo, a agência de assistência sueca decidiu destinar uma verba para compra de camiões pesados, no âmbito da verba destinada ao MPLA, acção que foi reconhecida como algo muito positivo por Agostinho Neto e referido aquando do seu encontro com o primeiro ministro Palme, em Lusaca, em Setembro de 1971. 75 MPLA na parte ocidental da Zâmbia e no leste de Angola. Publicou um artigo, dando conta das suas impressões, ao movimento de trabalhadores suecos, chamado ”Över 500 års portugisiskt förtryck i Västra Afrika” (”Mais de 500 anos de opressão portuguesa na África Ocidental”), em Fackföreningsrörelsen, órgão oficial da Confederação Sueca de Sindicatos (LO), Nº 22 A, 1973, pp. 12–15. Comentando a ajuda sueca ao MPLA, Biureborgh concluiu que a dotação de 1972–73 (2 milhões de coroas suecas) era ”pouco dinheiro, mas bem utilizado. De futuro poder-se-á fazer mais, o que também se aplica ao movimento sindical sueco” (ibid., p. 15). A visita de Biureborgh realizou-se a seguir à eclosão da crise com Chipenda. Dando um forte apoio à liderança em torno de Agostinho Neto, comunicou as suas conclusões ao Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco, em Setembro de 1973 (Elisabet Borsiin: Memorandum (”Samtal med Leif Biureborgh angående befrielserörelsen MPLA den 11 september 1973”/”Conversa com Leif Biureborgh sobre o movimento de libertação MPLA, 11 de Setembro de 1973”), Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 21 de Setembro de 1973) (MFA). 72. Möllander op. cit., p. 29. 73. Birgitta Dahl: Memorando (”Sammanträffande mellan representanter för MPLA och SIDA på SIDA den 3.7 1970”/”Reunião entre os representantes do MPLA e da ASDI nas instalações da ASDI, 3 de Julho de 1970”), ASDI, Estocolmo, 9 de Julho de 1970 (SDA). 74. Carta de Agostinho Neto ao director geral da ASDI, (sem indicação de local), 22 de Julho de 1971; original em francês (SDA). Na carta, na qual se dirige ao director geral da ASDI como ”caro camarada”, Neto pediu também que fossem enviadas 5 toneladas de cigarros, o equivalente a 20,000 pacotes. 75. Pierre Schori: Memorandum: ”Samtal med Agostinho Neto, generalsekreterare för MPLA (sic), Angola, i State House, Lusaca, 24 de Setembro de 1971” (”Conversa com Agostinho Neto, secretário geral do MPLA, Angola, residência oficial, Lusaca, 24 de Setembro de 1971”), Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 1 de Outubro de 1971 (MFA). Durante a reunião, que, do lado sueco, contou com a presença de Pierre Schori e Per Wästberg, Palme disse que o apoio aos movimentos de libertação seria substancialmente aumentado: ”O MPLA poderá contar
MPLA de Angola: Um caminho mais difícil Problemas de transporte e logísticos: Perdas na ”estrada do inferno” entre Dar es Salaam, na Tanzânia e Lusaca, na Zâmbia, durante a época das chuvas de 1969. (Foto: IKON, Svenska kyrkans bildbyrå) Por fim, em Novembro–Dezembro de 1971, uma delegação da ASDI, da qual faziam parte Curt Ström, Marianne Rappe e Stig Lövgren, discutiu em reuniões com o MPLA, os aspectos técnicos ligados à alteração de preferências, em Lusaca e em Dar es Salaam. 76 No final de 1971, com um atraso de quase um ano, foi definido um programa de ajuda em géneros para o ano fiscal de 1971–72. Dispondo de um orçamento em que mais de metade das verbas estavam reservadas para o sector dos transportes, o acordo renegociado reflectia as prioridades definidas por Agostinho Neto. Das 500.000 coroas suecas doadas, 250.000 eram atribuídas à aquisição de camiões, motocicletas e bicicletas; 140.000 para ambulâncias de tracção às quatro rodas e material médico; 50.000 para alimentos e ferramentas agrícolas e só 20.000 para equipamento para o sector da educação. 77 Sempre que possível, os artigos eram adquiridos in loco, ou seja, sobretudo na Tanzânia e na Zâmbia. As compras e entregas locais da Suécia, à luz do programa de ajuda em géneros acordado, fizeram-se sem complicações durante a primeira metade de 1972. Daí que o governo sueco tenha decidido aumentar o valor destinado ao MPLA, passando de 0,5 para 2 com uma atitude positiva do governo sueco e com a ajuda ao MPLA vir, pelo menos, a duplicar” (ibid.). 76. A primeira reunião com o MPLA em Lusaca não deu resultados práticos. Stig Lövgren recordaria mais tarde que: ”realizou-se uma reunião, previamente combinada com os líderes do MPLA, mas nenhum deles lá estava quando chegámos. Disseram-nos depois que tínhamos de esperar por um dos comandantes da província, na fronteira angolano-zambiana, que era Daniel Chipenda. [...] Os quadros do MPLA em Lusaca não se atreveram a debater connosco, porque tudo tinha de ser decidido por Chipenda em pessoa. Ele tinha de apanhar um vôo doméstico para Lusaca, e não tinha dinheiro, pelo que tivemos de lhe comprar o bilhete. Ao cabo de alguns dias, ele apareceu e reunimo-nos com ele, mas ele não estava preparado para o debate [...]. Para ser sincero, ele não parecia conhecer-nos muito a fundo, nem qual era a finalidade da nossa reunião” (Entrevista com Stig Lövgren, pp. 311–12). 77. CCAH: Memorandum: ”Ansökan från Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, om fortsatt svenskt varubistånd” (”Pedido do MPLA no sentido da continuação da ajuda em géneros da Suécia”), ASDI, Estocolmo, 5 de Setembro de 1972 (SDA). O saldo de 40.000 coroas suecas foi reservado para custos de transporte, designadamente, de uma quantidade considerável de sapatos, doados pela Direcção do Mercado de Trabalho Sueco, (Arbetsmarknadsstyrelsen; AMS) para além de e sobrepondo-se à contribuição da ASDI. Para mais informações quando à inadequação do calçado doado pela AMS, consulte a Entrevista com Hillevi Nilsson, p. 327. 223
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Destaque ao transporte<br />
Tor Sellström<br />
Tal como o PAIGC, o MPLA não questi<strong>on</strong>ou o fornecimento sueco de ajuda em géneros,<br />
nem levantou objecções relativamente ao facto de essa ajuda se destinar unicamente<br />
a fins não-militares. A questão mais abrangente do transporte acabaria, pouco tempo depois,<br />
por ter um lugar de destaque no âmbito do diálogo relativamente à ajuda. Tal como<br />
disse Anders Möllander, ”com a ajuda sueca ao MPLA, a questão da ajuda ao transporte<br />
ficou resolvida”. 72<br />
O primeiro pedido de ajuda sueca feito pelo MPLA tinha a ver com apoio às actividades<br />
educativas e médicas nas z<strong>on</strong>as c<strong>on</strong>troladas pelo MPLA no interior de Angola.<br />
A questão foi apresentada por Daniel Chipenda durante uma visita à Suécia em Maio<br />
de 1970, e foi dois meses depois discutida mais em detalhe com o presidente Neto em<br />
Estocolmo. Com base no pedido e nos posteriores esclarecimentos dados pelos líderes do<br />
MPLA foi, em Março de 1971, tomada a primeira decisão de ajuda oficial ao MPLA.<br />
Foram c<strong>on</strong>cedidas 500.000 coroas suecas para material educativo e médico, para o ano<br />
fiscal de 1971–72.<br />
Agostinho Neto foi, desde o início, a favor de se dar um ênfase mais claro ao apoio<br />
ao transporte, tendo dado c<strong>on</strong>ta dessa sua preocupação à ASDI, durante a visita que<br />
realizou a Estocolmo em Julho de 1970, durante a qual sublinhou os problemas logísticos<br />
do MPLA e garantiu que ”não há qualquer perigo de os meios de transporte doados<br />
pela Suécia serem utilizados para fins militares”. 73 Agradecendo ao director geral da ASDI<br />
pela decisão tomada em Março de 1971, reiterou a sua posição, enunciada numa carta<br />
de finais de Julho. Nessa altura, pedira um aumento da ajuda em mercadoria da Suécia,<br />
dando prioridade aos veículos de tracção às quatro rodas, barcos de borracha insufláveis e<br />
com motores fora de bordo, ambulâncias e material médico. 74 Mais ou menos ao mesmo<br />
tempo, a agência de assistência sueca decidiu destinar uma verba para compra de camiões<br />
pesados, no âmbito da verba destinada ao MPLA, acção que foi rec<strong>on</strong>hecida como algo<br />
muito positivo por Agostinho Neto e referido aquando do seu enc<strong>on</strong>tro com o primeiro<br />
ministro Palme, em Lusaca, em Setembro de 1971. 75<br />
MPLA na parte ocidental da Zâmbia e no leste de Angola. Publicou um artigo, dando c<strong>on</strong>ta das suas impressões,<br />
ao movimento de trabalhadores suecos, chamado ”Över 500 års portugisiskt förtryck i Västra Afrika” (”Mais de 500<br />
anos de opressão portuguesa na África Ocidental”), em Fackföreningsrörelsen, órgão oficial da C<strong>on</strong>federação Sueca<br />
de Sindicatos (LO), Nº 22 A, 1973, pp. 12–15. Comentando a ajuda sueca ao MPLA, Biureborgh c<strong>on</strong>cluiu que<br />
a dotação de 1972–73 (2 milhões de coroas suecas) era ”pouco dinheiro, mas bem utilizado. De futuro poder-se-á<br />
fazer mais, o que também se aplica ao movimento sindical sueco” (ibid., p. 15). A visita de Biureborgh realizou-se a<br />
seguir à eclosão da crise com Chipenda. Dando um forte apoio à liderança em torno de Agostinho Neto, comunicou<br />
as suas c<strong>on</strong>clusões ao Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco, em Setembro de 1973 (Elisabet Borsiin: Memorandum<br />
(”Samtal med Leif Biureborgh angående befrielserörelsen MPLA den 11 september 1973”/”C<strong>on</strong>versa com<br />
Leif Biureborgh sobre o movimento de libertação MPLA, 11 de Setembro de 1973”), Ministério dos Negócios<br />
Estrangeiros, Estocolmo, 21 de Setembro de 1973) (MFA).<br />
72. Möllander op. cit., p. 29.<br />
73. Birgitta Dahl: Memorando (”Sammanträffande mellan representanter för MPLA och SIDA på SIDA den 3.7<br />
1970”/”Reunião entre os representantes do MPLA e da ASDI nas instalações da ASDI, 3 de Julho de 1970”), ASDI,<br />
Estocolmo, 9 de Julho de 1970 (SDA).<br />
74. Carta de Agostinho Neto ao director geral da ASDI, (sem indicação de local), 22 de Julho de 1971; original em<br />
francês (SDA). Na carta, na qual se dirige ao director geral da ASDI como ”caro camarada”, Neto pediu também<br />
que fossem enviadas 5 t<strong>on</strong>eladas de cigarros, o equivalente a 20,000 pacotes.<br />
75. Pierre Schori: Memorandum: ”Samtal med Agostinho Neto, generalsekreterare för MPLA (sic), Angola, i State<br />
House, Lusaca, 24 de Setembro de 1971” (”C<strong>on</strong>versa com Agostinho Neto, secretário geral do MPLA, Angola, residência<br />
oficial, Lusaca, 24 de Setembro de 1971”), Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 1 de Outubro<br />
de 1971 (MFA). Durante a reunião, que, do lado sueco, c<strong>on</strong>tou com a presença de Pierre Schori e Per Wästberg,<br />
Palme disse que o apoio aos movimentos de libertação seria substancialmente aumentado: ”O MPLA poderá c<strong>on</strong>tar