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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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MPLA de Angola: Um caminho mais difícil<br />

e telecomunicações. 53 O MPLA captava sinal rádio de origem portuguesa, na fr<strong>on</strong>teira<br />

leste e precisava de equipamento para alterar as suas frequências, que lhe foi fornecido<br />

pelo grupo. 54 Ainda mais importante foi o facto de o Grupo de África de Estocolmo ter<br />

dado um c<strong>on</strong>tributo activo para a codificação e protecção das comunicações do MPLA<br />

entre a frente de combate a leste de Angola e os seus gabinetes em África. Entrevistado<br />

em 1996, o antigo director do serviço de rádio e telecomunicações do MPLA, Alberto<br />

Ribeiro-Kabulu, explicou o c<strong>on</strong>texto geral e o significado da ajuda:<br />

O presidente Neto pediu-me que protegesse, tanto quanto possível, a nossa rede de telecomunicações,<br />

porque fazíamos comunicações de uma p<strong>on</strong>ta para a outra de África, de Dar es<br />

Salaam a Brazzaville. Neto foi muito claro num aspecto: pediu-me: invente algo de novo e não<br />

siga os caminhos traçados para os nossos formandos nos países socialistas. Os nossos companheiros<br />

que foram receber formação na União Soviética, em Cuba e por aí fora, trouxeram<br />

alguma bagagem de c<strong>on</strong>hecimentos em termos de códigos e criptografia, mas Neto disse-me:<br />

”Olhe, eu não quero usar isto. Tente inventar alguma coisa”. Quando terminei o meu mestrado<br />

na Alemanha Ocidental 55 , trabalhara com computadores e tinha alguns c<strong>on</strong>hecimentos<br />

nessa área mas, mesmo assim, precisava de livros sobre criptografia e matemática, que obtive<br />

por intermédio dos grupos de solidariedade. O apoio foi muito útil e discreto, incluindo o do<br />

Lars e da Hillevi Nilss<strong>on</strong> do Grupo de África de Estocolmo. Com estes livros criámos o nosso<br />

próprio código.<br />

Alguns dos nossos amigos não ficaram satisfeitos com isso. Entre eles c<strong>on</strong>tavam-se, como é<br />

evidente, os agentes de ligação dos países socialistas. Também eles queriam saber o que se<br />

estava a passar. C<strong>on</strong>tudo, Neto assumiu uma posição clara, segundo a qual ”temos de manter<br />

os nossos segredos e vamos utilizar este sistema”. Até ao final do c<strong>on</strong>flito, usamos os nossos<br />

próprios códigos, bem como o equipamento capturado em acção aos portugueses, por forma<br />

a manter o c<strong>on</strong>trolo da situação. 56 [...] Os portugueses ficaram muito admirados quando se<br />

deu o enc<strong>on</strong>tro no Moxico para celebrar um cessar-fogo em Outubro de 1974, por verem que<br />

dispúnhamos de um serviço tão bem organizado, não apenas de comunicações, mas também<br />

de serviços secretos. [...] Não foi obra exclusivamente nossa, pois os comités de solidariedade<br />

c<strong>on</strong>tribuíram muito para os termos, nomeadamente os comités suecos. 57<br />

Os primeiros suecos a relatar a situação a partir das z<strong>on</strong>as detidas pelo MPLA na parte<br />

leste de Angola foram os membros dos Grupos de África. Membros activos do grupo<br />

53. Alberto Ribeiro-Kabulu dirigiu o SRT (Serviço de Rádio e Telecomunicações) de 1968 a 1974. A seguir à independência<br />

foi nomeado Secretário de Estado para as Comunicações e Transportes e, em 1978, Ministro da Indústria<br />

e Energia. José Eduardo dos Santos fez parte do SRT de 1970 a 1974.<br />

54. Entrevista com Alberto Ribeiro-Kabulu, p. 28.<br />

55. Vale a pena notar que o presidente Neto nomeou Ribeiro-Kabulu como resp<strong>on</strong>sável pelo sensível sector das comunicações.<br />

Ao c<strong>on</strong>trário de muitos quadros do MPLA, Ribeiro-Kabulu não recebeu formação superior na Europa<br />

de Leste, mas na República Federal da Alemanha, <strong>on</strong>de tirou um mestrado na Universidade Técnica de Aachen,<br />

tendo também trabalhado como engenheiro informático entre 1965 e 1968. O próprio diria mais tarde que ”foi<br />

Neto quem insistiu em me atribuir esta resp<strong>on</strong>sabilidade mas, nos tempos da guerra fria, isso tinha as suas limitações.<br />

Eu não tive acesso aos países comunistas. Não fui selecci<strong>on</strong>ado para seguir uma formação complementar na União<br />

Soviética e só pude visitar os países socialistas após a sua independência” (Entrevista com Alberto Ribeiro-Kabulu,<br />

p. 27). Ruth, irmã do presidente Neto, uma grande representante da Organização das Mulheres de Angola (OMA),<br />

que também estudou e trabalhou na Alemanha Ocidental até 1968, altura em que se juntou ao irmão na Tanzânia<br />

e, mais tarde, na frente leste de Angola (ver Entrevista com Ruth Neto, p. 21).<br />

56. Os Grupos de África recrutaram um engenheiro de telecomunicações para trabalhar com o MPLA. Ribeiro-Kabulu<br />

lembrou mais tarde que: ”Para minha surpresa, tratava-se de uma pessoa pouco faladora mas de um engenheiro<br />

brilhante. Veio ter c<strong>on</strong>nosco em Lusaca e começou logo a colaborar c<strong>on</strong>nosco, m<strong>on</strong>támos os rádios do inimigo que<br />

tínhamos na nossa posse para perceber o que se estava a passar e para obter informações secretas, ouvindo as suas<br />

transmissões via rádio” (Entrevista com Alberto Ribeiro-Kabulu, p. 28).<br />

57. Entrevista com Alberto Ribeiro-Kabulu, p. 28. Alguns dos engenheiros suecos que ajudaram o MPLA durante a<br />

luta de libertação ficaram a trabalhar para os Ministérios da Defesa e da Indústria de Angola depois da independência<br />

do País, em Novembro de 1975, sendo um deles o sr. Lars Nilss<strong>on</strong>.<br />

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