Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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Tor Sellström<br />
o PAIGC quanto o Instituto Moçambicano da FRELIMO foram menci<strong>on</strong>ados quando<br />
o parlamento sueco apoiou, em Maio de 1969, uma política tendente a c<strong>on</strong>ceder ajuda<br />
humanitária oficial aos movimentos de libertação. 8 Enquanto o apoio ao PAIGC foi aumentando<br />
a partir de meados de 1969, só em Março de 1971, ou seja, na mesma altura<br />
em que recomeçou a ajuda à FRELIMO, é que o MPLA foi incluído na lista dos movimentos<br />
de libertação beneficiários de ajuda humanitária. Essa decisão foi largamente<br />
influenciada pelos líderes das organizações guineense e moçambicana, nomeadamente<br />
por Amílcar Cabral do PAIGC. Dos três parceiros da CONCP, o MPLA era o menos<br />
favorecido, recebendo ajudas bastante inferiores às dadas ao PAIGC e à FRELIMO. Para<br />
além disso, com dotações combinadas de 10 milhões de coroas suecas para o período<br />
1971–72 – 1974–75 9 , o valor total de pagamentos feitos ao MPLA durante apenas esses<br />
quatro anos foi de 2,3 milhões, o que representa menos de um quarto do total de fundos<br />
disp<strong>on</strong>ível. 10<br />
Vários factores c<strong>on</strong>tribuíram para as limitações das dotações e para a fraca utilização<br />
da ajuda sueca dada ao MPLA. Ao c<strong>on</strong>trário do que ac<strong>on</strong>tecia na Guiné-Bissau e em<br />
Moçambique, <strong>on</strong>de o PAIGC e a FRELIMO não sofriam c<strong>on</strong>testação, o movimento<br />
naci<strong>on</strong>alista angolano em geral estava, em primeiro lugar, profundamente dividido. À<br />
rivalidade inicial entre o MPLA e à FNLA juntou-se, a partir de 1966, o aparecimento<br />
da UNITA. Mesmo antes da queda do regime de Lisboa em Abril de 1974, os c<strong>on</strong>flitos<br />
entre as três partes atingiram uma intensidade que sugeria amiúde a guerra civil, e não<br />
um esforço naci<strong>on</strong>alista c<strong>on</strong>junto, o que teve impacto na Suécia. O entendimento de<br />
base entre o Partido Social Democrata, no poder, e o Partido Liberal, na oposição, tinha a<br />
ver com o apoio aos movimentos de libertação nas colónias portuguesas mas foi, no caso<br />
de Angola, questi<strong>on</strong>ado por influentes vozes da área liberal 11 , que defendiam a c<strong>on</strong>cessão<br />
de ajuda também à FNLA. 12<br />
8. A primeira moção parlamentar a referir explicitamente o MPLA foi apresentada pelo Partido de Esquerda Comunista<br />
em Janeiro de 1969 (Parlamento sueco 1969: Moção Nº. 404 na Câmara Segunda (Werner) e moção Nº 465<br />
na Câmara Primeira (Hermanss<strong>on</strong> e outros), Riksdagens Protokoll, 1969, pp. 10 e 4–6).<br />
9. Para 1971–72: 0,5; 1972–73: 2,0; 1973–74: 3,5; e 1974–75: 4,0 milhões de coroas suecas.<br />
10. Com a excepção da ajuda multi-bilateral c<strong>on</strong>cedida à escola do MPLA em Dolisie, no C<strong>on</strong>go-Brazzaville através<br />
da UNESCO. Durante esse mesmo período foram pagos 43,5 e 17,1 milhões de coroas suecas, respectivamente, ao<br />
PAIGC e à FRELIMO.<br />
11. Nomeadamente por David Wirmark e Olle Wästberg. Como Secretário Geral da Assembleia Mundial da Juventude<br />
(195864), Wirmark, deputado liberal entre 1971 e 1973, criou um relaci<strong>on</strong>amento próximo com Holden<br />
Roberto, no início da década de sessenta. Wästberg, que, enquanto vice presidente da Liga da Juventude do Partido<br />
Liberal acompanhou a FNLA numa missão ao norte de Angola em Julho-Agosto de 1969, foi particularmente activo<br />
em prol do movimento de Roberto durante a primeira metade dos anos setenta. Foi eleito deputado pelo Partido<br />
Liberal em 1976. Carl Tham, o antigo director geral da ASDI (1985–94), foi secretário do Partido Liberal de 1969 a<br />
1976. Comentando o apoio à FNLA disse, em 1997, que ”era o reflexo de uma posição mais anticomunista dentro<br />
do partido, especialmente da parte de Olle Wästberg. [...] Penso que era ele quem exigia ajuda para a FNLA e o<br />
partido apoiava-o, mas a base ideológica do partido estava muito dividida quanto a esta questão.” (Entrevista com<br />
Carl Tham, p. 342).<br />
12. Este argumento ganhou força em Dezembro de 1972, altura em que o MPLA e a FNLA, sob os auspícios da<br />
Organização de Unidade Africana, formou o C<strong>on</strong>selho Supremo para a Libertação de Angola (CSLA), em Kinshasa,<br />
no Zaire. Segundo o acordo, Roberto da FNLA presidiria ao CSLA, com Neto do MPLA como vice presidente. O<br />
acordo definia ainda que os dois movimentos deveriam terminar imediatamente toda e qualquer hostilidade entre si,<br />
e que a filiação em todos os organismos do CSLA se deveria basear na paridade. O acordo recebeu fortes incentivos<br />
a nível pan-africano, mas viria a sair caro ao MPLA. Aos olhos da União Soviética ”traduziu-se imediatamente numa<br />
diminuição do prestígio do MPLA e a ajuda soviética foi suspensa” (C<strong>on</strong>versas com Vladimir Shubin, p. 250). Uma<br />
das principais razões pelas quais o MPLA assinou o acordo foi porque este tornaria possível a utilização de bases de<br />
apoio em território zairense. C<strong>on</strong>tudo, rapidamente se soube que o governo de Mobutu não estava disposto a abrir o<br />
seu território ao MPLA. Não era permitido aos guerrilheiros do MPLA passar pelo Zaire e os seus membros estavam<br />
sujeitos a serem detidos nesse país. Com este enquadramento, o acordo perdeu o sentido e acabou por ser quebrado.