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204 Tor Sellström foi atribuído como verba em dinheiro 198 , mercadorias para os sectores da saúde e da informação da FRELIMO na Tanzânia, 199 e ainda como apoio ao transporte, ou seja, principalmente, disponibilização de veículos. 200 Para além disso, e fora da dotação para 1974–75, o governo sueco decidiu, em Fevereiro de 1975, conceder à FRELIMO ajuda de emergência, sob a forma de 20.000 toneladas de trigo. 201 A decisão foi tomada em resposta a um apelo urgente do movimento de libertação, que sublinhou a difícil situação alimentar que se vivia no norte e no sul de Moçambique. O eminente regresso de cerca de 110.000 refugiados da Tanzânia, do Malawi e da Zâmbia aumentou a dificuldade do desafio que era realojar dezenas de milhares de pessoas nos aldeamentos do norte do país. No sul, as inundações no vale do Limpopo quase causaram um surto de fome, entre uma população, calculada em mais de 250.000 pessoas. 202 Entre o reinício da ajuda à FRELIMO em 1971 e até à independência de Moçambique em Junho de 1975, foi pago um total de 23 milhões de coroas suecas à FRELIMO, incluindo valores relativos a compromissos previamente assumidos. 203 Por falta duma contabilidade completa da FRELIMO 204 é difícil calcular o significado da ajuda oficial sueca para os programas civis do movimento, na Tanzânia e nas zonas libertadas de Moçambique. Neste último caso, uma comissão da FRELIMO concluiu, no início dos anos setenta, que o plano de ”melhorar os níveis de vida e alargar o mercado interno, produzindo artigos que vão ajudar o povo a aumentar a sua autoconfiança” precisaria de uma dotação mínima, calculada em 60 milhões de shillings tanzanianos o que, na altura, era o equivalente a 37,5 milhões de coroas suecas. 205 Uma vez que a ajuda sueca às zonas libertadas, de meados de 1973 a meados de 1975, foi de cerca de 12 milhões de coroas suecas, poderia deduzir-se que teve um impacto muito grande. Declarações feitas posteriormente por responsáveis destacados da FRELIMO confirmaram que assim foi de facto. Entrevistado em Abril de 1996, o antigo governante Sérgio Vieira 206 disse, por exemplo, que havia uma ”enorme necessidade” de ajuda, em medicamentos, vestuário e 198. Ibid. O apoio em numerário à FRELIMO, o Instituto Moçambicano e o acampamento de Tunduru receberam cerca de 2,6 milhões de coroas suecas em 1974–75. Depois do golpe de Abril de 1974 em Portugal, foi feito um acordo no sentido de re-atribuir os fundos para a aquisição de um máximo de quinze camiões, a utilizar para repatriar pessoas e equipamento para Moçambique (Carta de Marcelino dos Santos a Knut Granstedt, embaixador sueco na Tanzânia, Dar es Salaam, 4 de Abril de 1975 e resposta (”troca de correspondência”) de Knut Granstedt a Marcelino dos Santos, Dar es Salaam, 4 de Abril de 1975) (SDA). 199. Ringmar: ”Brev till Konungen” (”Carta ao Rei”) op. cit. O valor para o sector da saúde foi de 1,1 milhões de coroas suecas e para a tipografia da FRELIMO de 400 mil coroas suecas. 200. Ibid. O valor atribuído para veículos foi de 700 mil coroas suecas. 201. Beslut” (”Decisão”): ”Svensk vetegåva till FRELIMO” (”Doação de trigo sueco à FRELIMO”), Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 6 de Fevereiro de 1975 (SDA). Foram feitos donativos de emergência semelhantes, sob a forma de alimentos ou roupas, aos movimentos de libertação da África Austral, particularmente a seguir a ataques militares a campos de refugiados. O valor dessa ajuda não foi contabilizado nos valores que nos foram concedidos, e indicados no estudo. 202. Henriksen op. cit., p. 226. 203. Ver a tabela junta, sobre pagamentos da ASDI à FRELIMO. 204. Guardados num armário em aço, os documentos do Instituto Moçambicano extraviaram-se no porto de Dar es Salaam. Colocado num navio que transportava todo o material do Instituto para Lourenço Marques (Maputo) a seguir à independência de Moçambique, o armário caiu borda fora (Conversa com Janet Mondlane, Maputo, 30 de Abril de 1996). 205. Instituto Moçambicano op. cit., p. 55. 206. Após a independência, Vieira foi, entre outras funções, responsável pelas questões de segurança, tendo também sido Ministro da Agricultura.

alimentos: A FRELIMO de Moçambique: Abrir um caminho Precisamos disso, tanto quanto de armas. As armas, por si só, não mudam a vida, mas as roupas fornecidas ajudaram-nos a dar alguma coisa ao camponês das zonas libertadas. Assim, ele produzia e recebia algo em troca. Era fundamental criar uma base de desenvolvimento económico e de auto-suficiência. 207 Jorge Rebelo, antigo Ministro da Informação de Moçambique, também destacou o contexto mais alargado da ajuda sueca e nórdica: Sabíamos que o Ocidente não era uma entidade monolítica e, no nosso trabalho de mobilização, dizíamos às pessoas que nem todos os países capitalistas eram nossos inimigos. Havia países que pertenciam ao bloco ocidental e que apoiavam a luta de libertação. Daí que o apoio dos países escandinavos tenha sido tão importante. Em vez de falar em termos abstractos, podíamos mostrar que nem todos os países ocidentais eram maus. Mas tínhamos de o provar. Quando as pessoas viram, através do Instituto Moçambicano, os medicamentos e os livros, pudemos dizer que vinham da Suécia ou da Noruega. Aí, passavam a ser algo de concreto, que nos ajudou nos nossos esforços para romper com a dicotomia bom-mau, Leste-Ocidente. [...] O apoio ajudou-nos a educar o nosso povo e a mudar a imagem que as pessoas tinham do Ocidente, que era má e de que todos os países de Leste eram nossos amigos. Nós sabíamos que assim não era, mas precisávamos de qualquer coisa que servisse de prova. Penso que foi nessa altura que se plantaram as sementes dos relacionamentos futuros. [...] O apoio nórdico permitiu-nos levar a cabo programas na área da educação, da saúde e da informação. Através de contribuições em dinheiro pudemos concretizar actividades económicas nas zonas libertadas. Isso foi importante, porque era verdade que não poderíamos ter ganho a guerra apenas disparando contra o inimigo. Queríamos criar uma vida nova, e para tal precisávamos de ajuda. Podíamos mobilizar a população para cultivar, para produzir milho e outros alimentos, mas era difícil fornecermos-lhes sabão, medicamentos e outros produtos básicos. O apoio dos países nórdicos colmatou essa nossa lacuna. [...] A seguir à independência, a ajuda nórdica foi vista como uma continuação destas acções. 208 Neste contexto deve dizer-se que a ajuda oficial nórdica foi vista como sendo dada sem qualquer contrapartida política nem ideológica 209 , enquanto a fundamental ajuda militar da União Soviética e da China, era vista doutra forma. Na entrevista acima citada, Rebelo deixava claro que nós sabíamos que não era porque a União Soviética gostava do Mondlane ou dos moçambicanos que nos estavam a ajudar. Nem eles, nem os chineses, pois ambos os países tinham interesses geo-estratégicos. Houve momentos, mesmo muitos até, em que nos ajudaram mediante condições muito precisas. A condição-base era que apoiássemos as suas políticas e condenássemos o imperialismo. Ao mobilizar o nosso povo, queríamos que as pessoas estivessem a par desta situação. Recebemos apoio dos países socialistas, mas eles tinham razões para no-lo quererem dar. Procuravam algo em troca, naquela altura ou mais tarde. Por outro lado, eram nossos amigos. [...]. Dependíamos completamente da sua ajuda para o esforço de guerra. Se tivéssemos questionado as razões pelas quais nos estavam a ajudar, poderia ter sido desastroso. Mas nós sabíamos a resposta a essa pergunta. 210 207. Entrevista com Sérgio Vieira, p. 55. 208. Entrevista com Jorge Rebelo, pp. 45–47. 209. Ver, por exemplo, as entrevistas com Joaquim Chissano (p. 40), Janet Mondlane (p. 44) e Marcelino dos Santos (p. 48). 210. Entrevista com Jorge Rebelo, p. 45. 205

alimentos:<br />

A FRELIMO de Moçambique: Abrir um caminho<br />

Precisamos disso, tanto quanto de armas. As armas, por si só, não mudam a vida, mas as<br />

roupas fornecidas ajudaram-nos a dar alguma coisa ao camp<strong>on</strong>ês das z<strong>on</strong>as libertadas. Assim,<br />

ele produzia e recebia algo em troca. Era fundamental criar uma base de desenvolvimento<br />

ec<strong>on</strong>ómico e de auto-suficiência. 207<br />

Jorge Rebelo, antigo Ministro da Informação de Moçambique, também destacou o c<strong>on</strong>texto<br />

mais alargado da ajuda sueca e nórdica:<br />

Sabíamos que o Ocidente não era uma entidade m<strong>on</strong>olítica e, no nosso trabalho de mobilização,<br />

dizíamos às pessoas que nem todos os países capitalistas eram nossos inimigos. Havia<br />

países que pertenciam ao bloco ocidental e que apoiavam a luta de libertação. Daí que o apoio<br />

dos países escandinavos tenha sido tão importante. Em vez de falar em termos abstractos,<br />

podíamos mostrar que nem todos os países ocidentais eram maus. Mas tínhamos de o provar.<br />

Quando as pessoas viram, através do Instituto Moçambicano, os medicamentos e os livros,<br />

pudemos dizer que vinham da Suécia ou da Noruega. Aí, passavam a ser algo de c<strong>on</strong>creto,<br />

que nos ajudou nos nossos esforços para romper com a dicotomia bom-mau, Leste-Ocidente.<br />

[...] O apoio ajudou-nos a educar o nosso povo e a mudar a imagem que as pessoas tinham do<br />

Ocidente, que era má e de que todos os países de Leste eram nossos amigos. Nós sabíamos que<br />

assim não era, mas precisávamos de qualquer coisa que servisse de prova. Penso que foi nessa<br />

altura que se plantaram as sementes dos relaci<strong>on</strong>amentos futuros. [...]<br />

O apoio nórdico permitiu-nos levar a cabo programas na área da educação, da saúde e da informação.<br />

Através de c<strong>on</strong>tribuições em dinheiro pudemos c<strong>on</strong>cretizar actividades ec<strong>on</strong>ómicas<br />

nas z<strong>on</strong>as libertadas. Isso foi importante, porque era verdade que não poderíamos ter ganho a<br />

guerra apenas disparando c<strong>on</strong>tra o inimigo. Queríamos criar uma vida nova, e para tal precisávamos<br />

de ajuda. Podíamos mobilizar a população para cultivar, para produzir milho e outros<br />

alimentos, mas era difícil fornecermos-lhes sabão, medicamentos e outros produtos básicos. O<br />

apoio dos países nórdicos colmatou essa nossa lacuna. [...] A seguir à independência, a ajuda<br />

nórdica foi vista como uma c<strong>on</strong>tinuação destas acções. 208<br />

Neste c<strong>on</strong>texto deve dizer-se que a ajuda oficial nórdica foi vista como sendo dada sem<br />

qualquer c<strong>on</strong>trapartida política nem ideológica 209 , enquanto a fundamental ajuda militar<br />

da União Soviética e da China, era vista doutra forma. Na entrevista acima citada, Rebelo<br />

deixava claro que<br />

nós sabíamos que não era porque a União Soviética gostava do M<strong>on</strong>dlane ou dos moçambicanos<br />

que nos estavam a ajudar. Nem eles, nem os chineses, pois ambos os países tinham<br />

interesses geo-estratégicos. Houve momentos, mesmo muitos até, em que nos ajudaram mediante<br />

c<strong>on</strong>dições muito precisas. A c<strong>on</strong>dição-base era que apoiássemos as suas políticas e c<strong>on</strong>denássemos<br />

o imperialismo. Ao mobilizar o nosso povo, queríamos que as pessoas estivessem<br />

a par desta situação. Recebemos apoio dos países socialistas, mas eles tinham razões para no-lo<br />

quererem dar. Procuravam algo em troca, naquela altura ou mais tarde. Por outro lado, eram<br />

nossos amigos. [...]. Dependíamos completamente da sua ajuda para o esforço de guerra. Se<br />

tivéssemos questi<strong>on</strong>ado as razões pelas quais nos estavam a ajudar, poderia ter sido desastroso.<br />

Mas nós sabíamos a resposta a essa pergunta. 210<br />

207. Entrevista com Sérgio Vieira, p. 55.<br />

208. Entrevista com Jorge Rebelo, pp. 45–47.<br />

209. Ver, por exemplo, as entrevistas com Joaquim Chissano (p. 40), Janet M<strong>on</strong>dlane (p. 44) e Marcelino dos Santos<br />

(p. 48).<br />

210. Entrevista com Jorge Rebelo, p. 45.<br />

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