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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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202<br />

Tor Sellström<br />

Dr. Américo Boavida em Mtwara 176 , o movimento geria as z<strong>on</strong>as libertadas como ”um<br />

estado proto-independente, com comércio externo, relações diplomáticas e serviços à<br />

população”. 177 Enquanto esteve em guerra, a FRELIMO, tal como o PAIGC, foi criando<br />

as bases para uma nova sociedade, disp<strong>on</strong>ibilizando serviços sociais e desenvolvendo a<br />

ec<strong>on</strong>omia rural. Uma publicação do Instituto Moçambicano dava nota de que, em 1971,<br />

”a nossa vida é composta por dois grandes vectores: a luta armada c<strong>on</strong>tra o col<strong>on</strong>ialismo<br />

português e a tarefa de gigantes que é c<strong>on</strong>struir uma nova nação, dos p<strong>on</strong>tos de vista<br />

social, ec<strong>on</strong>ómico e político”. 178<br />

Os desafios eram enormes. Em 1971 calculava-se que cerca de um milhão de pessoas<br />

vivia já nas z<strong>on</strong>as libertadas de Moçambique. 179 Tendo visto o acesso à educação e aos<br />

cuidados de saúde ser-lhes negado pelos portugueses, muito viram a sua situação mudar<br />

radicalmente através do trabalho da FRELIMO. Já em 1966, mais de 100.000 aldeões da<br />

provincia de Cabo Delgado estavam, por exemplo, inoculados c<strong>on</strong>tra a varíola 180 , e em<br />

1971 a FRELIMO tinha já aberto, nas z<strong>on</strong>as libertadas, 40 centros de saúde, nos quais<br />

trabalhavam mais de 400 profissi<strong>on</strong>ais. 181 Três anos mais tarde, o número de clínicas a<br />

céu aberto tinha passado para 150, com um número total aproximado de 750 funci<strong>on</strong>ários.<br />

182 Os feitos na área da educação primária e alfabetização de adultos, foram também,<br />

e a todos os títulos, impressi<strong>on</strong>antes. Por volta de 1966, mais de 10.000 estudantes<br />

estavam a participar nas aulas da FRELIMO e, por volta de 1970, esse número tinha<br />

triplicado. 183 Muito mais gente participou nos programas de alfabetização de adultos e,<br />

em 1974, havia cerca de 200 ”escolas de mato” nas z<strong>on</strong>as c<strong>on</strong>troladas pela FRELIMO, 184<br />

muitas vezes móveis, para escapar aos bombardeamentos dos portugueses.<br />

Por forma a transformar as z<strong>on</strong>as libertadas em entidades ec<strong>on</strong>omicamente viáveis,<br />

capazes de alimentar a população local e apoiar, simultaneamente, os combatentes da liberdade<br />

185 , a FRELIMO deu uma grande atenção à questão da produção agrícola. Foram<br />

introduzidos no país vários sistemas de cooperativas, e, quase sempre inspirados no modelo<br />

do PAIGC, foi criada uma ec<strong>on</strong>omia de troca de géneros, com as lojas do povo. 186<br />

Estas foram criadas em 1966, 187 como forma de fazer chegar aos camp<strong>on</strong>eses bens importados,<br />

tais como têxteis, ferramentas agrícolas e utensílios domésticos, que eram trocados<br />

por produtos agrícolas. Até ao início dos anos setenta, o sistema foi, c<strong>on</strong>tudo, afectado<br />

176. Situado logo a norte da fr<strong>on</strong>teira norte de Moçambique, o Hospital Dr. Américo Boavida serviu a população<br />

em geral das z<strong>on</strong>as libertadas de Cabo Delgado. Foi baptizado com o nome dum c<strong>on</strong>hecidíssimo médico angolano<br />

negro, assassinado num ataque de helicópteros portugueses ao MPLA, no leste de Angola, em 1968.<br />

177. Henriksen op. cit., p. 204.<br />

178. Instituto Moçambicano: Mozambique and <strong>the</strong> Mozambique Institute, 1972 (”Moçambique e o Instituto<br />

Moçambicano”), Dar es Salaam, [sem indicação de data], p. 1.<br />

179. Ibid, p. 57.<br />

180. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 95.<br />

181. Instituto Moçambicano op. cit., p. 6.<br />

182. Carta de Janet Rae M<strong>on</strong>dlane, Instituto Moçambicano, à Save <strong>the</strong> Children Federati<strong>on</strong>, [sem indicação de<br />

lugar], 4 de Abril de 1974 (AHM).<br />

183. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 93.<br />

184. Henriksen op. cit., p. 203.<br />

185. Em 1971, c<strong>on</strong>stava que a FRELIMO tinha 15.000 guerrilheiros e 20.000 aldeões c<strong>on</strong>stituídos em milícia<br />

paramilitar (Instituto Moçambicano op. cit., p. 1).<br />

186. Eram usadas as moedas portuguesa e tanzaniana, mas o instrumento de troca mais corrente era o sal (Instituto<br />

Moçambicano op. cit., p. 53). A partir de 1973, a Suécia forneceu grandes quantidades de sal à FRELIMO, à luz do<br />

programa sueco de ajuda humanitária.<br />

187. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 96.

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