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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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Portugal, África e Suécia<br />

Insurreições em Angola,<br />

reacções na Suécia<br />

Portugal foi a primeira das potências europeias a col<strong>on</strong>izar África e a última a retirar-se 1<br />

e esteve sempre agarrado a s<strong>on</strong>hos de um destino imperial e guiado pela mística do luso-<br />

-tropicalismo 2 . A ideia de que os portugueses tinham capacidades e vocações especiais<br />

para viver nos trópicos e assimilar povos de todas as raças numa única nação, Portugal,<br />

sob a ditadura de António Salazar, viria a opor-se veementemente ao processo de descol<strong>on</strong>ização.<br />

3 Após a incorporação c<strong>on</strong>stituci<strong>on</strong>al das suas colónias como ”províncias<br />

ultramarinas” em 1951 4 , um mecanismo destinado a perpetuar o domínio col<strong>on</strong>ial, Salazar<br />

não se limitou a opor-se à descol<strong>on</strong>ização, mas via mesmo o próprio c<strong>on</strong>ceito como<br />

ininteligível e, fosse como fosse, não aplicável ao caso de Portugal. Em Agosto de 1963,<br />

quase três anos após a Assembleia Geral das Nações Unidas ter adoptado a Declaração sobre<br />

a C<strong>on</strong>cessão da Independência aos Países e Povos Col<strong>on</strong>iais, mais de dois anos depois<br />

da eclosão da guerra em Angola e meses depois dos primeiros embates com o PAIGC na<br />

Guiné-Bissau, Salazar viria a declarar que<br />

não param de fazer pedidos para que haja descol<strong>on</strong>ização, que se diz ser a mais premente necessidade<br />

deste século e o mais importante trabalho que a humanidade pode empreender nos<br />

dias de hoje. Já que ninguém tentou definir esse termo, ainda não temos uma ideia c<strong>on</strong>creta<br />

do c<strong>on</strong>teúdo exacto de um tal fenómeno tão complexo. [...] No entanto, parece que a essência<br />

da descol<strong>on</strong>ização se pode enc<strong>on</strong>trar na transferência de poder do homem branco, <strong>on</strong>de ele o<br />

detém, para o negro, que o reclama e se lhe arroga o direito meramente por força da superioridade<br />

numérica. [...] Apesar de não ser um assunto que nos diga respeito, é difícil admitir esta<br />

tese, que c<strong>on</strong>sidera que na independência dos povos estão c<strong>on</strong>tidas todas as virtualidades, pelo<br />

que não é necessário tomar em c<strong>on</strong>ta a dimensão do território nem o número e o valor das<br />

populações nem dos recursos à disposição dos governantes para atingir o bem comum 5 .<br />

Ao mesmo tempo, Salazar descreveu o multiracialismo como sendo ”uma criação dos<br />

portugueses derivada, por um lado, do nosso carácter e, por outro, dos princípios morais<br />

1. Formalmente, o império col<strong>on</strong>ial britânico em África acabou com a independência do Zimbabué em 1980.<br />

2. A teoria do ”luso-tropicalismo” foi desenvolvida pelo antropólogo brasileiro Gilberto Freyre. Entre os seus principais<br />

críticos c<strong>on</strong>tava-se o líder do MPLA, o poeta e sociólogo Mário Pinto de Andrade, que, com o pseudónimo de<br />

Buanga Fele, analisou esta teoria num artigo (Qu’est-ce que le ”luso tropicalismo”? O Que é o ”luso-tropicalismo?”) na<br />

revista mensal parisiense Présence Africaine, em 1955 (Nº 4, Outubro-Novembro de 1955).<br />

3. Ec<strong>on</strong>omicamente atrasado e dependente das suas colónias, já foi dito que Portugal não podia proceder à descol<strong>on</strong>ização,<br />

já que, ao c<strong>on</strong>trário da Grã-Bretanha ou da França, não poderia ser um neo-col<strong>on</strong>izador (ver Norrie<br />

MacQueen: <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Decol<strong>on</strong>izati<strong>on</strong> of Portuguese Africa: Metropolitan Revoluti<strong>on</strong> and <strong>the</strong> Dissoluti<strong>on</strong> of Empire, L<strong>on</strong>gman,<br />

L<strong>on</strong>dres e Nova Iorque, 1997, p. 52).<br />

4. Para além dos territórios asiáticos de Macau (China), Goa (Índia) e Timor-Leste (Ind<strong>on</strong>ésia), o império col<strong>on</strong>ial<br />

português tinha, na altura, os territórios africanos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé<br />

e Príncipe.<br />

5. António Salazar: ”Declaração sobre Política Ultramarina”, 12 de Agosto de 1963 em Marcum op. cit., p. 289. 2<br />

Ibid., p. 285.

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