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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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198<br />

Tor Sellström<br />

tica, as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo quando, a 10 de Julho de 1973,<br />

o padre britânico Adrian Hastings publicou no jornal <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Times de L<strong>on</strong>dres informações<br />

recolhidas junto de missi<strong>on</strong>ários católicos espanhóis acerca de um massacre na aldeia<br />

de Wiriyamu, a sul da capital da província, Tete. De acordo com as f<strong>on</strong>tes citadas por<br />

Hastings”, 400 aldeões teriam sido assassinados por tropas paraquedistas portuguesas,<br />

em meados de 1972. 150 A informação foi publicada em ligação com a visita de estado do<br />

primeiro ministro português à Grã-Bretanha, em Julho de 1973. Esta informação não<br />

c<strong>on</strong>stituía o único relato de massacres em Moçambique, 151 l<strong>on</strong>ge disso, mas deu azo a um<br />

coro internaci<strong>on</strong>al de protestos. Na Suécia, essas notícias colocaram em marcha uma cadeia<br />

de reacções que isolaram ainda mais Portugal e reforçaram a causa da FRELIMO.<br />

Entrevistado pelo jornal vespertino social democrata Aft<strong>on</strong>bladet, o Ministro dos<br />

Negócios Estrangeiros Wickman anunciou, quatro dias após a publicação do relatório<br />

Hastings, que a Suécia ”vai iniciar uma acção política de grande alcance c<strong>on</strong>tra as guerras<br />

col<strong>on</strong>iais de Portugal em África”. 152 Aproveitou também para criticar os investimentos<br />

de empresas privadas suecas em Portugal, que definiu como ”ofensivos” e resultado de<br />

”especulações dúbias e de curto alcance”. 153 Nesse mesmo dia Wickman declarou aos microf<strong>on</strong>es<br />

da rádio sueca que, como primeiro passo, tinha solicitado a c<strong>on</strong>vocação de uma<br />

reunião extraordinária do Comité das Nações Unidas para a Descol<strong>on</strong>ização e que as trocas<br />

oficiais com Portugal, a nível ministerial estavam ”fora de questão”. 154 As notícias do<br />

massacre de Wiriyamu foram, ao mesmo tempo, recebidas com repulsa e indignação pela<br />

oposição liberal sueca. O futuro presidente do Partido Liberal e vice primeiro ministro,<br />

Per Ahlmark 155 , que já em 1961 havia c<strong>on</strong>denado as guerras col<strong>on</strong>iais portuguesas e a<br />

filiação do país na EFTA 156 , foi particularmente eloquente. Como reacção às notícias, escreveu<br />

uma carta aberta no jornal liberal Expressen, endereçada aos directores executivos<br />

das empresas suecas com interesses ec<strong>on</strong>ómicos relevantes em Portugal 157 , dizendo que<br />

c<strong>on</strong>tribuem para o prol<strong>on</strong>gamento dos banhos de sangue nas três z<strong>on</strong>as de África. Na prática,<br />

estão a dar ajuda ec<strong>on</strong>ómica ao regime de Caetano, para que este cometa genocídios. [...] Vão<br />

c<strong>on</strong>tinuar a injectar verbas na ec<strong>on</strong>omia portuguesa ou vão retirar novas c<strong>on</strong>clusões do debate<br />

e dos relatos da semana passada? 158<br />

150. A averiguação levada a cabo por Hastings foi publicada em 1974, na Grã-Bretanha, por Search Press com o<br />

título Wiriyamu. Foi publicada no mesmo ano em língua sueca (Adrian Hastings: Wiriyamu, Gummess<strong>on</strong>s Bokförlag,<br />

Falköping, 1974).<br />

151. Cf. ”Wiriyamu: Não foi um crime isolado” em Mozambique Revoluti<strong>on</strong>, Nº 55, Abril–Junho de 1973, pp.<br />

23–24.<br />

152. Gunnar Fredrikss<strong>on</strong>: ”Sverige till attack mot Portugals kol<strong>on</strong>ialkrig” (”A Suécia lança ataque c<strong>on</strong>tra as guerras<br />

col<strong>on</strong>iais portuguesas”), em Aft<strong>on</strong>bladet, 14 de Julho de 1973.<br />

153. Ibid.<br />

154. Ministério dos Negócios Estrangeiros: ”Intervju med utrikesminister Krister Wickman i Dagens Eko, 14.7<br />

1973” (”Entrevista com o Ministro dos Negócios Estrangeiros Krister Wickman no programa noticioso Dagens<br />

Eko, 14.7 1973”), Departamento de Imprensa, Estocolmo, 24 de Julho de 1973 (MFA).<br />

155. Era na altura presidente do Partido Liberal um deputado liberal de nome Ahlmark e foi-no entre 1975 e 1978.<br />

Foi vice primeiro ministro e Ministro do Trabalho entre 1976 e 1978.<br />

156. ”Portugal ur EFTA!” (”Portugal fora da EFTA!”), em Dagens Nyheter, 1 de Julho de 1961. Como jovem deputado<br />

do Partido Liberal na oposição, Ahlmark foi, em meados dos anos sessenta, o político sueco mais activo c<strong>on</strong>tra<br />

a presença de Portugal na EFTA e um firme apoiante da ajuda aos movimentos de libertação da África Austral. Num<br />

livro publicado em 1994, Vänstern och Tyranniet (”A Esquerda e a tirania”), Timbro, Estocolmo, criticou veementemente<br />

os ”companheiros de viagem” suecos de comunismo e totalitarismo durante o que ele chamou ”o quarto<br />

de século louco”, a partir do final dos anos sessenta e até ao início dos anos noventa. Com tudo isto, parece ter-se<br />

esquecido do seu passado político.<br />

157. As empresas eram: Algots, Billeruds, Eriksbergs, Gefa, Kockums, Mölnlycke, STAB, Wicanders e Öberg & Co.<br />

158. Per Ahlmark: ”Ni stöder portugisernas massmord” (”Estão a apoiar o genocídio praticado pelos portugueses”),

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