19.06.2013 Views

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A FRELIMO de Moçambique: Abrir um caminho<br />

de agrupar as populações em aldeias fortificadas, os chamados aldeamentos, estratégia<br />

esta que tinha sido aplicada em Cabo Delgado logo a seguir à eclosão da guerra. Logo<br />

em 1966, cerca de 250.000 pessoas foram transferidas para 150 aldeamentos. 24 O programa<br />

de deslocar à força populações africanas para ”p<strong>on</strong>tos fortes estratégicos” abrangia<br />

agora Niassa e Tete, daí resultando que, no final da década de sessenta, cerca de metade<br />

da população das três províncias estava aprisi<strong>on</strong>ada por detrás de arame farpado. 25 Esta<br />

política, que não teve mais êxito em Moçambique do que no Vietname, era aplicada em<br />

combinação com a estratégia que c<strong>on</strong>sistia em criar uma rede de comunidades europeias<br />

e paramilitares (os col<strong>on</strong>atos) em z<strong>on</strong>as de actividade de guerrilha. Para estancar a <strong>on</strong>da<br />

naci<strong>on</strong>alista, o governo de Lisboa previa deslocar um milhão de portugueses para o norte<br />

de Moçambique até ao ano 2000, c<strong>on</strong>centrando essa população ao l<strong>on</strong>go da margens do<br />

rio Zambeze. 26 Também este plano, no qual o esquema de Cahora Bassa teve um papel<br />

estratégico, falhou. Por volta de 1973, só algumas centenas de imigrantes portugueses<br />

pobres, especialmente oriundos da ilha da Madeira, tinham sido atraídos para os col<strong>on</strong>atos<br />

27 .<br />

O que veio sobretudo a verificar-se foi um reforço da presença e da actividade militar<br />

portuguesa. Em 1961, havia 4.000 soldados portugueses em Moçambique, aquartelados<br />

sobretudo nas capitais das províncias. 28 No início de 1969, o c<strong>on</strong>tingente atingia já os<br />

41.000 29 e no início da década de setenta ultrapassava os 70.000. 30 Com o apoio de uma<br />

tal força, o regime de Lisboa decidiu desferir um golpe final na FRELIMO, lançando a<br />

operação que recebeu o nome de código Nó Górdio e que decorreu de Maio a Outubro<br />

de 1970. 31 O homem escolhido para dar esse golpe foi o General Kaúlza de Arriaga que,<br />

desde o início da guerra em Angola, em 1961, tinha afirmado repetidamente que era necessário<br />

fazer um volumoso esforço de guerra nas ”províncias ultramarinas” portuguesas<br />

em África.<br />

Em Março de 1970, Kaúlza de Arriaga foi nomeado comandante militar de Moçambique,<br />

começando imediatamente a seguir a preparar o Nó Górdio, que se pretendia que<br />

fosse a maior campanha militar levada a cabo pelos portugueses em África durante as<br />

guerras de libertação naci<strong>on</strong>al, desde 1961 até 1974. 32 A operação Nó Górdio englobava<br />

ataques de paraquedistas às bases da FRELIMO em Cabo Delgado e Niassa, seguidos de<br />

operações em terra para cerca de 30.000 soldados 33 . No entanto, não c<strong>on</strong>seguiu alcançar<br />

o seu principal objectivo. ”Dispersando antes da carnificina, o grosso das forças de<br />

guerrilha da FRELIMO fugiu ou para norte através do Rovuma para a Tanzânia ou para<br />

24. Newitt op. cit., p. 525.<br />

25. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 101.<br />

26. Ibid.<br />

27. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 101. No sul de Moçambique, ou seja, fora das z<strong>on</strong>as de combate, o número de<br />

imigrantes portugueses aumentou, até ao golpe de 1974 em Lisboa. Entre 1950 e 1974, esse valor quadruplicou,<br />

passando das 50.000 para quase 200.000 pessoas (James Ciment: Angola and Mozambique: Postcol<strong>on</strong>ial Wars in<br />

Sou<strong>the</strong>rn Africa, Factos registados, Nova Iorque, 1997, p. 34).<br />

28. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 102.<br />

29. Carta de Gunnar Dryselius, embaixador da Suécia em Portugal, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lisboa,<br />

6 de Março de 1969 (MFA).<br />

30. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 102.<br />

31. Na altura da operação Nó Górdio, o regime de Lisboa sofreu um revés diplomático quando o vice presidente<br />

da FRELIMO, Marcelino dos Santos, bem como o presidente do MPLA, Agostinho Neto e o secretário geral do<br />

PAIGC, Amílcar Cabral foram recebidos a 1 de Julho de 1970 pelo Papa, no Vaticano (Roma).<br />

32. Cann op. cit., p. 80.<br />

33. MacQueen op. cit., p. 47.<br />

179

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!