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178 Tor Sellström FRELIMO, realizado em Julho de 1968, deu mais uma prova da sua oposição quando tentou impedir que quaisquer combatentes pela liberdade, vindos dos campos do movimento no sul da Tanzânia, entrassem na ”sua” província. 18 Confrontado com uma rebelião declarada, em inícios de Janeiro de 1969, o Comité Executivo da FRELIMO destituiu Nkavandame das funções que até então exercia. Este, com o apoio da polícia secreta portuguesa, a PIDE 19 , entrou imediatamente em Moçambique, onde se juntou ao regime colonial e, durante o resto da guerra, serviu como um dos principais agentes de propaganda de Lisboa. Pouco mais de um mês depois, Eduardo Mondlane é assassinado com recurso a uma carta armadilhada, que se sabe ter passado pelas mãos de pessoas ligadas a Nkavandame. Apesar dos assassinos nunca terem sido apanhados, existem provas circunstanciais que mostram que a PIDE esteve por detrás deste assassinato. 20 De acordo com a regra da antiguidade, deveria ter sido Uria Simango a suceder a Mondlane mas, dadas as suas ligações a Nkavandame e a Gwenjere, havia uma grande desconfiança à sua volta e, quando o Comité Central da FRELIMO se reuniu em Abril de 1969, Simango não conseguiu reunir os apoios necessários. Em vez disso, foi composto um triunvirato para o Conselho da Presidência, composto por Simango, pelo Secretário para Negócios Estrangeiros Marcelino dos Santos e pelo Comandante-em-Chefe Samora Machel. Esta troika instável não durou muito tempo. Em Novembro de 1969, Simango lançou uma polémica que teve muito eco, lançando ataques cerrados a dos Santos, a Machel, a Joaquim Chissano, a Janet Mondlane e outros, acusando-os a todos de conspirarem para o matar. 21 O Comité Executivo reagiu, suspendendo Simango do Conselho da Presidência. 22 Por fim, em Maio de 1970, o Comité Central elegeu Samora Machel 23 como presidente e Marcelino dos Santos como vice presidente da FRELIMO. Os portugueses, que tinham participado muito activamente nos acontecimentos que levaram ao assassinato de Mondlane, tentaram tirar partido da crise da FRELIMO. Nas zonas expostas às actividades nacionalistas foi aplicada de forma mais intensa a política 18. Em Dezembro de 1968, os seguidores de Nkavandame assassinaram Paulo Kankhomba, o chefe da casa militar de Samora Machel, quando este se preparava para atravessar o rio Rovuma. 19. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 98. 20. Rosa Casaco, um antigo agente da PIDE, confirmou em Fevereiro de 1998 a participação directa da PIDE (Expresso, 21 de Fevereiro de 1998). 21. Uria Simango: ”Situação sombria na FRELIMO”, [sem indicação de local], 3 de Novembro de 1969 (NAI). Janet Mondlane, branca e nascida nos EUA, era um alvo preferencial de Simango. No documento, este acusa-a de participação directa nos assassinatos, de ”ser uma enorme fonte de corrupção” e de ”ser um agente e um canal financeiro de actividades imperialistas, destinadas a paralisar da forma mais subtil a luta do povo de Moçambique contra o colonialismo e o imperialismo” (ibid.). 22. Simango viria em seguida a aderir ao COREMO, ocupando o cargo de secretário para as Relações Externas 23. O passado de Machel era diferente do da maioria dos líderes nacionalistas das colónias portuguesas. Nascido na provincial de Gaza, no sul de Moçambique, em 1933, frequentou uma escola rural católica e começou um curso de enfermagem em Lourenço Marques (Maputo) em 1952. Depois de se formar em 1954, Machel começou a trabalhar como enfermeiro a tempo inteiro na capital. Em 1961, conheceu Eduardo Mondlane, de visita a Lourenço Marques como funcionário das Nações Unidas, e ficou muito impressionado por ele. Por volta dessa mesma altura, a PIDE iniciou as suas operações em Moçambique. Colocado num dos lugares mais destacados da lista da PIDE, Machel saiu de Moçambique em Março de 1963. Viajou via Suazilândia, África do Sul e Botswana, e juntou-se à FRELIMO na Tanzânia, de onde seguiu para a Argélia, para receber treino militar. De volta à Tanzânia, em Abril de 1964 foi nomeado director do campo de treino militar da FRELIMO em Kongwa, orientando os preparativos para o lançamento da luta armada em Cabo Delgado, o que viria a suceder em Setembro desse mesmo ano. Machel entrou nas zonas em guerra em Novembro de 1965, abrindo uma frente de batalha na parte leste da província de Niassa. Foi subindo depressa na hierarquia, tendo sido nomeado secretário da Defesa em Novembro de 1966, juntando-se à elite da FRELIMO e trabalhando a partir do novo campo do movimento em Nachingwea, no sul da Tanzânia (Para mais informações sobre a vida de Samora Machel, consulte Christie op. cit.).
A FRELIMO de Moçambique: Abrir um caminho de agrupar as populações em aldeias fortificadas, os chamados aldeamentos, estratégia esta que tinha sido aplicada em Cabo Delgado logo a seguir à eclosão da guerra. Logo em 1966, cerca de 250.000 pessoas foram transferidas para 150 aldeamentos. 24 O programa de deslocar à força populações africanas para ”pontos fortes estratégicos” abrangia agora Niassa e Tete, daí resultando que, no final da década de sessenta, cerca de metade da população das três províncias estava aprisionada por detrás de arame farpado. 25 Esta política, que não teve mais êxito em Moçambique do que no Vietname, era aplicada em combinação com a estratégia que consistia em criar uma rede de comunidades europeias e paramilitares (os colonatos) em zonas de actividade de guerrilha. Para estancar a onda nacionalista, o governo de Lisboa previa deslocar um milhão de portugueses para o norte de Moçambique até ao ano 2000, concentrando essa população ao longo da margens do rio Zambeze. 26 Também este plano, no qual o esquema de Cahora Bassa teve um papel estratégico, falhou. Por volta de 1973, só algumas centenas de imigrantes portugueses pobres, especialmente oriundos da ilha da Madeira, tinham sido atraídos para os colonatos 27 . O que veio sobretudo a verificar-se foi um reforço da presença e da actividade militar portuguesa. Em 1961, havia 4.000 soldados portugueses em Moçambique, aquartelados sobretudo nas capitais das províncias. 28 No início de 1969, o contingente atingia já os 41.000 29 e no início da década de setenta ultrapassava os 70.000. 30 Com o apoio de uma tal força, o regime de Lisboa decidiu desferir um golpe final na FRELIMO, lançando a operação que recebeu o nome de código Nó Górdio e que decorreu de Maio a Outubro de 1970. 31 O homem escolhido para dar esse golpe foi o General Kaúlza de Arriaga que, desde o início da guerra em Angola, em 1961, tinha afirmado repetidamente que era necessário fazer um volumoso esforço de guerra nas ”províncias ultramarinas” portuguesas em África. Em Março de 1970, Kaúlza de Arriaga foi nomeado comandante militar de Moçambique, começando imediatamente a seguir a preparar o Nó Górdio, que se pretendia que fosse a maior campanha militar levada a cabo pelos portugueses em África durante as guerras de libertação nacional, desde 1961 até 1974. 32 A operação Nó Górdio englobava ataques de paraquedistas às bases da FRELIMO em Cabo Delgado e Niassa, seguidos de operações em terra para cerca de 30.000 soldados 33 . No entanto, não conseguiu alcançar o seu principal objectivo. ”Dispersando antes da carnificina, o grosso das forças de guerrilha da FRELIMO fugiu ou para norte através do Rovuma para a Tanzânia ou para 24. Newitt op. cit., p. 525. 25. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 101. 26. Ibid. 27. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 101. No sul de Moçambique, ou seja, fora das zonas de combate, o número de imigrantes portugueses aumentou, até ao golpe de 1974 em Lisboa. Entre 1950 e 1974, esse valor quadruplicou, passando das 50.000 para quase 200.000 pessoas (James Ciment: Angola and Mozambique: Postcolonial Wars in Southern Africa, Factos registados, Nova Iorque, 1997, p. 34). 28. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 102. 29. Carta de Gunnar Dryselius, embaixador da Suécia em Portugal, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lisboa, 6 de Março de 1969 (MFA). 30. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 102. 31. Na altura da operação Nó Górdio, o regime de Lisboa sofreu um revés diplomático quando o vice presidente da FRELIMO, Marcelino dos Santos, bem como o presidente do MPLA, Agostinho Neto e o secretário geral do PAIGC, Amílcar Cabral foram recebidos a 1 de Julho de 1970 pelo Papa, no Vaticano (Roma). 32. Cann op. cit., p. 80. 33. MacQueen op. cit., p. 47. 179
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FRELIMO, realizado em Julho de 1968, deu mais uma prova da sua oposição quando<br />
tentou impedir que quaisquer combatentes pela liberdade, vindos dos campos do movimento<br />
no sul da Tanzânia, entrassem na ”sua” província. 18<br />
C<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>tado com uma rebelião declarada, em inícios de Janeiro de 1969, o Comité<br />
Executivo da FRELIMO destituiu Nkavandame das funções que até então exercia. Este,<br />
com o apoio da polícia secreta portuguesa, a PIDE 19 , entrou imediatamente em Moçambique,<br />
<strong>on</strong>de se juntou ao regime col<strong>on</strong>ial e, durante o resto da guerra, serviu como um<br />
dos principais agentes de propaganda de Lisboa. Pouco mais de um mês depois, Eduardo<br />
M<strong>on</strong>dlane é assassinado com recurso a uma carta armadilhada, que se sabe ter passado<br />
pelas mãos de pessoas ligadas a Nkavandame. Apesar dos assassinos nunca terem sido<br />
apanhados, existem provas circunstanciais que mostram que a PIDE esteve por detrás<br />
deste assassinato. 20<br />
De acordo com a regra da antiguidade, deveria ter sido Uria Simango a suceder a<br />
M<strong>on</strong>dlane mas, dadas as suas ligações a Nkavandame e a Gwenjere, havia uma grande<br />
desc<strong>on</strong>fiança à sua volta e, quando o Comité Central da FRELIMO se reuniu em Abril<br />
de 1969, Simango não c<strong>on</strong>seguiu reunir os apoios necessários. Em vez disso, foi composto<br />
um triunvirato para o C<strong>on</strong>selho da Presidência, composto por Simango, pelo Secretário<br />
para Negócios Estrangeiros Marcelino dos Santos e pelo Comandante-em-Chefe<br />
Samora Machel. Esta troika instável não durou muito tempo. Em Novembro de 1969,<br />
Simango lançou uma polémica que teve muito eco, lançando ataques cerrados a dos<br />
Santos, a Machel, a Joaquim Chissano, a Janet M<strong>on</strong>dlane e outros, acusando-os a todos<br />
de c<strong>on</strong>spirarem para o matar. 21 O Comité Executivo reagiu, suspendendo Simango do<br />
C<strong>on</strong>selho da Presidência. 22 Por fim, em Maio de 1970, o Comité Central elegeu Samora<br />
Machel 23 como presidente e Marcelino dos Santos como vice presidente da FRELIMO.<br />
Os portugueses, que tinham participado muito activamente nos ac<strong>on</strong>tecimentos que<br />
levaram ao assassinato de M<strong>on</strong>dlane, tentaram tirar partido da crise da FRELIMO. Nas<br />
z<strong>on</strong>as expostas às actividades naci<strong>on</strong>alistas foi aplicada de forma mais intensa a política<br />
18. Em Dezembro de 1968, os seguidores de Nkavandame assassinaram Paulo Kankhomba, o chefe da casa militar<br />
de Samora Machel, quando este se preparava para atravessar o rio Rovuma.<br />
19. Isaacman e Isaacman op. cit., p. 98.<br />
20. Rosa Casaco, um antigo agente da PIDE, c<strong>on</strong>firmou em Fevereiro de 1998 a participação directa da PIDE<br />
(Expresso, 21 de Fevereiro de 1998).<br />
21. Uria Simango: ”Situação sombria na FRELIMO”, [sem indicação de local], 3 de Novembro de 1969 (NAI).<br />
Janet M<strong>on</strong>dlane, branca e nascida nos EUA, era um alvo preferencial de Simango. No documento, este acusa-a de<br />
participação directa nos assassinatos, de ”ser uma enorme f<strong>on</strong>te de corrupção” e de ”ser um agente e um canal financeiro<br />
de actividades imperialistas, destinadas a paralisar da forma mais subtil a luta do povo de Moçambique c<strong>on</strong>tra<br />
o col<strong>on</strong>ialismo e o imperialismo” (ibid.).<br />
22. Simango viria em seguida a aderir ao COREMO, ocupando o cargo de secretário para as Relações Externas<br />
23. O passado de Machel era diferente do da maioria dos líderes naci<strong>on</strong>alistas das colónias portuguesas. Nascido na<br />
provincial de Gaza, no sul de Moçambique, em 1933, frequentou uma escola rural católica e começou um curso de<br />
enfermagem em Lourenço Marques (Maputo) em 1952. Depois de se formar em 1954, Machel começou a trabalhar<br />
como enfermeiro a tempo inteiro na capital. Em 1961, c<strong>on</strong>heceu Eduardo M<strong>on</strong>dlane, de visita a Lourenço Marques<br />
como funci<strong>on</strong>ário das Nações Unidas, e ficou muito impressi<strong>on</strong>ado por ele. Por volta dessa mesma altura, a PIDE<br />
iniciou as suas operações em Moçambique. Colocado num dos lugares mais destacados da lista da PIDE, Machel<br />
saiu de Moçambique em Março de 1963. Viajou via Suazilândia, África do Sul e Botswana, e juntou-se à FRELIMO<br />
na Tanzânia, de <strong>on</strong>de seguiu para a Argélia, para receber treino militar. De volta à Tanzânia, em Abril de 1964 foi<br />
nomeado director do campo de treino militar da FRELIMO em K<strong>on</strong>gwa, orientando os preparativos para o lançamento<br />
da luta armada em Cabo Delgado, o que viria a suceder em Setembro desse mesmo ano. Machel entrou nas<br />
z<strong>on</strong>as em guerra em Novembro de 1965, abrindo uma frente de batalha na parte leste da província de Niassa. Foi<br />
subindo depressa na hierarquia, tendo sido nomeado secretário da Defesa em Novembro de 1966, juntando-se à elite<br />
da FRELIMO e trabalhando a partir do novo campo do movimento em Nachingwea, no sul da Tanzânia (Para mais<br />
informações sobre a vida de Samora Machel, c<strong>on</strong>sulte Christie op. cit.).