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174 Tor Sellström Os relacionamentos criados na Suécia por Eduardo e Janet Mondlane em meados da década de sessenta iam muito para além da ajuda humanitária, pois foram também criados contactos políticos estreitos, tanto com o Partido Social Democrata no poder, como com o Partido Liberal, na oposição. Os contactos de Mondlane com o Partido Social Democrata eram particularmente significativos. Depois de participar num congresso da Internacional Socialista em Estocolmo, em Maio de 1966, no qual o Partido Trabalhista britânico entrou em rota de colisão com os representantes convidados da ZANU e da ZAPU, por causa da Declaração Unilateral de Independência da Rodésia, o líder da FRELIMO escreveu uma carta ao secretário do partido, Sten Andersson, onde declarava que fiquei com a impressão no congresso que os socialistas da Europa Ocidental como um todo estão demasiado concentrados nos problemas do seu próprio continente para se interessarem pelos problemas do resto do mundo. A única excepção foi a atitude dos líderes do seu próprio partido. [...] Ficámos com a firme impressão de que os socialistas suecos não têm medo de ouvir os africanos falar, mas de que estão mesmo interessados em estimular um intercâmbio constante de ideias entre os dois continentes. [...] Se o Sr. me permitisse fazer uma sugestão relativa a este assunto, eu diria o seguinte: estimule-se o presente bom relacionamento entre o Partido Social Democrata sueco e muitos partidos socialistas africanos, especialmente na parte Leste de África e na África Austral. [...] Naquilo que a Moçambique diz respeito, a FRELIMO está firmemente interessada em cultivar um relacionamento especial com o seu partido. [...] Daí que eu gostaria de propor que um alto dignitário da FRELIMO seja convidado, oficial ou oficiosamente, a visitar a Suécia, para criar um centro de informação, que permita dar ao povo sueco e aos restantes escandinavos informação actualizada sobre Moçambique e para obter o máximo de ensinamentos possível junto do Partido Social Democrata sueco, quanto a actividades de organização, administração, informação e outras do partido, que possam depois ser aplicadas à estrutura da FRELIMO. 4 O interesse de Mondlane em criar um relacionamento especial com o partido no poder abriu um novo capítulo na interacção entre a Suécia e os movimentos de libertação da África Austral. A sua proposta foi a primeira iniciativa com motivações políticas no sentido de ter um representante de um movimento de libertação formalmente acreditado junto do Partido Social Democrata e, em todo o país. Lourenço Mutaca, secretário para os Assuntos Económicos e Financeiros da FRELIMO e, por conseguinte, responsável pelas actividades económicas nas zonas libertadas no norte de Moçambique, foi o homem escolhido para esse trabalho, tendo assumido o cargo no final de 1967, e dado um contributo efectivo para a consolidação do apoio popular à FRELIMO na Suécia e nos outros países nórdicos. 5 4. Carta de Eduardo Mondlane a Sten Andersson, Dar es Salaam, 2 de Junho de 1966 (AHM). Cf. a entrevista com Marcelino dos Santos, na qual o antigo vice presidente da FRELIMO declara que ”o relacionamento com a Suécia iniciou-se na reunião da Internacional Socialista em 1966” (pp. 47–48). 5. Activo e popular na Suécia, Mutaca demitiu-se surpreendentemente da FRELIMO durante o período da luta pela liderança pós-Mondlane. Uma vez que a FRELIMO não nomeou um sucessor de Mutaca, as relações oficiais com a Suécia (e com os outros países nórdicos) passaram a ser tratadas a nível da Embaixada em Dar es Salaam e através de visitas diplomáticas frequentes, levadas nomeadamente a cabo por Janet Mondlane. Tomando publicamente o partido de Uria Simango, Mutaca foi suspenso pela FRELIMO em meados de Fevereiro de 1970. Informando a Embaixada da Suécia em Dar es Salaam dessa decisão, Marcelino dos Santos explicou que a razão pela qual tinha havido um corte entre a FRELIMO e Mutaca era porque este se havia recusado a visitar as zonas libertadas no norte de Moçambique. Acrescentou, contudo, que Mutaca tinha ”feito um bom trabalho, tanto como Secretário das Finanças da FRELIMO e enquanto nosso representante na Suécia” (Telex da Embaixada da Suécia ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Dar es Salaam, 18 de Fevereiro de 1970) (MFA). Pouco antes do golpe em Lisboa, em Abril de 1974, Mutaca foi readmitido na FRELIMO.

A Directora Janet Rae Mondlane no seu gabinete no Instituto Moçambicano em Dar es Salaam no início dos anos setenta (Foto: Aftonbladet Bild) A FRELIMO de Moçambique: Abrir um caminho Fundada em 1962 como uma frente política alargada, a FRELIMO viu-se inicialmente confrontada com muitas contradições a nível interno mas, apesar disso, depois do início da luta armada na província 6 de Cabo Delgado em Setembro de 1964, as divisões ainda em aberto foram relegadas para segundo plano. Apesar das dissidências e do aparecimento de organizações rivais 7 , a FRELIMO conseguiu, no ano de 1965, avanços significativos no único campo realmente importante, ou seja, no interior de Moçambique, afirmando a existência do movimento naquilo que, na altura, se chamavam as ”zonas semi-libertadas” 8 em Cabo Delgado e Niassa, as duas províncias ao sul da fronteira com a Tanzânia. O movimento consolidou a sua posição como o verdadeiro movimento de libertação de Moçambique e foi confirmado como tal pela Organização de Unidade Africana. 9 A primeira moção apresentada no parlamento sueco para que se prestasse ajuda oficial directa a um movimento africano de libertação teve como objectivo que se ajudasse a FRELIMO, e foi apresentada pelo então designado Partido Comunista, em Janeiro de 1967. 10 Depois de repelir os contra-ataques dos militares portugueses, a FRELIMO viria, ao 6. Uma vez que Moçambique era oficialmente uma ”província” portuguesa, o termo ”distrito” fazia parte do jargão colonial. Nos primeiros documentos emitidos, a FRELIMO usa alternadamente os termos ”província” e ”distrito” para designar o mesmo território administrativo, o mesmo se aplicando ao MPLA em Angola. 7. Nomeadamente o Comité Revolucionário de Moçambique, COREMO, fundado em Junho de 1965. Apoiado pela República Popular da China, o COREMO fixou o seu quartel-general em Lusaca na Zâmbia, e levou a cabo uma campanha de guerrilha independente mas pouco eficaz no centro de Moçambique, nos finais da década de sessenta e início da de setenta. Logo em Junho de 1966, o COREMO enviou um primeiro pedido (não atendido) de apoio financeiro, ao governo sueco (Carta de Mazunzo M. Bobo, COREMO Secretário Nacional para os Negócios Estrangeiros, a Ernst Michanek, Director Geral da ASDI, Lusaca, 15 de Junho de 1966) (SDA). Tendo inicialmente sido alvo de alguma atenção por parte do movimento de solidariedade sueco, o COREMO voltou a pedir ajuda oficial à Suécia em Janeiro de 1969 (Carta de Olof Kaijser, embaixador sueco na Zâmbia, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lusaca, 10 de Janeiro de 1969) (MFA). A resposta breve, dada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros em Estocolmo foi, contudo, que ”o COREMO não deverá ser incluído entre os possíveis destinatários de ajuda sueca” (Carta de Per Anger à embaixada sueca em Lusaca, 22 de Janeiro de 1969) (MFA). 8. Iain Christie: Machel of Mozambique, Zimbabwe Publishing House, Harare, 1988, p. 37. 9. A FRELIMO foi reconhecida pela OUA em 1963. 10. Parlamento sueco 1967: Moção nº. 466 na Câmara Segunda (Werner) e Moção nº 590 na Câmara Primeira (Hector e outros), Riksdagens Protokoll, 1967, pp. 1–2. 175

A Directora Janet Rae<br />

M<strong>on</strong>dlane no seu gabinete<br />

no Instituto Moçambicano<br />

em Dar es Salaam no início<br />

dos anos setenta<br />

(Foto: Aft<strong>on</strong>bladet Bild)<br />

A FRELIMO de Moçambique: Abrir um caminho<br />

Fundada em 1962 como uma frente política alargada, a FRELIMO viu-se inicialmente<br />

c<strong>on</strong>fr<strong>on</strong>tada com muitas c<strong>on</strong>tradições a nível interno mas, apesar disso, depois<br />

do início da luta armada na província 6 de Cabo Delgado em Setembro de 1964, as divisões<br />

ainda em aberto foram relegadas para segundo plano. Apesar das dissidências e do<br />

aparecimento de organizações rivais 7 , a FRELIMO c<strong>on</strong>seguiu, no ano de 1965, avanços<br />

significativos no único campo realmente importante, ou seja, no interior de Moçambique,<br />

afirmando a existência do movimento naquilo que, na altura, se chamavam as ”z<strong>on</strong>as<br />

semi-libertadas” 8 em Cabo Delgado e Niassa, as duas províncias ao sul da fr<strong>on</strong>teira<br />

com a Tanzânia. O movimento c<strong>on</strong>solidou a sua posição como o verdadeiro movimento<br />

de libertação de Moçambique e foi c<strong>on</strong>firmado como tal pela Organização de Unidade<br />

Africana. 9 A primeira moção apresentada no parlamento sueco para que se prestasse<br />

ajuda oficial directa a um movimento africano de libertação teve como objectivo que se<br />

ajudasse a FRELIMO, e foi apresentada pelo então designado Partido Comunista, em<br />

Janeiro de 1967. 10<br />

Depois de repelir os c<strong>on</strong>tra-ataques dos militares portugueses, a FRELIMO viria, ao<br />

6. Uma vez que Moçambique era oficialmente uma ”província” portuguesa, o termo ”distrito” fazia parte do jargão<br />

col<strong>on</strong>ial. Nos primeiros documentos emitidos, a FRELIMO usa alternadamente os termos ”província” e ”distrito”<br />

para designar o mesmo território administrativo, o mesmo se aplicando ao MPLA em Angola.<br />

7. Nomeadamente o Comité Revoluci<strong>on</strong>ário de Moçambique, COREMO, fundado em Junho de 1965. Apoiado<br />

pela República Popular da China, o COREMO fixou o seu quartel-general em Lusaca na Zâmbia, e levou a cabo<br />

uma campanha de guerrilha independente mas pouco eficaz no centro de Moçambique, nos finais da década de<br />

sessenta e início da de setenta. Logo em Junho de 1966, o COREMO enviou um primeiro pedido (não atendido) de<br />

apoio financeiro, ao governo sueco (Carta de Mazunzo M. Bobo, COREMO Secretário Naci<strong>on</strong>al para os Negócios<br />

Estrangeiros, a Ernst Michanek, Director Geral da ASDI, Lusaca, 15 de Junho de 1966) (SDA). Tendo inicialmente<br />

sido alvo de alguma atenção por parte do movimento de solidariedade sueco, o COREMO voltou a pedir<br />

ajuda oficial à Suécia em Janeiro de 1969 (Carta de Olof Kaijser, embaixador sueco na Zâmbia, ao Ministério dos<br />

Negócios Estrangeiros, Lusaca, 10 de Janeiro de 1969) (MFA). A resposta breve, dada pelo Ministério dos Negócios<br />

Estrangeiros em Estocolmo foi, c<strong>on</strong>tudo, que ”o COREMO não deverá ser incluído entre os possíveis destinatários<br />

de ajuda sueca” (Carta de Per Anger à embaixada sueca em Lusaca, 22 de Janeiro de 1969) (MFA).<br />

8. Iain Christie: Machel of Mozambique, Zimbabwe Publishing House, Harare, 1988, p. 37.<br />

9. A FRELIMO foi rec<strong>on</strong>hecida pela OUA em 1963.<br />

10. Parlamento sueco 1967: Moção nº. 466 na Câmara Segunda (Werner) e Moção nº 590 na Câmara Primeira<br />

(Hector e outros), Riksdagens Protokoll, 1967, pp. 1–2.<br />

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