Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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Tor Sellström<br />
Os relaci<strong>on</strong>amentos criados na Suécia por Eduardo e Janet M<strong>on</strong>dlane em meados<br />
da década de sessenta iam muito para além da ajuda humanitária, pois foram também<br />
criados c<strong>on</strong>tactos políticos estreitos, tanto com o Partido Social Democrata no poder,<br />
como com o Partido Liberal, na oposição. Os c<strong>on</strong>tactos de M<strong>on</strong>dlane com o Partido<br />
Social Democrata eram particularmente significativos. Depois de participar num c<strong>on</strong>gresso<br />
da Internaci<strong>on</strong>al Socialista em Estocolmo, em Maio de 1966, no qual o Partido<br />
Trabalhista britânico entrou em rota de colisão com os representantes c<strong>on</strong>vidados da<br />
ZANU e da ZAPU, por causa da Declaração Unilateral de Independência da Rodésia, o<br />
líder da FRELIMO escreveu uma carta ao secretário do partido, Sten Anderss<strong>on</strong>, <strong>on</strong>de<br />
declarava que<br />
fiquei com a impressão no c<strong>on</strong>gresso que os socialistas da Europa Ocidental como um todo<br />
estão demasiado c<strong>on</strong>centrados nos problemas do seu próprio c<strong>on</strong>tinente para se interessarem<br />
pelos problemas do resto do mundo. A única excepção foi a atitude dos líderes do seu próprio<br />
partido. [...] Ficámos com a firme impressão de que os socialistas suecos não têm medo de<br />
ouvir os africanos falar, mas de que estão mesmo interessados em estimular um intercâmbio<br />
c<strong>on</strong>stante de ideias entre os dois c<strong>on</strong>tinentes. [...] Se o Sr. me permitisse fazer uma sugestão<br />
relativa a este assunto, eu diria o seguinte: estimule-se o presente bom relaci<strong>on</strong>amento entre o<br />
Partido Social Democrata sueco e muitos partidos socialistas africanos, especialmente na parte<br />
Leste de África e na África Austral. [...]<br />
Naquilo que a Moçambique diz respeito, a FRELIMO está firmemente interessada em cultivar<br />
um relaci<strong>on</strong>amento especial com o seu partido. [...] Daí que eu gostaria de propor que um<br />
alto dignitário da FRELIMO seja c<strong>on</strong>vidado, oficial ou oficiosamente, a visitar a Suécia, para<br />
criar um centro de informação, que permita dar ao povo sueco e aos restantes escandinavos<br />
informação actualizada sobre Moçambique e para obter o máximo de ensinamentos possível<br />
junto do Partido Social Democrata sueco, quanto a actividades de organização, administração,<br />
informação e outras do partido, que possam depois ser aplicadas à estrutura da FRELIMO. 4<br />
O interesse de M<strong>on</strong>dlane em criar um relaci<strong>on</strong>amento especial com o partido no poder<br />
abriu um novo capítulo na interacção entre a Suécia e os movimentos de libertação da<br />
África Austral. A sua proposta foi a primeira iniciativa com motivações políticas no sentido<br />
de ter um representante de um movimento de libertação formalmente acreditado<br />
junto do Partido Social Democrata e, em todo o país. Lourenço Mutaca, secretário para<br />
os Assuntos Ec<strong>on</strong>ómicos e Financeiros da FRELIMO e, por c<strong>on</strong>seguinte, resp<strong>on</strong>sável<br />
pelas actividades ec<strong>on</strong>ómicas nas z<strong>on</strong>as libertadas no norte de Moçambique, foi o homem<br />
escolhido para esse trabalho, tendo assumido o cargo no final de 1967, e dado um<br />
c<strong>on</strong>tributo efectivo para a c<strong>on</strong>solidação do apoio popular à FRELIMO na Suécia e nos<br />
outros países nórdicos. 5<br />
4. Carta de Eduardo M<strong>on</strong>dlane a Sten Anderss<strong>on</strong>, Dar es Salaam, 2 de Junho de 1966 (AHM). Cf. a entrevista com<br />
Marcelino dos Santos, na qual o antigo vice presidente da FRELIMO declara que ”o relaci<strong>on</strong>amento com a Suécia<br />
iniciou-se na reunião da Internaci<strong>on</strong>al Socialista em 1966” (pp. 47–48).<br />
5. Activo e popular na Suécia, Mutaca demitiu-se surpreendentemente da FRELIMO durante o período da luta pela<br />
liderança pós-M<strong>on</strong>dlane. Uma vez que a FRELIMO não nomeou um sucessor de Mutaca, as relações oficiais com<br />
a Suécia (e com os outros países nórdicos) passaram a ser tratadas a nível da Embaixada em Dar es Salaam e através<br />
de visitas diplomáticas frequentes, levadas nomeadamente a cabo por Janet M<strong>on</strong>dlane. Tomando publicamente o<br />
partido de Uria Simango, Mutaca foi suspenso pela FRELIMO em meados de Fevereiro de 1970. Informando a<br />
Embaixada da Suécia em Dar es Salaam dessa decisão, Marcelino dos Santos explicou que a razão pela qual tinha<br />
havido um corte entre a FRELIMO e Mutaca era porque este se havia recusado a visitar as z<strong>on</strong>as libertadas no norte<br />
de Moçambique. Acrescentou, c<strong>on</strong>tudo, que Mutaca tinha ”feito um bom trabalho, tanto como Secretário das Finanças<br />
da FRELIMO e enquanto nosso representante na Suécia” (Telex da Embaixada da Suécia ao Ministério dos<br />
Negócios Estrangeiros, Dar es Salaam, 18 de Fevereiro de 1970) (MFA). Pouco antes do golpe em Lisboa, em Abril<br />
de 1974, Mutaca foi readmitido na FRELIMO.