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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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162<br />

Tor Sellström<br />

bro de 1972 133 e apenas dois meses depois, a 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi<br />

assassinado. 134<br />

Nessa altura, a cooperação com o PAIGC estava já firmemente enraizada. O assassinato<br />

de Cabral não provocou uma crise aberta no movimento de libertação, que fizesse<br />

com que o governo sueco tivesse de suspender a ajuda, como ac<strong>on</strong>teceu aquando do<br />

assassinato do presidente da FRELIMO, Eduardo M<strong>on</strong>dlane, em Fevereiro de 1969.<br />

Tanto o sucessor de Cabral no cargo de secretário geral (Aristides Pereira), como o seu<br />

irmão Luís Cabral, que viria a ser eleito presidente da Guiné-Bissau independente, tinham<br />

trabalhado desde o início, de forma estreita, com a ASDI e, a seguir ao assassinato,<br />

ficaram com os seus c<strong>on</strong>tactos junto da agência de ajuda. 135 A ASDI retomou as remessas<br />

de ajuda para C<strong>on</strong>acri logo em meados de Fevereiro de 1973. 136<br />

A morte de Cabral teve um profundo impacto na Suécia. 137 Descrito como o ”mais<br />

profundo, do p<strong>on</strong>to de vista teórico, dos líderes naci<strong>on</strong>alistas da África portuguesa” 138 ,<br />

tinha capacidades extraordinárias para c<strong>on</strong>seguir apoios para o PAIGC num espectro<br />

político vasto, da esquerda não-parlamentar ao Partido Liberal. Ao l<strong>on</strong>go do tempo aproximou-se<br />

muito da liderança social democrata, à volta da pessoa do primeiro ministro<br />

Palme, mas tinha relações calorosas com a ASDI e com o movimento de solidariedade.<br />

Dizendo que ”a ideologia era, acima de tudo, saber o que se pretendia nas circunstâncias<br />

particulares em que se estava” 139 , as suas ideias seriam, c<strong>on</strong>tudo, muitas vezes citadas, mas<br />

também destorcidas, em prol de determinadas posições políticas.<br />

133. De acordo com Aristides Pereira, que visitou Estocolmo no início de Janeiro de 1973, o afastamento de Silveira<br />

foi uma ”medida disciplinar”, motivada pelo facto deste se ter recusado a viajar para a Guiné, para debates com<br />

o PAIGC. C<strong>on</strong>tudo, o movimento estava ”muito satisfeito com o trabalho feito por Silveira na Suécia” (Anders<br />

Möllander: Memorando (”Minnesanteckningar från besök 1973 01 02 av Aristides Pereira, PAIGC”/”Notas da<br />

visita de 1973 01 02 de Aristides Pereira, PAIGC”), Estocolmo, 4 de Janeiro de 1973) (SDA). O novo representante<br />

do PAIGC, Gil Fernandes, foi apresentado por carta de Aristides Pereira pouco tempo depois (Carta de Aristides<br />

Pereira à ASDI, C<strong>on</strong>acri, 11 de Janeiro de 1973) (SDA). Fez a sua primeira visita à ASDI em meados de Fevereiro<br />

de 1973, na companhia de Fernando Cabral, irmão do líder do PAIGC recentemente assassinado (Carta (”Svenskt<br />

varubistånd till PAIGC”/”Ajuda sueca em géneros ao PAIGC”) de Marianne Rappe, ASDI a Gun-Britt Anderss<strong>on</strong>,<br />

Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 26 de Fevereiro de 1973) (SDA). Em resumo, quanto à representação<br />

do PAIGC na Suécia, não houve grandes quebras no relaci<strong>on</strong>amento. Silveira veio depois a trabalhar para as<br />

Nações Unidas em vários países africanos. Em Novembro de 1998 formou um novo partido político, o Partido do<br />

Trabalho e da Solidariedade (PTS) em Cabo Verde, seu país de origem.<br />

134. O governo português sabia do plano do PAIGC de declarar a Guiné-Bissau independente em 1973, e receava<br />

que isso se traduzisse num aumento da pressão no sentido de se fazer a descol<strong>on</strong>ização em Angola e Moçambique, e<br />

num desafio à sua autoridade em Portugal. O assassinato de Cabral resultou duma operação iniciada pela PIDE, que<br />

c<strong>on</strong>tou com a ajuda de um grupo de dissidentes do PAIGC. Cabral foi alvejado a tiro em pleno dia, em frente ao<br />

gabinete do PAIGC em C<strong>on</strong>acri, por um antigo comandante naval do PAIGC (ver Chabal op. cit., pp. 132–43).<br />

135. Aristides Pereira foi c<strong>on</strong>firmado como novo secretário geral e Luís Cabral como vice secretário geral, no c<strong>on</strong>gresso<br />

do PAIGC realizado no Boé (no leste da Guiné-Bissau) em Julho de 1973.<br />

136. Carta (”Svenskt varubistånd till PAIGC”/”Ajuda sueca em géneros ao PAIGC”) de Marianne Rappe, ASDI<br />

para Gun-Britt Anderss<strong>on</strong>, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 26 de Fevereiro de 1973 (SDA).<br />

137. A memória de Cabral foi objecto de homenagem, entre outras, do primeiro ministro Palme, no parlamento<br />

(”Extracto do discurso de abertura do primeiro ministro, Olof Palme, no debate político na generalidade, Riksdag”,<br />

31 de Janeiro de 1973, em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents <strong>on</strong> Swedish Foreign Pollicy: 1973,<br />

Estocolmo, 1976, pp. 19–20). Palme tinha já enviado as suas c<strong>on</strong>dolências ao PAIGC e à viúva do secretário geral<br />

assassinado, caracterizando-o como ”um dos líderes mais proeminentes do Terceiro Mundo” (Telegrama do Ministro<br />

dos Negócios Estrangeiros à delegação sueca nas Nações Unidas em Nova Iorque, Estocolmo, 22 de Janeiro de 1973)<br />

(MFA). Mostra das tensas relações entre o movimento de solidariedade e o governo nessa altura é a forma como os<br />

pêsames de Palme foram descritos pelos Grupos de África, ou seja, como ”uma desagradável tentativa de tirar partido<br />

do bom nome e da reputação do PAIGC, à escala mundial, num momento de dor” (Södra Afrika Informati<strong>on</strong>sbulletin,<br />

No. 19, 1973, p. 9).<br />

138. MacQueen op. cit., p. 21.<br />

139. Carlos Lopes: Guinea Bissau: From Liberati<strong>on</strong> <strong>Struggle</strong> to Independent Statehood, Westview Press, Boulder,<br />

Colorado and Zed <str<strong>on</strong>g>Book</str<strong>on</strong>g>s, L<strong>on</strong>dres e New Jersey, 1987, pp. 57–58.

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