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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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160<br />

Tor Sellström<br />

Afinal, a definição de ajuda ”civil”, ou ”não-militar” era feita de forma abrangente. Quando<br />

Amílcar Cabral pediu à ASDI, em Julho de 1971, que fornecesse uma estação móvel<br />

de rádio para ajudar os esforços de educação do PAIGC 120 , o pedido foi aprovado sem<br />

desc<strong>on</strong>fiança. A estação viria a ser m<strong>on</strong>tada em dois camiões Mercedes Benz, também<br />

fornecidos pela Suécia. Os dois transmissores e o equipamento de estúdio respectivo foram<br />

adquiridos em Março de 1972. Depois de instalado e da firma de c<strong>on</strong>sultoria oficial<br />

(a SWEDTEL 121 ) ter dado formação ao pessoal do PAIGC, o movimento de libertação<br />

pôde iniciar, a 19 de Setembro de 1972, as emissões regulares para a Guiné-Bissau e Cabo<br />

Verde, a partir de vários locais no norte da Guiné. 122<br />

C<strong>on</strong>tudo, no início da ajuda aos movimentos de libertação, deu-se uma discussão<br />

mais importante quanto ao fornecimento de veículos, nomeadamente de camiões. Anders<br />

Möllander, o secretário do Comité C<strong>on</strong>sultivo para a Ajuda Humanitária, acompanhou<br />

de perto esse debate, e escreveu mais tarde que ”alguns argumentavam que meios<br />

de transporte tais como camiões poderiam sempre ser usados para fins militares e que,<br />

por isso mesmo, não deveriam ser incluídos na ajuda sueca”. 123 O c<strong>on</strong>tra-argumento do<br />

PAIGC e dos movimentos de libertação na África Austral era que não poderiam deslocar<br />

nem distribuir os bens recebidos sem uma capacidade de transporte adequada. Este último<br />

p<strong>on</strong>to de vista vingou e Lövgren comentou depois<br />

a principal razão pela qual acabámos por fornecer camiões foi porque as mercadorias fornecidas<br />

pela ASDI tinham de ser transportadas de uma forma ou doutra, dos portos para os armazéns<br />

nas bases do PAIGC. Afinal, chegámos à c<strong>on</strong>clusão de que seria razoável disp<strong>on</strong>ibilizar<br />

um número limitado de camiões ao mesmo tempo que fornecíamos grandes quantidades de<br />

comida. [...] Daí que tenhamos fornecido Land Rovers e outros veículos de tracção às quatro<br />

rodas. Decorridos alguns anos, esse assunto deixou de merecer discussão, e até fornecemos<br />

veículos das marcas Volvo e Scania, especialmente c<strong>on</strong>cebidos para as forças armadas suecas,<br />

mas que também estavam disp<strong>on</strong>íveis em versão ”civil”. 124<br />

Na verdade, a disp<strong>on</strong>ibilização de veículos ocupava um lugar relevante, e muito apreciado,<br />

no c<strong>on</strong>texto da ajuda do governo sueco aos movimentos de libertação. 125 No caso<br />

do PAIGC, a comp<strong>on</strong>ente dos transportes representava já em 1970–71 cerca de 11 por<br />

Diário de Notícias, 19 de Janeiro de 1971).<br />

120. Carta de Amílcar Cabral à ASDI, C<strong>on</strong>acri, 28 de Julho de 1971 (SDA).<br />

121. Swedish Telecommunicati<strong>on</strong> C<strong>on</strong>sulting AB, Uma subsidiária da Swedish Telecommunicati<strong>on</strong>s Administrati<strong>on</strong>.<br />

122. SWEDTEL: ”Estações de radiodifusão na Guiné: Relatório final”, Estocolmo, Dezembro de 1972 (SDA). Em<br />

c<strong>on</strong>sequência, centenas de rádio-transmissores foram fornecidos pela ASDI às z<strong>on</strong>as libertadas na Guiné-Bissau.<br />

123. Möllander op. cit., p. 18.<br />

124. Entrevista com Stig Lövgren, p. 310.<br />

125. C<strong>on</strong>sultar, por exemplo, as entrevistas com Aar<strong>on</strong> Mushimba da SWAPO (p. 84) e com Kumbirai Kangai<br />

da ZANU (p. 213–14). Apesar de não estar ligado à parte da aquisição por c<strong>on</strong>curso público na Suécia, o apoio<br />

aos transportes viria a beneficiar, ao l<strong>on</strong>go dos anos, empresas como a Scania e a Volvo, às quais os movimentos<br />

de libertação davam muitas vezes preferência sobre outras empresas. Por exemplo, quando o presidente do MPLA,<br />

Agostinho Neto e o primeiro ministro Olof Palme se enc<strong>on</strong>traram em Lusaca, na Zâmbia, em Setembro de 1971,<br />

Neto reagiu às notícias que diziam que a ASDI iria fornecer camiões alemães ou franceses ao seu movimento, dizendo<br />

”não entender porque não iriam ser entregues veículos suecos em vez desses” (Pierre Schori: Memorando,<br />

Estocolmo, 1 de Outubro de 1971) (MFA). Para além de camiões Scania e Volvo, a ASDI fornecia muitos veículos<br />

pesados alemães (Mercedes Benz) e franceses (Berliet). Os fabricantes britânicos (Land Rover) e jap<strong>on</strong>eses (Toyota)<br />

dominavam o sector dos veículos ligeiros de tracçãoàs quarto rodas. Em retrospectiva, o antigo chefe do departamento<br />

de aprovisi<strong>on</strong>amento da ASDI, Stig Lövgren, fez o seguinte comentário em 1996: ”Se há uma coisa que lamento<br />

bastante foi o facto de termos fornecido camiões suecos aos movimentos de libertação, pois devíamos ter fornecido<br />

camiões russos. Na altura, podíamos obter quase três camiões russos pelo preço de um sueco [...]. Foi um verdadeiro<br />

desperdício de dinheiro. Eles não deviam ter recebido um número tão elevado destas máquinas suecas, tão técnicas e<br />

tão sofisticadas, mas sim camiões o mais simples possível” (Entrevista com Stig Lövgren, p. 315).

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