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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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com a possibilidade de serem usadas<br />

para matar pessoas e dissemolo.<br />

Amílcar Cabral pegou numa<br />

caneta e escreveu: ”Isto é também<br />

uma arma...”. 116<br />

Que até uma mercadoria tão<br />

obviamente não-militar como<br />

a sardinha pudesse ter um papel<br />

importante a desempenhar, num<br />

sentido mais lato, na luta de libertação,<br />

era algo que ficaria bastante<br />

claro mais adiante. Numa entrevista<br />

dada em 1996, Lövgren chamava<br />

a atenção para o seguinte:<br />

O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno<br />

Alimentos e propaganda: Sardinhas da Suécia com etiqueta<br />

do PAIGC (Stig Lövgren)<br />

Fornecemos uma grande quantidade<br />

de alimentos ao PAIGC, especialmente comida enlatada. A uma dada altura comprámos<br />

cerca de cem t<strong>on</strong>eladas de peixe enlatado, uma quantidade significativa, a uma fábrica sueca. O<br />

fornecedor, a Strömstad Canning, perguntou-me se queríamos pôr algum rótulo especial neste<br />

lote. Pensei que não era má ideia e c<strong>on</strong>tactei o Onésimo Silveira que, na altura, era o representante<br />

do PAIGC na Suécia. Ele ficou entusiasmadíssimo com a ideia! Só depois percebi o<br />

porquê de tanta alegria. Ele decidiu colocar no rótulo a bandeira do PAIGC e o texto ”das z<strong>on</strong>as<br />

libertadas da Guiné-Bissau”. Anos depois, disseram que o PAIGC tinha arranjado maneira<br />

destas latas aparecerem em vários locais ainda na posse dos portugueses. Até c<strong>on</strong>seguiram distribuir<br />

algumas latas na capital, Bissau. Podem imaginar a eficácia desta arma psicológica. 117<br />

As autoridades suecas não tardariam c<strong>on</strong>tudo a, ”de uma forma aproximada, equaci<strong>on</strong>ar<br />

ajuda humanitária com ajuda civil” 118 e, segundo Lövgren, ”ao fim e ao cabo, não demos<br />

qualquer atenção ao problema. De facto, nós não fornecíamos armas nem munições”. 119<br />

116. Entrevista com Stig Lövgren, p. 310.<br />

117. Ibid. Uma das muitas ir<strong>on</strong>ias da guerra na Guiné-Bissau era que as sardinhas em lata, um produto tipicamente<br />

português, tinham de ser adquiridas na Suécia e enviadas para este país, tão rico em peixe. As latas pesavam 225<br />

gramas cada. A ”remessa de propaganda” com a bandeira do PAIGC era composta por cerca de 400.000 latas. Não<br />

é portanto de admirar que o PAIGC tenha reencaminhado parte do lote dos armazéns do povo para as z<strong>on</strong>as detidas<br />

pelos portugueses. Para além de estar mal escrita (”z<strong>on</strong>as libertas” em vez da expressão correcta, que seria ”z<strong>on</strong>as<br />

libertadas”) a etiqueta identificava claramente o fornecedor sueco, mas também a Suécia como país de origem. Os<br />

armazéns do povo recebiam também cigarros, produzidos na Suécia com o rótulo propagandístico Nô Pintcha, tendo<br />

o PAIGC sido também, neste caso, o autor da embalagem. O fornecimento deste produto não de primeira necessidade<br />

à luz do protocolo de ajuda humanitária foi fortemente criticado. A Associação Naci<strong>on</strong>al Sueca de Informação<br />

sobre os Malefícios do Tabaco (Nati<strong>on</strong>alföreningen för upplysning om tobakens skadeverkningar, NTS) enviou uma<br />

carta ao Ministro sueco para a Cooperação Internaci<strong>on</strong>al para o Desenvolvimento, a Sra. Gertrud Sigurdsen, exigindo<br />

que ”instruísse imediatamente a ASDI para que substituísse a planeada operação de exportação de cigarros para<br />

a Guiné-Bissau por ajuda em bens mais de primeira necessidade” (Carta de Eric Carlens e Lars Ramström, NTS, a<br />

Gertrud Sigurdsen, Estocolmo, 25 de Junho de 1974) (SDA). Vendo que os cigarros representavam apenas 185.000<br />

coroas suecas, de uma dotação total para o PAIGC de 15 milhões, e vendo também que desempenhavam um papel<br />

importante na ec<strong>on</strong>omia de troca directa dos armazéns do povo, a ministra resp<strong>on</strong>deu que os bens para os armazéns<br />

do povo faziam parte integrante do ”apoio explícito dado pela Suécia ao trabalho dos movimentos de libertação”<br />

e que ”em todos os casos deste tipo, tem de ficar à resp<strong>on</strong>sabilidade da ASDI a avaliação da adequação ou não do<br />

fornecimento de tais produtos” (Carta de Gertrud Sigurdsen a NTS, Estocolmo, 2 de Julho de 1974) (SDA). Cf.<br />

Möllander op. cit., pp. 16–17 e entrevista com Stig Lövgren, pp. 310–11).<br />

118. Möllander op. cit., p. 17.<br />

119. Entrevista com Stig Lövgren, p. 310. Em Portugal, <strong>on</strong>de se registaram as reacções mais veementes c<strong>on</strong>tra o alargamento<br />

da ajuda aos movimentos de libertação, nunca se aceitou o carácter humanitário da ajuda. O jornal Diário<br />

de Notícias dava nota, por exemplo, no início de 1971, que as exportações suecas de canivetes aos ”terroristas” em<br />

África tinha aumentado c<strong>on</strong>sideravelmente (Diário de Notícias, 16 de Janeiro de 1971). Pegou-se nisso como prova<br />

das intenções beligerantes da Suécia (c<strong>on</strong>sultar o editorial ”O apoio do Sr. Olof Palme ao terrorismo em África” em<br />

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