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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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158<br />

Tor Sellström<br />

representação da ASDI em C<strong>on</strong>acri, as negociações anuais da ajuda realizavam-se sobretudo<br />

em Estocolmo. Amílcar Cabral tinha um interesse muito particular nos debates, nos<br />

quais participava pessoalmente e, a princípio, chefiava ele mesmo as sucessivas delegações<br />

do PAIGC. Stig Lövgren recordaria mais tarde a forma como Cabral<br />

vinha a Estocolmo. Alojava-se num hotel com um nome falso, por razões de segurança e<br />

trabalhava c<strong>on</strong>nosco, na ASDI, para fazer uma lista de bens, de mercadorias, equipamentos,<br />

etc. de que o movimento necessitava. Era um procedimento muito simples e nada c<strong>on</strong>troverso<br />

porque, na altura, a lista incluía apenas alimentos, medicamentos, equipamento escolar e hospitalar<br />

e coisas desse género. [...] Amílcar Cabral participava de uma forma muito activa neste<br />

tipo de trabalho minucioso. Achava que era um trabalho no qual ele tinha de participar. Nós<br />

não levantávamos grandes questões quanto àquilo de que diziam precisar. Afinal, os fundos<br />

atribuídos nessa época não eram muito avultados e Curt Ström, a pessoa oficialmente encarregue<br />

da ASDI, achava que não devíamos levantar grandes questões. 111<br />

Uma vez finalizada a lista de produtos, a ASDI funci<strong>on</strong>ava como uma organizadora de<br />

c<strong>on</strong>cursos públicos para o PAIGC, c<strong>on</strong>vidando diferentes fornecedores a apresentar propostas,<br />

tanto na Suécia como a nível internaci<strong>on</strong>al. O representante do PAIGC na Suécia<br />

participava amiúde neste trabalho. Uma vez enc<strong>on</strong>trado o fornecedor, a ASDI pagava a<br />

mercadoria e organizava o seu envio para C<strong>on</strong>acri. 112<br />

Era importante que a ajuda não fosse vista como apoio à luta militar. No caso do<br />

PAIGC, essa destrinça não era nada óbvia. A parte mais importante da ajuda ia para as<br />

z<strong>on</strong>as libertadas no interior da Guiné-Bissau, <strong>on</strong>de a população participava numa guerra.<br />

Tanto os combatentes pela liberdade quanto os aldeões beneficiavam das escolas, clínicas<br />

de saúde e armazéns do povo que o PAIGC tinha em funci<strong>on</strong>amento e que, de forma<br />

importante, eram fornecidos com ajuda sueca. Para além disso, a posição da ASDI não<br />

lhe permitia fazer visitas regulares às z<strong>on</strong>as libertadas nem verificar se os utilizadores finais<br />

eram militares ou civis. 113 A linha divisória entre ajuda ”humanitária” e ajuda ”militar”<br />

era traçada à medida que as listas de mercadorias eram elaboradas. O principal critério<br />

era o do carácter da mercadoria. No início, este princípio levou a reflexões que roçavam<br />

o absurdo a saber, por exemplo, se archotes de encaixe 114 ou um determinado tipo de<br />

botas 115 podiam ser c<strong>on</strong>siderados material militar ou não. Stig Lövgren deu um bom<br />

exemplo deste tipo de dilema<br />

a questão dos artigos militares e não-militares era discutida em profundidade nos primeiros<br />

anos. Curt Ström era a pessoa que mais nervosa se mostrava com a possibilidade de estarmos a<br />

enviar coisas que pudessem ser utilizadas para fins militares. Lembro-me perfeitamente duma<br />

reunião com Amílcar Cabral na ASDI. Estávamos a discutir as listas previamente preparadas e<br />

que teriam de ser aprovadas por Ström e, quando chegámos às catanas, estávamos preocupados<br />

111. Entrevista com Stig Lövgren, pp. 309–12.<br />

112. Com a sua vasta rede de c<strong>on</strong>tactos e c<strong>on</strong>siderável experiência, a divisão de aprovisi<strong>on</strong>amento da ASDI c<strong>on</strong>seguia<br />

identificar os melhores fornecedores e obter os melhores preços para o PAIGC e os movimentos de libertação<br />

da África Austral. Mais tarde, viria a organizar cursos de formação em c<strong>on</strong>cursos públicos internaci<strong>on</strong>ais para os<br />

movimentos. Rec<strong>on</strong>hecendo a importância de rotinas de c<strong>on</strong>tratação pública bem definidas, em geral, e o c<strong>on</strong>tributo<br />

significativo dado ao PAIGC, em particular por Stig Lövgren, pouco tempo depois da independência Luís Cabral,<br />

o primeiro presidente da Guiné-Bissau, c<strong>on</strong>vidou Lövgren para ser o resp<strong>on</strong>sável pelas importações e c<strong>on</strong>cursos<br />

públicos do novo país (Anders Möllander: Sverige i Södra Afrika: Minnesanteckningar 1970–80 (”A Suécia na África<br />

Austral: Memórias 1970–80”), ASDI, Estocolmo, 1982, p. 19 e entrevista com Stig Lövgren, 313).<br />

113. Entrevista com Stig Lövgren, p. 311: ”Não visitávamos nem podíamos visitar as z<strong>on</strong>as libertadas. Tentámos<br />

fazê-lo mas, na maior parte dos casos, o PAIGC arranjou uma desculpa, muito educada, para não nos deixar lá ir.<br />

”Sobretudo, é claro, por razões de segurança”.<br />

114. Möllander op. cit., p. 17.<br />

115. Entrevista com Mishake Muy<strong>on</strong>go (ex-SWAPO), p. 87.

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